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4 . E vós, Tágides minhas, pois criado 8.

Vós, poderoso Rei, cujo alto Império


Tendes em mim um novo engenho ardente, O Sol, logo em nascendo, vê primeiro,
PORTUGUÊS. 11º - 2022/2023 Se sempre em verso humilde celebrado Vê-o também no meio do Hemisfério,
Foi de mim vosso rio alegremente,
E quando dece o deixa derradeiro;
Os Lusíadas, CANTO I Dai-me agora um som alto e sublimado,
Vós, que esperamos jugo e vitupério
Um estilo grandíloquo e corrente,
Porque de vossas águas, Febo ordene Do torpe Ismaelita cavaleiro,
1. As armas e os barões assinalados,
Que não tenham inveja às de Hipocrene. Do Turco Oriental e do Gentio
Que da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados,
Que inda bebe o licor do santo Rio:
Passaram ainda além da Taprobana, 5. Dai-me üa fúria grande e sonorosa,
Em perigos e guerras esforçados, E não de agreste avena ou frauta ruda, 9. Inclinai por um pouco a majestade
Mas de tuba canora e belicosa, Que nesse tenro gesto vos contemplo,
Mais do que prometia a força humana,
Que o peito acende e a cor ao gesto muda; Que já se mostra qual na inteira idade,
E entre gente remota edificaram
Dai-me igual canto aos feitos da famosa Quando subindo ireis ao eterno templo;
Novo Reino, que tanto sublimaram;
Gente vossa, que a Marte tanto ajuda;
Os olhos da real benignidade
Que se espalhe e se cante no universo,
Se tão sublime preço cabe em verso.
Ponde no chão: vereis um novo exemplo
2. E também as memórias gloriosas De amor dos pátrios feitos valerosos,
Daqueles Reis, que foram dilatando
6. E, vós, ó bem nascida segurança Em versos divulgado numerosos.
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando; Da Lusitana antiga liberdade,
E não menos certíssima esperança 10. Vereis amor da pátria, não movido
E aqueles, que por obras valerosas
De aumento da pequena Cristandade; De prémio vil, mas alto e quási eterno;
Se vão da lei da morte libertando;
Vós, ó novo temor da Maura lança, Que não é prémio vil ser conhecido
Cantando espalharei por toda parte,
Maravilha fatal da nossa idade, Por um pregão do ninho meu paterno.
Se a tanto me ajudar o engenho e arte. Dada ao mundo por Deus, que todo o mande, Ouvi: vereis o nome engrandecido
3. Cessem do sábio Grego e do Troiano Pera do mundo a Deus dar parte grande; Daqueles de quem sois senhor superno,
As navegações grandes que fizeram; E julgareis qual é mais excelente,
Cale-se de Alexandro e de Trajano 7. Vós, tenro e novo ramo florecente
Se ser do mundo Rei, se de tal gente.
A fama das vitórias que tiveram; De üa árvore, de Cristo mais amada
Que eu canto o peito ilustre Lusitano, Que nenhüa nascida no Ocidente,
Cesárea ou Cristianíssima chamada
A quem Neptuno e Marte obedeceram:
(Vede-o no vosso escudo, que presente
Cesse tudo o que a Musa antígua canta,
Vos amostra a vitória já passada,
Que outro valor mais alto se alevanta.
Na qual vos deu por armas e deixou
As que Ele pera si na Cruz tomou);
11. Ouvi, que não vereis com vãs façanhas, 14. Nem deixarão meus versos esquecidos 17. Em vós se vêm, da Olímpica morada,
Fantásticas, fingidas, mentirosas, Aqueles que nos Reinos lá da Aurora Dos dous avós as almas cá famosas;
Louvar os vossos, como nas estranhas Se fizeram por armas tão subidos, üa, na paz angélica dourada,
Musas, de engrandecer-se desejosas: Vossa bandeira sempre vencedora: Outra, pelas batalhas sanguinosas.
As verdadeiras vossas são tamanhas Um Pacheco fortíssimo e os temidos Almeidas, Em vós esperam ver-se renovada
Que excedem as sonhadas, fabulosas, por quem sempre o Tejo chora, Sua memória e obras valerosas;
Que excedem Rodamonte e o vão Rugeiro Albuquerque terríbil, Castro forte, E lá vos têm lugar, no fim da idade,
E Orlando, inda que fora verdadeiro. E outros em quem poder não teve a morte. No templo da suprema Eternidade.

12. Por estes vos darei um Nuno fero, 15. E, enquanto eu estes canto e a vós não 18. Mas, enquanto este tempo passa lento
Que fez ao Rei e ao Reino tal serviço, posso, Sublime Rei, que não me atrevo a De regerdes os povos, que o desejam,
Um Egas e um Dom Fuas, que de Homero tanto, Tomai as rédeas vós do Reino vosso: Dai vós favor ao novo atrevimento,
A cítara par'eles só cobiço; Dareis matéria a nunca ouvido canto. Pera que estes meus versos vossos sejam, E
Pois polos Doze Pares dar-vos quero Comecem a sentir o peso grosso vereis ir cortando o salso argento
Os Doze de Inglaterra e o seu Magriço; (Que polo mundo todo faça espanto) Os vossos Argonautas, por que vejam
Dou-vos também aquele ilustre Gama, De exércitos e feitos singulares, Que são vistos de vós no mar irado,
Que para si de Eneias toma a fama. De África as terras e do Oriente os mares. E costumai-vos já a ser invocado.

13. Pois se a troco de Carlos, Rei de França, 16. Em vós os olhos tem o Mouro frio, 19. Já no largo Oceano navegavam,
Ou de César, quereis igual memória, Em quem vê seu exício afigurado; As inquietas ondas apartando;
Vede o primeiro Afonso, cuja lança Só com vos ver, o bárbaro Gentio Os ventos brandamente respiravam,
Escura faz qualquer estranha glória; Mostra o pescoço ao jugo já inclinado; Das naus as velas côncavas inchando; Da
E aquele que a seu Reino a segurança Tétis todo o cerúleo senhorio branca escuma os mares se mostravam
Deixou, com a grande e próspera vitória; Tem pera vós por dote aparelhado, Cobertos, onde as proas vão cortando As
Outro Joane, invicto cavaleiro; Que, afeiçoada ao gesto belo e tento, marítimas águas consagradas,
O quarto e quinto Afonsos e o terceiro. Deseja de comprar-vos pera genro. Que do gado de Próteu são cortadas,


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