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Português

Amor de Perdição, Camilo Castelo Branco

A novela Camiliana- A ideia central da novela camiliana é, toda a pessoa tem direito a realizar a
felicidade pelo amor, tem direito a escolher, sem constrangimentos, o companheiro ou a
companheira da sua vida. A cada passo surgem nela pais à antiga, que dizem imperiosamente
aos filhos: «Se desobedeceres à honra, aos pais e aos deveres a que teus apelidos te obrigam,
conta com a nossa maldição». Casando contra vontade, os filhos o que faziam, nos velhos
tempos, «era mutilar o coração, atrofiá-lo à custa de lhe abafar as pulsações, e deixá-lo para aí
estar no peito, em letargia...»

Contextualização:
Amor de Perdição Memórias de uma Família

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Título subtítulo

aponta para um amor trágico apresentação da história

envolvendo as personagens da família Botelho, à qual

principais; pertence Camilo;

Há uma forte sugestão biográfica nesta obra,sendo de destacar, o parentesco existente entre o
autor e a personagem principal, Simão Botelho, irmão de Manuel, pai de Camilo. Amor de
Perdição conta a história trágica do tio de Camilo, que o autor conheceu através da sua tia Rita,
a irmã mais nova e preferida do protagonista que acolheu o autor depois da morte dos pais.

A par do vínculo familiar, muitas outras afinidades aproximam Simão de Camilo. De facto,
ambos estiveram presos na Cadeia da Relação no Porto, no seguimento de um caso amoroso:
Simão por ter assassinado Baltasar, que se interpunha entre si e Teresa, não desistindo dela;
Camilo por ter mantido uma relação adúltera com Ana Plácido.

Ambos se veem, abandonados pela família, na medida em que Simão não tem o seu apoio por
estar apaixonado pela filha de um inimigo do pai, ao passo que Camilo fica órfão de pai e mãe
muito jovem.

A rebeldia juvenil é uma característica comum a ambos, já que o jovem Botelho se envolve em
conflitos em Coimbra e com a família, privilegiando companhias duvidosas, enquanto Camilo,
detentor de um temperamento também inconstante, tem várias relações amorosas e uma vida
bastante agitada no Porto. Esta rebeldia acaba por ser aplacada pela paixão por Teresa, a
amada de Simão, e Ana Plácido, a amada de Camilo, as quais também estiveram
enclausuradas: a primeira em dois conventos e a segunda na Cadeia da Relação.

Por fim, podemos dizer que tio e sobrinho se unem pela predileção pelas letras: Simão estuda
Humanidades em Coimbra e Camilo torna-se escritor .Aproximando-se de seu tio por todas
estas características, e vivenciando também ele um amor proibido, cuja punição considera
injusta, Camilo procura a simpatia do leitor para a sua própria situação.

A Família Botelho:

Domingos José Correia Botelho de Mesquita e Meneses + D.Rita Teresa ... Castelo Branco

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Manueal I Simão Maria Ana Rita

( pai de Camilo) (tio de Camilo)

Camilo

O pai de Simão era um fidalgo de linhagem, que frequentava a corte de D. Maria I e tornou-se
magistrado. Em termos físicos, era o oposto de sua esposa, que era muito bonita, o que o
deixava enciumado.

Depois de trabalhar e ter vivido em diferentes localidades portuguesas em virtude da sua


profissão, a família muda-se definitivamente para Viseu, um dos locais onde decorre a ação
central da obra.

Na verdade, Domingos Botelho é um dos oponentes à relação amorosa do filho Simão com
Teresa de Albuquerque, filha do seu rival, Tadeu de Albuquerque. Tinham-se tornado inimigos
na sequência de uma sentença desfavorável que Domingos teria dado a Tadeu, situação
agravada pelo facto de Simão ter ferido dois criados do pai de Teresa numa rixa que tivera
lugar perto de uma fonte.

Alimentado por este ódio, Domingos revela-se insensível à felicidade do filho, sobrepondo-lhe
preconceitos relacionados com a honra, dignidade social, interesses materiais e desavenças
familiares.

Vendo o filho a ser preso na sequência do assassinato de Baltasar, Domingos recusa-se a


ajudá-lo, pedindo ao juiz que seja tratado como manda a lei. Após ser condenado à forca, é D.
Rita que intercede, pressionando o marido para que intervenha na sentença do filho. Só mais
tarde a pena de Simão será comutada em dez anos de degredo na Índia, por interferência de
um tio-avô.
A mãe de Simão, quando age para ajudar o filho, fá-lo por obrigação familiar. De facto, ela
chega inclusive a sentir alguma aversão por ele, fruto do seu temperamento inconstante e
agressivo. Ora o auxiliou sem que o marido se apercebesse, ora intercedeu diretamente por
ele, ousando enfrentar Domingos Botelho.

