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12º Mensagem

Introdução
Mensagem foi a única obra de Fernando Pessoa publicada em vida, no ano
de 1934 e que contém 44 poemas. A obra é uma espécie de versão moderna
dos Lusíadas, na qual o autor exprime o seu ideal espiritualista,
sebastianista e regenerador da pátria. É uma obra que valoriza o sonho e a
utopia, colocando-os num plano superior ao da própria realidade.

Natureza épico-lírica
Mensagem contém uma dimensão épica, porque parte de uma base
histórica. No entanto, não é uma narrativa como as epopeias tradicionais e o
seu objetivo não é contar a história com precisão ou descrever e
caracterizar os seus heróis. O poeta exprime o seu desejo, de ressurreição
da nação, de forma pessoal, subjetiva e introspetiva, característica do texto
lírico. Nos poemas não se encontra a verdade dos factos, mas sim, a
interpretação pessoal de Fernando Pessoa em relação a eles.

A dimensão simbólica
do herói
Em Mensagem, aquilo que prevalece é o símbolo e não o critério histórico e,
portanto, os relatos históricos são inexistentes e há poucas alusões diretas a
factos históricos. Na obra, apenas figuram aqueles a quem se poderia
atribuir a distinção de símbolos significativos para a mensagem que queria
transmitir. O herói é símbolo de uma atitude e como tal, o seu gesto é
representado não tanto como figuração histórica, mas como figuração
onírica.
Herói: aquele que se eleva acima da medida humana comum na defesa de
um ideal, pela sua energia, coragem e sabedoria.
Mito: Acontecimento que, apesar de poder nunca ter existido, tem uma
enorme importância na realização de novas coisas pois transmite valores,
força de vontade e exemplos a seguir. «O mito é o nada que é tudo.»
Dois tipos de herói:

• O que age por instinto sem apresentar consciência do alcance


dos seus atos no futuro.
• Voluntário, consciente dos seus atos e de ter cumprido um dever
contra o Destino.
Aspeto comum aos heróis: encontram-se envoltos por um misticismo de
algo a cumprir, existem em função do futuro que nebulosamente
prenunciam

Exaltação Patriótica
Na obra, a Pátria é o conjunto humano unido por instituições comuns,
tradições históricas e, acima de tudo, uma língua comum. O poeta mostra
a sua vontade de que a pátria (decadente, incapaz de agir coletivamente e
virada para um passado glorioso) se transforme em «nação criadora de
civilização» através do poder do sonho. Para tal, é necessária a evocação,
com os olhos postos no futuro, dos heróis passados de Portugal, exemplos
da vontade de mudança e da capacidade de ação, de modo a influenciar
os portugueses, transformando-os em agentes de construção do Portugal
futuro.

O Sebastianismo
O mito gerado à volta da figura de D. Sebastião assenta na crença do povo
no seu regresso, após a derrota em Alcácer Quibir, associado a uma
dimensão messiânica (messias) de um salvador da pátria, que virá libertar o
povo e restaurar o prestígio de Portugal.
Fernando Pessoa, em Mensagem cria o herói, o Encoberto que se apresenta
como D. Sebastião. Da história ao mito, a figura de D. Sebastião providencia
uma inspiração essencial na busca de novas realizações. A mitologia
nacional indica o Sebastianismo como a crença na regeneração futura de
Portugal e de ideologia impulsionadora do Quinto Império.
D. Sebastião mítico surge, na moderna poesia portuguesa, como paradigma
da loucura heroica, como potenciador da esperança no ressurgimento da
Pátria adormecida. É o mais importante dos símbolos da obra, que, no
conjunto dos seus poemas, se alicerça num sebastianismo messiânico e
profético.
O Quinto Império
Pessoa reformulou a teoria do Quinto Império, criado pelo Padre António
Vieira. Partindo de uma perspetiva cultural, os cinco impérios eram o da
Grécia, o de Roma, o da Cristandade, o da Europa pós-renascentista e o
império de Portugal, prestes a despontar. Pessoa, defendia a ideia de que
Portugal, através da sua língua, cultura e literatura, dominaria o resto da
Europa.
Este império é construído na esfera de uma identidade cultural, um império
em que a vontade e a esperança transformadora se vão reerguer contra a
decadência presente, contra a Nação adormecida.
O Quinto Império é essencialmente uma representação mental, uma
atitude perante a nação e a nossa própria existência: a procura do nosso ser
no mundo, como indivíduos e como Povo historicamente predestinado a
recuperar o prestígio perdido.
Mensagem apresenta, desta forma, um caráter profético e visionário pois
antevê um império futuro (não terreno) e ansiar por ele é perseguir o sonho,
a ânsia do impossível, a loucura. D. Sebastião é o mais importante símbolo
da obra, que se alicerça num Sebastianismo messiânico e profético.

A estrutura da obra
A estrutura de Mensagem representa um ciclo de nascimento, vida e morte
da pátria. Mas esta morte não é definitiva, pois pressupõe um renascimento
que será o novo império, cultural e espiritual – O Quinto Império.

