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Luís de Camões, Os Lusíadas

Contextualização histórico-literária (século XVI)

Renascimento Classicismo

Renovação cultural e Recuperação de


artística - reinvenção figuras e temas
das formas artísticas mitológicos, gosto
(perspetiva naturalista pela harmonia e
e humanista) simetria

Interesse pela arte e Entendimento do


pela cultura da corpo humano como
Antiguidade Clássica medida da arte

Introdução das Reflexões do poeta


1. As reflexões do poeta constituem um dos planos de Os Lusíadas?
As reflexões constituem um dos quatro planos de Os Lusíadas, ao lado do plano da
narração da História de Portugal, da narração da viagem de Vasco da Gama à Índia e
do plano da mitologia.

2. Em que momento encontramos geralmente as reflexões do poeta?


As reflexões do poeta estão geralmente no final dos Cantos.

3. Que sentimentos traduzem as reflexões do poeta?


As reflexões do poeta traduzem desalento, tristeza e constituem, por vezes, momentos
de denúncia e polémica.

4. As reflexões do poeta circunscrevem-se exclusivamente ao século XVI?


As reflexões do poeta abordam problemáticas intemporais. São, por isso, ainda hoje
atuais, não se circunscrevendo ao momento da escrita.

5. Quais são as reflexões do poeta que estudamos?


Estudamos a reflexão sobre a fragilidade da vida humana (Canto
I), a reflexão sobre o verdadeiro valor da arte (Canto V), a
reflexão sobre a importância da valorização do bem público
(Canto VII), a reflexão sobre o poder corruptor do dinheiro (Canto VIII), a reflexão sobre
a recompensa dos verdadeiros heróis (Canto IX) e a exortação à excelência (Canto X).
Matéria Épica
Imaginário Épico

Sublimidade do canto

Mitificação do herói

“puras
verdades”

Matéria Épica
Viagem de Vasco da Gama
Exploração e conhecimento dos mares.
Vitória relativamente aos inimigos e às forças
da Natureza.
Feitos históricos dos portugueses
Narração de feitos passados (analepse): por
Vasco da Gama ao rei de Melinde (Cantos III,
IV e V); por Paulo da Gama ao Catual (Canto
VIII). Narração de feitos futuros (prolepse): profecias de Júpiter (Canto II), do Adamastor
(Canto V), de uma ninfa e de Tétis (Canto X).

Sublimidade do canto
Narração dos feitos dos portugueses através de um “som alto e sublimado” /” estilo
gandíloco e corrente”, adequado à matéria épica com recurso a:

• Estilo culto, erudito;


• Latinismo;
• Evocações mitológicas;
• Alusões à história antiga:
• Recursos expressivos (anáfora, anástrofe, apóstrofe, comparação, enumeração,
hipérbole, interrogação retórica, metáfora, metonímia, personificação).
Canto épico como condição para a existência de heróis (manutenção dos feitos heroicos
na memória dos vindouros).
Mitificação do herói
Exaltação das características do povo português que lhe conferem o estatuto de herói:
coragem, ousadia, patriotismo, espírito de sacrifício, fé em Deus. Comparação dos
portugueses com os heróis e Deuses da Antiguidade Clássica (e sua superação).

Superação dos
Ilha dos Amores Imortalização
modelos antigos.
(recompensa dos
Ascensão ao estatuto Divinização
portugueses)
de heróis.

Canto I Canto IX Canto X


Sublimidade do canto Mitificação do herói Mitificação do herói
Canto dos feitos gloriosos Estatuto de herói Acesso ao conhecimento
dos portugueses; tom recompensado com a Ilha interdito aos homens
épico para engradecer os dos Amores. através da visão da
lusitanos. Máquina do Mundo.
Constituição da matéria
épica
Os feitos gloriosos dos
portugueses bélicos e
náuticos; a viagem de
Vasco da Gama e a
História de Portugal; a
superioridade dos
portugueses relativamente
aos heróis clássicos.

A obra Os Lusíadas é uma epopeia que narra a coragem e a glória dos feitos
portugueses no mar e no além-mar. Baseados nas estruturas clássicas da Antiguidade
(a Odisseia e a Ilíada), Os Lusíadas caracterizam-se por um estilo grandioso que
procura captar a admiração do leitor. Trata-se de uma visão heroica do mundo que tem
como matéria épica a viagem de Vasco da Gama à Índia e os feitos dos Portugueses.
Contudo, Luís de Camões não deixa de tecer algumas críticas ao preço humano da
aventura quinhentista. Sobretudo nos finais dos Cantos, o poeta deixa entrever algumas
reflexões pessoas que constituem aquilo que poderemos apelidar de matéria antiépica.