No capítulo I, aquando da apresentação da família Botelho, é referido que tem 22 anos e que
estuda em Coimbra (Manuel I). Acabou por se apaixonar e fugir com uma mulher casada,
vivendo à custa do dinheiro que a mãe lhes enviava. Finda essa ajuda, Manuel regressou e o
pai providenciou o regresso da sua amante aos Açores. Considerado desertor do exército, o pai
de Camilo foi preso, porém foi perdoado, mudando de regimento para Lisboa.

Saliente-se o facto de não ter uma relação próxima com Simão, tendo-se queixado ao pai do
comportamento deste quando ambos estudavam em Coimbra e tendo, inclusivamente, sido
tratado com indiferença quando visitou o irmão na Cadeia da Relação, no Porto. O mesmo não
se poderá dizer da relação que Simão mantinha com Rita, a irmã mais nova, a sua predileta, a
qual se tornou amiga de Teresa. Foi por causa de um diálogo entre as duas que Domingos
Botelho e Tadeu de Albuquerque tomaram conhecimento de que os filhos estavam
apaixonados.

Tadeu de Albuquerque:
inimigo de Domingos;

Viúvo e pai de uma única filha, Teresa, é um fidalgo de Viseu que odeia a família de Simão e
esse sentimento fá-lo colocar as suas convicções de pai autoritário, egoísta e inflexível acima
da felicidade da própria filha.

Ao tomar conhecimento da relação entre Teresa e Simão, Tadeu, ao início, não lhe atribui
grande importância, na medida em que não a considerou séria, além de já ter decidido casar a
sua filha com o seu primo, Baltasar Coutinho, um morgado de Castro Daire.

Apesar de Teresa ser filha única e de o património lhe ser destinado na íntegra, Tadeu não
deixa de mencionar as qualidades de Baltasar, sublinhando o facto de possuir um bom
património, o que lhe proporcionaria um futuro estável.

Veja-se que Teresa deveria, tendo em conta os códigos sociais vigentes na época, obedecer
cegamente a seu pai, deixando-o delinear, sem quaisquer objeções, o caminho do seu futuro.
Determinada e corajosa, a jovem, vítima de uma sociedade retrógrada em que era evidente a
discriminação de género, ousa enfrentar o pai, dizendo-lhe que não casará com o primo,
sujeitando-se, assim, à cólera e ameaças do progenitor. Perante este comportamento da filha,
Tadeu age de forma autoritária e intransigente, pondo em evidência o patriarcalismo português,
que se caracterizava por princípios rígidos, chegando ao ponto quer de impor casamentos por
conveniência, quer de colocar os filhos desobedientes em conventos, como meio de punição e
de correção de comportamentos.

Alimentando a esperança de que a filha esqueceria o filho do rival, de que a chama por
Baltasar se atearia e de que a clausura nos conventos mudaria Teresa, Tadeu esperava
conseguir os seus intentos; porém, tal não sucedeu. Sem olhar a meios para separar o jovem
casal, preparou o casamento com Baltasar sem o assentimento da filha, ameaçou-a com a
perda do seu património e ainda conseguiu impedir a troca de correspondência entre ambos,
punindo a mendiga que a facilitava.

Na verdade, esta subordinação do amor a preconceitos de toda a espécie fê-lo perder a


sua filha.

A Tríade Amorosa:

· Simão Botelho
No início da obra, é-nos dito que Simão, com quinze anos, estuda Humanidades em Coimbra.
Bonito e com uma boa constituição física, aparenta mais idade do que a que realmente tem e é
parecido com a mãe. Rebelde e turbulento, escolhe companhias duvidosas, que desagradam
aos pais, e é adepto dos ideais liberais.

De rebelde, agressivo e mau estudante, Simão passa a aluno exemplar e a filho com
comportamentos adequados, o que muito espanta e satisfaz os familiares. Esta mudança foi
levada a cabo pelo poder transformador do amor por Teresa de Albuquerque, a quem era
sincero, leal e devoto, como podemos constatar através das cartas que trocavam.

Porém, Simão continua a preservar, na sua personalidade, o seu lado sedento de conservação
da honra pessoal, um lado que não admite injustiças ou ameaças, situações que o deixam
febril e com desejo de vingança. Se conseguiu refrear alguns desses desejos e impulsos,
outros foram mais fortes e ditaram a alteração na sua história de amor, como os que o levaram
a ir ao convento de Viseu e a assassinar Baltasar.

