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Heterónimos de Pessoa

Fernando Pessoa distinguiu heterónimo de pseudónimo.


A palavra Heterónimo vem do grego e significa “outro nome”, ou seja, as
personagens têm personalidade própria, como se fossem reais.
Um pseudónimo é a simples criação de um nome mas sem
personalidade própria.

A. Heteronímia:

 O termo “heteronímia” não foi inventado por pessoa, mas ele e a sua
obra conferiram-lhe o significado atual.
 Os heterónimos são formas de fingimento artístico; são criações
fictícias que existem na sequência do fingimento poético;
 Fernando Pessoa sempre se confrontou com a sensação de “ser
vários”;
 Pessoa criou um grande corpus textual que engloba os poemas
escritos com outros nomes com o seu;
 Os heterónimos são personagens através das quais Pessoa se busca
e se aperfeiçoa;
 Pessoa não se oculta atrás desses nomes;
 Essas fugas, esses “fingimentos”, propiciam um encontro consigo;
 As personagens pessoanas estão interligadas por ficção, a que
Pessoa chamou “drama em gente”.
 O “drama em gente” é explicado por Pessoa na Carta a Adolfo Casais
Monteiro;
 Essas personagens existem umas em relação às outras: se “cada uma
constitui um drama”, como referiu Pessoa, “todas juntas formam outro
drama”;
 O recurso aos heterónimos consiste na passagem de uma
personalidade que seria a do autor, para uma personificação artística
que é já a do texto ou da escrita.

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B. Carta a Adolfo Casais Monteiro sobre a génese dos
Heterónimos:

Alberto Caeiro
Nasceu em 1889 (Lisboa), e morreu em 1915.
Só teve instrução primária, não teve
Educação e Formação nenhuma (apesar de se assumir
pastor)
Traços Físicos Estatura média, loiro e olhos azuis
Escrevia mal português e surgiu
como inspiração inesperada. É
Características Poéticas
considerado o mestre de Fernando
Pessoa.

Ricardo Reis
Nasceu em 1887 no Porto.

Educado num Colégio de Jesuítas, é


Educação e Formação um latinista por educação alheia. É
médico.
É pouco mais baixo que Caeiro, é
Traços físicos
mais forte, mais seco e moreno.
Reis escreve melhor do que
Características Poéticas Fernando Pessoa, mas com um
purismo exagerado.

Álvaro de Campos
Nasceu em Tavira, a 15 de outubro de 1890.

Teve uma educação vulgar de Liceu,


depois foi mandado para a Escócia
Educação e Formação
estudar engenharia, primeiro
mecânica e depois naval.
É alto (1.75m), magro e um pouco
curvado. Tinha a cara rapada. É um
Traços físicos pouco moreno, cabelo liso, e
normalmente, apartado para o lado.
Usa monóculo.
Escreve por impulso, com lapsos e é
Características Poéticas
histérico.

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C. Alberto Caeiro:

C.1. Temas e ideias:

Poeta Guardador de Rebanhos


 Alberto Caeiro apresenta-se como um “guardador de rebanho”;
 O conjunto das sensações que vai recolhendo quando deambula no seio
da Natureza é o seu “rebanho”.

A Procura do real objetivo


 Alberto Caeiro desejo ver tudo o que o rodeia de forma objetiva, como se
fosse a primeira vez.

O Mundo como realidade física – Valorização da perceção sensorial


 Alberto Caeiro elege a perceção sensorial como meio privilegiado de
conhecer o mundo, pois, para ele, só existe a realidade física.

Conhecer como uma criança


 Para Caeiro, o mundo é sempre diferente e múltiplo, Por isso, desejo ter
o olhar de uma criança, para captar a novidade essencial do mundo.

Rejeição do pensamento, da filosofia racional e da metafísica


 Para Caeiro, pensar é “estar doente dos olhos”. Por isso, pensa com os
sentidos: vendo e ouvindo.
 Para ele, “pensar é não compreender”.

A Natureza como modelo/ser o verdadeiro poeta da natureza


 Apresentando-se como um poeta da Natureza, Caeiro deseja viver de
acordo com ela, existindo de forma tranquila, simples e serena.

Caeiro representa a mundivivência pagã (regressa a um estado primordial de


harmonia entre o Homem e a Natureza).

