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"O simbolismo foi uma tendência literária que nasceu na França, com as teorias estéticas de

Charles Baudelaire, e floresceu principalmente na poesia, em diversas partes do mundo


ocidental, no final do século XIX. É o último movimento antes do surgimento do modernismo
na literatura, por isso é também considerado pré-moderno.

Como o nome aponta, a poesia simbolista propunha um resgate dos símbolos, isto é, de
uma linguagem que compreendesse uma universalidade. O poeta é, aqui, um decifrador
dos símbolos que compõem a natureza ao seu redor. Contra a superficialidade material do
corpo, a objetividade do realismo e as descrições animalescas do naturalismo, o simbolismo
quer mergulhar no espírito, que se relaciona a algo maior, a uma instância coletiva
universal, a uma transcendência.

Saiba mais: Linguagem literária: qual é a diferença?

Tópicos deste artigo


1 - Resumo sobre o simbolismo
2 - Contexto histórico
3 - Características do simbolismo
4 - Simbolismo na Europa
Charles Baudelaire (1821-1867)
Stéphane Mallarmé (1842-1898)
Paul Verlaine (1844-1896)
Arthur Rimbaud (1854-1891)
5 - Simbolismo no Brasil
João da Cruz e Sousa (1863-1898)
Afonso Henriques da Costa Guimarães (1870-1921)
Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos (1884-1914)
6 - Exercícios resolvidos sobre o simbolismo
Resumo sobre o simbolismo
Foi um movimento literário do final do século XIX, de origem francesa.
Buscava, por meio da palavra, a conexão entre o mundo material e espiritual.
Tinha temáticas transcendentes e metafísicas.
Sinestesia, vocabulário etéreo, antíteses e paradoxos, uso de pausas, aliterações e
musicalidade rítmica são características dessas composições.
Principais autores europeus: Baudelaire, Mallarmé, Verlaine, Rimbaud.
Principais autores brasileiros: Cruz e Sousa, Alphonsus de Guimaraens, Augusto dos Anjos
(este último tido como “pós-simbolista” ou “pré-moderno”).
Contexto histórico
A literatura simbolista foi uma reação às correntes cientificistas e positivistas do último
quartel do século XIX. A Europa vivenciava a ebulição da Segunda Revolução Industrial,
que trazia consigo, além do capitalismo financeiro, as ideologias do empirismo e do
determinismo. Trata-se de uma concepção técnico analítica do mundo, em que a realidade
é apreendida apenas pela quantificação e análise de dados, em prol do desenvolvimento da
técnica.

Havia um otimismo predominante no avanço da indústria, expresso na ideia do progresso.


Os simbolistas, entretanto, percebem no surgimento das metrópoles, acompanhado da
miséria, da sujeira industrial e da exploração da força de trabalho, uma decadência
desesperada, uma morbidez que nada tem de progressista.

Por isso, direcionam sua lírica não para as descrições objetivas, mas para uma tentativa de
conciliação entre matéria e espírito, tentativa de resgate de uma humanidade deteriorada.
Por essa postura, foram também chamados “decadentistas” e “malditos”.

Os simbolistas questionaram as conclusões racionalistas e mecânicas em voga na época,


pois elas não davam espaço à existência do sujeito, servindo apenas como combustível
para a ascensão da burguesia industrial. Buscavam algo além do materialismo e além do
empirismo: um sentido de universalidade, que seria recuperado por meio da linguagem
poética. Buscavam, ao contrário da impessoalidade numérica e tecnológica, os valores
transcendentais — o Bom, o Verdadeiro, o Belo."
"Características do simbolismo
Uso de pausas, reticências, espaços em branco e rupturas sintáticas para representar o
silêncio metafísico;
Sinestesia: construção de versos que descrevem sons, aromas e cores, pois os cinco
sentidos são instrumentos de captação dos símbolos ao redor;
Temáticas voltadas à interioridade humana, ao êxtase do espírito;
Vocabulário etéreo e remissões ao Nada e ao Absoluto;
Presença comum de antíteses e oposições, graças às tentativas de encarnar o que é divino
e espiritualizar o que é terreno: o poema é a forma de conciliação entre os planos material e
espiritual;
Entendimento da poesia como uma visão da existência;
Presença da religiosidade, não somente cristã como também oriental, compondo a busca
simbolista da transcendência;
Descrições crepusculares, presença simultânea de luz e sombra;
Imágenes sombrías, lúgubres, decadentes;
Afrouxamento do rigor métrico parnasiano, dando espaço para metrificações irregulares e
versos livres;
Conceito musical do poema.
O poema “Correspondências”, de Charles Baudelaire, tem no seu próprio título a ideia
central do simbolismo: a linguagem simbolista pretende estabelecer uma correspondência
entre o plano material e o plano transcendental, entre o divino e o profano.

