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NEGRITUDE: “A PRINCIPAL ARMA”

Gabriel Neto

Docente: Cristina Costa Vieira

Covilhã, maio de 2023


INTRODUÇÃO

Em resposta à proposta da conceção de trabalhos da Unidade Curricular de Culturas


Lusófonas Africanas pretendemos abordar um tema que, apesar de já mencionado e
tratado na cadeira, se revela de máxima importância: a Negritude.
Pretende-se tratar do assunto de uma forma mais abrangente, sublinhando factos
essenciais e já adquiridos e, também, complementar com novas informações.
Partimos, portanto, da seleção de poemas de autores que são influenciados pela
Negritude, demonstrando, deste modo, a forma como a abordam (pela sua análise).
Apesar de termos ao dispor uma quantidade, quase, tremenda de escritores adeptos do
movimento, a decisão decaiu sob três grandes nomes: Aimé Césaire, por ser um dos
protagonistas da Negritude; Noémia de Sousa e Rui Nogar pelo longo e conturbado
percurso literário, mas com uma visão dirigida á preocupação do ser negro.
A Negritude, como processo de procura de identidade que defende a riqueza e “o
humanismo dos povos negros”1recusa a integração de paradigmas exteriores à história e
contempla uma poesia diferente da literatura africana de língua portuguesa dita ‘corrente’
que, como afirma Pires Laranjeira na sua obra Literaturas Africanas de Expressão
Portuguesa, é marcada pelo “obsessivo tratamento da raça e da cor negras” exaltando a
verdadeira importância do negro e, por sua vez, protestando ao racismo praticado pelo ser
branco.
Dentro do vasto leque de obras mais marcantes dos autores referidos precedentemente,
isto é, que melhor denunciam a Negritude, será analisado o poema “De antes que
expirassem os moribundos” de Rui Nogar, “Se me queres conhecer”, de Noémia de
Sousa e fragmentos do poema “Cahier d’un retour au pays natal”, (devido á extensão do
poema vimo-nos incapazes de o colocar na sua totalidade, no entanto, as partes mais
importantes serão mencionadas e explicadas), recorrendo á tradução em português.
Posteriormente, procedemos á triagem de escritores que se opunham á Negritude,
criticando o conceito. Assim sendo, o intuito deste trabalho prende-se pela exposição
literária fortemente submissa á Negritude no geral ressaltando, no entanto, mais
pormenorizadamente e atentamente, o valor do humano negro numa localização especial:
Moçambique.

1
Pires Laranjeira, Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa, pp. 29
Negritude

Como introduzimos há pouco, a poesia africana envolveu-se em características que a


tornaram num meio de divulgação do pensamento e consciência negra, o que aos poucos
foi revolucionando África. A Negritude, surgida em 1935, foi a principal arma utilizada.
A Negritude surge como uma denúncia, eficaz ou não, das insuficiências da colonização,
das reações dos colonizados e da colocação dos colonizadores face à situação. Deste
modo, a literatura africana, a poesia mais especificamente, chegou para vincular o que os
intelectuais da altura construíam em nome da cultura. A experiência da conceção da
literatura negritudinista é, e citando Maria Nazareth Soares Fonseca2 :

“um caminho que assegura o


contato dos escritores com as
ideias que propiciavam um
conhecimento mais profundo da
África e a contestação de uma
visão preconceituosa sobre os
africanos e sua cultura. Essa
experiência, mesmo de forma
indireta, está na base do
nacionalismo africano ainda que
tenha assumido em diferentes
momentos características
peculiares 3

2
Maria Nazareth Soares Fonseca1: Graduada em Letras Clássicas pela Universidade Federal de Minas
Gerais, mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Federal de Minas Gerais e doutorada em
Literatura Comparada pela Universidade Federal de Minas Gerais. É, desde 1995, professora da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais, sendo responsável pelas Literaturas Africanas de Língua
Portuguesa no Programa de Pós-graduação em Letras;