Fragilidade da vida
humana
Desvalorização da
arte / Exortações a Desprezo pelas
D. Sebastião artes e pelas letras
Reflexões
do poeta
(tom
antiépico)
Queixas do poeta /
Imortalização do critérios de seleção
nome dos merecedores
Poder do dinheiro do canto
Fragilidade da vida humana (l, 105-106)
Consciencialização do carácter terreno/mortal/efémero da vida humana e da pequenez
e fraqueza do ser humano (em oposição à força dos perigos envolventes).
Desprezo pelas artes e pelas artes (V, 92-100)
Crítica à falta de cultura dos portugueses que leva à desvalorização da arte.
Constatação de que a ausência de quem divulgue literariamente os feitos heroicos
levará ao desaparecimento dos heróis. Censura ao facto de os portugueses serem
dominados pela austeridade, pela rudeza e pela falta de “engenho”.
Queixas do poeta/Critérios de seleção dos merecedores do canto (VII, 78-87)
Expressão dos infortúnios pessoais (vida de perigos diversos, de guerras, de viagens
atribuladas por mar e por terra, errância, pobreza, desterro, incompreensão por parte
dos contemporâneos). Apresentação de critérios de seleção dos que merecem e dos
que não merecem ser cantados.
Poder do dinheiro (VIII, 96-99)
Crítica aos efeitos gerados pela ambição do dinheiro (rendição de fortalezas,
transformação de nobres em pessoas vis, promoção da deslealdade, corrupção do que
é puro, deturpação da justiça e da ciência).
Imortalização do nome (IX, 88-95)
Considerações sobre o caminho a percorrer para alcançar a fama/imortalidade
(renúncia ao ócio, à cobiça, à ambição desmedida e à tirania; promoção da justiça e
igualdade, da defesa da fé cristã e da pátria).
Desvalorização da arte/Exortações a D. Sebastião (X, 145-156)
Desalento face a uma pátria decadente que despreza as artes e menospreza a obra do
próprio Camões. Apelo a D. Sebastião para liderar Portugal na realização de novos
feitos gloriosos.

Canto I Canto V Canto VII Canto VIII Canto IX Canto X


Tentativa Narração Desembarq Última Desembarqu Embarque na
de das ue dos intervençã e dos nautas Ilha dos
destruição peripécias nautas na o de Baco, na Ilha dos Amores e
dos dos Índia e traição e Amores e a regresso a
Portuguese nautas, primeiras suborno sua união Lisboa
se desde a diligências do Catual com as
chegada partida de ninfas
destes a Lisboa até Lamentação
Mombaça à chegada Reflexão Reflexão do poeta
a Melinde do poeta do poeta Reflexão do Desvalorizaçã
Queixa dos Poder do poeta o da arte e
Reflexão infortúnios; dinheiro Imortalizaçã Exortações a
do poeta Reflexão critérios de o do nome D. Sebastião
Fragilidade do poeta seleção
da vida Desprezo dos que
humana pelas artes merecem
e pelas ser
letras cantados
Luís de Camões
OS LUSÍADAS

Epopeia
Genéro de texto da
tradição literária

Conteúdo - exaltação
de um acontecimento
Forma - poema narrativo Estilo - estilo solene /
memorável com
extenso elevado
interesse nacional -
visão heroica do mundo

Estrutura externa
10 cantos, com número variável de estrofes. Estrutura estrófica: oitavas.
Estrutura métrica: decassílabo (Vós/po/de/ro/so/rei/cu/jo al/to im/pé (rio))
Estrutura rimática das estrofes: abababcc. Rima cruzada nos seis primeiros versos e
emparelhada nos dois últimos.

Estrutura interna
Proposição – explicitação do propósito e do assunto da obra.
Invocação – pedido de inspiração às ninfas do Tejo.
Dedicatória – oferecimento da epopeia a D. Sebastião.
Narração – relato da ação, iniciada in media re, em quatro planos interligados.

Assunto
Exaltação de um acontecimento memorável e extraordinário, com interesse nacional ou
universal, a viagem de Vasco da Gama e dos navegadores portugueses até à Índia, que
constitui a ação centra da epopeia.

Visão heroica dos lusitanos,


cuja coragem possibilitou
dobrar o Cabo das Tormentas
e descobrir o caminho
marítimo para a Índia.
Planos da ação
Existem quatros planos de ação: plano da viagem (viagem de Vasco da Gama à Índia),
presente nos Cantos I, II, IV, V, VI, VII, VIII, IX, X; plano mitológico articulado com o
plano da viagem, nos Cantos I, II, VI, VIII, IX, X; plano da História de Portugal encaixado
no plano da viagem, nos Cantos III, IV, VIII, X e por último o plano das reflexões do
poeta, a propósito dos factos narrados, geralmente em final de canto.

In media re
A expressão latina in media re significa no meio das coisas, no meio dos
acontecimentos. Neste contexto, refere-se a uma técnica segundo a qual se começa a
narrar a ação não desde o início, mas a meio da história (no momento crucial), com o
objetivo de captar a atenção do leitor.
Esta técnica narrativa é utilizada em epopeias (por exemplo, na Ilíada, na Eneida, em
Os Lusíadas).

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