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Ricardo Reis

Características temáticas e formais


Contemplativo, procura a serenidade

Livre de afetos e de tudo o que


possa perturbar o espírito

Ricardo Reis: Estoico

o poeta clássico Atitude de luta contra tudo o que


tira o desassossego

Vital na busca do entendimento da


felicidade e da liberdade
Ricardo Reis: a consciência e a encenação da
mortalidade
A palidez do dia é levemente dourada.
O sol de Inverno faz luzir como orvalho as curvas
Dos troncos de ramos secos.
O frio leve treme.

Desterrando da pátria antiquíssima da minha


Crença, consolando só por pensar nos deuses
Aqueço-me trémulo
A outro sol que este.

O sol que havia sobre o Parténon e a Acrópole


O que alumiava os passos lentos e graves
De Aristóteles falando.
Mas Epicuro melhor

Me fala, com a sua cariciosa voz terrestre


Tendo para os deuses uma atitude também de deus,
Sereno e vendo a vida
À distância a que está.
Ricardo Reis, Odes.
Ricardo Reis: o fingimento artístico

«O Dr. Ricardo Reis nasce dentro da minha alma no dia 29 de Janeiro de


1914, pelas 11 horas da noite. Eu estivera ouvindo no dia anterior uma discussão
extensa sobre excessos, especialmente da realização, da arte moderna. Segundo
o meu processo de sentir as coisas sem as sentir, fui-me deixando ir na onda
dessa reacção momentânea. Quando reparei em que estava pensando, vi que
tinha erguido uma teoria neoclássica, e que a ia desenvolvendo.»

Fernando Pessoa
Estoicismo: corrente filosófica
Viver em conformidade com
as leis do destino Encontrar a felicidade

Indiferença perante os
males e as paixões Perturbam a razão

Apatia (ausência de Paixão) Liberdade


Epicurismo: filosofia moral de Epicuro
(341-270 a.C.)
Horácio era adepto
desta filosofia
Prazer e
satisfação
dos
desejos

Ataraxia Caminho Carpe diem


(tranquilidade para a
absoluta)
felicidade

Felicidade
Ricardo Reis: reflexão existencial
Epicurismo + Filosofia estóica

Procura da felicidade

Ideal ético: apatia


Controlar os (ausência de
Carpe diem Ataraxia Procurar a calma paixão) e liberdade
impulsos
(aproveitar o dia) (tranquilidade) (ou a ilusão dela) (limitada apenas
(estoicismo)
pelo “fado”)
Neopaganismo
Crença na “estrangeiro”
Crença nos
civilização fora da sua
deuses
grega pátria (Grécia)

No Prefácio a Odes, diz: “nasci acreditando nos deuses, criei-me nessa crença, e,
querendo eles, nessa crença morrerei. Sei o que é sentimento pagão. Só me pesa não
poder explicar realmente o quão absolutamente e incompreensivelmente diverso ele
é de todos os nossos sentimentos. Mesmo a nossa calma, e o vago estoicismo que
entre nós alguns têm, não são coisas que parecem com a calma antiga e o estoicismo
grego.”
Ricardo Reis: o destino
Só esta liberdade nos concedem

Os deuses: submetermo-nos

Ao seu domínio por vontade nossa.


Aceita o destino com naturalidade, considerando que os deuses estão acima do
Mais vale assim fazermos

Porque só na ilusão da liberdade


homem por uma questão de grau, mas que acima dos deuses, no sistema pagão, se encontra o
A liberdade existe. Fado, que tudo submete.
Ricardo Reis procura alcançar a quietude e a perfeição dos deuses, desenhando um
Nem outro jeito os deuses, sobre quem

O eterno fado pesa,


novo mundo à sua medida, que se encontra por detrás das aparências. Os deuses são uma
Usam para seu calmo e possuído metáfora do mundo. Indiferentes, mas omnipresentes, confundem-se connosco sempre que os
Convencimento antigo imitamos. Não são mais do que homens mais perfeitos ou aperfeiçoados. “Só esta liberdade nos
De que é divina e livre a sua vida.
concedem/ Os deuses: submetermo-nos/ Ao seu domínio por vontade nossa”.
Pagão por caráter, que resulta da acumulação de experiências e da sua formação
Nós, imitando os deuses,
helénica e latina, há, nos seus poemas, uma postura ética e um constante diálogo entre o
Tão pouco livres como eles no Olimpo,

Como quem pela areia passado e o presente, escrevendo odes inspiradas nas doutrinas epicuristas de Horácio.
Ergue castelos para encher os olhos,

Ergamos nossa vida

E os deuses saberão agradecer-nos

O sermos tão como eles.


Ricardo Reis, Odes.
Caraterísticas Temáticas
• O Epicurismo, busca de uma felicidade relativa, sem
desprazer ou dor, através de um estado de ataraxia, isto é, • O elogio da vida rústica (a aurea medocritas de Horácio): a
uma certa tranquilidade ou indiferença capaz de evitar a felicidade só é possível no sossego do campo (comparável a
perturbação. Caeiro).

• O gozo do momento que passa, o carpe diem horaciano.


• O Estoicismo, crença de que a felicidade só é possível se
atingirmos a apatia, isto é, a aceitação das leis do Destino e
a indiferença face às paixões e aos males. • A tentativa de iludir o sofrimento resultante da consciência
aguda da precariedade da vida, do fluir contínuo do tempo e da
fatalidade da morte, através do sorriso, do vinho e das flores.
• O Paganismo.
• A intelectualização das emoções.
• A passagem inelutável do tempo.
• A intemporalidade das suas preocupações: a angústia do
• A precariedade da vida e a fatalidade da Morte. homem perante a brevidade da vida e a inevitabilidade da
Morte que leva a uma interminável busca de estratégias de
• A moderação dos desejos e dos prazeres. limitação do sofrimento que caracteriza a vida humana.

• O culto do Belo, como forma de superar a transitoriedade


da vida e dos bens terrenos.
• O autodomínio e a contenção dos sentimentos.

• As ameaças do Fatum (entidade implacável que oprime • A quase ausência de erotismo, de amor autêntico (em
deuses e homens), da Velhice e da Morte. contraste com Horácio).
Características Estilísticas

• Submissão da expressão ao conteúdo, às ideias. • A preferência pela ode (influência de Horácio), com
estrofes regulares em verso decassilabico, alternando ou
• A complexidade da sintaxe alatinada (influência de não com hexassílabo.
Horácio):
- a anteposição do complemento direto ao verbo (“As
rosas amo…”).
- a inesperada ordem das palavras que nos obriga a • Uso frequente do gerúndio.
uma leitura silabada.

• Seleção cuidada de fonemas ou vocábulos sugestivos das


ideias que pretende exprimir (a elevação, a nobreza, o
• O uso de latinismos: atro, ledo, infero, inscientes, classicismo da linguagem poética)
volucres, vila, etc.

• A frequência da inversão (anástrofe e hipérbato) e da • Verso branco ou solto, recorrendo, com frequência à
elipse. assonância, à aliteração e a rima interior.

• As perífrases que remetem para um contexto religioso


e mitológico grego ou latino. (Ex.: “Antes que Apolo • Uso frequente do imperativo e do presente do conjuntivo
deixe / O seu curso visível”) com sentido de imperativo (de acordo com a feição
moralista das odes).

• Estilo denso e rigorosamente elaborado.

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