3
Maria Nazareth Fonseca, Literatura negra: os sentidos e as ramificações, pp. 14
Aimé Césaire (1913-2008)

Césaire, poeta e político martinicano, teve uma participação bastante relevante no que diz
respeito à elevação e valorização da identidade do povo negro, denunciando “a inaudita
traição da etnografia ocidental”4pondo em destaque uma “desumanização progressiva”.
Define a Negritude como “la conscience d’être noir, simple reconnaissance d’un fait qui
implique acceptation, prise en charge de son destin de noir, de son histoire, de sa culture ;
elle est affirmation d’une identité, d’une solidarité, d’une fidélité à un ensemble de
valeurs noires.” De entre todas as publicações que (possivelmente) escreveu temos
conhecimento do poema “Cahier d’un retour au pays natal”. O poema em si possui
índole de exaltação espiritual, em que o “poeta faz uma busca do inconsciente e um
esforço de supressão das camadas sociais impostas.” O título do poema faz referência a
um retorno (retour) que, na realidade, pode ser entendido como um desvio, na medida em
que o próprio Césaire procurava encontrar esse desvio, como meio de se afastar de
Martinica, a ilha em que havia nascido e na qual tinha vivido e que, apesar de integrar,
maioritariamente, negros, os mantinha em condições desumanas e os sujeitava a trabalhos
pesados.
A ridicularização do branco perante o negro demonstra a vontade em elevar a raça negra
e suprimir o, então, colonizador. Na primeira passagem retirada do poema em questão,
Césaire aponta aspetos negativos da sociedade negra, autodenominando-se como “judeu”
ou “cachorro”, dando a entender que é um ser desprezável (como qualquer negro na
altura).
Coloca em destaque o facto de o ser negro ser quase como um objeto, que pode ser
esmurrado, abusado e morto sem piedade e sem que ninguém dê por isso. Na segunda
citação é-nos possível encontrar menções do colonizador, os ‘fantasmas’ que, mais uma
vez, são os impulsionadores da desconsideração pela identidade negra.
As ‘máquinas’ referem-se, possivelmente, aos carros de patrulha militar que, durante a
guerra, invadiam aldeias, sacrificando os negros.

1) “(…)Partir./Uma vez que existem homens-hienas e homens-panteras, eu serei


um homem judeu/Um homem-cafre2/Um homem-hindu-de-Calcutá/Um
homem do Harlém-que-não-vota/O homem-fome, o homem-insulto,

4
Pires Laranjeira, Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa, pp. 28
o homem-tortura/Que a qualquer momento pode ser abusado e espancado/ a
murros, ou morto – sim, matá-lo – sem a ninguém dar contas nem
apresentar desculpas /Um homem-judeu/Um homem-
pogrom3/Um cachorro/Um mendigo (…)”

2) “(…) E vocês, fantasmas, subam azuis de química/uma floresta de animais


cercados de máquinas/estranhas de uma jujubeira4 de carnes/putrefactas de um
cesto de ostras de olhos de/um labirinto de correias cortadas no belo sisal (…)”

Cesáire explica a Negritude como uma “identidade, fidelidade e solidariedade”, sendo


que a identidade reside em assumir a sua identidade/condição, demostrando gosto e
orgulho (“conjunto dos valores culturais do mundo negro”). A pátria de cada um deve
ser motivo de saudação pelos outros e por si mesmo, apesar do contínuo desapreço e
humilhação do ‘conquistador’ – colonizador.

3) “(…) Basta-me um trago do teu veneno para que em ti eu descubra, à distância


da miragem – mil vezes mais Natal e dourada por um sol que não enceta
nenhum prisma – a terra onde tudo é livre e fraterno, a minha terra (…)”

A fidelidade abrange uma união com a terra-mãe, que deve ser mantida acima de tudo.

4) “Chego a este meu país e digo-lhe: «Beija-me sem medo… E se não sei que
dizer, é por ti que falarei» (…) Em primeiro lugar o meu corpo e a minha
alma, deixem-se de cruzar os braços numa estéril atitude de espectadores,
pois a vida não é um espetáculo, um mar de dores não é um palco, nem um
homem que grita é um urso a dançar…”

A solidariedade consiste na ligação que todos os negros, não só em África, mas no mundo
todo, partilham.

5) “(…) E observo de novo esta vida arrastada, esta vida não, esta morte, esta
morte sem sentido nem piedade, esta morte em que a grandeza
lastimavelmente ecoa, a brilhante pequenez desta morte, esta morte que se
arrasta de pequenez em pequenez; estas pazadas de pequenas sofreguidões ao
conquistador (…)”
O poeta faz variadas menções a um conjunto de recordações (da terra, dos cânticos, das
paisagens) que se pendem pela revolta e pela necessidade em mostrá-la. O poema reveste-
se de um tom onírico que pretende, precisamente, ligar a realidade com a memória sob a
forma de experimentação de uma escrita de fúria. Certo, também, é a presença de ritmo
que abraça os versos do poema. Ao longo da leitura do “Cahier d’un retour au pays
natal”, apercebemo-nos do uso de vocabulário estranho que Césaire se propunha a
utilizar, recorrendo a palavras de outras línguas. A luta contínua de Aimé Césaire pela
busca da emancipação do indivíduo negro reflete-se na relação que detém com o seu país,
França, e com a sua terra, África, optando pelo emprego de uma postura denunciativa da
injustiça.

