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Classicismo

Literatura Renascentista - Séc. XV e XVI


Criação de Adão do pintor Michelangelo
CLASSICISMO:
Tendência artística que
revitalizou a tradição clássica
de afirmar a superioridade
humana. Para recriar os ideais
da antiguidade greco-latina, o
Classicismo valorizou as
proporções, o equilíbrio das
composições, harmonia das
formas e a idealização da
realidade. Manifestou-se tanto
nas artes plásticas quanto na
música, na Literatura e na
filosofia.
Contexto Histórico
Final da Idade Média: queda do feudalismo,
transição para o mercantilismo: surgimento da
burguesia, das rotas comerciais, do
mercantilismo.

Renascimento cultural visava promover uma


renovação filosófica, artística, econômica e
política, de modo a recriar, na Europa, uma
sociedade organizada a partir dos princípios
da antiguidade clássica. Valores dos tempos
modernos: Individualismo, racionalismo e
antropocentrismo. Movimento urbano criado
pelos mecenas, desvinculado da igreja. Os
pintores desenvolveram a perspectiva que
proporcionava às obras a ideia de volume e
profundidade a partir da aplicação de conceitos
matemáticos e físicos.
Aumento da produção cultural:
desenvolvimento da imprensa
(alemão Johann Gutemberg) com
processo de impressão com tipos
móveis de metal. Além da ação dos
MECENAS.

Renascimento científico:
pesquisadores valorizavam a razão
(capacidade humana de avaliar a
realidade e distinguir o verdadeiro do
falso) e a experimentação. Bem
como, observação dos fenômenos
naturais visando propor novas
hipóteses, medir e reavaliar.
Humanismo (corrente intelectual do séc. XV e
XVI que primava pela razão e pela liberdade)
tinha como valores: curiosidade intelectual,
espírito crítico, capacidade empreendedora,
o desejo de aventura e de exploração do
mundo. O homem era considerado como
criatura e criador e estava imbuído em diversos
estudos: da natureza, das artes e das técnicas,
sempre buscando a construção de novos
conhecimentos baseados na análise e
comparação com estudos antigos (gregos e
romanos), sempre buscando a valorização da
razão.

Criação da escola de Sagres para desenvolver


a navegação utilizando técnicas para registro
de rotas e etc.
Reforma Protestante (movimento de oposição à
igreja católica): o monge Martinho Lutero foi o
iniciador da reforma que tinha como objetivo
modificar muitos hábitos da época, inclusive
o domínio clerical na política e na economia.
A matemática e a física a serviço da pintura
renascentista: a invenção da PERSPECTIVA,
em que todos os pontos do espaço retratado
obedecem a uma norma única de projeção.
Baseado no teorema de Euclides, que
estabelece uma relação matemática
proporcional. Brunelleschi instituiu a técnica do
“olhar fixo”, que observa o espaço como que
através de um instrumento ótico e define as
proporções dos objetos e do espaço entre
eles.
CARACTERÍSTICAS DO CLASSICISMO:

● Idealização amorosa (a ideia que se tem


do amor é de perfeição), neoplatonismo
(o eu lírico escolhe não se relacionar com
a pessoa amada para que o ideal de
perfeição permaneça).
● Predomínio da razão (baseado no
Racionalismo: doutrina que privilegia a
razão no processo de conhecer a
verdade).
● Paganismo (refere-se a crença em vários
deuses, Cultura clássica).
● Influência da cultura antiga de Grécia e
de Roma.
● Antropocentrismo (o homem como o ser
capaz de transformar a realidade ao seu
redor): o homem como centro do
universo.
● Universalismo: temas que são de interesse
geral que vão além da época em que foi
escrita.
● Busca de clareza e equilíbrio de ideias.
● Nacionalismo: amor a nação (povo de um
determinado país).
● Quanto à forma: gosto pelo soneto (criação
do poeta italiano Petrarca); imitação das
formas clássicas; emprego de medida nova
(verso decassílabo, ou seja, com dez
sílabas poéticas); busca de equilíbrio formal.
CLASSICISMO EM PORTUGAL
Chegou a Portugal com as novidades
artísticas trazidas da Itália pelo poeta Sá
de Miranda. Essas inovações temáticas e
formais vinham ao encontro dos anseios
dos artistas e intelectuais portugueses da
época. Motivados pela euforia das
navegações, buscavam uma Literatura
que fosse a expressão do espírito da
nacionalidade do país, que imortalizasse o
sentimento de valorização experimentado
pelo povo português e os feitos heroicos
que lhe haviam dado origem.
LUIZ VAZ DE CAMÕES: Principal poeta
português da época. Sua obra épica “Os
Lusíadas” projetou a literatura portuguesa
entre as mais significativas do cenário
europeu daquela época.