Correspondências

A Natureza é um templo vivo em que os pilares


Deixam filtrar não raro insólitos enredos;
O homem o cruza em meio a um bosque de segredos
Que ali o espreitam com seus olhos familiares.

Como ecos longos que à distância se matizam


Numa vertiginosa e lúgubre unidade,
Tão vasta quanto a noite e quanto a claridade,
Os sons, as cores e os perfumes se harmonizam.

Há aromas frescos como a carne dos infantes,


Doces como o oboé, verdes como a campina,
E outros, já dissolutos, ricos e triunfantes,

Com a fluidez daquilo que jamais termina,


Como o almíscar, o incenso e as resinas do Oriente,
Que a glória exalte os sentidos e a mente.

(Charles Baudelaire, As flores do mal, 1857, trad. Ivan Junqueira)

A evocação da espiritualidade está presente já no primeiro verso, em que a Natureza,


iniciada em letra maiúscula, como uma entidade, é caracterizada como um templo vivo, ou
seja, há uma vida espiritual oculta por trás da existência material das coisas. O homem
cruza esse templo vivo em meio a um bosque de símbolos. E esses símbolos olham os
homens com familiaridade — pois aqueles geralmente são convencionais, isto é, existem
por causa de seu sentido coletivo.

O poeta fala em ecos, sons, cores e perfumes: é a presença da captação sinestésica dos
símbolos. A linguagem poética é a decifradora, a que estabelece uma ponte, uma
correspondência entre o mundo material e o mundo do espírito. A referência ao almíscar,
incenso e resinas do Oriente também retoma essa sensibilidade sinestésica, bem como faz
referência a um universo espiritual, que faz uso dessa prática aromática como contato com
o transcendental.

É possível verificar as típicas características simbolistas também em Cruz e Sousa, principal


expoente brasileiro do movimento:

Imortal atitude

Abre os olhos à Vida e fica mudo!


Oh! Basta crer indefinidamente
Para ficar iluminado tudo
De uma luz imortal e transcendente.

Crer é sentir, como secreto escudo,


A alma risonha, lúcida, vidente...
E abandonar o sujo deus cornudo,
O sátiro da Carne impenitente.

Abandonar os lânguidos rugidos,


O infinito gemido dos gemidos
Que vai no lodo a carne chafurdando.

Erguer os olhos, levantar os braços


Para o eterno Silêncio dos Espaços
e no Silêncio emudecer olhando...

(Cruz e Sousa, Últimos sonetos, 1905)


O poema começa com a sugestão ao sentido da visão: abrindo os olhos à Vida (também o
recurso das letras maiúsculas como evocação simbólica do vocábulo), tudo se ilumina, tudo
tende à transcendência. A segunda estrofe equipara a fé à sensibilidade, e despreza o
aspecto material, carnal da existência, preferindo a exaltação do espírito — a alma risonha
abandona “o sujo deus cornudo”, “sátiro da carne”.

Na terceira estrofe, Cruz e Sousa passa a descrever emanações sensoriais auditivas —


rugidos e gemidos da existência mortal fazem oposição ao “eterno Silêncio dos Espaços”
que aparece na última estrofe, seguindo a cadência de antíteses e paradoxos simbolistas.

