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OS LUSÍADAS

Camões Épico
Prof. Gui
Contexto Histórico

• Publicação:1572;

• Período de expansão do Império Português:

• Grandes Navegações e colonizações;

• Último período de dominação portuguesa.

• O renascimento português:

• Desenvolvimento da fina literatura portuguesa.


Contexto Histórico: O reino de D.
Sebastião I

• Sebastião assume o trono


com apenas 14 anos, com
fervor religioso e militar:

• Retomada das batalhas


contra os mouros.

• Desaparece na batalha de
Alcácer-Quibir:

• Sem descendentes, dá-se


início o Sebastianismo.
Os Lusíadas: Estrutura da poesia

• 10 cantos;

• Construídos em Oitavas
reais:

• Estrofes de oito versos;

• Versos decassílabos;

• Ritmo heróico;

• Oitava-rima:
ABABABCC.
Os Lusíadas: Estrutura geral

• Proposição: Canto I
(1-3);

• Invocação: Canto I (4-5);

• Dedicatória: Canto I
(6-18);

• Narrativa: Canto I (19) -


Canto X (144);

• Epílogo: Canto X
(145-156).
Proposição I.1
As armas e os barões assinalados

que da ocidental praia Lusitana Primeiro tema dos


Lusíadas:
por mares de antes nunca navegados,
A formação do
passaram ainda além da Taprobana,
império
em perigos e guerras esforçados ultramarino;
mais do que prometia a força humana, Feitos
e entre gente remota edificaram
extraordinários dos
homens.
Novo Reino, que tanto sublimaram.
Proposição I.2

E também as memórias gloriosas


Segundo tema:
daqueles reis que foram dilatando

a Fé, o Império, e as terras viciosas Contribuição


dos reis e
de África e de Ásia andaram devastando, imortais
e aqueles que por obras valerosas heróis;

se vão da lei da morte libertando: Alargamento


da Fé e do
cantando espalharei por toda a parte,
Império.
se a tanto me ajudar o engenho e a arte.
Proposição I.3

Cessem do sábio grego e do troiano Os feitos


as navegações grandes que fizeram;
portugueses se
equivalem aos
cale-se de Alexandre e de Trajano clássicos:
a fama das vitórias que tiveram;
Imperadores
que eu canto o peito ilustre lusitano, (Trajano e
Alexandre);
a quem Neptuno e Marte obedeceram.

Cesse tudo o que a Musa antiga canta, A arte (Musa


antiga).
que outro valor mais alto se alevanta.
Invocação I.4

E vós, Tágides minhas, pois criado

tendes em mi um novo engenho ardente,


Invocação de
musas - teor
se sempre em verso humilde celebrado clássico;
foi de mim vosso rio alegremente,
Uso de falsa
dai-me agora um som alto e sublimado, modéstia;
um estilo grandíloquo e corrente,
Passagem
por que de vossas águas Febo ordene metalinguística.
que não tenham inveja às de Hipocrene.
Invocação I.5

Dai-me uma fúria grande e sonorosa, Dai/me u/ma/fú/ria/gran/de e/so/no/ro/sa,

E não de agreste avena ou frauta E/não/de a/gres/te a/ve/na ou/frau/ta/ru/da,


ruda,
Mas/de/tu/ba/ca/no/ra e/be/li/co/sa,
Mas de tuba canora e belicosa,
Que o/pei/to a/cen/de e a/cor/ao/ges/to/mu/
Que o peito acende e a cor ao gesto da;
muda;
Dai/me i/gual/can/to aos/fei/tos/da/fa/mo/sa
Dai-me igual canto aos feitos da famosa
Gen/te/vos/sa,/que a/Mar/te/tan/to a/ju/da,
Gente vossa, que a Marte tanto ajuda,
Que/se es/pa/lhe e/se/can/to/no u/ni/ver/so,
Que se espalhe e se canto no universo,
Se/tão/su/bli/me/pre/ço/ca/be em/ver/so.
Se tão sublime preço cabe em verso.
Os Lusíadas: Dedicatória

• Dedica-se o poema ao rei menino


D. Sebastião:

• Apesar de jovem, tem a força e


esplendor de um grande rei;

• Descendente de linhagem
nobre e grandiosa.