De facto, só o nome do adversário bastava para o desconcertar. Na sequência do seu crime,


podemos ver outras das suas características mais relevantes: é corajoso e digno, recusando-se
a fugir e preferindo assumir as consequências dos seus atos. Acabou mesmo por ser julgado
sem recorrer a nenhum argumento que lhe fosse favorável. Depois de preso, e quando a ideia
do suicídio pairava na sua cabeça, acabou por considerar que a forca lhe conferiria maior
dignidade e que a sua honra seria, com essa morte, preservada.

Em conclusão, Simão Botelho pode ser considerado uma personagem modelada, na medida
em que a sua personalidade vai sofrendo várias transformações ao longo da obra. Muito jovem
ainda, revelou-se rebelde, marginal, mau aluno, revoltoso e conflituoso. Após ser tocado pelo
amor, tornou-se um aluno, um filho e um amante exemplares, sendo de destacar,
inclusivamente, a sua veia poética, tão notória nas cartas destinadas à amada. Por fim,
goradas as suas esperanças de ser feliz, e quando já nada espera do amor, rebela-se contra a
sociedade e a própria família, tomando decisões individualistas e egoístas. De acordo com o
narrador, «amou, perdeu-se e morreu amando».

Podemos, ainda, concluir que, apesar de possuir várias características típicas de um herói
romântico, em certos passos da obra, esta personagem assume, igualmente, contornos de anti-
herói, nomeadamente nos seus comportamentos arruaceiros e quando mata Baltasar.

· Teresa de Albuquerque
O narrador apresenta-nos Teresa como uma jovem de 15 anos (Simão tem 17 quando se
apaixonam), filha única de Tadeu é órfã de mãe, bonita, fidalga e herdeira de um grande
património.

Apesar de jovem, Teresa revelou-se perspicaz e madura para a sua tenra idade, na medida
em que, sabendo da rivalidade entre o seu pai e Domingos Botelho, usa de toda a discrição e
cautela para que o seu amor não seja descoberto.

Essa maturidade e astúcia são notórias quando Teresa garantiu a Tadeu que estaria morta
para todos os homens, menos para seu pai, depois de este a ter ameaçado com a clausura
num convento, na sequência de ela ter assumido amar outro homem e ter recusado casar com
o seu primo Baltasar. A mentira a que recorreu Teresa fez refrear a fúria do pai.

De facto, a jovem está disposta a tudo por amor, inclusivamente a desafiar as leis que regem
tanto a sociedade do seu tempo, como a sua família. Não seria de esperar que rejeitasse os
planos que o pai tinha para si, nem que o ousasse enfrentar. A ela estaria destinada uma
obediência cega, que a levaria a um casamento imposto contra a sua vontade, por
conveniência, que a levariam à infelicidade e à convivência com um homem que não amava.
Neste sentido, Teresa mostra ter força de caráter e ser determinada. A sua obstinação é,
igualmente, evidente, na medida em que não cede às ameaças do pai, colocando o facto de ele
a amaldiçoar, ameaçar com o convento e com o desfalque do património em segundo
plano. Esta característica também se evidencia quando se recusa a sair do Convento de
Monchique com Tadeu, mencionando que só sairá do local sem vida.

A sua devoção e amor a Simão são, ainda, visíveis quando, determinada e perentória, Teresa
repudia o primo, afirmando que está apaixonada por outra pessoa, ou quando, interpelada
por uma irmã de Baltasar, que por ele intercedia, lhe diz que será sempre fiel ao seu coração.

Teresa de Albuquerque é, efetivamente, uma heroína romântica, na medida em que, como uma
mártir, prefere a clausura e a morte a ceder às imposições do pai e a casar com alguém que
não ama. Sabendo-se, para sempre, separada de Simão, vê a morte como uma solução
para o seu sofrimento.

· Mariana
Mariana é uma jovem de 24 anos, do povo, filha do ferrador João da Cruz. Bonita, mas com um
rosto triste. É uma das personagens principais desta obra de Camilo.

O narrador introduz Mariana quando, a propósito de Simão precisar de uma casa segura
para pernoitar em Viseu, o arrieiro que contratou lhe indica a casa de João da Cruz, seu
cunhado. Algumas das primeiras características desta personagem referenciadas prendem-se
com o facto de ser muito religiosa, supersticiosa e visionária até, pressentindo a
desgraça, como se pode comprovar com a passagem em que sabe que Simão irá novamente
ao encontro de Teresa.