Simbolismo na Europa
É na França da última metade do século XIX que surge o simbolismo, caracterizado por ser
uma escola de “poetas malditos” e “decadentes”, boêmios, frequentadores da noite
parisiense e não raro apresentando comportamentos escandalosos.

Charles Baudelaire (1821-1867)

Retrato do poeta Charles Baudelaire, importante poeta simbolista.[1]


Sua publicação intitulada As flores do mal, lançada em 1857, é considerada precursora do
movimento simbolista. Sua teoria das correspondências concebe o mundo visível como uma
correspondência de um mundo invisível e superior, que deve ser alcançado pelo poeta por
meio de seu trabalho com a linguagem, e acabou por inspirar ou preconizar o simbolismo
francês, que surgiria como movimento algum tempo depois.

A descrição etérea do poente no poema “Harmonia da tarde”, proposta de um mundo que


evapora, repleto de sons e aromas e da evocação de um Universo que concebe mais do
que a mera apresentação objetiva do movimento da terra em torno do Sol, é um exemplo da
influência que Baudelaire exercerá na corrente literária simbolista:

Harmonia da tarde

Chegado é o tempo em que, vibrando o caule virgem,


Cada flor se evapora igual a um incensório;
Sons e perfumes pulsam no ar quase incorpóreo;
Melancólica valsa e lânguida vertigem!

Cada flor se evapora igual a um incensório;


Fremem violinos como fibras que se afligem;
Melancólica valsa e lânguida vertigem!
É triste e belo o céu como um grande oratório.

Fremem violinos como fibras que se afligem,


Almas ternas que odeiam o nada vasto e inglório!
É triste e belo o céu como um grande oratório;
O sol se afoga em ondas que de sangue o tingem.

Almas ternas que odeiam o Nada vasto e inglório


Recolhem do passado as ilusões que o fingem!
O sol se afoga agora em ondas que de sangue o tingem...
Fule a tua lembrança em mim qual ostensório!

(Charles Baudelaire, As flores do mal, 1857, trad. Ivan Junqueira)

Baudelaire escreveu também ensaios em que usou a palavra modernidade para descrever
as mudanças trazidas pelo impacto do desenvolvimento da indústria em uma Europa que
rapidamente se. Foi um dos primeiros autores a dar essa sugestão, chamando atenção de
seus contemporâneos para a conscientização de si mesmos enquanto modernos.

É considerado um pioneiro do que depois se entendeu por modernismo, por sua tendência
a desprezar aquilo que fora concebido como cultura clássica, roupa que já não servia ao
seu tempo presente, efêmero, da produção e urbanização em larga escala.

Principais obras de Baudelaire: As flores do mal (1857) — poesia; Curiosidades estéticas


(1869) — prosa; Pequenos poemas em prosa (1869).

Stéphane Mallarmé (1842-1898)


Autor conhecido por seu hermetismo: a complexidade do mundo que se erigia perpassa a
construção de seus versos, guiados pela temática da impossibilidade e por uma busca
perpétua da perfeição da forma, em constante angústia que o leva a propor jogos de
composição poética, cuja genialidade foi reconhecida tardiamente.

Foi um grande influenciador das vanguardas literárias e está entre os precursores da poesia
concreta, principalmente pelo poema longo “Um jogo de dados”, escrito em versos livres e
em tipografia revolucionária para a época.

“Tristeza de verão”, por sua vez, é um dos diversos exemplos de textos do autor
relacionados à tradição simbolista:

Tristeza de verão
O sol, na areia, aquece, ó brava adormecida,
O ouro da tua coma em banho langoroso,
Queimando o seu incenso em tua face aguerrida,
E mistura aos teus prantos um filtro amoroso.

Desse branco fulgor a imóvel calmaria


Te faz dizer, dolente, ó carícias discretas,
‘Jamais nós dois seremos uma múmia fria
Sob o antigo deserto e as palmeiras eretas!’

Porém os teus cabelos, rio morno, imploram


Para afogar sem medo a nossa alma triste
E encontrar esse Nada que em teu ser não medra.

