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Como o nome aponta, a poesia simbolista propunha um resgate dos símbolos, isto é, de
uma linguagem que compreendesse uma universalidade. O poeta é, aqui, um decifrador
dos símbolos que compõem a natureza ao seu redor. Contra a superficialidade material do
corpo, a objetividade do realismo e as descrições animalescas do naturalismo, o simbolismo
quer mergulhar no espírito, que se relaciona a algo maior, a uma instância coletiva
universal, a uma transcendência.
Por isso, direcionam sua lírica não para as descrições objetivas, mas para uma tentativa de
conciliação entre matéria e espírito, tentativa de resgate de uma humanidade deteriorada.
Por essa postura, foram também chamados “decadentistas” e “malditos”.
Correspondências
O poeta fala em ecos, sons, cores e perfumes: é a presença da captação sinestésica dos
símbolos. A linguagem poética é a decifradora, a que estabelece uma ponte, uma
correspondência entre o mundo material e o mundo do espírito. A referência ao almíscar,
incenso e resinas do Oriente também retoma essa sensibilidade sinestésica, bem como faz
referência a um universo espiritual, que faz uso dessa prática aromática como contato com
o transcendental.
Imortal atitude
Simbolismo na Europa
É na França da última metade do século XIX que surge o simbolismo, caracterizado por ser
uma escola de “poetas malditos” e “decadentes”, boêmios, frequentadores da noite
parisiense e não raro apresentando comportamentos escandalosos.
Harmonia da tarde
Baudelaire escreveu também ensaios em que usou a palavra modernidade para descrever
as mudanças trazidas pelo impacto do desenvolvimento da indústria em uma Europa que
rapidamente se. Foi um dos primeiros autores a dar essa sugestão, chamando atenção de
seus contemporâneos para a conscientização de si mesmos enquanto modernos.
É considerado um pioneiro do que depois se entendeu por modernismo, por sua tendência
a desprezar aquilo que fora concebido como cultura clássica, roupa que já não servia ao
seu tempo presente, efêmero, da produção e urbanização em larga escala.
Foi um grande influenciador das vanguardas literárias e está entre os precursores da poesia
concreta, principalmente pelo poema longo “Um jogo de dados”, escrito em versos livres e
em tipografia revolucionária para a época.
“Tristeza de verão”, por sua vez, é um dos diversos exemplos de textos do autor
relacionados à tradição simbolista:
Tristeza de verão
O sol, na areia, aquece, ó brava adormecida,
O ouro da tua coma em banho langoroso,
Queimando o seu incenso em tua face aguerrida,
E mistura aos teus prantos um filtro amoroso.
É ele, aliás, quem propõe o termo “poeta maldito”. Além de sonetos, compôs também em
prosa e em versos livres. Apesar de o poeta nunca ter se entendido como vinculado a
nenhuma corrente, sua obra tem nítidos matizes da escola simbolista:
Canção de outono
Estes lamentos
Dos violões lentos
Do outono
Enchem minha alma
De uma onda calma
De sono.
E soluçando,
Pálido, quando
Soa a hora,
Recordo todos
Os dias doidos
De outrora.
E vou à toa
No ar mau que voa.
Que importa?
Vou pela vida,
Folha caída
E morta.
De novo me invade.
Quem? — A Eternidade.
É o mar que se vai
Como o sol que cai.
Alma sentinela,
Ensina-me o jogo
Da noite que gela
E do dia em fogo.
De outra nenhuma,
Brasas de cetim,
O Dever se esfuma
Sem dizer: enfim.
Lá não há esperança
E não há futuro.
Ciência e paciência,
Suplício seguro.
De novo me invade.
Quem? – A Eternidade.
É o mar que se vai
Com o sol que cai.
Simbolismo no Brasil
O movimento simbolista brasileiro incorporou, grosso modo, os procedimentos
composicionais do simbolismo francês. No entanto, as cenas noturnas de boemia e o
epíteto de malditos são substituídos por uma literatura de tons mais religiosos e litúrgicos.
Carnal e místico
Ismália
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
Perturbado por uma enorme angústia metafísica, Augusto dos Anjos aproxima-se dos
simbolistas pela ânsia da unidade, da superação de todos os contrastes matéria-espírito.
Escreveu um único livro, intitulado Eu (1912), e morreu prematuramente, aos 30 anos,
vítima de tuberculose."