6) “Minha negritude não é uma pedra, surdez/arremessada contra o clamor


do dia/Minha negritude não é um charco de água morta/sobre o olho morto
da terra/Minha negritude não é uma torre nem uma catedral/perfura a carne
vermelha do solo/perfura a carne ardente do céu/ perfura a opressão opaca da
sua paciência estreita.”

Assim afirmamos que Aimé Césaire procura incessantemente a luta pelo povo negro,
como forma de destacar a identidade que, inevitavelmente, se torna no maior desafio. O
desejo de restituir a África o verdadeiro orgulho que outrora teve é uma máxima, bem
como a ideologia do conceito de Negritude.

Rui Nogar (1932-1994)

Nascido em Moçambique, Rui Nogar é, na verdade, o pseudónimo de Francisco Rui


Moniz Barreto. Ao longo do trabalho, a menção do escritor será feita pelo pseudónimo,
já que é por ele que o poeta se deu a conhecer. Ocupou vários cargos de cariz político,
tendo sido preso pela PIDE por fazer parte da organização Frelimo. A estadia na prisão
permitiu-lhe a criação de textos. Tornou-se num dos mais importantes e mais ouvidos
autores da época pós-independente de Moçambique, juntamente com a poetisa Noémia
de Sousa e com José Craveirinha.
Rui Nogar, assim como Césaire, é um impulsionador do gosto pela nação que o acolhe e
defende-o na maioria dos poemas que escreveu, tomando uma posição crítica
relativamente aos problemas da sociedade moçambicana e exaltando o desejo de intervir
em defesa da condição humana.

Atentando no poema que escolhemos para análise máxima do trabalho, “De antes que
expirassem os moribundos” a escrita de Rui Nogar, em que está patente uma Negritude
envolta na delação da colonização em África, este poema revela-nos, expressamente, a
“dor física” que é um meio para atingir uma dor interior.

1) “As balas doem companheiros/ Não a dor física/ Do chumbo percutido/


Que o ódio calibrou/ No almofadado sossego/ Dum gabinete qualquer/ Não/ Não a
presença agónica/ Dessa infalível certeza/ Que irredutível se insinua/ Nas fracções de
segundo/ Que os séculos devoram”

Numa altura em que militava o colonialismo, Nogar mantinha a determinação e o desafio


de lutar contra o sistema colonial e contra a opressão. O poema exprime a vontade em
“salvar” o que resta de Moçambique, na tentativa de procurar novas formas de levantar
África.
2) “As balas doem sim/ O tempo que nos faltou/ Para salvar os companheiros/
Nossos velhos companheiros/ De novas humilhações”

O poema surge como uma necessidade de colocar a sociedade em transformação, com a


ajuda dos moçambicanos todos, dependendo, inevitavelmente, de cada um. A colonização
do continente africano, que, entretanto, decorria, fazia com que a Europa recorresse à
exploração dos bens que a Terra oferecia, nomeadamente os escravos. Tudo isto, com
foco principal no desenvolvimento de África.

3) “Novas rotas de cacau/ Cacau oiro e marfim/ Novos escravos a leiloar/ Nos
areópagos da hipocrisia /Novos deuses crucificados/ Na subversão das micaias/ Que a nossa
África abortou/ Oh as balas doem sim irmãos/ As balas doem”

A poesia de Rui Nogar é representativa, acima de tudo, das vivências de alguém que se
preocupa em não abandonar a Terra-Mãe. Basicamente, o que o poeta pretendia mostrar
é que “a solução para os problemas de África não estava noutro lugar senão na própria
África”. É notório o tema da exaltação do seu país, a vontade mostrada em dar
continuidade a uma África que parece ter perdido o rumo. A idealização de uma
humanidade que se mantenha forasteira aos problemas que a questão da cor tanto traz, da
exploração e do domínio, mostrando a Negritude que vigora na sua poesia,

Noémia de Sousa (1926-2002)