Estas primeiras reações de Mariana à situação de Simão deixam antever o seu amor por ele,
tal como acontece quando, ferido no ombro pelos criados de Baltasar, ele regressa a casa do
ferrador, e a jovem, habituada a tratar dos ferimentos do pai, desmaia ao ver o estado do jovem
Botelho. Na verdade, o pai de Mariana diz a Simão para não fazer cerimónias com ela, tendo
em conta a dívida de gratidão que têm para com Domingos Botelho, porém a afeição de
Mariana por Simão ultrapassa o dever da dívida. De facto, ela já o conhecia, pois estava a
beber na fonte aquando da pancadaria em que ele estivera envolvido.

Embora seja uma jovem obediente ao pai, recusa qualquer pretendente que se lhe ofereça,
mostrando que valoriza o sentimento do amor.

Ela continua a dar provas do seu amor pelo jovem ( Simão) quando sente alguma alegria
por saber que Tadeu enclausurou Teresa no convento de Viseu, ou quando combinou com
o pai oferecer as suas economias ao jovem, mostrando-se desapegada dos bens materiais e
detentora de uma generosidade discreta, ou ainda quando se disponibiliza a ir ao convento a
fim de facilitar a troca de correspondência entre os dois amantes, aproveitando a ajuda da sua
amiga Joaquina Brito. Note-se que esta sua leve esperança não impede que os valores do
altruísmo e da abnegação falem mais alto. Esquecendo-se de si mesma, está disposta a tudo
para garantir a felicidade de Simão, chegando mesmo a relegar para segundo plano o seu
amor-próprio. Ela, de facto, sacrifica-se e anula-se em prol dos outros e da felicidade da
sua própria rival. A sua autoestima é abalada quando conhece Teresa e percebe que, além de
rica e nobre, ela é também belíssima.

No dia em que sabe que Teresa será transferida do Convento de Viseu para o de Monchique,
Mariana, adivinhando que Simão sairia ao seu encontro, fica a rezar e em sofrimento,
apercebendo-se o jovem de que aquela mulher era o seu anjo da guarda. Depois deste
episódio, a jovem pede a Simão que pense nela como sua irmã, porém este compreende a
imensidão do sentimento da jovem por si, pois entende que ela o ama ao ponto de morrer por
ele. Quando soube que Simão foi condenado à forca, chegou mesmo a passar por um
estado de demência. Depois da morte do pai, a filha do ferrador recolheu a sua herança,
vendeu as terras e depositou o dinheiro nas mãos de Simão.

De facto, Mariana já não tinha pretensões de voltar à aldeia. Pelo contrário, a sua intenção era
acompanhar Simão ao degredo, afirmando que morreria quando ele perecesse. Como havia
decidido, a jovem embarca com Simão, como criada. O seu sofrimento era tão evidente que o
comandante do navio considerava que ela tinha o aspeto de quem já tinha estado dez anos na
Índia e passado por muitos trabalhos. O próprio Simão tem noção de que está perante o «seu
anjo da compaixão».

A filha de João da Cruz acaba por se suicidar quando o corpo do fidalgo é lançado ao
mar, perdida que estava a sua razão de viver.

Pelo exposto, poder-se-á concluir que Mariana é uma mulher-anjo, uma personagem
romântica que personifica o espírito de sacrifício e a derrota pelo amor não-
correspondido.

João da Cruz:
Este homem do povo, ferrador, funciona como adjuvante da relação amorosa entre Simão e
Teresa. O pai de Mariana surge na história na sequência de Simão necessitar de uma casa
próxima de Viseu em que pudesse estar de forma anónima. Foi indicado pelo seu cunhado, o
arrieiro que acompanhara Simão.

João da Cruz sente-se na obrigação de auxiliar Simão, pelo que se depreende que consegue
ser justo e grato. De facto, o ferrador havia matado um almocreve para se defender. Depois de
três anos preso, foi o pai de Simão, então corregedor, que o conseguiu tirar da prisão e livrar da
forca. Por outro lado, o ferrador também tinha uma dívida de gratidão para com Baltasar
Coutinho, que lhe havia emprestado o dinheiro suficiente para se estabelecer como ferrador.
Apesar dessa dívida de gratidão e porque o ferrador já tinha restituído todo o dinheiro ao
morgado de Castro Daire, João da Cruz não aceita o seu pedido para assassinar Simão,
por considerar que seria um ato vil.

Disposto a ajudar Simão a todo o custo, João da Cruz e o arrieiro acompanham-no a casa de
Teresa e defendem-no dos criados de Baltasar. Mostrando o seu lado mais rústico e
agressivo, e também mais pragmático, é João da Cruz quem decide tirar a vida a um deles
(o que estava apenas ferido).

