Você está na página 1de 5

Poesia de Reis

É um poeta clássico, da serenidade epicurista que aceita com calma lucidez, a relatividade e a
fugacidade de todas as coisas.
A filosofia de Ricardo Reis é a de um epicurista triste pois defende o prazer do momento "carpe diem"
(máxima horaciana) como caminho para a felicidade. Contudo, apesar deste prazer que procura e da felicidade
que deseja alcançar, considera que ser se consegue a verdadeira calma e tranquilidade, imposta pela ataraxia.
Ricardo Reis sente que tem de viver em conformidade com as leis do destino, indiferente à dor numa verdadeira
ilusão da felicidade, conseguida pelo esforço estoico lúcido e disciplinado.

 Ricardo Reis, o poeta «clássico»;


 Ricardo Reis – reflexão existencial: a consciência e a encenação da mortalidade;
 Linguagem, estilo e estrutura:
o formas poéticas e formas estróficas, métrica e rima;
o recursos expressivos: a aliteração, a anáfora, a anástrofe, a apóstrofe, a enumeração, a gradação, a
interrogação retórica, a metáfora e a personificação.

 Assume-se um poeta que cultiva a ode (poema grego antigo, acompanhado pela lira, de assunto
filosófico, estilo elevado e tom moralista) à maneira de Horácio (poeta latino antigo) e adota valores e
filosofias clássicas, como o neopaganismo, o epicurismo, o estoicismo e o “carpe diem”;
 Frederico Reis diz que se resume num epicurismo triste toda a filosofia da obra e apresenta-o como um
grego antigo exilado do seu tempo, da sua fé e da pátria à qual pertence;
 A resistência à passagem do tempo é uma qualidade da POESIA, através da qual Reis procura eternizar-
se e igualar-se aos deuses imortais.

 Consciente da trágica condição humana, vive atormentado pela ação implacável e inexorável do tempo,
do destino e da morte. O tempo flui indiferente à vontade do poeta em permanecer vivo eternamente,
como os deuses imortais do Olimpo.
 A passagem contínua do tempo é sentida por ele como uma injustiça da natureza porque encurta, hora
após hora, o seu tempo de vida e transforma em recordação os momentos felizes passados com Lídia,
Neera ou Cloé, nos cenários campestres que Reis, discípulo de Caeiro, aprendeu a fruir.
 Reis olha os campos que o rodeiam, desolado, não só porque a cada dia que passa se aproxima aquele
em que deixará de desfrutar da natureza circundante, mas também porque o contínuo fluir temporal
tudo altera, nada permanecendo idêntico ao que já foi.
 Resta-lhe aprender, através da leitura das odes de Horácio e da filosofia epicurista e estoica, a gerir,
sabia e dignamente, o medo aterrador da morte.

Soraia Ferreira, Nº13 12ºE 1


2º Teste – Poesia de Ricardo Reis e de Álvaro de Campos

 Epicurismo;
 Estoicismo;
 Horacianismo e carpe diem;
 Neopaganismo.
Consciência e encenação da mortalidade arte de viver estoico-epicurista
Consciente do poder implacável do Fado, Reis sofre, angustiadamente, a dor da efemeridade da vida e
da inevitabilidade da morte, defendendo uma filosofia ou arte de viver estoico-epicurista.
De acordo com o ESTOICISMO, aceita, com dignidade, sabedoria e altivez o destino involuntário que lhe
é imposto (aceitação aprendida com os deuses, o ideal a seguir), contentando-se com a margem de felicidade
possível que cabe ao homem construir, sem nada esperar ou exigir, vivendo emoções moderadas, evitando
paixões que acarretam sofrimento e procurando a ausência de perturbação.
De acordo com o EPICURISMO, defende a necessidade de fruição moderada do instante presente (carpe
diem) sem recordar o passado e sem se inquietar com o futuro, de modo a eliminar a consciência da passagem
do tempo ou a tentar existir sem pensar. Recordar e querer conhecer-se implicam esforços inúteis, pois não
podemos evitar que o tempo passe e nada do que somos e fazemos perdura.

Epicurismo
 Consciência dolorosa da efemeridade da vida e inevitabilidade da morte e do Destino;
 Apelo à fruição de cada momento – “carpe diem” –, à vivência intensa do presente, de modo a eliminar
a consciência da passagem do tempo;
 Busca da felicidade relativa e da ausência de perturbação (ataraxia);
 Altivez e indiferença perante os imprevistos da vida – ideal de grandeza e dignidade, aprendido com os
deuses;
 Elogio da vida campestre, longe de homens e cidades.
Estoicismo
 Aceitação voluntária das leis do Destino e do Tempo, involuntários;
 Consciência da inutilidade de qualquer esforço, assim como da recordação do passado e da indagação
do futuro;
 Renúncia ao desejo, prazer, amor – paixão, angústia e lamento, a emoções fortes – autodisciplina, de
modo a ser «rei» de si próprio;
 Despojamento de bens materiais;
 Renúncia a valores sociais como a fama e a glória.
Neopaganismo
 Referência/alusão aos antigos deuses da mitologia greco-latina;
 Fatalismo – o destino é a entidade suprema que rege homens e deuses;
 Cosmovisão hierárquica ascendente – animais, homens, deuses e Fado;
 Ressurgimento da essência pagã, pela rejeição da racionalidade abstrata e da metafísica ocidental.

