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Fernando Pessoa

Álvaro de Campos:
O fingimento artístico – o poeta da modernidade:

 Deliberada postura provocatória, com o propósito de escandalizar e chocar.


 Futurismo: apologia da civilização contemporânea moderna, industrial e
tecnológica.
 Sensacionismo: exacerbação e simultaneidade das sensações; a sensação como
método cognitivo da realidade.
 Apologia da vertigem sensorial - «sentir tudo de todas as maneiras» -,
congregando em si toda a complexidade sensitiva.
 Concatenação no momento presente de todos os tempos e de todos os génios
do passado.
 Tensão, insatisfação e frustração perante a incapacidade de abarcar a
totalidade das sensações.

O imaginário épico – exaltação do Modernismo e arrebatamento do canto:

 Matéria épica: a exaltação do Moderno:


 Elogio do cosmopolitismo;
 Exaltação eufórica da máquina, da força, da velocidade, da
agressividade, do excesso;
 Integração de todos os tempos e de todo o progresso num poema;
 Emoção violenta e «pujança da sensação», com pendor épico;
 A nova poesia como expressão da civilização moderna.
 O arrebatamento do canto:
 o cântico reflete a grandiosidade da matéria épica;
 Poema extenso, com versos livres e longos;
 Estilo esfuziante e torrencial;
 Ritmo estonteante;
 êxtase discursivo: abundância de recursos expressivos; onomatopeias,
empréstimos, neologismos,
 interjeições, pontuação expressiva, ...

Reflexão existencial – sujeito, consciência e tempo; nostalgia de infância:


• Consciência dramática da identidade fragmentada.
• Ceticismo perante a realidade e a passagem do tempo.
• Angústia existencial, solidão, abulia, cansaço e morbidez.
• Introspeção e pessimismo-dor de pensar.
• A náusea, a abjeção e o «sono» da vida quotidiana.
• Evasão para o mundo da infância feliz, irremediavelmente perdido.
Linguagem, estilo e estrutura:

 Verso livre e, normalmente, longo.


 Irregularidade estrófica, rítmica e métrica.
 Ausência de rima (versos soltos).
 Linguagem simples, objetiva, prosaica, onomatopeias, neologismos,
empréstimos, topónimos e antropónimos.
 Inclusão de vários registos de língua (do literário ao calão).
 Vocabulário concreto (sobretudo do campo lexical da Mecânica e da
Indústria).
 Construções sintáticas nominais, gerundivas, infinitivas e, por vezes,
presença de frases atípicas, experimentais.
 Privilégio do presente do indicativo.
 Recursos expressivos predominantes: aliteração, anáfora, apóstrofe,
enumeração, gradação e metáfora.
 Nas composições intimistas, o fôlego modernista e épico decai num
estilo abúlico e deprimido.
Mensagem:
Estrutura simbólica:
Pessoa procura fazer um livro para ser lido, e que possa, num sentido radical, ser
popular. O resultado é um livro fortemente estruturado, que se pode definir como
<<um livro de poemas, formando realmente um só poema», organizado em torno dos
números do brasão de Portugal, sobretudo o 5 das quinas. […] No centro de
Mensagem estão os símbolos como tema e como processo, sejam eles os nomes dos
heróis, as imagens-chave da história, as cifras¹ heráldicas do brasão, sejam, enfim, as
palavras da língua portuguesa, com a sua capacidade de transmitir os fundamentos
identificadores do «ser português»>.

Estrutura externa:

 Brasão: a origem predestinada e o património divino a defender. (Nascimento)


I. Campos;
II. Os Castelos;
III. As Quinas;
IV. A coroa;
V. O Timbre.
 Mar Português: a capacidade criadora de Portugal. (Vida)
 Glorificação das grandes descobertas marítimas portuguesas: entre a época do
Infante e a de D. Sebastião, Portugal assume-se como a cabeça da Cristandade
ocidental, percorrendo mares desconhecidos e revelando mundos ignorados,
aos quais vai fazer chegar a mensagem cristã.
 Descreve-se a epifania oceânica do novo povo eleito, depois a sua perdição na
noite e na tormenta e a sua prece a Deus, para o ressurgimento ou a
reconquista da Distância até ao sentido místico de distância para o mistério do
absoluto ou do divino.
 O Encoberto: envolto em nevoeiro, mas símbolo do espírito do homem das
Descobertas que cada português encerra em si. (Morte)
 A constatação de um tempo e de um espaço perdidos e o sofrimento do eu
poético por ver dormir o seu povo, que tinha perdido a sua identidade e os seus
referentes. É neste momento que o poeta explicita o significado do Quinto
Império, recorrendo a uma linguagem que deixa antever esse tempo de
prosperidade espiritual, numa estrutura tripartida:
I. Os Símbolos: correspondem à própria linguagem da existência; os cinco
grandes mitos portugueses;
II. Os Avisos: as profecias dos três grandes arautos do messianismo português
III. Os Tempos: desvelam-se os sinais que indiciam a proximidade de «O
Encoberto». Inicia-se com o poema «Noite» e termina com «Nevoeiro»,
depois do poema «Antemanhã», ou seja, à noite sucede a manhã
(simbolizada na possibilidade de nascimento, encerrada no valor simbólico
do nevoeiro) – ao Caos segue-se a Ordem, ao nada sucede a Obra.

Linguagem e estilo:
Obras:

 Ulisses;
 D. Sebastião, Rei de Portugal;
 Infante.
Ulisses:
Ulisses poderá representar a vocação marítima dos portugueses já que é do mar que
chega este antepassado mítico dos portugueses. E se Ulisses é o mito que é nada e é
tudo, isso deve-se à sua importância enquanto lenda portadora de força que, por sua
vez, dá vida.
Neste poema, Pessoa parece dizer-nos que não importa se as figuras de que vai
ocupar-se, os heróis fundadores, tiveram ou não existência histórica. O que é
importante é a sua função enquanto mito, com a força própria do mito porque é então
que ele é tudo. Assim, o que realmente importa não é saber se Ulisses terá existido
realmente mas ter consciência daquilo que ele representa: "o futuro glorioso de
Portugal" .
D. Sebastião, Rei de Portugal:
Mostra que D. Sebastião tem um claro desprezo pelo homem <<besta sadia», que vive
sem ideais, sem grandes sonhos ou projetos, contentando-se com a mediocridade e
com o «gozo materialista». Por outro lado, Pessoa associa a loucura ao génio.
Quem fala é o espírito do rei. Justifica a sua ambição e decisão de avançar para uma
batalha e diz a razão.
É usada a palavra loucura que significa sonho, ambição, vontade, heroísmo. É a loucura
o ingrediente que nos faz humanos e não meros animais que seguem o instinto da
Natureza (só procria).
Infante:
O Infante: representa o povo português, mas também surge como o símbolo do
homem universal, o herói que realizou um sonho que era vontade de Deus.. Imagem e
personificação: «E a orla branca (...) correndo, até ao fim do mundo», a sugerir a
rapidez imparável das Descobertas.
Este poema foi criado para estabelecer uma relação passado/presente/futuro. Deus
quis que os portugueses sonhassem o desvendamento do mar, fazendo nascer a obra
dos descobrimentos.

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