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Simbolismo

Contexto histórico Características do simbolismo


A literatura simbolista foi uma reação às correntes ❖ Uso de pausas, reticências, espaços em
cientificistas e positivistas do último quartel do século XIX. branco e rupturas sintáticas para
A Europa vivenciava a ebulição da Segunda Revolução representar o silêncio metafísico;
Industrial, que trazia consigo, além do capitalismo ❖ Sinestesia: construção de versos que
financeiro, as ideologias do empirismo e do determinismo. descrevem sons, aromas e cores, pois
Trata-se de uma concepção técnico analítica do mundo, os cinco sentidos são instrumentos de
em que a realidade é apreendida apenas pela captação dos símbolos ao redor;
quantificação e análise de dados, em prol do ❖ Temáticas voltadas à interioridade
desenvolvimento da técnica. humana, ao êxtase do espírito;
❖ Vocabulário etéreo e remissões ao
Havia um otimismo predominante no avanço da indústria, Nada e ao Absoluto;
expresso na ideia do progresso. Os simbolistas, ❖ Presença comum de antíteses e
entretanto, percebem no surgimento das metrópoles, oposições, graças às tentativas de
acompanhado da miséria, da sujeira industrial e da encarnar o que é divino e espiritualizar
exploração da força de trabalho, uma decadência o que é terreno: o poema é a forma de
desesperada, uma morbidez que nada tem de conciliação entre os planos material e
progressista. espiritual;
❖ Entendimento da poesia como uma
Por isso, direcionam sua lírica não para as descrições visão da existência;
objetivas, mas para uma tentativa de conciliação entre ❖ Presença da religiosidade, não
matéria e espírito, tentativa de resgate de uma somente cristã como também oriental,
humanidade deteriorada. Por essa postura, foram também compondo a busca simbolista da
chamados “decadentistas” e “malditos”. transcendência;
❖ Descrições crepusculares, presença
Os simbolistas questionaram as conclusões racionalistas e simultânea de luz e sombra;
mecânicas em voga na época, pois elas não davam espaço ❖ Imagens sombrias, lúgubres,
à existência do sujeito, servindo apenas como combustível decadentes;
para a ascensão da burguesia industrial. Buscavam algo ❖ Afrouxamento do rigor métrico
além do materialismo e além do empirismo: um sentido parnasiano, dando espaço para
de universalidade, que seria recuperado por meio da metrificações irregulares e versos
linguagem poética. Buscavam, ao contrário da livres;
impessoalidade numérica e tecnológica, os valores ❖ Conceito musical do poema.
transcendentais — o Bom, o Verdadeiro, o Belo.

Correspondências

A Natureza é um templo vivo em que os pilares


Deixam filtrar não raro insólitos enredos;
O homem o cruza em meio a um bosque de segredos
Que ali o espreitam com seus olhos familiares.

Como ecos longos que à distância se matizam


Numa vertiginosa e lúgubre unidade,
Tão vasta quanto a noite e quanto a claridade,
Os sons, as cores e os perfumes se harmonizam.

Há aromas frescos como a carne dos infantes,


Doces como o oboé, verdes como a campina,
E outros, já dissolutos, ricos e triunfantes,

Com a fluidez daquilo que jamais termina,


Como o almíscar, o incenso e as resinas do Oriente,
Que a glória exaltam dos sentidos e da mente.

(Charles Baudelaire, As flores do mal, 1857)

O poema “Correspondências”, de Charles Baudelaire, tem no seu próprio título a ideia central do
simbolismo: a linguagem simbolista pretende estabelecer uma correspondência entre o plano
material e o plano transcendental, entre o divino e o profano.
A evocação da espiritualidade está presente já no primeiro verso, em que a Natureza, iniciada
em letra maiúscula, como uma entidade, é caracterizada como um templo vivo, ou seja, há uma
vida espiritual oculta por trás da existência material das coisas. O homem cruza esse templo vivo
em meio a um bosque de símbolos. E esses símbolos olham os homens com familiaridade —
pois aqueles geralmente são convencionais, isto é, existem por causa de seu sentido coletivo.
O poeta fala em ecos, sons, cores e perfumes: é a presença da captação sinestésica dos
símbolos. A linguagem poética é a decifradora, a que estabelece uma ponte, uma
correspondência entre o mundo material e o mundo do espírito. A referência ao almíscar,
incenso e resinas do Oriente também retoma essa sensibilidade sinestésica, bem como faz
referência a um universo espiritual, que faz uso dessa prática aromática como contato com o
transcendental.

Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/simbolismo.htm

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