Soraia Ferreira, Nº13 12ºE 2


2º Teste – Poesia de Ricardo Reis e de Álvaro de Campos

Reflexão existencial: a consciência e a encenação da mortalidade

Homem Morte

A vida é o adiamento da Momento inevitável de Brevidade da vida e


hora fatal. niilismo. consciência da mortalidade.

Fragilidade humana ≠ Tempo implacável e inexorável


O Homem, sabiamente, deve “encenar”, prevendo o instante final.

 Recurso a linguagem erudita e a latinismos;


 Adoção de tom moralista e sentencioso – recurso ao imperativo, ao conjuntivo com valor de imperativo,
à primeira pessoa do plural e à segunda pessoa do singular;
 Uso do hipérbato;
 Referências mitológicas;
 Apóstrofes, metáforas, antíteses, eufemismos, comparações e personificações;
 Disciplina ou regularidade estrófica;
 Disciplina ou regularidade métrica – entre outras medidas, destaca-se verso decassílabo e hexassílabo,
por vezes, alternado;
 Versos soltos ou brancos.

Poesia de Álvaro de Campos

 Sem conseguir esquecer a sua presença metafísica na vida, o poeta, em muitos poemas, assume-se um
«eu sujeito» consciente que se vê ser, que pensa, que sai de si, desdobrando-se, para ver existir o seu
«eu objeto»; vê sempre o outro lado de todas as coisas — «Sempre uma coisa defronte da outra»
("Tabacaria") e isso reduz tudo a pulsões inúteis, acentuando a angústia existencial, o desalento, o
vazio, a abulia, o sentido do absurdo da vida e a experiência dolorosa do fracasso. Poemas ilustrativos:
«Cruzou por mim», «O que há em mim é sobretudo cansaço», «Vilegiatura», «Esta velha angústia» e
«Tabacaria».
 O desajustamento ou desencontro entre o «eu», os formatos sociais e os outros é outro tópico
temático recorrente: no poema "Datilografia", a vida «falsa», a da «convivência com outros», das
convenções sociais, regras, deveres, conveniências e aparências provoca náuseas ao poeta, oprime-o a
ponto de se evadir para o passado, mas é obrigado a reentrar na vida real e a suportar o tédio do
quotidiano, as rotinas e o mundo de aparências em que se movem os outros; no poema "Lisbon
revisited" (1923), rejeita o conhecimento, a ciência, a filosofia, a base da estruturação mental e social
em que assenta a sociedade, bem como os padrões de vida pessoal que lhe querem impor, reclamando
o direito intransigente à sua individualidade, a ser sozinho e a demarcar-se dos outros.

Soraia Ferreira, Nº13 12ºE 3


2º Teste – Poesia de Ricardo Reis e de Álvaro de Campos
 No poema "Datilografia", a fuga afigura-se como a única saída para o aprisionamento ao quotidiano
insuportável, regido por regras artificiais e compromissos sociais: primeiro para o tempo mítico da
infância, depois para a meditação, a reflexão sobre a vida real, falsa, sem cor, opressora e finita, em
contraste com a vida verdadeira da infância, colorida, na qual sonho, felicidade, irrealidade e infinito
se confundem (vv.17-30).
 No presente, a felicidade está fora do «eu», por isso, no poema "Lisbon revisited (1923)", o sujeito
poético deseja reencontrar os lugares que lhe poderão devolver o «eu» completo e feliz do passado,
mas da Lisboa da infância só reconhece, imutáveis, «o céu azul» e o «Tejo», nada restando do «eu»
que ali viveu. Daí que no poema “Lisbon revisited (1926)" se considere o «Transeunte» de si, o
«Estrangeiro», aquele que está irremediavelmente afastado de si e dos lugares de onde partiu e
busque, em vão, a identidade perdida.
 Ao olhar para dentro de si, o poeta, lúcido, descobre um «eu» infeliz no presente, em contraste com
o «eu» supostamente feliz do passado, como no poema "Aniversário"; noutros poemas, antevê que
o presente se converta em passado menos infeliz no futuro, quando chegar o tempo de todas as
amarguras, dores e solidão e o prenúncio da partida definitiva no comboio da vida.
 No poema "Aniversário", o sujeito poético não consegue libertar-se do sentimento de perda
irremediável do passado, regressando muitas vezes ao tempo mítico, à vida verdadeira da infância,
quando vivia com a despreocupação da sua inconsciência infantil e da sua inocência, ignorante dos
saberes e das convenções dos adultos e não se confrontava com a incapacidade de transformar os
sonhos possíveis em realidade porque só os outros tinham expectativas por si.
 No poema "Acaso", o tempo implacável transforma em passado morto todas as memórias, reduz o
presente e o real a uma sucessão de instantes fortuitos e confronta o poeta com o desconhecimento
de si, não havendo coincidência entre quem foi no passado, quem é no agora e quem será no amanhã.
Também o caráter trágico da nossa condição ou o tema da finitude da vida figuram em poemas como
"Tabacaria" ou "Lisbon revisited (1923)"
 Outros temas:
o a relação de semelhança e/ou de contraste entre o estado de espírito do sujeito poético e as
condições meteorológicas exteriores;
o a insónia e a solidão: no silêncio da noite, o poeta, debruça-se sobre o parapeito da janela
«para o infinito e, um pouco» para si, evocando a infância irremediavelmente perdida.