Nasce em Moçambique a poetisa e jornalista que marca a sua poesia pela presença
constante das raízes profundamente africanas, abrindo os caminhos da exaltação da Mãe-
África, da glorificação dos valores africanos, do protesto e da denúncia.”
Acusa uma poesia de glorificação do povo negro, impactante e escabrosa relativamente
ao tratamento que o negro recebe. Noémia assume uma identidade verdadeiramente
africana, querendo divulgar uma cultura que também lhe pertence. Colaborou em várias
publicações como Mensagem (CEI), Itinerário, O Brado Africano, Moçambique 58 ou
Vértice (Coimbra). Grande parte dos seus poemas foram publicados em jornais, revistas
e coletâneas, sendo que o caderno Sangre Negro, concebido em 2001, reúne 43 poemas
de Noémia de Sousa.
Nomeada por José Craveirinha como “o primeiro poeta verdadeiramente moçambicano
no alto sentido da sua poesia e pelo nascimento”, Noémia torna-se uma imprescindível
voz do povo negro e das atrocidades a que este se encontra sujeito.
O poema que escolhemos para averiguar factos que se comprometeram com a Negritude
denomina-se “Se me quiseres conhecer”, escrito em 1958, enquanto Noémia vivia seu
exílio, mostra a relação da poetisa com o seu lugar, e ainda com a sua identidade africana.
A potencialidade desta escrita obviamente nos coloca a pensar a grandeza transgressora
de uma mulher em meio a sociedade colonial. Noémia vive toda essa complexidade e
escreve de um lugar social que é o tempo todo ratificado por ela. Neste e em grande parte
dos poemas de Noémia, a oposição “nós”/”outros” é verificada, sendo que o “nós” parte
do princípio que trata dos africanos e os “outros” refere-se ao(s) colonizador(es), ou seja
essa afirmativa mostra o eu lírico ironizando o colonizador, nesse sentido mostrando que
neste poema ela fala para os seus, dos seus e com os seus, mas também estabelece um
diálogo com o outro e esse outro aqui é o colonizador. A poetisa admite-se como voz
daquele povo, procurando enaltecer as suas qualidades e sublinhar a escravatura que é
percetível nas feridas deixadas pelos povos colonizadores. Noémia enumera algumas das
feridas deixadas ao seu povo, sendo que neste excerto é comprovado o facto do “eu
poético” se dirigir aos povos colonizadores, criticando tudo o que fizeram ao povo negro.
O “eu poético” utiliza muito a adjetivação na primeira pessoa “órbitas vazias”; “boca
rasgada”; “mãos enormes”; e fala-se ainda de um corpo tatuado de feridas visíveis e
invisíveis, ou seja crítica o processo de escravidão que submeteu o povo africano a todo
tipo de danos.

1) “Ah, essa sou eu:/ Órbitas vazias no desespero de possuir a


vida,/ Boca rasgada em feridas e angústia,/ Mãos enormes, espalmadas,/ Erguendo -se em
jeito de quem implora e ameaça,/ Corpo tatuado de feridas visíveis e invisíveis/ Pelos
chicotes da escravatura/ Torturada e magnífica/ Altiva e mística/ África da cabeça aos
pés/ Ah, essa sou eu. Se quiseres compreender-me / Vem debruçar-te sobre minha alma
de África” (…)

O poema inicia com uma metáfora “pau preto”, podendo aludir ao ébano “madeira
escura, muito dura e pesada”, tradicional de África, sendo, portanto, entendia como o
aparecimento de um povo:
2) “Se me quiseres conhecer, / estuda com os olhos bem de ver / esse
pedaço de pau preto/ que um desconhecido irmão maconde” (…)

O poema finaliza com uma espécie de desabafo onde se manifesta o descontentamento.


Os atos feitos pelos povos colonizadores são desumanos, implicando feridas intratáveis
do povo moçambicano:

3) “E nada mais me perguntas, / se é que me queres conhecer…”.

É de sublinhar, no poema, o facto do mesmo ter sido escrito a 25 de Dezembro de 1958,


dia do nascimento de Jesus Cristo e, portanto, símbolo de força e espírito da humanidade.

A utilização da segunda pessoa do singular, no título, “Se [tu] me quiseres conhecer”,


remete-nos, claramente, para a orientação do mesmo: o leitor.
Noémia de Sousa consagra na sua poesia a vontade de ver renascer África, abolindo as
ideias políticas de consciencialização retrograda e baseadas na injustiça que reveste o
povo negro de obrigações e falta de liberdade. As imagens constantes de martírio e as
situações político-sociais de Moçambique, concedem a Noémia a capacidade de
exteriorizar o sentimento de sufocação e retaliação. O facto de ser figura feminina é
notório, sendo uma presença assídua na luta pela cessação do colonialismo. Noémia de
Sousa dá-nos a visão plenamente distorcida por outro lado lança-nos em poemas de elogio
aberto à raça negra, gritando bem alto e de forma plenamente percetível que a presença
do colonizador em África é sinónimo de força que apenas veio denegrir a imagem daquela
terra.”

