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“Chegada a Portugal e Epílogo”

(Canto X, est. 142-156)

Zoe Achiam, Mª Gato, Mª Jerónimo, Afonso Valentim


Estrutura externa:
Canto X, est. 142-156; estrofes são oitavas; esquema reumático: rima cruzada e emparelhada, abababcc; versos são decassilábicos

Estrutura interna:
Narração; Plano da Viagem, Plano da História de Portugal, Plano Mitológico, Plano das considerações do poeta

Resumo global:

No episódio, é possível observar duas partes distintas:


1ª- A partida da Ilha dos Amores e a chegada a Portugal, est.142-144
2ª- Epílogo, onde o poeta tece as suas considerações finais, est.145,146, 154-156

As Ninfas oferecem um banquete aos portugueses. Após uma invocação do poeta a Calíope, uma ninfa faz profecias sobre as futuras vitórias dos
portugueses no Oriente. Tétis conduz Vasco da Gama ao cume de um monte para lhe mostrar a Máquina do Mundo e indicar nela os lugares onde chegará o
império português. Os navegadores partem então da ilha, levando na memória as ninfas, cuja companhia «hão de ter eternamente» (X, 143), simbolizando a
sua glória. Depois de uma viagem tranquila, com «mar sereno» e «vento sempre manso» (X, 144), os portugueses chegam finalmente a Portugal. O poeta
termina, lamentando-se pelo seu destino infeliz de poeta incompreendido por aqueles a quem canta e exortando o Rei D. Sebastião a continuar a glória dos
Portugueses.
144
142
Assi foram cortando o mar sereno,
Tétis, antes de avisar os portugueses que
Até qui, Portugueses, concedido
Com vento sempre manso e nunca irado,
Vos é saberdes os futuros feitos já podem partir, recorda dois factos
Até que houveram vista do terreno
Que, pelo mar, que já deixais sabido, fundamentais: que lhes foi concedido o
Em que naceram, sempre desejado.
Virão fazer barões de fortes peitos. privilégio de conhecerem os feitos
Entraram pela foz do Tejo ameno,
Agora, pois que tendes aprendido glorioso que Portugal ainda há de vir a
E a sua pátria e Rei temido e amado
Trabalhos que vos façam ser aceitos
O prémio e a glória dão por quem realizar e que realizaram, eles próprios,
Às eternas esposas e fermosas, mandou, grandes feitos que lhes proporcionaram o
Que coroas vos tecem gloriosas, E com títulos novos se ilustrou.
contacto com as ninfas. Os portugueses

143 levam da ilha provisões e memórias dos


Podeis vos embarcar, que tendes vento tempo que passaram com as ninfas.
E mar tranquilo, pera a pátria amada.” Depois de uma viagem tranquila, com
Assi lhe disse; e logo movimento «mar sereno» e «vento sempre manso», p
Fazem da Ilha alegre e namorada.
os portugueses chegam finalmente a
Levam refresco e nobre mantimento;
Portugal.
Das Ninfas, que hão-de ter eternamente,
Por mais tempo que o Sol o Mundo aquente
145
No mais, Musa, no mais, que a Lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Camões começa por dirigir-se à musa, num tom desanimado, para se
Cantar a gente surda e endurecida.
queixar da «gente surda e enrouquecida» (X, 145) que não reconhece o seu
O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a pátria, não, que está metida talento («engenho») e da pátria, que se deixa dominar pela cobiça, pela

No gosto da cobiça e na rudeza tristeza e pelo pessimismo. A partir da estrofe 146, dirige-se ao rei D.
Dhũa austera, apagada e vil tristeza. Sebastião, a quem tinha dedicado Os Lusíadas, chamando-lhe a atenção
para os seus «vassalos excelentes».
146 Adjetivação: “gente surda e endurecida” (est.145)
E não sei por que influxo de Destino
Imperativo: “Olhai” (est.146)
Não tem um ledo orgulho e geral gosto,
Apóstrofe: “ o Rei” (est. 146)
Que os ânimos levanta de contino
A ter pera trabalhos ledo o rosto. Metáfora: “Lira tenho/ Destemperada e a voz enrouquecida “ ( est. 145)
Por isso vós, ó Rei, que por divino Repetição : “Não mais, Musa, não mais” ( est. 145)
Conselho estais no régio sólio posto,
Olhai que sois (e vede as outras gentes)
Senhor só de vassalos excelentes.
[...]

154 156
Mas eu que falo, humilde, baxo e rudo, Ou fazendo que, mais que a de Medusa,
De vós não conhecido nem sonhado? Na estrofe 154, Camões faz a sua
A vista vossa tema o monte Atlante,
Da boca dos pequenos sei, contudo, própria caracterização – apesar da
Ou rompendo nos campos de Ampelusa
sua origem humilde, não lhe falta
Que o louvor sai às vezes acabado. Os muros de Marrocos e Trudante,
estudo, experiência e talento. Por
Nem me falta na vida honesto estudo, A minha já estimada e leda Musa
isso, oferece ao rei os seus serviços
Com longa experiência misturado, Fico que em todo o mundo de vós cante, de guerreiro («braço às armas feito»,
Nem engenho, que aqui vereis presente, De sorte que Alexandro em vós se veja, X, 155) e de poeta («mente às
Cousas que juntas se acham raramente. Sem à dita de Aquiles ter enveja. Musas dado», X, 155), nas vitórias
que D. Sebastião alcançará no norte
155 de África. Camões cantará esses
Pera servir-vos, braço às armas feito, feitos do rei, que serão superiores
Pera cantar-vos, mente às Musas dada; aos dos heróis da Antiguidade,
Só me falece ser a vós aceito, Alexandre e Aquiles.
De quem virtude deve ser prezada.
Se me isto o Céu concede, e o vosso peito
Dina empresa tomar de ser cantada,
Como a pressaga mente vaticina
Olhando a vossa inclinação divina,

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