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A poesia de

Ricardo Reis
Ricardo Reis, o poeta «clássico»
Ricardo Reis, o poeta «clássico»
O epicurismo:
• Carpe diem – valorização do dia e dos prazeres do momento presente
• Culto do prazer e procura da felicidade relativa
• Busca do estado de ataraxia (tranquilidade sem perturbação)
• Moderação e simplicidade nos prazeres
• Fuga às sensações extremas e recusa das emoções fortes
(e, por extensão, à dor)
• Aceitação da efemeridade da vida
• Indiferença face à morte
• Atitude contemplativa
Ricardo Reis, o poeta «clássico»
O estoicismo:
• Indiferença perante as emoções
• Renúncia aos bens materiais
• Aceitação do poder do destino (apatia)
• Aceitação da passagem inexorável do tempo
• Atitude de abdicação – aceitação voluntária do destino involuntário
(«Abdica/E sê rei de ti próprio.»)
O neopaganismo:
• Aceitação dos deuses mitológicos
• Crença no Fado (sentido determinista)
• Sujeição pacífica à hierarquia Fado – deuses – homens
Ricardo Reis, o poeta «clássico»
A consciência e encenação da mortalidade
• Consciência da efemeridade da vida
• Aceitação da transitoriedade da existência
• Reflexão sobre o fluir inelutável do tempo
• Indiferença face à morte
• Inspiração nos elementos naturais – o rio (metáfora do fluir
da vida e da passagem do tempo) e as flores (símbolos da
efemeridade da vida e da beleza natural perecível)
• Defesa da aurea mediocritas, a vivência tranquila e Gustav Klimt, Morte e vida (cerca de 1911).
Coleção particular
equilibrada, sem aspirações a mais do que aquilo que se tem
Ricardo Reis, o poeta «clássico»
A consciência e encenação da mortalidade

Não somos nada, não temos nada, não fazemos nada que dure. A vida é um breve
adiamento da morte. Reis tem uma consciência intensa da brevidade de tudo, da
perpétua ameaça do tempo que corre, da fragilidade das nossas obras, que se
desfazem em pó ou em fumo como os nossos corpos. […] Ela poder-lhe-ia inspirar
um sentido trágico da vida, fazer dele um revoltado e um imprecador, mas pelo
contrário, ele baseia nesse pessimismo uma ética da aceitação total.
BRÉCHON, Robert, 1996. Estranho Estrangeiro. Lisboa: Quetzal (pp. 242-244)
Ricardo Reis, o poeta «clássico»
Linguagem, estilo e estrutura

• Relação forma/conteúdo: estilo trabalhado e rigoroso para assuntos elevados


• Regularidade estrófica e métrica – ode (predomínio dos versos hexassilábicos
e decassilábicos)
• Preferência pela ode – composição lírica de origem clássica, dedicada a assuntos
nobres e caracterizada pela eloquência, solenidade e elevação de estilo
• Linguagem culta e alatinada (arcaísmos e vocabulário erudito)
Ricardo Reis, o poeta «clássico»
Linguagem, estilo e estrutura

• Predomínio da subordinação e complexidade sintática (anástrofes)


• Tom moralista (vocativos/apóstrofes, modos imperativo e conjuntivo, frases
declarativas)
• Tom coloquial (presença de um interlocutor)
• Uso frequente da primeira pessoa do plural (tom moralista)
Ricardo Reis, o poeta «clássico»

Ricardo Reis, discípulo de Caeiro na valorização da natureza, da sua


simplicidade e dos seus ciclos, aprende com ela que a vida é efémera e que a
morte é o fim regular e inevitável. Dotado desta consciência da mortalidade,
explora liricamente a sua encenação, ou seja, antecipa o momento final da
existência e deixa conselhos para chegar a ele sem sofrimento. Em tom
moralista, desenvolve uma filosofia inspirada nos clássicos e assente numa
atitude contemplativa da vida, que preconiza a aceitação do destino e a vivência
moderada do momento presente, com a recusa dos prazeres e a indiferença face
às paixões, num estado de tranquilidade.

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