Críticos ao movimento da Negritude

Realmente, a Negritude trouxe a possibilidade de denunciar o colonialismo em África.


No entanto, os críticos do termo defendiam a “existência de uma base cultural africana
sólida” e “desde o passado questionam se o problema é sabermos se a negritude é uma
escola, uma capela literária ou ideologia que possa permitir aos negros construir uma
sociedade moderna original e dar uma contribuição especifica para a civilização –
humana.”
Edward Wilmot Blyden5, crítico, assegurava a ideia de que a história do negro não deveria
ser apenas baseada na cultura do passado.
Para Jean-Paul Sartre6 o mais importante passava pelo que a Negritude dava, no seu todo,
e não propriamente a origem do termo; Frantz Fanon7 acusava a negritude de elitista e
desenraizada da realidade africana, no entanto afirma que, apesar de tudo, o movimento
ainda obteve um período positivo relativamente à afirmação do valor do negro. Outros
críticos também assumem que a negritude pecava por discutir os problemas do africano
baseando se na questão racial e funcionando como um retorno consciente à tradição
ancestral , sendo que a essência negra dependia de múltiplos e remotos dados históricos
geográficos e não de uma específica situação atual como era o caso reação em relação à
raça branca.

5
Edward Wilmot Blyden foi considerado o pai do Pan-africanismo. Foi professor, escritor e diplomata
Liberiano;
6
Para Jean-Paul Sartre: foi um escritor e crítico francês adepto do existencialismo;
7
Frantz Fanon: um filósofo e ensaísta francês, cuja presença se tornou influente na época da
descolonização.
Deste modo, a discussão de prós e contras em relação ao movimento da Negritude revela-
se extremamente complexa, no entanto precisa, já que a Negritude se envolve em
inúmeras questões raciais e morais.

CONCLUSÃO

A Negritude esteve presente na poesia de vários poetas, sendo, ao longo do tempo,


realçada de uma forma mais permanente. O movimento teve a sua origem pelo ano de
1939, e funcionou como um processo de denúncia do colonialismo e maus tratos do povo
negro aparecendo ao longo do poema que escolhemos para analisar de Aimé Cesaire,
contudo, alargou-se á continuidade do tempo. Poetas mais recentes como Rui Nogar e
Noémia de Sousa e, talvez, dos mais notórios escritores, puseram em destaque as suas
vivências na escrita, onde se destaca a exaltação da Terra-Mãe. A necessidade e o desejo
de levar avante a cultura negra e a liberdade de um povo há muito enclausurado no
silêncio dos colonizadores, levou à criação de um grupo de adeptos do movimento que
pretendia, então, denegrir a imagem do opressor branco. De facto, os três escritores de
poesia moçambicana referidos no poema defendiam essa mesma causa. Contudo,
existiram os tais críticos que se foram manifestando como opositores da Negritude,
É de sublinhar que a apresentação de opositores se revelou curta, como forma de
percebermos resumidamente em que pontos se baseavam os críticos, não optando,
portanto, por entrar num caminho de fatiga literária, sendo que o objetivo principal do
trabalho era esclarecer, com recurso a poemas, o movimento da Negritude.
Assim sendo, consideramos a Negritude como fonte máxima para instaurar a denúncia da
opressão, como meio de luta pela liberdade, sendo que a manifestação de uma oposição
ao movimento revela um confronto entre grandes nomes relativamente a um mesmo ideal.
BIBLIOGRAFIA

FONSECA, Maria Nazareth Soares. Literatura negra, literatura afro-brasileira: como


responder à polêmica. In: SOUZA, Florentina, LIMA, Maria Nazaré (Org.). Literatura
afro-brasileira. Salvador/Brasília: Centro de estudos afro-orientais/Fundação Cultural
Palmares. 2006.
GOMES, Simone. Poesia moçambicana e negritude: caminhos para uma discussão.
Revista via atlântica. n°16, Dez/2009

Maria Nazareth Fonseca, Literatura negra: os sentidos e as ramificações, (s.l), 2021.

Pires Laranjeira, Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa (vol.64), Lisboa,


Universidade Aberta, 1995

SOUSA, Noémia. “Se me quiseres conhecer”. In: Sangue Negro. São Paulo: Kapulana,
2016, p. 40-41.

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