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OBRA ANALISADA Mensagem

GÊNERO Poesia (simbolismo)


AUTOR Cruz e Sousa
DADOS BIOGRÁFICOS Nascimento: 24 de novembro de 1861
Morte: 18 de março de 1898.

Cruz e Souza – expoente máximo do Simbolismo – o


poeta negro era filho de escravos alforriados, tendo
sido educado pelo Marechal Xavier de Sousa.

O poeta morreu de tuberculose aos 36 anos.

BIBLIOGRAFIA Poesia:

"Broquéis" (1893)
"Faróis" (1900)
"Últimos Sonetos" (1905)
"O livro Derradeiro" (1961).

Poemas em Prosa

"Tropos e Fanfarras" (1885) - em conjunto com


Virgílio Várzea
"Missal" (1893)
"Evocações" (1898)
"Outras Evocações" (1961)
"Dispersos" (1961)
RESENHA
A obra é composta por 96 sonetos decassílabos –
dez sílabas métricas.

A linguagem rebuscada, a métrica perfeita e rimas


bem construídas, demonstram a maturidade do
poeta nesta fase.

Os sonetos se voltam para a temática da alma, dos


conflitos internos.

O primeiro poema: “Piedade” mostra a tendência


intimista do livro:

É como se o meu ser compadecido


não tivesse um soluço comovido
para sentir e para amar meus filhos!

Os poemas voltam-se para um eu em conflito,


utilizando-se de uma linguagem carregada,
simbólica, repleta de imagens – tipicamente
simbolista.

No poema: “Alucinação”, vê-se o mar como imagem


de um ser caótico com sentimentos conflituosos.

Ó solidão do Mar, ó amargor das vagas,


ondas em convulsões, ondas em rebeldia,
desespero do Mar, furiosa ventania,
boca em fel dos tritões engasgada de pragas.

Em “Vida obscura”, a religiosidade de Cruz e Sousa


é posta em evidência. Nos dois tercetos, o poeta
escreve:

Ninguém te viu o sentimento inquieto,


magoado, oculto e aterrador, secreto,
que o coração te apunhalou no mundo.

Mas eu que sempre te segui os passos


sei que cruz infernal prendeu-te os braços
e o teu suspiro como foi profundo!

“Conciliação” e “Glória” seguem essa temática


religiosa. Em “Conciliação”, lemos:

És sempre o Assinalado ideal que fica


sorrindo e contemplando o céu altivo;
dos Compassivos és o Compassivo,
na Transfiguração que glorifica.

Em “Glória” a religiosidade adentra a alma do poeta,


com metáforas com forte apelo visual:

Glória ao céu, glória à terra, glória ao mundo!


todo o meu ser é roseiral fecundo
de grandes rosas de divino brilho.

Seguindo a mesma atmosfera, em “Perfeição” o


poeta encontra-se em harmonia com o mundo:

A Perfeição é a alma estar sonhando


em soluços, soluços, soluçando
as agonias que encontrou na Terra!

Nestes versos, o poeta utiliza-se do pleonasmo para


criar uma sensação de agonia.

Em “Prodígio”, um poeta cita Shakespeare, com a


figura de Rei Lear:

Como o Rei Lear não sentes a tormenta


que te desaba na fatal cabeça!
(Que o céu d’estrelas todo resplandeça.)
A tua alma, na Dor, mais nobre aumenta.

Em “Livre” e “Cárcere das almas”, o poeta utiliza-se


de um campo semântico que nos remete à
escravidão: grilhões; flagelam – para falar das
prisões da alma.

Livre! Ser livre da matéria escrava,


arrancar os grilhões que nos flagelam
e livre penetrar nos Dons que selam
a alma e lhe emprestam toda a etérea lava.

No último terceto, desse poema, o poeta manifesta


seus desejos de liberdade, mas não uma liberdade
física, mas espiritual.

Livre! para sentir a Natureza,


para gozar, na universal Grandeza,
Fecundas e arcangélicas preguiças.

