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Dedicatória
A Dedicatória não era um elemento estrutural obrigatório do género épico, mas Luís de
Camões decide dedicar o seu poema ao rei D. Sebastião, a quem louva pelo que
representa para a independência de Portugal e para o aumento do mundo cristão; pela
ilustre e cristianíssima ascendência e ainda pelo grandioso Império de que é senhor.
Aos louvores, segue-se o apelo. Referindo-se com modéstia à sua obra, que designa
como “um pregão do ninho (...) paterno”, pede ao Rei que a leia. Na breve exposição
que faz do assunto d’Os Lusíadas, o poeta evidencia um aspeto particularmente
importante, a obra não versará heróis e factos lendários ou fantasiosos, como todas as
epopeias anteriores, mas matéria histórica. Documenta-o nomeando alguns heróis
nacionais que valoriza pelo confronto com os de outras epopeias.
Apesar dos versos não estarem transcritos no livro de leitura, termina o seu discurso
incitando o Rei a dar continuidade aos feitos gloriosos dos portugueses, nomeadamente,
combatendo os mouros, e renovando o pedido de que leia os seus versos.
Há quem considere que esta parte do poema apresenta uma estrutura própria do género
oratório: Um exórdio, que corresponde ao início do discurso (6 a 8); uma exposição ou
corpo do discurso (9 a 11); uma confirmação, em que seriam apresentados exemplos e
ou argumentos (12 a 14) e um epílogo ou conclusão (15 a 17). Veja-se ainda a
utilização da segunda pessoa do plural (“vós”), do modo imperativo (“Ouvi”) e de
numerosas apóstrofes (“ó bem nascida segurança” que também poderá ser considerada
uma perífrase) e que são características da oratória.
Note como o poeta desliga a glória de ser conhecido pela sua obra do «prémio
vil», já que o moveu o «amor da pátria».
Veja a profusão de sinónimos para falsas proezas: vãs façanhas, fantásticas,
fingidas, mentirosas, sonhadas, fabulosas. Tudo isto é suplantado pelas proezas
«verdadeiras» dos Portugueses. Uma hipérbole que os últimos dois versos repetem.
Os Lusíadas são fonte de glória para Camões pode ver-se nos quatro primeiros
versos da estrofe 10, em que o poeta afirma que foi levado a escrever o seu poema, não
pelo desejo de um prémio vil (material), mas de um prémio alto e quase eterno. Esse
prémio é a fama de grande poeta entre os portugueses (ser conhecido por um pregão do
ninho meu paterno).
O poeta exalta D. Sebastião como jovem rei destinado pelo Fado, ou pela
Providência, a grandes feitos, num império já imenso, mas que ele acrescentaria ainda,
dilatando a fé e o império (“para do mundo a Deus dar parte grande”).