Degustei o bistre que teus cílios choram


Para ver se ele doa àquele que feriste
A insensibilidade do azul e da pedra.

(Stéphane Mallarmé, 1864, trad. Augusto de Campos)

No exemplo destacam-se como elementos tipicamente simbolistas: as descrições


sinestésicas do calor do sol em analogia ao incenso; a presença da morbidez da múmia em
contraste com a visão solar, vital; o componente da tristeza, sinal do descompasso com o
mundo contemporâneo; a temática do Nada, aspiração do esvaziamento absoluto; e o
trabalho com o simbólico evocado pelos termos “azul” e “pedra” como veiculadores de
insensibilidade.

Principais obras de Mallarmé: Poesias (1887); e Divagações (1897) — ensaios em prosa.

Paul Verlaine (1844-1896)


Grande influenciador do brasileiro Alphonsus de Guimaraens, Verlaine é conhecido por seus
tons outonais e sua constante tentativa de conciliação entre um comportamento reprovável
(o autor chegou a atirar no próprio amante, o célebre Rimbaud) e uma aspiração mística
com ares de pureza transcendental.

É ele, aliás, quem propõe o termo “poeta maldito”. Além de sonetos, compôs também em
prosa e em versos livres. Apesar de o poeta nunca ter se entendido como vinculado a
nenhuma corrente, sua obra tem nítidos matizes da escola simbolista:

Canção de outono

Estes lamentos
Dos violões lentos
Do outono
Enchem minha alma
De uma onda calma
De sono.

E soluçando,
Pálido, quando
Soa a hora,
Recordo todos
Os dias doidos
De outrora.

E vou à toa
No ar mau que voa.
Que importa?
Vou pela vida,
Folha caída
E morta.

(Paul Verlaine, 1866, trad. Guilherme de Almeida)


O trabalho com as aliterações dá ao poema uma musicalidade que evoca sinestesicamente
o próprio som dos violões que descreve. O tom outonal, a resposta melancólica e pálida, a
vida comparada a uma folha caída que voa com o vento ressoam a atmosfera simbolista.

Principais obras de Verlaine: Poemas saturninos (1866); e Os poetas malditos (1884).

Arthur Rimbaud (1854-1891)


Ícone da poesia francesa, Rimbaud recebeu influências de Verlaine e influenciou-o — os
dois conheceram-se em meados dos anos 1870 e envolveram-se amorosamente,
relacionamento que escandalizou a cidade à época. O caráter sensorial dos versos de
Rimbaud eternizou-o canonicamente como um dos maiores poetas de seu tempo, embora
tenha escrito apenas até os 20 anos de idade.

Retrato do jovem poeta Arthur Rimbaud.


A eternidade

De novo me invade.
Quem? — A Eternidade.
É o mar que se vai
Como o sol que cai.

Alma sentinela,
Ensina-me o jogo
Da noite que gela
E do dia em fogo.

Das lides humanas,


Das palmas e vaias,
Já te desenganar
E no ar te espraiadas.

De outra nenhuma,
Brasas de cetim,
O Dever se esfuma
Sem dizer: enfim.

Lá não há esperança
E não há futuro.
Ciência e paciência,
Suplício seguro.

De novo me invade.
Quem? – A Eternidade.
É o mar que se vai
Com o sol que cai.

(Arthur Rimbaud, trad. Augusto de Campos)


A musicalidade dos versos, o trabalho com o domínio do simbólico (noite, fogo, mar, sol) e a
temática da existência mortal com a dimensão transcendental da Eternidade e da alma são
características do simbolismo nesse poema de Rimbaud.

Principais obras de Rimbaud: Iluminações, 1872 (poesia); e Uma temporada no inferno,


1873 (poemas em prosa).

Simbolismo no Brasil
O movimento simbolista brasileiro incorporou, grosso modo, os procedimentos
composicionais do simbolismo francês. No entanto, as cenas noturnas de boemia e o
epíteto de malditos são substituídos por uma literatura de tons mais religiosos e litúrgicos.