A lírica e a épica de Camões foram as


principais expressões do Classicismo em
Portugal. Mas ele escreveu também
algumas peças teatrais, inspiradas nas
obras de Gil Vicente.

Seu poema épico exalta a grandeza


histórica dos lusos, desde a fundação da
nacionalidade até a edificação do império
ultramarino. Nessa epopeia, o heroísmo é
ampliado, pois Camões canta não apenas
as glórias de um herói, mas também de um
povo: Vasco da Gama é um herói coletivo,
que representa todos os portugueses.
Lírica Amorosa: o tema amoroso é explorado sob dupla
perspectiva. Com frequência aparece o amor sensual
próprio do renascimento inspirado na cultura greco-latina.
Porém, predomina o neoplatonismo em que o amor e a
mulher se configuram como idealizados e inacessíveis.

Na poesia lírica, Camões cultivou Gêneros prestigiados


no Classicismo, sem romper com a velha tradição,
garantiu a coexistência de novos e velhos gêneros,
bem como de novas e velhas métricas convencionais.
Desse modo, sua poesia não se caracteriza pela
ruptura, mas pela continuidade e pelo aproveitamento
da tradição medieval. O conceito trovadoresco do amor
é aprofundado. A figura feminina costuma ser traçada
por por meio de adjetivos que ressaltam mais as
qualidades interiores do que suas características
físicas, pois o amor é desinteressado dos prazeres
físicos e sensoriais. Manifesta-se, então, o conflito
entre o amor profano, material e o amor espiritual,
puro. Geralmente, essas contradições são expressas
pelo uso de antíteses e paradoxos.
Soneto de Camões (Lírica amorosa)

Quem vê, Senhora, claro e manifesto


O lindo ser de vossos olhos belos,
Se não perder a vista só em vê-los,
Já não paga o que deve a vosso gesto.

Este me parecia preço honesto;


Mas eu, por de vantagem merecê-los,
Dei mais a vida e alma por querê-los,
Donde já me não fica mais de resto.

Assi que a vida e alma e esperança,


E tudo quanto tenho, tudo é vosso;
E o proveito disso eu só o levo.

Porque é tamanha bem-aventurança


O dar-vos quanto tenho e quanto posso,
Que, quanto mais pago, mais vos devo.
Lírica Filosófica: tem por tema a
reflexão sobre a vida, o homem
e o mundo. Nela se destaca a
consciência da incessante
mudança verificada na
realidade e da força implacável
do tempo (efemeridade do
tempo), cuja ação nem sempre é
positiva, tanto para o eu lírico
quanto para o mundo.
Soneto de Camões (Lírica Filosófica)

Correm turvas as águas deste rio.


Que as do céu e as do monte se enturbaram;
Os campos flores ciclos se secaram;
Intratável se fez o vale, e frio.

Passou o verão, passou o ardente estio;


Ũas cousas por outras se trocaram;
Os fementidos Fados já deixaram
Do mundo o regimento ou desvario.

Tem o tempo sua ordem já sabida;


O mundo não; mas anda tão confuso,
Que parece que dele Deus se esquece.

Casos, opinião, natura e uso


Fazem que nos pareça desta vida
Que não há nela mais que o que aparece.
Poesia Épica de Camões “Os Lusíadas”
As aventuras e os feitos heroicos dos portugueses
foram narrados tendo como base a viagem de
Vasco da Gama e dos lusos (povo português) que
lançaram-se ao mar, numa época em que se
acreditava na existência de monstros e abismos
marinhos. Camões era cristão e desejava cantar em
seu poema também a expansão da fé cristã no mundo.
Por isso, a presença de Deus e a referência a milagres
e santos do cristianismo são constantes em sua obra.
Há nela também a presença dos deuses do Olimpo.
Eles interferem na narrativa procurando auxiliar ou
prejudicar os portugueses no cumprimento de seus
objetivos. Enquanto Vênus e Marte, tentam
protegê-los, Netuno e Baco procuram impedir o
cumprimento da rota planejada.
O poema “Os Lusíadas” está estruturado da
seguinte forma: 1102 estrofes com oito versos
cada, organizado em dez cantos, apresentando
as seguintes partes:
● Proposição (é a introdução ‘diz do que o
poema vai tratar’);
● Invocação (‘invoca as ninfas pedindo
inspiração para fazer o poema’);
● Dedicatória (‘o poeta dedica sua obra ao rei
Dom Sebastião’),
● Narração (o relato das aventuras vividas
pelos personagens. encontramos o episódio
do velho da praia do Restelo, do Gigante
Adamastor, a história dos reis de Portugal,
entre outros.)
● Epílogo (conclusão do poema. O poeta
lamenta a cobiça e a rudeza que se instalou
em sua Pátria, e exorta o rei D, Sebastião a
novas conquistas).
Fragmento do canto V: episódio de Adamastor,
retirado do poema épico “Os Lusíadas” de Camões

Porém já cinco sóis eram passados


Que dali nos partíramos, cortando
Os mares nunca doutrem navegados,
Prosperamente os ventos assoprando,
Quando uma noite, estando descuidados
Na cortadora proa vigiando,
Uma nuvem, que os ares escurece,
Sobre nossas cabeças aparece.

