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PORTUGUÊS – 12º ANO

Prof. Aida Malheiro

Fernando Pessoa e os Heterónimos

Caeiro – a poesia das sensações e da natureza


Reis – o neopaganismo, o epicurismo e o estoicismo
Campos – o indisciplinado por natureza; a apologia da civilização
moderna, a vanguarda e o sensacionismo; mas também a abulia, o tédio e o
cansaço de viver (estas últimas partilhadas com Pessoa ortónimo).

Caeiro é o Mestre; surge como uma descoberta, uma revelação


- Exerce influência sobre todos
- Pessoa opõe Caeiro a si próprio: o projeto poético e a identidade do
sujeito que o assume são definidos contra a poesia de Pessoa escrita até ao
seu aparecimento e a que depois escreverá com esse nome.
- Ao contrário de Pessoa ortónimo, Caeiro recusa a introspeção e a
subjetividade;
- Caeiro é a possibilidade de apresentação de uma linguagem poética nova:
libertação dos sentidos, das sensações, das emoções.

Alberto Caeiro e Ricardo Reis


Como discípulo de Caeiro, Ricardo Reis também acredita nos deuses
antigos, embora de maneira diferente.
 Caeiro considera o cristianismo como produto da decadência romana.
 Reis declara-se pelo paganismo porque julga que é a verdadeira base da
nossa civilização, devendo servir de disciplina aos nossos sentimentos e
emoções. Sob a denominação de paganismo, Reis compreende uma
denominação estética que age como forma protetora e clarificadora sobre
os nossos sentimentos e pensamentos confusos e os domina artificialmente.
 Caeiro é o bucólico “clássico” (ingénuo e espontâneo), Reis é uma cópia
helénica (domínio próprio e confinação, estilo denso e construído), “pagão
por caráter”.
 Ricardo Reis, de espírito grave, amante do exato e da perfeição, como
Caeiro, aconselha a aceitar calmamente a ordem das coisas. Ambos
elogiam a magna quies do viver campestre, indiferentes ao social,
convencidos de que a sabedoria está em gozar a vida pensando o menos
possível. Porém Caeiro é o homem ingénuo, aberto, expansivo, contente
por natureza; o prazer vem ao seu encontro, prazer de ver, sentir, existir.
Deixa-se vogar no rio das coisas e os seus versos, descritivos ou
discursivos, são quase prosa, naturais. Reis é um homem de ressentimento
e cálculo, um homem que se faz como faz laboriosamente o estilo. É
austero (no sentido clássico do termo), contido, disciplinado, inteligente. É
o poeta da razão.

Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto Caeiro

• Caeiro vê, “vi como um danado” Reis pensa, “pensei como um danado”
Campos sente, “sentir tudo de todas as maneiras”

• Enquanto Reis se refugia no epicurismo clássico a tentar iludir a


inexorabilidade do tempo que se escoa, Campos ora se desmancha em
descargas impetuosas, torrenciais, em velocidade olímpica, ora
arrastado pelo tédio da vida, fica a boiar de cansaço.
• O sensacionismo de Álvaro de Campos distingue-se do de Caeiro na
medida em que este considera a sensação captada pelos sentidos como a
única realidade, mas rejeita o pensamento. Campos, o engenheiro vê a
sensação subjetivamente.
• Caeiro é antimetafísico e rejeita sempre o primado do pensamento,
sobrestimando os sentidos. Campos é dado às inquietações metafísicas.
• Campos usa o verso livre como Caeiro.
• O próprio Pessoa afirma que Campos se encontra no extremo oposto a
Ricardo Reis. Este último é o mais clássico de todos, o que assume a
vertente clássica de Pessoa.
• Como o Mestre, Campos vira-se para o exterior, tentando banir o vício
de pensar e acolhendo todas as sensações.
• Caeiro e Campos são sensacionistas, mas de forma diferente. Caeiro
entende a sensação das coisas tais como são, sem acrescentar quaisquer
elementos do pensamento pessoal, convenção, sentimento ou qualquer
outro lugar da alma. Para Campos a sensação é tudo, mas não
necessariamente das coisas como são, mas antes das coisas conforme
sentidas. Vê a sensação subjetivamente, esforçando-se por experimentar
toda a espécie de sensações de coisas, e até da mesma coisa, de todas as
maneiras. Ele vê a sensação subjetivamente e objetiva-a poeticamente.
Preocupa-se com a sensação das coisas sentidas e não tais como são,
como acontece com o mestre.
• Caeiro, Campos e Reis, cada um à sua maneira, evitam o convívio social,
desejando estar sós…
Pessoa e Campos
 Campos, na terceira fase, não é mais o poeta excêntrico da fase anterior.
Apresenta uma personalidade mais próxima do Pessoa ortónimo.
Como ele, experimentou o tédio, a tristeza, o desencanto, a angústia, o
cansaço de viver, a dor de pensar/ de ser lúcido e a nostalgia da infância
para sempre perdida.
 Pessoa revela-se um homem solitário e introvertido, inconstante, virado
para o seu drama interior, atitude que se reflete na sua poesia (“E ouço-a
embalado e sozinho/Foi mesmo isso que eu quis”). O mesmo acontece na
terceira fase de Álvaro de Campos, desejando estar sozinho, entregue à sua
tristeza e desencanto (“Não gosto que me peguem, no braço. Quero ser
sozinho”).
Ambos experimentaram a angústia existencial, a fragmentação do “eu”, a
perda de identidade, o ceticismo e o desencontro com os outros.
 Pessoa maneja com perfeição o metro e a rima, com grande sentido da
musicalidade. Campos usou sempre o verso solto porque o seu espírito
indisciplinado não se coadunava com rimas, que considerava “gaiolas”

Pessoa e Caeiro
► Em Pessoa há o permanente choque entre o pensar e o sentir ( “ o que
em mim sente está pensando”) – racionalização/intelectualização das
sensações; Caeiro elimina/nega toda a atividade do pensamento (“ eu não
tenho pensamentos/ os meus pensamentos são sensações” ou ainda “A
sensação é tudo e o pensamento é doença”)
► Em Pessoa há uma relação constante entre a vida e o pensamento;
Caeiro recusa tudo quanto é fruto da razão e do pensamento. Limita-se a
seguir o ritmo das estações, amante da simplicidade e da inocência,
vivendo e fruindo a vida simples do campo, longe de todos os
convencionalismos, integrando-se na própria natureza. Para Caeiro, pensar
anula a felicidade.
► Pessoa tem uma preocupação constante com a expressividade,
musicalidade, ritmo e rima. Na sua poesia surgem versos de gosto popular
que aparentam simplicidade e ingenuidade, mas que devem ser
interpretados com cautela, pois neles aparecem antíteses, trocadilhos,
paradoxos, metáforas desconcertantes que em certa media as contrariam;
Caeiro tem uma linguagem simples, não trabalhada, muito próxima da
prosa coloquial.

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