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“Os Lusíadas” e “Mensagem” – Intertextualidade

“Os Lusíadas” – Renascimento, séc. XVI “Mensagem” – Modernismo séc. XX


O HERÓI HERÓI ÉPICO HERÓI MÍTICO
As figuras históricas são reais , são heróis de carne Os heróis, são, maioritariamente, figuras
[Fundo e osso, bravos, infalíveis – os reis e heróis históricas, mas funcionam como símbolos,
histórico] construtores do reino e do império. como mitos representantes da essência/da
identidade de Portugal.
É um herói real, épico, coletivo, representativo dos
Portugueses (os Lusíadas)

O herói épico realiza um trajeto de valor e O herói mítico é movido pelo sonho, pela
heroísmo, ultrapassa o medo, supera-se a si mesmo loucura, pela “febre de Além”, procura
e imortaliza-se, através da realização do seu utópica do impossível, do infinito, do
objetivo: a edificação do reino e do império, na Longe, da Distância, do Absoluto.
luta contra os infiéis.
OBJETIVO
Ultrapassando todos os obstáculos, os navegadores
ultrapassaram-se a si mesmos, ultrapassaram a sua
condição de “bichos da terra tão pequenos”,
concretizando o lema renascentista da crença nas
capacidades do Homem.
[É dinâmica: concreta, a viagem, a aventura, o [É estática: o abstrato, o indefinido, o
perigo] sonho]
A ação central – é concreta, real, - a viagem do A ação converte-se em sonho, em
caminho marítimo para a Índia por Vasco da contemplação, aparece representada na
AÇÃO Gama – é o ponto de partida e de chegada na procura de “uma Índia que não há”, da
construção do Império. “Distância / do mar ou outra, mas que seja
 É uma ação de coragem, heroísmo e grandeza, nossa!”.
típica da epopeia.
 A viagem empreendida é a do caminho
marítimo para a Índia, mas representa muito
mais do que uma viagem geográfica.
 É também uma viagem simbólica – a viagem
do confronto com os limites, do desvendamento
dos segredos escondidos, a viagem do
conhecimento.
Nos poemas “O Mostrengo” e “Mar
O Velho do Restelo anuncia os perigos e as mortes Português” (parte II) estão representados os
que os Portugueses enfrentarão e que o Adamastor obstáculos às realizações do passado – os
OBSTÁCULOS simbolizará. perigos, “as lágrimas de Portugal”.
ENFRENTADOS Como em qualquer epopeia, o herói tem de vencer o Mas na utopia proposta no presente, o
medo e pagar com a dor a perseguição do seu grande obstáculo é a ausência do sonho,
objetivo. que tem de ser vencida, para que, do
“Nevoeiro” presente surja o “dia claro”, o
futuro.

O Império Português é historicamente identificável, O poeta propõe a construção de um império


IMPÉRIO
pois foi edificado a partir dos Descobrimentos, é um futuro – o Quinto Império – que é
(construção) império já construído, terreno, territorial, espiritual e cuja edificação cabe a Portugal,
material. o rosto da Europa.
D. Sebastião é o rei real a quem o poeta se dirige. D. Sebastião é o mito, o Desejado, o
Encoberto.
- Na Dedicatória, o poeta oferece o poema ao rei D. • D. Sebastião é uma entidade que vive
Sebastião, afirmando desde logo a esperança de que na memória saudosa do Poeta, é uma
D. SEBASTIÃO ele prossiga a obra dos antepassados. sombra, um mito.
O Sebastianismo é uma das linhas de
• - No final do Canto X, é a D. Sebastião que o sentido mais importantes de “Mensagem”,
poeta apela, incentivando o rei a realizar novos que apresenta um caráter profético,
feitos que deem matéria a uma nova epopeia. visionário, messiânico.
D. Sebastião é o mais importante mito e
símbolo desta obra.
Do desencanto do presente ao apelo ao futuro Do desencanto do presente ao apelo ao
futuro – incita à construção do Quinto
No final dos cantos, o poeta faz ouvir a sua voz Império
VOZ de crítica aos contemporâneos que estão
DO POETA mergulhados no ócio, na ambição e na cobiça e são O poeta, investido da sua missão visionária,
responsáveis pela “apagada e vil tristeza” em que exprime, ao longo da obra, uma reflexão
Portugal está imerso. pessoal sobre a pátria que, no presente,
encontra mergulhada na noite, no nevoeiro,
Por isso, no final do Canto X, desalentado, apela ao e cuja identidade perdida só pode ser
rei e espera dele o ressurgimento da luta e da recuperada através do sonho (utópico) do
glória. Quinto Império e do exemplo da loucura do
Encoberto.

• Linguagem épico-lírica, de estilo


LINGUAGEM • Linguagem épica, de estilo elevado.
elevado.

• Epopeia clássica pela forma e pelo  Poema constituído por 44 poemas


conteúdo. breves, agrupados em três partes
principais e cada uma delas subdividida.
• Epopeia de dimensão humanista-
renascentista: acesso ao conhecimento dos  Poema épico-lírico-simbólico-mítico
segredos da natureza pelo Homem. o projeto de ideal de
• Os heróis, norteados pela Fé de Cristo, deram a fraternidade universal: utopia.
conhecer novos mundos ao mundo.
o elogio da loucura do sonho;
• A missão de Vasco da Gama foi coroada de evasão do real, valorização do
êxito, dela derivou o Império Português do imaginário.
Oriente;
 Os heróis, numa atitude contemplativa e
• Outra missão poderá ser realizada pelo rei enigmática, buscam o infinito: a Índia
D. Sebastião: tecida de sonhos.
 A missão terrena de Portugal foi
• difusão do Cristianismo
cumprida por vontade divina; outra, a
• e conquistas do Norte de África.
aventura espiritual e cultural, está ainda
por cumprir, o Quinto Império.

SEMELHANÇAS ENTRE AS DUAS OBRAS


• Poemas sobre Portugal.
• Conceção da História Portuguesa enquanto demanda mística.
• D. Sebastião, é enviado por Deus ao mundo para difundir a fé de Cristo.
• Portugal é um instrumento de Deus, a História pátria obedece a um
plano oculto, os heróis cumprem um destino que os ultrapassa
• Os heróis concretizam a vontade divina.
• Superação dos limites humanos pelos heróis portugueses.
• Superioridade dos navegadores lusos sobre os nautas da Antiguidade.
• Glória marcada pelo sofrimento e lágrimas.
• Sacrifício voluntário em nome de uma causa patriótica.
• Estrutura rigorosamente arquitetada.
• Evocação do passado (memória) para projetar, idealizar o futuro (apelo,
incentivo)

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