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Alberto Caeiro é o poeta do olhar que ensina a simplicidade da vida. Busca ver as coisas como
são, na sua forma mais primitiva e natural. Faz a apologia da visão como valor essencial (a
ciência do ver). Para Caeiro, ver é conhecer e compreender o mundo, a visão é um modo de
conhecimento privilegiado, pois permite percecionar a imensidão do mundo, superando a
dimensão física limitada do sujeito.
Caeiro foi o heterónimo que melhor interpretou o Sensacionismo. Só lhe interessa vivenciar o
mundo que capta pelas sensações. O mundo é visto sem necessidade de explicações. Acredita na
'eterna novidade do mundo'. Recusa o pensamento metafísico ('pensar é não compreender',
pensar 'é estar doente dos olhos'), insistindo naquilo a que chama 'aprendizagem de
desaprender', ou seja, aprender a não pensar, para se libertar de todos os modelos ideológicos,
culturais ou outros, e poder ver a realidade concreta.
O pensamento gera a infelicidade, desfigura o significado das coisas que existem. O sentido das
coisas reduz-se à sua existência ('As coisas não têm significado: têm existência'). A realidade
vale por si mesma ('Cada coisa é o que é').
Álvaro Campos
É o oposto de Caeiro pelo drama ontológico que exprimiu, pela maior envolvência no
Modernismo e por manifestar uma trajetória evolutiva da sua obra poética.
Costuma-se ver três fases na evolução da escrita de Campos: a primeira, a decadentista, é a que
mais se aproxima da nossa poesia finissecular; a segunda, a modernista, corresponde à
experiência de vanguarda iniciada com Orpheu; e a terceira é a negativista, na qual a angústia de
existir e ser mais se evidencia e se radicaliza. É, por isso, o poeta pessoano que mais se
multiplicou na busca incessante do Absoluto e da Verdade.
• 1ª fase: decadentista
Esta fase surge como uma atitude estética finissecular que exprime o tédio, o cansaço e a
necessidade de novas sensações. Traduz a falta de um sentido para a vida e a necessidade de
fuga à monotonia.
• 3ª fase: intimista
A terceira fase é caracterizada pelo sono e pelo cansaço. Nela se revela a desilusão, a revolta, a
inadaptação, a dispersão, o cansaço e uma grande angústia. Após a exaltação heróica e a
obsessão dos 'maquinismos em fúria', cai no desânimo e na frustração. Perante a incapacidade
das realizações, traz de volta o abatimento, que provoca 'Um supremíssimo cansaço, / íssimo,
íssimo, íssimo, / Cansaço...'.
Ricardo Reis
O Destino, a Morte, a Glória, o Amor e a fugacidade do Tempo são marcas indicadoras da
inutilidade de tudo. Aceitar as coisas (feitas pelo tempo)com a alegria de um consciente infeliz é
uma das atitudes típicas de Reis. O epicurismo, o estoicismo e o carpe diem são a base filosófica
da sua poesia, de sintaxe naturalmente alatinada e esteticamente de raiz neoclássica.
Ricardo Reis é um poeta disciplinado, que procura o prazer nos limites do ser humano face ao
destino e à fugacidade da vida que passa como o rio. O fado surge acima dos próprios deuses e,
naturalmente, dos homens. Perante isto, considera que devemos pensar e agir serenamente e
com moderação, pois são inúteis cuidados ou compromissos. A vida é efémera 'quer gozemos,
quer não gozemos'. Por isso há que buscar a calma ou a sua ilusão.
Reis propõe uma filosofia moral de acordo com os princípios do epicurismo e uma filosofia
estoica.
Epicurismo
o filosofia moral que defende o prazer como caminho da felicidade;
Fernando Pessoa afirma que a obra de Ricardo Reis apresenta um epicurismo triste, pois
na vida, nunca se encontra a calma e a tranquilidade desejada. Considera inútil e
inconsequente qualquer ação pois a vida passa e é necessário lidar com isso.
Estoicismo
o indiferença cética: ato de lucidez de quem sabe que tudo tem o seu fim e de que
tudo já está, fatalmente, traçado.