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Heterónimos de Fernando Pessoa

ALBERTO CAEIRO
Considerado o Mestre, já que é o único que consegue atingir a paz, a tranquilidade e a serenidade, através da
recusa do pensamento e privilegiando o sentimento.
“Eu não tenho filosofia, tenho sentidos”

É o oposto do ortónimo (oposto da angústia e da ansiedade), já que não pensando é que se atinge a felicidade
Desculturalização – nega a visão da realidade sujeito à análise do pensamento, defendendo que existir é
apenas de acordo com as leis naturais
Poemas dividem-se em 3 (O Guardador de Rebanhos; O pastor amoroso; Poemas inconjuntos)

Guardador de Rebanhos
Nega que a natureza tenha significados ocultos, acredita na simplicidade e na aceitação
O mundo é como é …
“Aprender a desaprender”
Aceitar a vida e a morte sem mistérios, despejados de todo o pensamento e de toda a subjetividade

TEMAS CITAÇÕES
Contato entre natureza e pessoa Perceção sensorial dos elementos
“Os meus pensamentos são contentos, só tenho
Anular o vício de pensar
pena de saber que eles são contentes”
Pensamento = Infelicidade “Pensar incomoda como andar à chuva”
Sujeito em paz consigo mesmo, sem ambições
Escrever é natural “Escrevo versos num papel que está no meu
pensamento Sinto um cajado nas mãos E vejo um
recorte em mim”
Linguagem simples com comparações “O meu olhar é nítido como um girassol”
Real é o caminho para a felicidade “Sinto todo o meu corpo deitado na realidade Sei a
verdade e sou feliz”

Mensagens a reter!

 Defesa da objetividade
 Predomínio da sensação sobre o pensamento – pensamento deturpa o significado
 Comunhão total entre o Homem e a Natureza – aceitar os processos naturais
 Neopaganismo – descrença total na transcendência (do que há para além da vida)
 Desculturalização – não pensar nas coisas é não as compreender
 Estoicismo – aceitação passiva de tudo (vida humana faz parte do universo); aceitar a realidade como é
conduz à tranquilidade
Estilo de escrita

 Linguagem simples
 Léxico objetivo
 Poucos adjetivos
 Metáforas e comparações
 Paralelismos
 Verbos no presente
Sonoridade

 Ritmo lento
 Sons nasais e vogais abertas
 Sem rimas
Alberto Caeiro é o mestre de todos os sujeitos poéticos, atinge a paz consigo mesmo e com a vida, através da
ingenuidade, da pureza e da ligação com a Natureza
Mostra o predomínio das sensações, principalmente a visão, não pensa, e com foco na vivência do presente

RICARDO REIS
Procura encontrar a paz e o equilíbrio como o Mestre, assim os seus textos mantêm o equilíbrio do espírito
clássico, conseguido com a harmonia entre o epicurismo e o estoicismo.
O epicurismo é o ideal com o objetivo de ter tranquilidade da alma, conseguida por não temer a morte,
procuras os prazeres simples da vida e a fuga à dor.
O estoicismo propõe regra de vida próprias para alcançar a felicidade e a sabedoria, através de dominar as
emoções e aceitar os factos e as regras universais, incluindo a morte.

Poesia cerebral
Carpe diem (“aproveita o dia e confia o mínimo possível no amanhã” em latim), recusando assim
compromissos afetivos para que nada perturbe a nossa serenidade, vivendo assim sem dor (epicurismo)
Não expressa emoções que o possam comprometer vivendo sempre sereno (estoicismo)
É a adoção destas filosofias que o aproxima de um estado de ataraxia, que significa uma ausência de
inquietação
Defende que tudo é efémero e que a vida é momentânea adiável da morte, fazendo com que procure uma
vivência suave do presente

Niilismo
É a negação da realidade e verdade, mas que não gera revolta nem angústia, com aceitação das limitações e
das falhas
“não ter nada nas mãos” para se sentir completo consigo mesmo
A vida é um caminho
Traduzido com metáforas, como “rio”, “decurso”, “fuga”, que indica que a vida foge e flui até ao momento fatal
Não sofre com a eminência da morte
Acredita que a vida é efémera e, por isso, devemos viver sem compromissos
Poesia didática
Uma necessidade de ensinar o que o leem, diz-nos tudo isto com um discurso de professor, com se nos tivesse
a ensinar que não devemos sofrer por coisas desnecessárias porque a vida é um caminho já destinado
Nem os deuses escapam a uma força superior
Reis só tem uma certeza, que não se foge ao destino certo -> morte
“há noite antes e após o pouco que duramos”

Individualismo
Reis cultiva o individualismo, o que leva a afastar-se dos outros, segundo a lição epicurista, abdica dos
prazeres violentos a favor da tranquilidade e renúncia ações inúteis para evitar a dor.
“O que levamos desta vida inútil Tanto vale se é A glória, a fama, o amor, a ciência, a vida”
Através da recusa dos sentimentos, atinge a paz e a serenidade

Mensagens a reter!

