Gêneros Líricos Recordarei também como a tua O demo a viver se exponha,
influência Por mais que a fama a exalta,
O Soneto da fidelidade, de Vinicius de fecunda o amor da salada Numa cidade onde falta Moraes e parece que contribui o céu Verdade, honra, vergonha. dando-te a fina forma do granizo De tudo, ao meu amor serei atento a celebrar a tua luz picada Quem a pôs neste rocrócio?... Negócio. Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto sobre os hemisférios de um tomate. Quem causa tal perdição?... Ambição. Que mesmo em face do maior encanto Mas ao alcance E no meio desta loucura?... Usura. Dele se encante mais meu pensamento. das mãos do povo, regada com azeite, Notável desaventura Quero vivê-lo em cada vão momento polvilhada De um povo néscio e sandeu, E em louvor hei de espalhar meu canto com um pouco de sal, Que não sabe que perdeu E rir meu riso e derramar meu pranto matas a fome Negócio, ambição, usura. Ao seu pesar ou seu contentamento. do jornaleiro no duro caminho. Estrela dos pobres, E assim, quando mais tarde me procure fada madrinha Hino do Pernambuco Quem sabe a morte, angústia de quem envolta Coração do Brasil em teu seio vive em delicado Corre sangue de heróis, rubro veio Quem sabe a solidão, fim de quem ama papel, tu sais do solo, Que há de sempre o valor traduzir eterna, intacta, pura És a fonte da vida e da história Eu possa me dizer do amor (que tive): como semente de astros, Desse povo coberto de glória Que não seja imortal, posto que é chama e ao cortar-te O primeiro, talvez, no porvir Mas que seja infinito enquanto dure. a faca de cozinha sobe a única lagrima Salve, ó terra dos altos coqueiros! sem mágoa. Ode à Cebola* (Pablo Neruda) De belezas, soberbo estendal Fizeste-nos chorar mas sem sofrer. Nova Roma de bravos guerreiros Tudo o que existe celebrei, cebola, Cebola, Pernambuco imortal, imortal! mas para mim és luminosa redoma, mais formosa que um pássaro pétala a pétala Esses montes e vales e rios de plumas ofuscantes, formou-se a tua formosura, Proclamando o valor de teus brios és para os meus olhos escamas de cristal te acrescentaram Reproduzem batalhas cruéis globo celeste, taça de platina, e no segredo da terra sombria No presente, és a guarda avançada baile imóvel arredondou-se o teu ventre de orvalho. Sentinela indormida e sagrada de anémona nevada. Sob a terra Que defende da Pátria os lauréis * tradução de José Bento, in Antologia de Pablo Neruda, deu-se o milagre editorial Inova, 1973 - As mãos e os frutos) e quando apareceu Salve, ó terra dos altos coqueiros! teu rude caule verde, De belezas, soberbo estendal e nasceram [Alguma poesia] [Carlos Drummond de Nova Roma de bravos guerreiros as tuas folhas como espadas no horto Andrade] Pernambuco imortal, imortal! a terra acumulou seu poderio mostrando a tua nua transparência, Do futuro, és a crença, a esperança Gastei uma hora pensando em um verso Desse povo que, altivo, descansa e como em Afrodite o mar distante que a pena não quer escrever. duplicou a magnólia Como o atleta depois de lutar No entanto ele está cá dentro No passado, o teu nome era um mito levantando-lhe os seios, inquieto, vivo. a terra Era o Sol a brilhar no infinito Ele está cá dentro Era a glória na terra a brilhar! fez-te assim, e não quer sair. cebola, Mas a poesia deste momento clara como um planeta, Salve, ó terra dos altos coqueiros! inunda minha vida inteira. De belezas, soberbo estendal e destinada a reluzir, Nova Roma de bravos guerreiros constelação constante, O Poeta Pernambuco imortal, imortal! redonda rosa de agua, sobre A república é filha de Olinda Caçador de estrelas. Alva estrela que fulge e não finda a mesa Chorou: seu olhar voltou dos pobres. De esplender com seus raios de luz com tantas! Vem vê-las! Liberdade, o teu filho proclama! Generosa (Guilherme de Almeida) desfazes Dos escravos, o peito se inflama teu globo de frescura Ante o Sol dessa terra da Cruz! na consumação Satírica de Gregório de Matos: fervente do cozido, Salve, ó terra dos altos coqueiros! e o giram de cristal Epigrama De belezas, soberbo estendal ao calor inflamado do azeite Nova Roma de bravos guerreiros transforma-se em ondulada pluma de Que falta nesta cidade?... Verdade. Pernambuco imortal, imortal! ouro. Que mais por sua desonra?... Honra. Falta mais que se lhe ponha?... Vergonha.