Você está na página 1de 18

Primeiro Momento

 O autor escolhe abordar a historiografia desde 1500 (chegada


oficial dos portugueses no Brasil, já que antes disso é difícil ter-se
documentação garantida apenas indícios) até 1838, quando o
IHGB – Instituto Histórico e Geográfico do Brasil é criado;
 Os livros produzidos em boa parte do período colonial, no
entanto, são mais crônicas históricas do que História
propriamente dito;
 Ou seja, apresentam compilações de fontes e não textos
elaborados a partir de uma problemática, apesar de vários
desses textos terem sua importância;
 Serviram como fonte para os primeiros historiadores de
fato, quando através da pesquisa histórica construíram suas
interpretações do desenvolvimento do país.
Primeiros Cronistas
 João de Barros: História da Província de Santa Cruz;
 É uma obra perdida, ou seja, não é possível
encontrar exemplares originais;
 Sabe-se de sua existência devido às citações em
textos de terceiros.
 Seu texto seria de muita importância, pois Barros
era donatário da capitania do RN, tendo acesso,
portanto, a documentos específicos e relatórios
coloniais hoje também perdidos;
 Além disso, foi defensor, já no século XVI, da ideia
do conhecimento português das terras americanas
antes de 1500.
Primeiros Cronistas
 Pero Magalhães de Gândavo
 História da província de Santa Cruz a que vulgarmente
chamamos Brasil (1573-76);
 Há dúvidas se esteve no Brasil, pois em sua própria
escrita não há descrições (comuns nos relatos de viagens e
crônicas) somente referências a outros textos e autores;
 Parecendo texto de propaganda para chamar a atenção
de candidatos à imigração ou investimentos na colônia
(o que também era comum na época, mais ainda no séc.XIX).
 Não explica o processo de formação, apenas dá
informações sobre as regiões, flora e fauna e povos.
Primeiros Cronistas

 Gabriel Soares de Souza


 Português que viveu na Bahia (17 anos);
 Tratado Descritivo do Brasil – 1587, só
publicado em 1851.
 Texto muito bem escrito, mas não há
interpretações históricas, apenas descrições
(título)‫;‏‬
 Escreveu por encomenda do rei de Castela,
Felipe II (contexto da União Ibérica).
Primeiros Cronistas
 Fernão Cardim (1548-1625)
 Jesuíta de Portugal, viveu 42 anos no Brasil, salvo nos anos
de 1598 a 1601, quando exerceu o cargo de Procurador da
Província do Brasil em Roma.
 Em sua viagem de volta ao Brasil, foi preso por corsários
ingleses (2 anos) e teve seus textos roubados e publicados
com alterações por outro autor, em inglês (1625);
 escreveu na mesma época que Gândavo, fazendo descrições
de lugares e pessoas;
 Publicou-se parcialmente em 1847; o volume completo de
seus textos somente em 1925 (Tratados da Terra e gente do
Brasil e Narrativa Epistolar de uma viagem);
Primeiros Cronistas
 “Chegando o padre á terra começaram os frautistas tocar suas frautas
com muita festa, o que também fizeram em quanto jantámos debaixo de
um arvoredo de aroeira mui altas. Os meninos indios, escondidos em
um fresco bosque, cantavam varias cantigas devotas emquanto
comemos, que causavam devoção, no meio da-quelles matos,
principalmente uma pastoril feita de novo para o recebimento do padre
visitador seu novo pastor. Chegámos á aldêa á tarde; antes delia um
bom quarto de Iegua, começaram as festas que os indios tinham
aparelhadas as quaes fizeram em uma rua de altíssimos e frescos
arvoredos, dos quaes saiam uns cantando e tangendo a seu modo,
outros em ciladas safam com grande grita e urros, que nos atroa-vam e
faziam estremecer. (...) Tivemos pelo natal um devoto presépio na
povoação, aonde algumas vezes nos ajuntavamos com boa e devota
musica, e o irmão Barnabé nos alegrava com seu berimbau.” ” (F.Cardim)‫‏‬
Primeiros Cronistas
 Frei Vicente do Salvador
 História do Brasil (1627) em cinco volumes.
 Frei Vicente escreveu a obra a pedido do historiador
português Manuel Severim de Faria;
 Versado em direito, teologia, filosofia e literatura, seu texto
tem como base não apenas documentos mas também
depoimentos orais;
 Apresenta escrita objetiva (sem floreios literários ou arroubos
acadêmicos) e alguns traços de bom humor em suas
descrições e relatos;
 Como a obra é grande (5 vol.) só se conhecem partes,
algumas publicadas em fragmentos outras perdidas
completamente.
 Só foi publicada integralmente (o que sobrou) em 1888.
Primeiros Cronistas
 Neste livro, frei Vicente aponta vários defeitos da
colonização, como o mau trato aos índios, práticas
administrativas desonestas, abuso de poder, falta de
iniciativa do português (que permance no litoral, cuidando só de
“espoliar a terra, levando o que podem”, sem pensar no
desenvolvimento e em projetos futuros);
 De todos os livros sobre o Brasil até então, este é um dos
primeiros a criticar a colonização portuguesa de forma tõ
aberta, sendo que muitos vêem nele a “semente” do
nacionalismo brasileiro;
Primeiros Cronistas
 O dia em que o capitão-mor Pedro Álvares Cabral levantou a cruz, que
no capítulo atrás dissemos, era 3 de maio, quando se celebra a invenção
da Santa Cruz, em que Cristo Nosso Redentor morreu por nós, e por esta
causa pôs nome à terra, que havia descoberta, de Santa Cruz, e por este
nome foi conhecida muitos anos: porém como o demônio com o sinal da
cruz perdeu todo o domínio, que tinha sobre os homens, receando
perder também o muito que tinha nos desta terra, trabalhou que se
esquecesse o primeiro nome, e lhe ficasse o de Brasil, por causa de um
pau assim chamado, de cor abrasada e vermelha, com que tingem panos,
que o daquele divino pau que deu tinta e virtude a todos os sacramentos
da igreja, e sobre que ela foi edificada, e ficou tão firme e bem fundada,
como sabemos, e porventura por isto ainda que ao nome de Brasil
ajuntaram o de estado, e lhe chamaram estado do Brasil, ficou ele tão
pouco estável, que com não haver hoje 100 anos, quando isto escrevo,
que se começou a povoar, já se hão despovoados alguns lugares, e sendo
a terra tão grande, e fértil, como adiante veremos, nem por isso vai em
aumento, antes em Diminuição.
Primeiros Cronistas

