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O sentimento dum ocidental

Seis da tarde
I. Ave-Marias

II. Noite fechada Momentos em


Escuridão
que está dividido

III. Ao gás o poema /


a descrição da Iluminação a gás
IV. Horas mortas «Triste cidade!»

Noite profunda
I . Ave-Marias

• Espaço «Nas nossas ruas» (Lisboa)

• Altura do dia «ao anoitecer»

Sentimentos
🞃
Provocam o «desejo
Melancolia
absurdo de sofrer»
Seis da tarde Soturnidade
Náusea
I . Ave-Marias
Desejo associado
«desejo absurdo
ao espaço e às sensações
de sofrer» que o eu lírico regista

• O gás — enjoa e perturba


• Os edifícios e a turba — são
de cor monótona e londrina
• As edificações — são como gaiolas
Felicidade
dos que partem:
Dicotomia espacial e temporal: «[…] os que
se vão. Felizes!»
As «nossas ruas» O «mundo»
Presente Passado Recordação
angustiante grandioso de um passado
e melancólico e heroico glorioso
I. Ave-Marias
«E evoco, então, as crónicas navais […]»

«Luta Camões no Sul, salvando um livro, a nado!


Singram soberbas naus que eu não verei jamais!»

Sensações Impossibilidade
— visuais, auditivas e olfativas — de repetir
captadas em deambulação: a epopeia
🞃
• Tinir de louças
Desencanto
• Hotéis que flamejam
e regresso
• O rio que reluz, viscoso ao presente
• Os dentistas que arengam
• As varinas hercúleas
• O cheiro do peixe pobre
I. Ave-Marias

Descrição das varinas


🞃

«E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras,


Anteposição da qualidade
Correndo com firmeza, assomam as varinas.» à designação do objeto

Metáfora Adjetivação

Comiseração
do sujeito poético:
«Vêm sacudindo as ancas opulentas!
«E algumas, à cabeça,
Seus troncos varonis recordam-me pilastras;» embalam nas canastras /
Os filhos que depois
naufragam nas tormentas.»
Comparação
II. Noite fechada
«iluminam-se Estrofes 1 e 2:
os andares» descrição da prisão (sentido literal)
🞃 🞃
A escuridão adensa-se «Toca-se às grades,
nas cadeias»

O eu lírico continua
a evocação — aventura-se Passagem para um
pela História e emociona-se: sentido metafórico:
«Chora-me o coração que a realidade aprisiona o eu lírico
🞃
se enche e que se abisma.»
«Muram-me as construções»

• As igrejas lembram um «inquisidor severo»


• Os quartéis lembram conventos
• Nova referência a Camões
«Brônzeo, monumental, de proporções guerreiras,
Um épico doutrora ascende, num pilar!»

«épico doutrora»:
Camões como símbolo
🞃

Símbolo da epopeia só possível


como memória — irrepetível
(No poema «Contrariedades»,
Cesário fala numa «epopeia morta»)

Vítor Bastos, Monumento a Camões


(Praça Luís de Camões, Lisboa, 1867).
II. Noite fechada
O eu lírico descreve Visão pessoal
a realidade através de uma +
«luneta de uma lente só»
descrição crítica

• Soldados sombrios e espectrais


• Oposição entre o palácio e o casebre
Descrição da
• Contraste entre as elegantes que se curvam «Triste cidade!»
nas montras e as que vivem do trabalho

É na realidade que encontra assunto:


«Eu acho sempre assunto a quadros revoltados»
III. Ao gás

«A noite pesa, esmaga»

Acentua-se a ideia de
aprisionamento/clausura:

«Cercam-me as lojas, tépidas»


🞃
A cidade está iluminada pela luz
artificial dos candeeiros a gás

Edvard Munch, Noite estrelada (1893).


III. Ao gás
A cidade é descrita
como espaço impuro

• Espaço da doença
— o hospital como metonímia —
e da prostituição
• Espaço em que o espírito
consumista começa a imperar

Impureza da cidade

Honestidade do trabalho
(representada no «cheiro
salutar e honesto do pão»)
Toulouse-Lautrec, Prostitutas (1895).
III. Ao gás
«E eu que medito um livro que exacerbe, Síntese da intenção
Quisera que o real e a análise mo dessem» do eu lírico
(conceção poética):
fazer uma poesia
• Retrata espaços associados ao consumismo de análise e crítica
e à burguesia: à sociedade
«Casas de confeções e modas»;
«luxo […] / que ao longo dos balcões
de mogno se amontoa»
🞃
«Mas tudo cansa!»
Simboliza, no seio
de uma sociedade onde
• Reencontra o velho professor de latim:
o luxo se amontoa,
«Pede-me sempre esmola um homenzinho idoso, o desprezo pela cultura
Meu velho professor nas aulas de latim!» e pelo saber
IV. Horas mortas
Luz baça das estrelas:
«Vêm lágrimas de luz
Noite profunda dos astros com olheiras»
(metáfora e personificação)

• Alusão a um ambiente pastoril:


• Registo de sensações «As notas pastoris de uma longínqua flauta»
visuais e auditivas:
• Desejo de perfeição e imortalidade:
⬧ «lágrimas de luz»
«Se eu não morresse nunca […]»
⬧ «Um parafuso cai nas
lajes» • Nova evocação do passado português
(«frotas dos avós»), aliada ao desejo
de restaurar a grandeza no «porvir»
• Desejo de evasão:
explorando «todos os continentes»
«Enleva-me a quimera azul
de transmigrar»
IV. Horas mortas
Dicotomia (repetição) espacial e temporal:

Realidade — Presente — As «nossas ruas» Sonho — O porvir — A vastidão


• O aprisionamento • A vastidão por explorar
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• A estagnação • O dinamismo e a procura

Ideias que
prevalecem
na conclusão «triste cidade»
do poema •sem liberdade:
onde vivem os «emparedados», A cidade é
«sem árvores», no «vale das muralhas» o espaço da
«dor humana»
•violenta e decadente:
onde «os cães [doentes] parecem lobos»
Recursos expressivos e linguagem

«Que grande cobra»


Metáfora
«cardume negro»
«Um cheiro salutar e honesto a pão»
Hipálage
«E os olhos dum caleche espantam-me, sangrentos»
Adjetivação «hercúleas, galhofeiras»
Sinestesia «Reluz, viscoso, o rio»
Comparação «Como morcegos»
Recursos expressivos e linguagem

Utilização de verbos e advérbios que traduzem os efeitos opressivos do ambiente:


• «A noite pesa, esmaga» (verbos);

• «Cercam-me as lojas» (verbo);

• «Amareladamente, os cães» (advérbio).

Dimensão impressionista:
• Centralidade das sensações visuais, auditivas e olfativas
(«a maresia»: «tinir de louças»; «reluz, viscoso, o rio»; «cheiro […] a pão»).

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