Transcrição – Teste de Oralidade 3 – Camilo Castelo Branco – Crónicas
Portuguesas
- Crónicas portuguesas, com André Canhoto Costa.
- André Canhoto Costa, hoje contamos, nestas Crónicas Portuguesas, com um coadjuvante. Vamos ter aqui um apoio, que é uma visão do autor sobre a obra de que vamos falar. - Exatamente. Vamos falar de uma obra que tem um peso literário muito forte. Já vamos perceber porquê e temos esse ajudante que é Camilo Castelo Branco. O que existe, existiu, existe, foi depois publicado, os exemplares que pertenceram a Camilo Castelo Branco desta obra de que vamos falar. Mas existem esses exemplares pertencentes ao Camilo Castelo Branco e anotados pela própria mão do Camilo Castelo Branco. - Portanto, anotações sobre… - Tem anotações… - Anotações e comentários... - Com os seus comentários sobre a obra. - E que obra é essa? - História de Portugal dos séculos dezassete e dezoito de Luís Augusto Rebelo da Silva. O Luís Augusto Rebelo da Silva, mais conhecido como Rebelo da Silva, ele morreu relativamente cedo, com quarenta e nove anos, em mil oitocentos e setenta e um e, por isso, a obra não foi acabada. Esta obra foi publicada entre mil oitocentos e sessenta, mil oitocentos e setenta e um, cinco volumes, mas ele ficou apenas pelo século dezassete. - Dezassete. - E para os para os leitores de hoje isto pode parecer um bocadinho estranho. - Sim. - Mas era muito comum nesta época, sobretudo as obras de História serem obras muito, muito extensas. Há outros exemplos: a História da Administração Pública do Gama Barros que tem mais de dez volumes e que é só sobre a Idade Média ou as obras do Luz Soriano, também em variadíssimos volumes, sobre a guerra civil no século dezanove entre miguelistas e liberais. Portanto, era muito comum estas obras de História serem… - Extensas. - Extremamente extensas. É uma pena que ele não tenha escrito sobre o século dezoito, porque, de facto, a importância desta obra é que cobre um dos períodos mais desconhecidos. Ainda hoje, é um dos períodos menos estudados, que é o período da mudança de dinastia, como sabemos, depois da morte de D. Sebastião em Alcácer Quibir. - Dos Filipes. - Depois daquele pequeno período de reinado do cardeal D. Henrique, passamos a ter os reis de Espanha como reis também de Portugal. Portanto, há uma integração do reino de Portugal em Espanha e o Rebelo da Silva escreveu bastante sobre esse período enigmático, um período desconhecido e um período difícil, porque é um período sobre o qual e, sobretudo no século dezanove, estavam muito vivas as paixões relacionadas com a independência, com uma certa redescoberta das tradições nacionais e, portanto, nem sempre era fácil escrever, porque havia uma tendência para… - Foi criado tabu? - Em parte, porque havia alguma tendência, por um lado, para exagerar as características nacionais e para procurar características nacionais o mais longe possível, portanto, tentar ir à Idade Média descobrir características, para depois fundamentar neste período uma certa resistência à ocupação espanhola. E depois, como tu dizes e bem, havia ali também um lado de tabu, porque tinha a ver com o posicionamento que algumas das famílias mais importantes do reino de Portugal e algumas das classes sociais mais poderosas tinham tido esse posicionamento, que tinham tido, nessa altura, crítica ao estarem ao lado do rei espanhol e nem sempre era muito fácil de falar sobre isso. A verdade é que as notas do Camilo Castelo Branco são muito interessantes. Ele é um pouco crítico da obra e diz que a obra de facto é palavrosa, o que é interessante. Ou seja, às vezes é um bocadinho chata e repetitiva e isto é o olhar claramente do escritor, enfim, estas coisas são sempre relativas. Hoje há quem diga o mesmo sobre os livros do Camilo Castelo Branco, mas no fundo ele estava… - (Risos) Desculpa. - Ele estava a dizer isto com alguma propriedade, porque, de facto, há alguma repetição, isso acontece muito nestas obras, no Luz Soriano também acontece muito. Eram obras muito extensas, separadas ao longo dos anos e, portanto, muitas vezes os autores, não é porque não soubessem que já o tinham dito, mas era como se o fizessem para ajudar o leitor. - Sim, acabavam por recorrer mais à redundância, talvez, não é? - Exatamente, recuperavam e resumiam aquilo que já tinha acontecido, mas, de facto, esta obra é muito interessante, fala sobre a votação popular que foi feita em Braga, pelo arcebispo e que favoreceu o Filipe II. Fala dos escritores portugueses e do dilema que se colocou em relação à língua e é, sobretudo, muito interessante quando nós pegamos nas notas do Camilo Castelo Branco e percebemos também, através deste diálogo entre estes dois grandes escritores como… Como temos dito aqui, ao longo do tempo, a História é feita desta luta permanente entre interpretações, que são subjetivas, e, ao mesmo tempo, a procura pelos factos nos documentos que nós conseguimos, como uma crítica exaustiva, destacar e separar aquilo que é verdadeiro daquilo que é falso.