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O imaginário épico em O

sentimento dum Ocidental

Nome autores
O imaginário épico

«A estrutura narrativa do poema, perfazendo a epopeia moderna possível


depois de Camões e da entrada na era da suspeição que a modernidade traz
consigo, articula-se com a manifestação de uma progressiva entrada numa
Lisboa noturna […].»
Helena Carvalhão Buescu
O imaginário épico

O imaginário épico – Camões

O poema O sentimento dum Ocidental foi publicado em 1880, por ocasião dos festejos do
tricentenário da morte de Camões, daí que a viagem que o sujeito poético faz pela cidade de
Lisboa passe, propositadamente, pela estátua do poeta e que este e a sua epopeia sejam
evocados:

«Luta Camões no Sul, salvando um livro, a nado!» (Ave-Marias, v. 23)

«Brônzeo, monumental, de proporções guerreiras,/Um épico d’outrora ascende, num pilar!» (Noite
fechada, vv. 23-24)
O imaginário épico

O imaginário épico – Camões


Cesário Verde desenvolve, ao longo das 44 quadras, não a exaltação de uma nação, mas sim uma crítica social à
sociedade moderna, tecnicamente evoluída, no entanto, humanamente decadente, quando comparada com o
passado glorioso, feito de conquistas, facto que a descrição da estátua de Camões revela.

«Mas num recinto público e vulgar,/Com bancos de namoro e exíguas pimenteiras,/Brônzeo, monumental, de proporções
guerreiras,/Um épico d’outrora ascende, num pilar!» (Noite fechada, vv. 21-24)
O imaginário épico

O imaginário épico – a epopeia


O poema aproxima-se do género épico, ao apresentar algumas marcas específicas
da epopeia:

Estruturação: poema longo com pendor narrativo;

Organização do poema enquanto viagem individual que representa a viagem de uma


entidade coletiva (a nação ou a civilização ocidental);

Reflexão sobre um povo (o seu passado, o presente e o futuro revelados ou pressentidos


na cidade);

Importância das referências temporais (descrição do presente por contraste com


o passado).
O imaginário épico

O imaginário épico – a epopeia


A viagem que o poeta faz pela cidade pode ser lida como atualização da viagem marítima, narrada na epopeia Os
Lusíadas (primeira e última parte).

Evocação de referências marítimas:


Ave-Marias «E evoco, então, as crónicas navais» (v. 21)
«E algumas, à cabeça, embalam nas canastras/Os filhos que depois
naufragam nas tormentas» (vv. 39-40)

Surgimento de uma nova raça, semelhante à dos heróis dos Descobrimentos:


Horas mortas «Ah! Como a raça ruiva do porvir,/E as frotas dos avós, e os nómadas ardentes,/Nós
vamos explorar todos os continentes» (vv. 21-23)
O imaginário épico

O imaginário épico – o antiépico


Neste poema, verifica-se, contudo, a subversão da matéria épica na descrição do presente.

A composição poética, ao longo das quatro partes que a constituem, denuncia, em tom pessimista e melancólico, a realidade
opressora e decadente do país que outrora fora um império (o épico):

«Ou erro pelos cais a que se atracam botes. / E evoco então as crónicas navais: […] / Singram soberbas naus que eu não verei
jamais!” (Ave-Marias, vv. 20 e 24)

«De um couraçado inglês vogam os escaleres;» (Ave-Marias, v. 26)

«E, enorme, nesta massa irregular/De prédios sepulcrais, com dimensões de montes,/A dor humana busca os amplos
horizontes,/E tem marés, de fel, como um sinistro mar!» (Horas mortas, vv. 41-44)
O imaginário épico

Consolida
O imaginário épico

1. Assinala como verdadeiras (V) ou falsas (F) as seguintes afirmações.

A O sentimento dum Ocidental convoca algumas marcas do género épico.


Verdadeira

B O facto de o poema ser longo aproxima-o do género épico.


Verdadeira

C A deambulação do sujeito poético pela cidade implica uma reflexão apenas de caráter pessoal.
Falsa

D A viagem do eu lírico permite a observação da prosperidade do povo português, que vive numa sociedade justa.

Falsa

E Cesário elogia a civilização ocidental, considerando-a moderna e técnica e humanamente evoluída.


Falsa

Solução
O imaginário épico

1. Assinala como verdadeiras (V) ou falsas (F) as seguintes afirmações.

F Camões, em O sentimento dum Ocidental, é uma figura de referência, associada ao passado glorioso da nação.

Verdadeira

G Neste poema longo, existe uma oposição entre um passado imponente e um presente decaído.
Verdadeira

H Em O sentimento dum Ocidental, verifica-se predominantemente um tom eufórico, marcado pelo otimismo e pela
esperança.
Falsa

I A referência à estátua de Camões é simbólica e intencional.


Verdadeira

J Existe em O sentimento dum Ocidental uma aproximação à epopeia camoniana.


Verdadeira

Solução

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