Em “Cárcere das almas”, mas uma vez vemos a


alma humana presa:

Ah! Toda a alma num cárcere anda presa


soluçando nas trevas, entre as grades
do calabouço olhando imensidades,
mares, estrelas, tardes, natureza.

E, mais uma vez, a liberdade torna-se espiritual:

Nesses silêncios solitários, graves,


que chaveiro do Céu possui as chaves
para abrir-vos as portas do Mistério?!

Em “Almas indecisas”, temos a manifestação da


alma de poeta: tumultuada, conflituosa:
Almas ansiosas, trêmulas, inquietas,
fugitivas abelhas delicadas
das colméias de luz das alvoradas,
almas de melancólicos poetas.

O poeta, apesar do tom melancólico de certos


poemas, manifesta uma forte crença no espiritual
como agente modificador dos homens:

Vê como a Dor te transcendentaliza!


mas do fundo da Dor crê nobremente.
Transfigura o teu ser na força crente
que tudo torna belo e diviniza.

Não só a alma humana apresenta um tom fúnebre,


mas também os sentimentos humanos. O amor é
tido como “Mundo inacessível” (em poema de
mesmo título)

Tu’alma lembra um mundo inacessível


onde só astros e águias vão pairando,
onde se escuta, trágica, cantando,
a sinfonia da Amplidão terrível!

Em “A morte”, o poeta expressa um sentimento


dúbio em relação à morte: misto de ternura e
aflição:

Oh! que doce tristeza e que ternura


no olhar ansioso, aflito dos que morrem...
De que âncoras profundas se socorrem
os que penetram nessa noite escura!

Os últimos poemas parecem encerrar uma prece:


“Triunfo supremo”, “Assim seja” e “Renascimento” –

Triunfo supremo
Quem anda pelas lágrimas perdido,
Sonâmbulo dos trágicos flagelos,
é quem deixou para sempre esquecido
o mundo e os fúteis ouropéis mais belos!

Assim seja!
Fecha os olhos e morre calmamente!
Morre sereno do Dever cumprido!
Nem o mais leve, nem um só gemido
traia, sequer, o teu Sentir latente.

Renascimento
Morrer! Findar! Desfalecer! que importa
para o secreto e fundo movimento
que a alma transporta, sublimiza e exorta,
ao grande Bem do grande Pensamento!

O último poema, “Pacto das almas” é dividido em


três partes: “I. Para sempre”; “II. Longe de tudo”;
“III. Almas das almas”.

O poema foi entregue a Nestor Vítor, poeta


contemporâneo a Cruz Sousa de quem foi grande
amigo.

I
PARA SEMPRE!
Ah! para sempre! para sempre! Agora
não nos separaremos nem um dia...
Nunca mais, nunca mais, nesta harmonia
das nossas almas de divina aurora.

II
LONGE DE TUDO

Mas as almas irmãs, almas perfeitas,


hão de trocar, nas Regiões eleitas,
largos, profundos, imortais abraços!

III
ALMA DAS ALMAS

entre os teus beijos de etereal carícia,


sorrindo e soluçando de delícia,
quando te abraçarei na Eternidade?!

Doente e muito debilitado, Cruz e Sousa, confessa-


se em “Pacto das almas” – poema que data de
outubro de 1897 – o poeta parece estar certo de sua
morte que aconteceria meses depois.

ESTILO DE ÉPOCA Simbolismo

Para os simbolistas, a poesia deveria ser intuitiva e,


não, racionalista, cientificista e mecanicista como a
poesia parnasiana. A máxima parnasiana de “arte
pela arte” tinha valor diferente: a poesia deveria
falar por si, a partir de versos com linguagem
suficientemente simbólica. Por isso, a poesia
simbolista era rica em figuras de linguagem.

A poesia de Cruz e Souza inova a linguagem poética


brasileira, com assonâncias, aliterações, alegorias,
sinestesias, antonomásias, numa forte expressão
simbólica. A linguagem torna-se mais imagética,
provocando sensações e impressões únicas.
INTERTEXTUALIDADE
O Poeta Leminsk Escreveu Um Interessante Estudo
Sobre Cruz e Sousa, O branco negro.

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