 Racionalização das emoções e recusa do seu valor


 Constatação da inutilidade da ação
 Fatalismo – através da consciência de um destino superior ao homem
 Seres superiores
 Aceitação do destino
 Paganismo – deuses também estão submetidos à força do destino
 Epicurismo e estoicismo – felicidade é impossível; evitar prazeres fortes; aceitar a dor inevitável;
procurar a tranquilidade para encontrar felicidade e liberdade
 Autodisciplina
 Carpe diem – aproveitar ao máximo o presente
 Individualismo – recusa da inserção do individuo na sociedade, pela crença na inutilidade da ação por
oposição entre o eu e a sociedade moderna
 Inutilidade dos esforços da mudança – não querer mudar por está conformado e aceita o destino
 Didatismo – tenta entregar lições de vida
Estilo de escrita

 Vocabulário erudito
 Arcaísmos
 Coloquialismos
 Comunicação direta com o leitor
 Nomes – atributos
 Formas estróficas e métricas – influência clássica
 Latinismos
 Hipérbatos – queda de fonemas no final das palavras
Sonoridade

 Sons nasais fechados


 Rimas
 Repetição de sons

ÁLVARO DE CAMPOS
Os textos correspondem o percurso do engenheiro seduzido pelo ópio, marcado na fase decadentista, pelo
delírio futurista, marca na fase futurista, para por fim debruçar no tédio e no desânimo, na fase abúlica /
intimista.
Mostra uma pessoa com vários estados, desde o mais histérico ao mais desânimo
Poemas longos, desordenados e confusos exprimem um turbilhão de emoções variadas. Por isso, o que Pessoa
ortónimo não exprime, fala Campos, numa explosão de gritos e exclamações
Fase decadentista
Sujeito poético inadaptável ao mundo e à vida, apresenta um desencanto face à inutilidade da vida e denúncia
do fatalismo português, …
“Pertenço a um género de portugueses Que depois de estar a Índia descoberta Ficaram sem trabalho”
… pelo desejo de novas sensações.
“Ao toque adormecido da morfina Perco-me em transparências latejantes”
Depois desta fase depressiva, inicia uma fase de excitação
Fase futurista
Elogia explosivo e excessivo da civilização tecnológica, fascínio excessivo das sensações e celebração
exacerbada e provocatória do progresso e da civilização moderna.
Nesta fase os poemas de Campos, traduzem o enaltecimento da técnica, do progresso e das energias
associadas à força, ao movimento e à velocidade que rege na era industrial
Estilo de escrita

 Campos semânticos da nova civilização


 Interjeições
 Frases do tipo exclamativo
 Enumerações
 Onomatopeias
 Ritmo exuberante
Valorizam a intensidade das sensações, enquanto fenómeno de conhecimento
“sentir tudo de todas as maneiras”

Temas Citações
Visão excessiva e intensa do real (quase alucinação) “Em fúria dentro de mim”
Sensações excessivas “Expressão de todas as minhas sensações”
“Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo
Ligações eufórica e exaltada com o mundo moderno
isto Rasgar-me todo, abrir-me completamente A
e supercivilizado
todos os perfumes de ílcos e calores e carvões”

Ode marítima
Neste poema, o poeta expressa não só a apologia da sensação, mas também a perceção de um ser consciente
que desperta para a realidade. Caracteriza-se por um olhar de quem vaguei pelo indefinido e deambula na vida
marítima, provocando um misto de sensações melancólicas, anunciando a fase intimista.
“Traça um semicírculo de não sei que emoção No silêncio comovido da minha alma”
Fase intimista
Semelhante à poesia do ortónimo de Pessoa
Passa para uma fase marcada pelo desencanto, o tédio e uma crise existencial. Campos dominado pelo
pensamento é incapaz de sentir, sente um tédio existencial e olha para a infância como um tempo de
felicidade / paraíso para sempre perdidos.
Caracteriza-se por sua faceta antissocial, renúncia da sociedade materialista, recusando o sistema que o
envolve, …
“Não: não quero nada Já disse que não quero nada”
… para além disso demostra uma recusa da mediocridade da vida, …
“Queriam-me cada, fútil, quotidiano e tributável?”
… mostra ainda um individualismo acerbado
“Quero ser sozinho Quero estar sozinho”
Mensagens a reter!
 Fase decadentista
 Desencanto
 Procura por novas sensações
 Fase futurista
 Vanguarda
 Sensacionismo
 Expressão explosiva de emoções
 Fase intimista
 Melancolia da infância
 Pessimismo
 Tédio
 Incapacidade de sentir
 Desapego da sociedade
 Desencanto total
Estilo de escrita

 Vocabulário técnico
 Empréstimos e neologismos
 Adjetivos
 Metáforas
 Hipérboles
 Verbos no presente
Sonoridade

 Onomatopeias
 Jogos de som
 Sons abertos

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