O seu estatuto social (homem do povo) e a sua filosofia e modo de estar na vida são evidentes
na linguagem por ele utilizada, nomeadamente quando justifica o seu lado mais violento ou
quando apresenta a Simão a sua opinião sobre as mulheres. "Mulheres há tantas como a
praga, e são como as rãs do charco, que mergulha uma, e aparecem quatro à tona d’água. "

Neste ferrador, também estão em destaque quer o orgulho na filha, quer a sua generosidade.
De facto, vê na sua Mariana alguém valente e destemido, com valor superior a qualquer outra
mulher. Com ela concorda, quando lhe diz que pretende dar parte do seu dinheiro a Simão,
mostrando, uma vez mais, que a dívida que considera ter não tem preço. Tal pode, ainda, ser
comprovado quando insiste em acompanhar Simão ao convento de Viseu ou quando, depois
de o fidalgo ter matado Baltasar, e colocando-se em perigo, se dirige ao local para o auxiliar a
fugir.

Por fim, esta personagem, que acaba por captar a simpatia do leitor, e que oscila entre a sua
generosidade e valentia e a sua veia mais agressiva e criminosa, acaba por morrer às mãos do
filho do almocreve que havia matado dez anos antes.

Personagens Adjuvantes:

· A Mendiga
Esta personagem pode ser considerada adjuvante da relação amorosa entre Teresa e
Simão, na medida em que facilitou a troca de correspondência entre ambos em vários
momentos da ação, sujeitando-se a percorrer vários quilómetros, a aguardar pela resposta e,
inclusivamente, a ser espancada e expulsa do convento de Viseu.

· O Comandante do Navio
O comandante do navio, homem de bom coração e compassivo, tomando conhecimento
da triste sina de Simão, tenta auxiliá-lo e atenuar a sua dor, mostrando-lhe a sua
comoção e compreensão. Responde, ainda, às solicitações de D. Rita Preciosa, que
pretende um tratamento diferenciado para o filho, o qual recebe uma quantia de dinheiro
(que não aceita). Simão não vai acorrentado e é o único que leva uma acompanhante.

O Herói Romântico:

Simão- «Amou, perdeu-se, e morreu amando.». Para ele, tal como para qualquer homem
da sua geração, o eu é o centro do sistema do Universo. Ele luta contra todos os
preconceitos e hipocrisias sociais, defendendo até ao fim o seu amor. Simão tem uma
sensibilidade romântica, contestatária em relação aos preconceitos sociais, uma alma
sedenta de ideal. Daí as suas frustrações, a sua revolta, a sua amargura e ao mesmo
tempo a força e coragem que revela para lutar e procurar a realização do plano
amoroso, em suma, a busca do seu ideal, esbarrando contra a sociedade e o mundo
«vazio». Essa procura do ideal leva-o a ter atitudes menos ponderadas devido ao seu
temperamento violento, impulsivo e muitas vezes irrefletido. Simão aparece-nos sempre
como uma alma insatisfeita, possuidor de uma imaginação fértil e de um
temperamento irrequieto, brigão, refletindo em certa medida a maneira de ser de
Camilo Castelo Branco e a sua experiência pessoal. Para além destes aspetos,
Simão revela-se corajoso, honesto e possuidor de nobreza moral.

Características da figura do herói romântico:


O herói romântico apresenta características que o definem e distinguem das outras
personagens. É um indivíduo de estatuto nobre, normalmente de condição social
elevada, embora essa nobreza também possa ser relativa ao domínio das atitudes e
valores. É, pois e indubitavelmente, uma personagem de exceção, que defende ideais
como o Amor ou a Liberdade, buscando o absoluto nesses planos. Quando defende os
seus ideais, como no caso do Amor, revela a sua sensibilidade romântica.

Dotado de uma enorme força anímica, o herói romântico consegue, ou pelo menos tenta,
superar contrariedades, muitas vezes incorrendo em situações de violência e
rebeldia que o colocam numa posição desafiadora das normas. Quando vê
malogradas as suas aspirações, este indivíduo vê-se atormentado pela insatisfação e
pela tristeza, que o fazem mergulhar na solidão e no isolamento e experienciar uma
crise.
Este herói pode, igualmente, revelar-se muito individualista e egocêntrico, seguindo
apenas as suas próprias convicções, sem deixar espaço a outras opiniões ou soluções.
Quando todas as esperanças são frustradas, a morte e o suicídio podem ser
vistos como a solução romântica para abolir o sofrimento.

Número de Capítulos: 20

Narrativa: Impessoal, onisciente e onipresente (3° pessoa)

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