 “Disto dão alguns a culpa aos reis de Portugal, outros aos povoadores;
aos reis pelo pouco caso que haviam feito deste tão grande estado, que
nem o título quiseram dele, pois intitulando-se senhores de Guiné, por
uma caravelinha que lá vai, e vem, como disse o Rei do Congo, do Brasil
não se quiseram intitular, nem depois da morte de el-rei d. João
Terceiro, que o mandou povoar e soube estimá-lo, houve outro que dele
curasse, senão para colher suas rendas e direitos; e deste mesmo modo
se haviam os povoadores, os quais por mais arraigados, que na terra
estivessem, e mais ricos que fossem, tudo pretendiam levar a Portugal, e
se as fazendas e bens que possuíam soubessem falar também lhes
haveriam de ensinar a dizer como os papagaios, aos quais a primeira
coisa que ensinam é papagaio real para Portugal; porque tudo querem
para lá, e isto não tem só os que de lá vieram, mas ainda os que cá
nasceram, que uns e outros usam da terra, não como senhores, mas
como usufrutuários, só para a desfrutarem, e a deixarem destruída.”
Primeiros Cronistas
 Ambrósio Fernandes Brandão
 Diálogos das Grandezas do Brasil – 1618
 Livro também importante enquanto fonte produzida no
período colonial, mas ainda não é “História” do Brasil;
 Apresenta texto em forma de diálogo, algo que passou a ser
muito usado nos séculos XVI e XVII (renascimento);
 Também tem tons satíricos e críticos, mas també, muitos
detalhes da economia colonial;
 Só foi publicado parcialmente em 1849 e na íntegra em 1900;
 é o primeiro cronista a dar grande destaque para a atividade
comercial na colônia, enquanto fator de enriquecimento (em
contraposição à produção de açúcar);
Primeiros Cronistas
 Sebastião da Rocha Pita
 História da América Portuguesa: desde o ano de 1500 de seu
descobrimento até o de 1724 – (1730)‫‏‬
 Era baiano, versado em línguas, mitologia, história,
literatura clássica;
 sua escrita, no entanto, é bem diferente da de frei Vicente,
pois Rocha Pita tem visão acadêmica, retórica afetada e
autor de uma prosa cansativa;
 Apesar disto, foi um dos primeiros a aborda o tema das
rebeliões coloniais (Mascates, Emboabas), sem se aprofundar
contudo;
 Rocha Pita era favorável ao predomínio português, tanto
que o título do livro é “América portuguesa” e não Brasil.
Primeiros Cronistas
 André João Antonil (ou João Antônio Andreoni)‫‏‬
 Cultura e Opulência do Brasil por suas drogas e minas – 1711.
 Jesuíta da Toscana, veio ao Brasil em 1681, para o engenho
jesuíta, onde morreu em 1716;
 Escreveu muito sobre economia, principalmente no que se
refere à produção de açúcar, tabaco, mineração e criação de
gado;
 É uma das fontes mais usadas sobre o Brasil colonial, devido
aos detalhes sobre a produção colonial e as técnicas usadas.
 Sua obra foi proibida duas semanas após publicada e os
livros foram queimados, restando apenas alguns em posse
dos arquivos reais.
Primeiros Cronistas
 No livro, Antonil, alem descrever o processo de extração do