João da Cruz e Sousa (1863-1898)


Figura central do Simbolismo brasileiro, Cruz e Sousa nasceu em Florianópolis. Filho de
escravos alforriados, mas, tendo participado de uma educação formal elitizada, sua obra
revela uma erudição inconciliável com a situação racial de um Brasil que acabara de abolir
oficialmente a prática escravista.

É a partir da publicação de Missal, livro de prosas líricas, e de Broquéis, escrito em versos,


ambos publicados em 1893, que se percebe o desenvolvimento de uma estética simbolista
no Brasil. Seu trabalho traz grande novidade ao procedimento literário brasileiro:
aliterações, prolongamentos sonoros, rompimento com o rigor parnasiano da métrica,
ressonâncias internas, entre outros.

Carnal e místico

Pelas regiões tenuíssimas da bruma


vagam as Virgens e as Estrelas raras...
Como que o leve aroma das searas
todo o horizonte em derredor perfuma.

Numa evaporação de branca espuma


vão diluindo as perspectivas claras...
Com brilhos crus e fúlgidos de tiaras
As Estrelas apagam-se uma a uma.

E então, na treva, em místicas dormências,


desfila, com sidéreas lactescências,
das Virgens o sonâmbulo cortejo...

Formas vagas, nebulosidades!


Essência das eternas virgindades!
Ó intensas quimeras do Desejo...

(Cruz e Sousa, Broquéis, 1893)


“Carnal e místico” é uma sugestão da própria dualidade que os simbolistas pretendem
conciliar. A imprecisão e a nebulosidade trazidas por Cruz e Sousa — bruma, diluição das
perspectivas, Formas vagas — são temas característicos do simbolismo, bem como a
sinestesia, evocada no “leve aroma das searas” que “todo o horizonte em derredor
perfuma”, como se o autor construísse o poema com base em sensibilidades diversas. O
uso das maiúsculas para dar valor absoluto a determinados termos também é um recurso
recorrente do autor.

Afonso Henriques da Costa Guimarães (1870-1921)


Mais conhecido como Alphonsus de Guimaraens, o autor latinizou seu nome em 1894,
intenção mística e que o aproximava dos hinos católicos dos quais tanto gostava. Quando
tinha apenas 17 anos, faleceu uma prima que ele muito amava e considerava como noiva.
O episódio deixou-o obcecado com a temática da morte, que tanto atravessa seus versos.
Há um perene desencanto com o mundo que se traduz em lamento mórbido, e que coexiste
com uma temática religiosa, litúrgica.

Em “Ismália”, talvez seu poema mais famoso, Alphonsus delineia a dualidade


matéria-espírito, fazendo uso de símbolos como a Lua, o céu, o mar, o sonho, o anjo, em
sugestão nitidamente simbolista. Vida e morte, real e imaginário, claridade e escuridão: os
versos são feitos de antagonismos, do lado claro e obscuro da humanidade, do carnal e do
transcendente:

Ismália

Quando Ismália enlouqueceu,


Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,


Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu


As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu


Rufaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...
(Alphonsus de Guimaraens)

Leia mais: Cinco poemas de Alphonsus de Guimaraens

Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos (1884-1914)


Difícil de encaixar-se em qualquer movimento literário, estando ao mesmo tempo fora e
acima disso, Augusto dos Anjos retoma de Cruz e Sousa a dificuldade de adaptar-se ao
cotidiano e a estrutura de alguns versos. No entanto, a novidade trazida pelo poeta,
entendido por Otto Maria Carpeaux como o mais original de todos os poetas brasileiros, era
a mistura de uma terminologia científica com uma obra permeada por profunda tristeza e
amargura.

Perturbado por uma enorme angústia metafísica, Augusto dos Anjos aproxima-se dos
simbolistas pela ânsia da unidade, da superação de todos os contrastes matéria-espírito.
Escreveu um único livro, intitulado Eu (1912), e morreu prematuramente, aos 30 anos,
vítima de tuberculose."

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