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Alberto Caeiro

Heterónimo de Fernando Pessoa.


Exprime e representa a visão marcadamente não-humana, primitiva e 'pura' da Natureza e até do
Homem. Despido da emoção (da subjetividade) e anulada toda a cultura (a Razão) que o
Homem foi criando, este heterónimo faz da pura sensação e do objetivismo (absoluto) o 'ideário'
da existência e da sua escrita. Vive de impressões, especialmente, visuais.
Como é considerado o Mestre, não tem preocupações de ordem metafísica e social (como
acontece com Pessoa e com Álvaro de Campos), é a única criação pessoana que conhece a
Verdade das coisas - porque não as pensa ('Com filosofia não há árvores, há ideias apenas').
Da harmonia e da comunhão com a Natureza resulta uma visão pagã da existência, que consiste
na descrença total na transcendência. Para Caeiro a única verdade é a sensação.

Alberto Caeiro é o poeta do olhar que ensina a simplicidade da vida. Busca ver as coisas como
são, na sua forma mais primitiva e natural. Faz a apologia da visão como valor essencial (a
ciência do ver). Para Caeiro, ver é conhecer e compreender o mundo, a visão é um modo de
conhecimento privilegiado, pois permite percecionar a imensidão do mundo, superando a
dimensão física limitada do sujeito.

Caeiro foi o heterónimo que melhor interpretou o Sensacionismo. Só lhe interessa vivenciar o
mundo que capta pelas sensações. O mundo é visto sem necessidade de explicações. Acredita na
'eterna novidade do mundo'. Recusa o pensamento metafísico ('pensar é não compreender',
pensar 'é estar doente dos olhos'), insistindo naquilo a que chama 'aprendizagem de
desaprender', ou seja, aprender a não pensar, para se libertar de todos os modelos ideológicos,
culturais ou outros, e poder ver a realidade concreta.
O pensamento gera a infelicidade, desfigura o significado das coisas que existem. O sentido das
coisas reduz-se à sua existência ('As coisas não têm significado: têm existência'). A realidade
vale por si mesma ('Cada coisa é o que é').

Álvaro Campos
É o oposto de Caeiro pelo drama ontológico que exprimiu, pela maior envolvência no
Modernismo e por manifestar uma trajetória evolutiva da sua obra poética.
 
Costuma-se ver três fases na evolução da escrita de Campos: a primeira, a decadentista, é a que
mais se aproxima da nossa poesia finissecular; a segunda, a modernista, corresponde à
experiência de vanguarda iniciada com Orpheu; e a terceira é a negativista, na qual a angústia de
existir e ser mais se evidencia e se radicaliza. É, por isso, o poeta pessoano que mais se
multiplicou na busca incessante do Absoluto e da Verdade.

A obra de Álvaro de Campos passa por três fases:

• 1ª fase: decadentista
Esta fase surge como uma atitude estética finissecular que exprime o tédio, o cansaço e a
necessidade de novas sensações. Traduz a falta de um sentido para a vida e a necessidade de
fuga à monotonia.

• 2ª fase: vanguardista e sensacionista


Como poeta da modernidade, Campos tanto celebra a civilização industrial e mecânica, como
expressa o desencanto do quotidiano citadino, adotando sempre o ponto de vista do homem da
cidade.

• 3ª fase: intimista
A terceira fase é caracterizada pelo sono e pelo cansaço. Nela se revela a desilusão, a revolta, a
inadaptação, a dispersão, o cansaço e uma grande angústia. Após a exaltação heróica e a
obsessão dos 'maquinismos em fúria', cai no desânimo e na frustração. Perante a incapacidade
das realizações, traz de volta o abatimento, que provoca 'Um supremíssimo cansaço, / íssimo,
íssimo, íssimo, / Cansaço...'.

Ricardo Reis
O Destino, a Morte, a Glória, o Amor e a fugacidade do Tempo são marcas indicadoras da
inutilidade de tudo. Aceitar as coisas (feitas pelo tempo)com a alegria de um consciente infeliz é
uma das atitudes típicas de Reis. O epicurismo, o estoicismo e o carpe diem são a base filosófica
da sua poesia, de sintaxe naturalmente alatinada e esteticamente de raiz neoclássica.
Ricardo Reis é um poeta disciplinado, que procura o prazer nos limites do ser humano face ao
destino e à fugacidade da vida que passa como o rio. O fado surge acima dos próprios deuses e,
naturalmente, dos homens. Perante isto, considera que devemos pensar e agir serenamente e
com moderação, pois são inúteis cuidados ou compromissos. A vida é efémera 'quer gozemos,
quer não gozemos'. Por isso há que buscar a calma ou a sua ilusão.
Reis propõe uma filosofia moral de acordo com os princípios do epicurismo e uma filosofia
estoica.

 Epicurismo
o filosofia moral que defende o prazer como caminho da felicidade;

o ausência de dor, calma e tranquilidade, conseguida por um estado de ataraxia,


ou seja, sem qualquer perturbação;

o saber apreciar, muito consciente e tranquilamente, o prazer das coisas, sem


qualquer esforço ou preocupação;

Fernando Pessoa afirma que a obra de Ricardo Reis apresenta um epicurismo triste, pois
na vida, nunca se encontra a calma e a tranquilidade desejada. Considera inútil e
inconsequente qualquer ação pois a vida passa e é necessário lidar com isso.

 Estoicismo

o viver a vida em conformidade com as leis do destino, indiferente à dor e ao


desprazer: 'Segue o teu destino, / Rega as tuas plantas, Ama as tuas rosas. / O
resto é a sombra / De árvores alheias';

o é possível encontrar a felicidade desde que se viva em conformidade com as


leis do destino que regem o mundo, permanecendo indiferente aos males, às
paixões e ao impulso dos instintos, que são perturbações da razão;

o indiferença cética: ato de lucidez de quem sabe que tudo tem o seu fim e de que
tudo já está, fatalmente, traçado.

Reis, muitas vezes, considera a inconsciência ou a distração como a melhor forma de


gozar o pouco que nos é dado. Procura ignorar tudo conscientemente, pensando apenas
o momento, o gozo do instante.

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