ouro e a localização das minas recém descobertas (1692). fez
também comentários sobre os preços dos produtos locais;
 Um ano antes, em 1710, o corsário francês Charles Duclerc
havia atacado e saqueado a cidade do Rio de Janeiro ,
portanto, não convinha expôr a situação da colônia com
tantos detalhes;
 Em 1808, foi publicado em edição parcial, somente a parte
relativa à produção do açúcar, já em decadência;
 Em 1837, com o Brasil independente, foi então publicado na
íntegra.
Primeiros Cronistas
 Cláudio Manoel da Costa
 Poeta inconfidente, escreveu Vila Rica, poema épico de 1773,
onde versa sobre a História da região, hoje Ouro Preto;
 É obra literária com base histórica.
 Morreu na prisão, suicidado ou suicidando-se;
 Bernardo Pereira de Berredo
 Anais Históricos do Estado do Maranhão, em que se dá notícia de
seu descobrimento, e tudo o mais que nele tem sucedido desde o
ano que foi descoberto até o de 1718 (1749- 710 p.);
 É importante por ser texto mais completo sobre o Estado do
Maranhão (AM, MA-PI-CE), cuja administração era
separada do Estado do Brasil.
Primeiros Cronistas
 Frei Gaspar da Madre de Deus
 Memórias da capitania de São Vicente hoje chamada de
São Paulo do Estado do Brasil – 1797
 Promoveu a “visão bandeirante” da ocupação
colonial, através da compilação de várias crônicas
de expedições e estudos genealógicos;
 Na época em que foi escrito, já havia terminado há
décadas o bandeirantismo, o ouro já estava em
franca decadência e vários movimentos e levantes
contra a metrópole ocorriam.
O Século da História (XIX)‫‏‬
 Luis dos Santos Vilhena
 Recopilação de Notícias soteropolitanas e brasílicas em vinte cartas
(1802)
 Vilhena, português e professor de grego na Bahia, difere dos
demais cronistas vistos até este período por descrever a vida
urbana de Salvador, na virada do século XVIII ao XIX, só
publicado em 1921;
 Nestas cartas, mostra com tons críticos os costumes
cotidianos de vários classes (ricos senhores, militares de várias
patentes, quitandeiras, ganhadeiras e prostitutas);
 Atribui os péssimos costumes dos humildes ao mau
exemplo dos poderosos, pois mesmo aqueles que tinham
posses e passaram a viver na pobreza, ainda se
“empavonam ridiculamente” ao saírem às ruas (ostentação
enquanto status);
O Século da História (XIX)‫‏‬
 Robert Southey
 History of Brazil - escrito entre 1810 e 1819, em três volumes,
talvez não tenha sido o primeiro brazilianista, mas o primeiro
a fazer um trabalho de grande porte e com viés histórico;
 Southey, escreve embalado pela novidade da transferência
da corte lusitana ao Brasil, auxiliada pelos próprios ingleses,
inclusive um tio seu que vivia em Portugal e tinha vasta
biblioteca sobre o país e suas colônias;
 Admirado com a história da colônia, ‘previu’ que em breve
o Brasil estaria independente, devido às riquezas que aqui
haviam, em contraposição com a 'desgastada metrópole‘;
 Foi a principal ‘história geral’ do Brasil no século XIX e
início do XX.

Você também pode gostar