Fase Decadentista: o poeta exprime as ideias de tédio, cansaço, náusea e ausência de sentido de vida.
Fase Futurista: o poeta celebra a técnica, a velocidade e a força da civilização moderna, deseja
experimentar a multiplicidade de sensações que lhe estão associadas a abandona o paradigma
aristotélico.
Fase Intimista: consciente do fracasso de todos os sonhos e aspiração, o poeta sente a nostalgia da infância
e exprime o vazio, a angústia, o cansaço, o ceticismo e a desilusão do presente.
Infância: tema associado à memória e à evocação; a infância desperta a nostalgia; representa o bem
irremediavelmente perdido.
A infância é o contraponto do presente infeliz, representando um momento em que o poeta ainda não
conhecia a dúvida nem a angústia existencial.
Angústia Existencial: o poeta põe em causa as verdades que lhe são transmitidas e, confrontado com a
distância entre os projetos e a realidade presente, questiona o sentido da vida.
Ceticismo: doutrina filosófica que defende a impossibilidade de o espírito humano alcançar a verdade.
Inadaptação  Eu VS Outros: o poeta sente-se um “doido”, vivendo à margem da sociedade; rejeita as
conceções e as teorias partilhadas pelos “outros”; sente-se incompreendido,
apesar de afirmar que detém um conhecimento profundo da natureza humana.

Soraia Ferreira, Nº13 12ºE 4


2º Teste – Poesia de Ricardo Reis e de Álvaro de Campos

Estilo que evidencia: o desejo de uma nova poética, assente em novos pressupostos estéticos (fase
futurista); uma escrita que cede ao impulso do sentimento e da emoção.
 Verso geralmente longo, em estilo torrencial;
 Enumerações, exclamações, interjeições;
 Desvios sintáticos;
 Recurso à metáfora invulgar (que descreve estados de alma) e à ironia (construindo autodescrições
pessimistas/ suportando a critica social).

Formas Poeticas e Estroficas, Metrica e Rima


Classificação dos versos quanto à sua medida
 Monossílabo- uma sílaba métrica;  Heptassílabo ou Redondilha Maior- sete sílabas
 Dissílabo- duas sílabas métricas; métricas;
 Trissílabo- três sílabas métricas;  Octossílabo- oito sílabas métricas;
 Tetrassílabo- quatro sílabas métricas;  Eneassílabo- nove sílabas métricas;
 Pentassílabo ou Redondilha Menor- cinco  Decassílabo- dez sílabas métricas;
sílabas métricas;  Hendecassílabo- onze sílabas métricas;
 Hexassílabo- seis sílabas métricas;  Dodecassílabo ou Alexandrino- doze sílabas
métricas.
Classificação das estrofes quanto ao número de versos
 Monóstico- estrofe de um verso;  Sextilha- estrofe de seis versos;
 Dístico ou Parelha- estrofe de dois versos;  Setilha ou Sétima- estrofe de sete versos;
 Terceto- estrofe de três versos;  Oitava- estrofe de oito versos;
 Quadra ou Quarteto- estrofe de quatro versos;  Nona ou Novena- estrofe de nove versos;
 Quintilha- estrofe de cinco versos;  Décima- estrofe de dez versos.

 Cruzada- quando as palavras em fim de sílaba rimam em versos alternados: abab;


 Emparelhada- quando as palavras que rimam estão no fim de dois versos seguidos, ou seja, rimam em
par: aabbcc;
 Interpolada- quando as palavras rimam no fim de dois versos que estão separados por outros dois (ou
mais) de rima diferente: abba;
 Misturada*- quando há rima, mas esta não segue um esquema rimático regular.
*Nota: quando a rima está ausente, os versos chamam-se brancos ou soltos.

Soraia Ferreira, Nº13 12ºE 5

Você também pode gostar