• Elogio do povo e pátria


portugueses;

• Exaltação do próprio poema em


comparação a literatura
medieval.
Dedicatória I.9

Inclinai por um pouco a majestade,


Paradoxo:
que nesse tenro gesto vos contemplo aparência jovem
que já se mostra qual na inteira idade, mas idade
madura;
quando subindo ireis ao eterno templo;
Até mesmo o rei
os olhos da real benignidade
se mostrará
ponde no chão: vereis um novo exemplo deslumbrado com
o poema dos
de amor dos pátrios feitos valerosos,
feitos portugueses.
em versos devulgados numerosos.
Dedicatória I.11
Ouvi: que não vereis com vãs façanhas,

fantásticas, fingidas, mentirosas, O elogio da


louvar os vossos, como nas estranhas poesia se dá por
narrar feitos
Musas, de engrandecer-se desejosas: verdadeiros;
as verdadeiras vossas são tamanhas
Há uma
que excedem as sonhadas, fabulosas, comparação
comum com
que excedem Rodamonte e o vão Rugeiro,
outras literaturas.
e Orlando, inda que fora verdadeiro.
Narrativa I.19

Já no largo oceano navegavam, • Começo da narrativa


as inquietas ondas apartando; na XIX estrofe;
os ventos brandamente respiravam, • Narrativa in media res;
das naus as velas côncavas inchando;
• Concílio dos deuses no
da branca escuma os mares se mostravam Olimpo a favor da
cubertos, onde as proas vão cortando viagem;
as marítimas águas consagradas, • Os lusos estão perdidos
que o gado de Proteu são cortadas. em uma tempestade.
Os Lusíadas — Enredo básico

• A Viagem: A viagem de
Vasco da Gama às Índias;

• Episódios da história de
Portugal;

• Passagens
metalinguísticas e
intertextuais;

• Interferência mitológica
de figuras greco-
romanas.
Episódio de Inês de Castro: Canto
III.118-35
Tu só, tu, puro amor, com força crua,
• Episódio da história de
Que os corações humanos tanto obriga, Portugal narrada por
Vasco da Gama ao rei de
Deste causa à molesta morte sua, Mombaça;

Como se fora pérfida inimiga. • Narração do amor


impossível de D. Pedro I
Se dizem, fero Amor, que a sede tua e Inês de Castro;
Nem com lágrimas tristes se mitiga, • Definição do amor
camoniano:
É porque queres, áspero e tirano,

Tuas aras banhar em sangue humano. • Paradoxal e feroz.


Episódio de Inês de Castro: Canto
III.118-35
Ó tu, que tens de humano o gesto e o peito • Inês de Castro em sua
súplica a D. Afonso, se
(Se de humano é matar uã donzela, utiliza de um argumento
amoroso:
Fraca e sem força, só por ter sujeito
• Sensações amorosas
O coração a quem soube vencê-la), e a culpa do eu.
A estas criancinhas tem respeito,
• Toda a passagem tem um
Pois o não tens à morte escura dela; tom lírico pelas
metáforas alegóricas e
Mova-te a piedade sua e minha, a construção da
sentimentação
Pois te não move a culpa que não tinha. amorosa.
Episódio de Inês de Castro: Canto
III.118-35
Bem poder[i]as, ó sol, da vista destes, Assi como a bonina que cortada

Teus raios apartar aquele dia, Antes do tempo foi, cândida e bela,
Como da seva mesa de Tiestes, Sendo das mãos lascivas maltratada
Quando os filhos por mão de Atreu
Da minina que a trouxe na capela,
comia!

Vós, ó côncavos vales, que podestes


O cheiro traz perdido e a cor
murchada;
A voz extrema ouvir da boca fria,
Tal está, morta, a pálida donzela,
O nome do seu Pedro, que lhe
ouvistes, Secas do rosto as rosas e perdida

Por muito grande espaço repetistes. A branca e viva cor, coa doce vida.
O Velho do Restelo: Canto IV.
94-104
Dura inquietação d’alma e da vida, • Saída das naus da praia do
Restelo;
Fonte de desamparos e adultérios,
• A figura do Velho do Restelo:
Sagaz consumidora conhecida
• Demonstração das
De fazendas, de reinos e de impérios: oposições:

Chamam-te ilustre, chamam-te subida, • velho x novo;

Sendo dina de infames vitupérios; • passado x presente.


Chamam-te fama e glória soberana, • Crítica à ganância
portuguesa nas
Nomes com quem se o povo néscio engana. navegações.
O Velho do Restelo: Canto IV.
94-104
A que novos desastres determinas
Deixas criar às portas o inimigo,
De levar estes reinos e esta gente?
Por ires buscar outro de tão longe,
Que perigos, que mortes lhe destinas,
Por quem se despovoe o reino antigo;
Debaixo dalgum nome preminente?
Se enfraquece e se vá deitando a longe;
Que promessas de reinos e de minas
Buscas o incerto e incógnito perigo
D’ouro, que lhe farás tão facilmente?
Porque a fama te exalte e te lisonje
Que famas lhe prometerás? Que
histórias? Chamando-te senhor, com larga cópia,

Que triunfos? Que palmas? Que Da Índia, Pérsia, Arábias e de Etiópia!


vitórias?
O Velho do Restelo: Canto IV.
94-104
Oh! Maldito o primeiro que, no mundo,

Nas ondas vela pôs em seco lenho! • A maldição do Velho se dá


de maneira dura já que
Di[g]no da eterna pena do profundo. atinge a própria poesia
épica;
Se é justa a lei que sigo e tenho!