Tão temerosa vinha e carregada,


Que pôs nos corações um grande medo;
Bramindo, o negro mar de longe brada,
Como se desse em vão nalgum rochedo.
“Ó Potestade (disse) sublimada:
Que ameaço divino ou que segredo
Este clima e este mar nos apresenta,
Que mor cousa parece que tormenta?”
Não acabava, quando uma figura
Se nos mostra no ar, robusta e válida,
De disforme e grandíssima estatura;
O rosto carregado, a barba esquálida,
Os olhos encovados, e a postura
Medonha e má e a cor terrena e pálida;
Cheios de terra e crespos os cabelos,
A boca negra, os dentes amarelos.

Tão grande era de membros, que bem posso


Certificar-te que este era o segundo
De Rodes estranhíssimo Colosso,
Que um dos sete milagres foi do mundo.
Cum tom de voz nos fala, horrendo e grosso,
Que pareceu sair do mar profundo.
Arrepiam-se as carnes e o cabelo,
A mi e a todos, só de ouvi-lo e vê-lo!
Quinhentismo
Manifestação Literária;

Literatura de Informação;

Literatura no Brasil;

Literatura dos Viajantes.


O Quinhentismo foi o período das
manifestações literárias do século XVI
(1500). Fazia parte dessas produções os
textos escritos sobre a colonização do
Brasil, mostrando o ponto de vista dos
europeus.
Os escritos dos cronistas e viajantes eram
uma tentativa de descrever e catalogar
a terra e o povo recém-descobertos.
Entretanto, permeava-os a fantasia de
seus autores, exploradores europeus
que filtravam dados, acrescentando-lhes
elementos mágicos e características
muitas vezes fantásticas.
Enquanto no Brasil ocorria o
Quinhentismo com a produção da
Literatura de Informação e de Catequese,
em Portugal, continuava ocorrendo o
Classicismo.
Durante o Quinhentismo foram produzidos dois
tipos de Literatura aqui no Brasil:
1. Literatura de Informação: narram e descrevem as
viagens e os primeiros contatos com a terra brasileira.
A linguagem era simples e cheia de descrições e de
informações a respeito das viagens e das terras
descobertas. O grande destaque é dado A Carta de
Caminha, escrita por Pero Vaz de Caminha para o rei de
Portugal (D. Manoel), documento considerado o marco
inicial da Literatura em terras brasileiras.
Os principais gêneros produzidos são: cartas de viagem,
diários de navegação e tratados descritivos que, pelo seu
caráter informativo, não se situam propriamente no
âmbito da Literatura, mas no da crônica histórica e
informativa, ou seja, possuem maior valor histórico que
artístico.
Esse conjunto de textos, além de conter descrições
das paisagens, dos índios e dos grupos sociais
nascentes, são um testemunho do choque cultural
entre colonizadores e colonizados.
Por meio da leitura dos textos da Literatura de
informação (Quinhentismo) podemos
perceber que:
A descrição do indígena e seus hábitos
contém projeções da cultura eropeia da
época. O índio foi considerado como um ser
puro na concepção de Caminha e,70 anos
depois, um selvagem na visão de Gândavo.
A nudez e os rituais antropofágicos são
exemplos do choque cultural entre os
colonizadores e os colonizados.
Há a expressão dos interesses da coroa
portuguesa na colônia ligados à expansão
marítima e ao mercantilismo.
Há a expressão dos ideais de expansão da
cristandade ligados ao propósito de
dominar os indígenas e, assim, ampliar o
poder português sobre as terras e as
riquezas do novo mundo.
Fragmento da Carta de Pero Vaz de Caminha