• 1ª Parte: Brasão – Corresponde ao nascimento da nação. Desfile de


heróis históricos e simbólicos, fundadores do império como Ulisses, D.
Dinis, D. Sebastião, etc.
• 2ª Parte: Mar Português – Nesta segunda parte surge a realização da
vida, o apogeu da nação e da ação portuguesa dos Descobrimentos.
Simboliza o ideal de ser português vocacionando para o mar e para o
sonho.
• 3ª Parte: O Encoberto – Representa a morte e desintegração da
pátria, no entanto existe a fé que a morte contenha em si a semente
da ressurreição. A terceira parte é a noite, o nevoeiro, o fim, mas
contém também a esperança do regresso de D. Sebastião, o
Encoberto, ou melhor, o ressurgimento da sua loucura, trazida no
sonho impossível, no desejo da Distância, do Longe, na Utopia do
Quinto Império.
O que se espera dos portugueses?
Mensagem celebra as qualidades dos portugueses, que no passado
ajudaram a construir um país, e que no futuro o deverão ajudar a reerguer-
se. Não se limitando, como Camões, ao elogio do português, Fernando
Pessoa destaca ainda a força de outrora de um povo dominador, possuidor
de um império territorial espalhado por vários continentes. Tudo isto
aconteceu porque houve loucura, coragem, esforço e capacidade de
sofrimento, sentimentos adormecidos nos portugueses e quem têm de ser
reavidos para reerguer o país. Na verdade, quando se consegue conjugar o
que “Deus quer” com o que “o homem sonha”, então aí “a obra nasce”.
Agora, para que esse elogio continue a ser merecido e para que “possa
cumprir-se Portugal”, cabe a este país e a este povo guiar a Europa e o
Mundo ao novo Império.

Relação Mensagem/Lusíadas
Camões fala dos heróis que construíram e alargaram o Império Português,
para que a sua memória não seja esquecida, enquanto Pessoa escolhe
aquelas figuras históricas predestinadas a essa construção imperial, mas,
através delas procura simbolizar a essência do ser português que acredita
no sonho e se mostra capaz da utopia para a realização de grandes feitos.
Nos Lusíadas há a viagem à India, na Mensagem temos a avaliação do
esforço, considerando que a glória advém da grandeza da alma humana,
apesar das vidas perdidas e de toda a espécie de sacrifícios dos que
partiram, mas também das mães, filhos e noivas.
Camões procurou em Os Lusíadas cantar os feitos gloriosos dos
portugueses que deram início ao grande império que se estendeu pelos
diversos continentes. Pessoa, em Mensagem, cantou o fim do Império
territorial, procurando incentivar o aparecimento de um império de língua,
de cultura e de valores.

Semelhanças
• Poemas sobre Portugal.
• Conceção da História Portuguesa enquanto demanda mística.
• D. Sebastião, ser eleito, enviado por Deus ao mundo, para difundir a
Fé de Cristo.
• Os heróis concretizam a vontade divina.
• Apresentação dos heróis da História de forma fragmentária.
• Exaltação épica da ação humana no domínio dos mares.
• Superação dos limites humanos pelos heróis portugueses.
• Glória marcada pelo sofrimento e lágrimas.
• Sacrifício voluntário em nome de uma causa patriótica.
• Evocação do passado (memória) para projetar, idealizar o futuro
(apelo, incentivo).

Diferenças
Lusíadas Mensagem
É um poema épico. É um poema épico-lírico.
Estrutura: tem 10 cantos. Estrutura: triádica (dividida em 3 partes).
Tem um caráter descritivo, conta uma Tem um caráter mais abstrato, que
história com uma dimensão real. requer interpretação e tem uma
dimensão mais simbólica.
Dinamismo; a viagem, a aventura, o Estatismo: o sonho, o indefinido.
perigo.
A figura de D. Sebastião é a esperança A figura do rei está na base do
de tempos mais grandiosos pois este, sebastianismo pessoano, que aponta
ainda vivo, permite a manutenção da para a construção de um futuro
independência de Portugal e é promissor (Quinto Império), não
encorajado a realizar novos feitos. negando o passado.
Está presente a valorização do passado Embora o passado seja um incentivo
como incentivo á construção de um para a construção de um futuro, este
futuro semelhante a esse passado. futuro tem um cariz diferente do
passado.
A poesia serve de registo e de A poesia, o mito e o sonho são as forças
glorificação do passado glorioso do que levam á construção de um novo
povo português. Império.
A memória e a esperança situam-se no A esperança é utopia, só existe no
mesmo plano. sonho.
Conceção de heroísmo: concretização Conceção de heroísmo: de carácter
de feitos épicos pelos humanos. mental, conceptual. Os heróis são
símbolos de um olhar visionário, as
figuras são espectros, resultado do
trabalho do pensamento.
Amor à Pátria: enaltecimento e Amor à Pátria: atitude metafísica,
imortalização a História de Portugal e procura incessante do que não existe.
dos heróis portugueses, através de um Expressão de fé no Quinto Império.
poema épico, trabalho árduo e longo.
Assunto: os Portugueses e os feitos Assunto: a essência da Pátria e a missão
concretos cumpridos. O poeta canta a que esta deverá cumprir.
saga lusa na conquista dos mares.

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