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RICARDO REIS

Disciplinamental; efemeridade da vida; iminência da morte; domínio


dos deuses; fuga à dor; atitude estóico- epicurista, baseada na
ataraxia (ausência de perturbação).
Ricardo Reis, nasceu no Porto em 1887, foi educado num colégio de
jesuítas e é médico. É latinista por educação alheia e semi-helenista por
educação própria. Viveu no Brasil e expatriou-se voluntariamente por ser
monárquico. Demonstra interesse pela cultura Clássica, Romana (latina)
e Grega (helénica). Fisicamente é um pouco mais baixo, mas forte, mais
seco do que Caeiro; moreno de cara rapada.

Reis é um latinista que olha e segue os modelos estéticos da


Antiguidade Clássica (Grega e Latina). O mundo greco- latino é um
modelo para o poeta. Este discípulo de Caeiro aceita a antiga crença
nos deuses, enquanto disciplinador das nossas emoções e
sentimentos, mas defende, sobretudo, a busca de uma felicidade
relativa alcançada pela indiferença à perturbação. Este é o heterónimo
que exige a Pessoa um maior distanciamento e um maior poder de
despersonalização.

A filosofia de Ricardo Reis é a de um epicurismo triste, pois defende


o prazer do momento, o “carpe diem”, como caminho da felicidade,
mas sem ceder aos impulsos dos instintos. Apesar deste prazer que
procura e da felicidade que deseja alcançar, considera que nunca se
consegue a verdadeira calma e tranquilidade – ataraxia.

Ricardo Reis propõe, pois, uma filosofia moral de acordo com os


princípios do epicurismo e uma filosofia estóica:

• “Carpe diem”(aproveita o dia), ou seja, aproveita a vida em


cada dia, como caminho da felicidade;

• Busca da felicidade com tranquilidade (ataraxia);

• Não ceder aos impulsos dos instintos (estoicismo);

• Procurar a calma, ou pelo menos, a sua ilusão;

• Seguiro ideal ético da apatia que permite a ausência da


paixão e a liberdade (sobre esta apenas pesa o Fado -
destino).
Epicurismo: fuga à dor (através da moderação dos prazeres e aceitação
do fado); não temer a morte; modera o prazer (busca dos prazeres
simples da vida, sem excessos); atinge a ataraxia (ausência de
perturbações/ tranquilidade da alma).

Estoicismo: aceitação calma e serena da ordem das coisas e do destino


(aceitar a ordem universal das coisas, incluindo a morte); dominar as
paixões (permanecendo indiferente tantos a estas como à dor, ambas
perturbações da razão); auto disciplina.

Horacianismo: carpe diem; aurea mediocritas (felicidade possível no


sossego do campo – proximidade de Caeiro). Paganismo: crença nos
deuses; crença na civilização da Grécia; sente-se um estrangeiro fora da
sua pátria, a Grécia. Neopaganismo: reconstrução da essência do
verdadeiro paganismo.

Neste sentido, este heterónimo afirma-se crente nos deuses, que


estão acima dos homens, mas acima dos dois está ainda o destino
(fado). Tenta assumir a postura dos deuses, adquirido através de
um exercício de autodisciplina, calma e indiferença, face a um
destino já traçado.

Ricardo Reis, que adquiriu a lição do paganismo espontâneo de


Caeiro, cultiva um neoclassicismo neopagão (crê nos deuses e nas
presenças quase divinas que habitam todas as coisas), recorrendo
à mitologia greco-latina, e considera a brevidade, a fugacidade e a
transitoriedade da vida, pois sabe que o tempo passa e tudo é
efémero (de curta duração). Acredita num destino inelutável de uma
maneira tranquila (tranquila resignação ao destino). Considera que a
verdadeira sabedoria de vida é viver de forma equilibrada e serena,
“sem desassossegos grandes”.

A filosofia de Reis rege-se pelo ideal “Carpe Diem” – a sabedoria


consiste em saber-se aproveitar o presente, porque se sabe que a vida é
breve. Há que nos contentarmos com o que o destino nos trouxe. Há que
viver com moderação, sem nos apegarmos às coisas, e por isso as
paixões devem ser comedidas, para que a hora da morte não seja
demasiado dolorosa.

• A conceção dos deuses como um ideal humano;

• As referências aos deuses da Antiguidade (neo-paganismo)


greco-latina são uma forma de referir a primazia do corpo, das
formas, da natureza, dos aspetos exteriores, da realidade, sem
cuidar da subjetividade ou da interioridade - ensinamentos de
Caeiro, o mestre de todos os heterónimos;

• A recusa de envolvimento nas coisas do mundo e dos


homens.

As linhas ideológicas presentes na poesia de Reis refletem um


homem que sofre e vive o drama da transitoriedade da vida, facto
que lhe provoca sofrimento (por imaginar antecipadamente a
morte). Somos seres frágeis, seres-para- a-morte, tal como tudo o
que nos rodeia.

Características poéticas:
• Epicurismo;

• Estoicismo;

• Autodisciplina, abdicação, recusa de compromissos afetivos


e sociais;

• Neopaganismo e neoclassicismo – crença nos deuses,


louvor da civilização grega, tema horaciano do carpe diem;

• Efemeridade da vida e do tempo/obsessão pela morte;

• Presença constante do Fado, do destino, da fatalidade;

• Intelectualização das emoções;

• Tom sentencioso – caráter moralista da sua poesia.

Sentimentos dominantes:
• Submissão
• Dor
• Indiferença
• Conformação
Características de estilo e linguagem:
• Estilo laboriosamente construído (construído com extremo
rigor);

• Forma métrica mais usada – ode;

• Linguagem erudita e alatinada no vocabulário e na sintaxe;

• Uso do hipérbato e da anástrofe (inversão da ordem natural


das palavras na frase);

• Recurso ao gerúndio e ao imperativo (exortativo);

• Predomínio das frases subordinadas;

Resumo:
• Disciplinamental

• Intelectualização das emoções;

• Domínio dos deuses;

• Obsessão da efemeridade da vida, do tempo; aceita a


relatividade e a fugacidade das coisas;

• Iminência e irreversibilidade da morte (morte como única


certeza do percurso existencial; aceitação pacífica desta);

• Busca do prazer moderado (procura da ataraxia), como meio


de fuga à dor;

• Aparente tranquilidade, na qual se reconhece a angústia


existencial do ortónimo;

• Espírito grave, ansioso de perfeição;

• Atitude de quase indiferença perante a vida ("A sabedoria de


deixar passar a vida placidamente, sem a viver"); inutilidade de
qualquer compromisso;

• Necessidade do predomínio da razão sobre a emoção, como


uma defesa contra o sofrimento;
• Presença do fatalismo - o destino é força superior ao
homem; aceitação calma do destino;

• ”epicurista triste”- (Carpe Diem) – busca do prazer moderado


e da ataraxia;

• Estoicismo – aceitação calma e serena da ordem das coisas;

• Moralista – pretende levar os outros a adotar a sua filosofia


de vida, não se cansa de dar conselhos;

• Poeta inteletual, sabe contemplar: ver intelectualmente a


realidade;

• Aceitação do Fado, da ordem natural das coisas;

• Privilegia a ode, o epigrama e a elegia;

• Usa a inversão da ordem lógica, favorecendo o ritmo das


suas ideias disciplinadas;

• Estilo densamente trabalhado, de sintaxe alatinada,


hipérbatos, apóstrofes, metáforas, comparações, gerúndio e
imperativo;

• Verso irregular e decassilábico.

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