Dali avistamos homens que andavam pela praia, obra de


sete ou oito, segundo disseram os navios pequenos, por
chegarem primeiro.
Então lançamos fora os batéis e esquifes, e vieram logo
todos os capitães das naus a esta nau do Capitão-mor,
onde falaram entre si.
E o Capitão-mor mandou em terra no batel a Nicolau
Coelho para ver aquele rio. E tanto que ele começou de
ir para lá, acudiram pela praia homens, quando aos dois,
quando aos três, de maneira que, ao chegar o batel à
boca do rio, já ali havia dezoito ou vinte homens. Eram
pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse
suas vergonhas.
Nas mãos traziam arcos com suas setas. Vinham todos
rijos sobre o batel; e Nicolau Coelho lhes fez sinal que
pousassem os arcos. E eles os pousaram.
Ali não pôde deles haver fala, nem entendimento de
proveito, por o mar quebrar na costa. Somente deu-lhes
um barrete vermelho e uma carapuça de linho que
levava na cabeça e um sombreiro preto. [...]
Da condição e costumes do índio da terra - Pero de Magalhães Gândavo

Quando estes índios tomam alguns contrários, se logo com aquele


ímpeto os não matam, levam-nos vivos para suas aldeias (ou sejam
portugueses ou quaisquer outros índios seus imigos), e tanto que
chegam a suas casas lançam uma corda muito grossa ao pescoço do
cativo para que não possa fugir, e armam-lhe uma rede em que durma
e dão-lhe uma índia moça, a mais fermosa e honrada que há na aldeia
[...] Esta índia tem cargo de lhe dar muito bem de comer e beber; e
depois de o terem desta maneira cinco ou seis meses ou o tempo que
querem, determinam de o matar [...] Aquele que o há de matar
empena-se primeiro com penas de papagaio de muitas cores por todo o
corpo: há de ser este matador o mais valente da terra, e mais honrado.
Traz na mão uma espada de um pau muito duro e pesado com que
costumam de matar, e chega-se ao padecente dizendo-lhe muitas
coisas e ameaçando-lhe sua geração que o mesmo há de fazer a seus
parentes; e depois de o ter afrontado com muitas palavras injuriosas,
dá-lhe uma grande pancada na cabeça, e logo da primeira o mata e lhe
fazem pedaços [...] para tomar os miolos e o sangue: tudo enfim cozem
e assam, e não fica dele coisa que não comam. Isto é mais por
vingança e por ódio que por se fartarem. Depois que comem a carne
destes contrários ficam nos ódios confirmados, e sentem muito esta
injúria, e por isso andam sempre a vingar-se uns contra os outros [...]
2. Literatura de Catequese:
Os jesuítas vieram ao Brasil com a missão de
catequizar os índios e deixaram inúmeras
cartas, tratados descritivos, crônicas históricas e
poemas. Destacam-se nesse período os padres
Manuel da Nóbrega, Fernão Cardim e, pela
qualidade literária, José de Anchieta, sua obra
representa parte da melhor produção do
quinhentismo brasileiro. Escreveu poesia
religiosa, poesia épica (em louvor às ações do
terceiro governador-geral, Mem de sá), além de
crônica histórica e uma gramática do Tupi.
Foi autor de peças teatrais, escritas com a
finalidade de ajudar na educação espiritual
dos colonos e catequese dos índios, nas
quais revela influência da poesia palaciana e
do teatro de Gil Vicente.
Padre José de Anchieta
O teatro de Anchieta cumpriu plenamente sua
missão catequética. Para as comemorações de
datas religiosas, escrevia e levava ao público
autos que veiculavam de forma amena e
agradável a fé e os mandamentos religiosos. Já
que o público era muito diversificado (índios,
marujos, colonos, comerciantes, soldados, etc.),
escreveu autos polilíngues o que lhes conferia
maior alcance. Porém, seu alvo maior era o índio.
Para isso, o padre observou o gosto do silvícola
por festas, danças, músicas e representações.
Soube unir a essa tendência natural a moral e
os dogmas católicos, fazendo uso de pequenos
jogos dramáticos. assim, ao mesmo tempo que
divertia a plateia, alcançava seus objetivos.
Em Deus, Meu Criador (Pe. José de Anchieta)

Não há coisa segura.


Tudo quanto se vê
se vai passando.
A vida não tem dura.
O bem se vai gastando.
Toda criatura
passa voando.

Em Deus, meu criador,


está todo meu bem
e esperança,
meu gosto e meu amor
e bem-aventurança.
Quem serve a tal Senhor
não faz mudança.

Contente assim, minha alma,


do doce amor de Deus
toda ferida,
o mundo deixa em calma,
buscando a outra vida,
na qual deseja ser
toda absorvida.
Do pé do sacro monte
meus olhos levantando
ao alto cume,
vi estar aberta a fonte
do verdadeiro lume,
que as trevas de meu peito
todas consume.

Correm doces licores


das grandes aberturas
do penedo.
Levantam-se os erros,
levanta-se o degredo
e tira-se a amargura
do fruto azedo!

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