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É o mestre de pessoa ortónimo e dos heterónimos

Caeiro traz a cura para a doença do pensamento. A solução para os problemas


existenciais e filosóficos que afligem o ortónimo e os heterónimos.

D. Ricardo Reis:

D.1. Temas e ideias:

Epicurismo e estaicismo
A filosofia de vida que Reis propõe é assente nos seguintes princípios:
 Prazer;
 Moderação;
 Equilíbrio;
 Fruição do presente;
 Ataraxia (tranquilidade sem perturbação) e Apatia;
 Autodisciplina;
 Indiferença perante as paixões;
 Aceitação do destino.

Transituriedade e Fugassidade
A Filosofia de vida preconizado por Reis visa afastar medos e terrores que
atormentam a existência humana. Também supõe a aceitação que a
transitoriedade e a mudança, a fugacidade e a brevidade constituem a essência
da vida.

Aprender com Caeiro, o Mestre


Reis aceita do mestre Caeiro o paganismo espontâneo. Acredita nos
Deuses e na sua presença no seio da natureza.

D.2. A influência da cultura Grecolatina:

De acordo com a sua biografia, reis foi educado num colégio de Jesuítas,
onde recebeu profundas influências da Greco-latina.

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Escrever á maneira dos Clássicos
Reis cultiva a Ode (subgénero caracterizado pelo estilo eloquente solene
e elevado) e incluiu nos seus poemas referências a divindades, símbolos e
conceitos da cultura clássica.

Poema como conjunto de ensinamentos


Em poemas de tom sentencioso e exortativo (glorioso), Reis veicula
princípios da moral epicurista e estoica (filosofias que tiveram origem na
antiguidade clássica).

Notas:
 No poema “Vem sentar-te comigo, Lídia”, a Morte é apresentada como
algo leve e natural, que corresponde ao curso da natureza e da vida.
Ricardo Reis aceita-a de forma tranquila e é da opinião de que se deve
chegar a este momento sem apego a nada e apenas recordando o que
for agradável, para que o sofrimento não seja tão penoso.

 O uso das formas verbais no imperativo como “recolhe” (no verso 1 do


poema “De uma só vez recolhe”) e o uso de frases declarativas breves,
remetem para o tom moralista, isto é, o discurso didático de que Ricardo
Reis se socorre.

 Ode: Poesia própria para canto (celebração). Composição poética,


laudativa (que provoca risos) ou amorosa, dividido em estrofes simétricas.

E. Álvaro de Campos:

E.1. Fases de Álvaro de Campos:

Fase Futurista e Fase abúlica e


Fase Decadentista
sensacionista intimista
 Visão pessimista do  Tédio existencial;
O Futurismo
mundo;  Desalento, cansaço e
 Apologia da civilização
 Desilusão e tédio de abulia;
tecnológica, da força e
viver;  Angústia e
da modernidade;
 Procura de novas frustração;
 Exaltação do presente.
sensações;  Solidão e isolamento;

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 Busca da evasão;  Dificuldade de
 Atitude desafiadora O Sensacionismo socialização;
das normas  Experiência e expressão  Desajustamento face
instituídas. excessiva das ao presente, à
sensações; realidade e aos
 Sadismo e masoquismo; outros;
 Euforia emocional.  Dor de pensar;
 Tom introspetivo e
pessimista.

E.2. Temas e Ideias:

Sujeito, consciência e Tempo


(Re) conhecimento e sentimento do “eu” relativamente:
 A si mesmo;
 Aos outros;
 Ao tempo (características, realidades associadas e progressão).
Álvaro de Campos demonstra uma exaltação e euforia (fase futurista e
sensacionista) do presente. Por outro lado, também mostra um pouco da sua
desilusão e angústia pelo mundo e pela vida (fase abúlica).
Para além disso, também demonstra uma certa felicidade e relação ao
passado.

Nostalgia da infância
Campos utiliza a infância como um símbolo da pureza, da inconsciência
e da felicidade. Para além disso, também demostra que tem consciência da
perda irrecuperável do tempo da meninice.

E.3. Imaginário Épico:

Matéria épica Arrebatamento do canto


 Forma – Ode;
 Exaltação do moderno;  Expressão adequada ao
 Apoteose da civilização; conteúdo;
 Celebração e elogio do  Linguagem e estilo
progresso e da técnica. consentâneos com a euforia e
a admiração do real.

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