Nunca juízo algum alto e profundo • Contudo, aparentemente,


a maldição desta maneira
Nem cítara sonora ou vivo engenho, colocada parece
reafirmar a viagem de
Te dê por isso fama nem memória, Vasco da Gama.

Mas contigo se acabe o nome e a glória!


Gigante Adamastor: Canto V.37-60
E disse: — Ó gente ousada, mais que quantas • Passagem das naus
lusas pelo Cabo da
No mundo cometeram grandes cousas,
Boa Esperança;
Tu, que por guerras cruas, tais e tantas,
• Simbolismo da
E por trabalhos vãos nunca repousas, superação dos
perigos marítimos
Pois os vedados términos quebrantas pelos portugueses;
E navegar meus longos mares ousas, • No âmbito lírico,
remete ao amor
Que eu tanto tempo há já que guardo e tenho,
rejeitado/
Nunca arados d’estranho ou próprio lenho, impossível.
Gigante Adamastor: Canto V.37-60
Amores da alta esposa de Peleu Oh! Que não sei de nojo como o conte:
Me fizeram tomar tamanha empresa. Que, crendo ter nos braços quem amava,

Todas as deusas desprezei do Céu, Abraçado me achei cum duro monte

Só por amar das águas a princesa. De áspero mato e de espessura brava.

Um dia a vi, coas filhas de Nereu, Estando cum penedo fronte a fronte,

Sair nua na praia: e logo presa Qu’eu polo rosto angélico apertava,

A vontade senti de tal maneira, Não fiquei homem, não; mas mudo e
quedo
Que inda não sinto coisa que mais
E, junto dum penedo, outro penedo!
queira.
Ilha dos Amores: Canto IX.18-95
Assi lho aconselhara a mestra experta: • Alegoria da conquista
portuguesa:
Que andassem pelos campos espalhadas;
• Os prazeres da
Que, vista dos barões a presa incerta, ilha se dão no plano
material pelo
Se fizessem primeiro desejadas.
amor sensual e o
banquete.
Alguãs, que na forma descuberta

Do belo corpo estavam confiadas, • Há também os


prazer espiritual no
Posta a artificiosa fermosura, encontro com a
Máquina do
Nuas lavar se deixam na água pura. Mundo.
Ilha dos Amores: Canto IX.18-95

Oh! Que famintos beijos na floresta, Desta arte, enfim, conformes já as


fermosas
E que mimoso choro que soava!
Ninfas cos seus amados navegantes,
Que afagos tão suaves, que ira honesta,
Os ornam de capelas deleitosas
Que em risonhos alegres se tornava!
De louro e de ouro e flores abundantes.
O que mais passam na manhã e na sesta,
As mãos alvas lhes davam como esposas;
Que Vênus com prazeres inflamava,
Com palavras formais e estipulantes
Melhor é exprimentá-lo que julgá-lo;
Se prometem eterna companhia,
Mas julgue-o quem não pode
exprimentá-lo. Em vida e morte, de honra e alegria.
Ilha dos Amores: Canto IX.18-95
Que, despois de lhe ter dito quem era, • Na Ilha, se dá uma
transfiguração mítica
Cum alto exórdio, de alta graça ornado, dos heróis:

Dando-lhe a entender que ali viera • Os marinheiros passam


do plano da viagem
Por alta influição do imóbil fado, para a glória e fama
do mito.
Pera lhe descobrir da unida esfera • Assim, a ilha se dá como
um ambiente de
Da terra imensa e mar não navegado consagração:

Os segredos, por alta profecia, • Como amantes das


ninfas, os portugueses
se tornam divinos.
O que esta sua nação só merecia,
A máquina do mundo: Canto X.
75-90
Vês aqui a grande máquina do mundo, • A ninfa Tétis mostra
uma miniatura
Etérea e elemental, que fabricada ptolomaica do
universo ao Gama;
Assi foi do Saber, alto e profundo,
• A visão da máquina
Que é sem princípio e meta limitada.
do mundo é ainda
Quem cerca em derredor este rotundo
uma metáfora do
domínio português
Globo e sua superfícia tão limada, do mundo;

É Deus: mas o que é Deus, ninguém o entende, • Há ainda uma


profecia da vinda à
Que a tanto o engenho humano não se estende. América.
Epílogo: Canto X.145-156
Não mais, Musa, não mais, que a Lira tenho

Destemperada e a voz enrouquecida, • Fim súbito da


narrativa;
E não do canto, mas de ver que venho
• Alerta do poeta às
Cantar a gente surda e endurecida. navegações e à cobiça;

O favor com que mais se ascende o engenho • Aviso ao jovem rei D.


Sebastião I aos erros
Não no dá a pátria, não, que está metida cometidos pelos
portugueses e sua
No gosto da cobiça e na rudeza decadência.
Duã austera, apagada e vil tristeza.

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