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Literatura Brasileira
Literatura Afro-Brasileira
O local do negro
Literatura Brasileira
Representação
Autoria
Protagonismo
Empoderamento
Por uma história rizomática
Conceição Evaristo constrói esse rosário intrínseco a uma visão crua da problemática realidade,
abarcando pessoas reais ao passar dos versos: “E sonho nas contas de meu rosário lugares, pessoas/ vidas
que pouco a pouco descubro reais”. A vivência é caminho essencial para essa construção, pois ela
constitui, assim como as experiências de religiosidade, um corpo histórico do eu lírico: “Vou e volto por
entre as contas de meu rosário, que são pedras marcando-me o corpo-caminho”. Portanto, o poema
evidencia as experiências de vida.
A dor na “memória mal-dormida” destaca-se pela metafórica imagem das grades, uma perspectiva
histórica que o eu lírico, pelas contas de seu rosário, vê “rostos escondidos/ por visíveis e invisíveis
grades”, tal qual um país onde a desigualdade e a injustiça social assolam a população negra por séculos,
entre grades visíveis e invisíveis, assim como a dos navios negreiros, das prisões, da falta de acesso a bens
materiais, como a de voz e de presença reconhecidas na sociedade, afinal, os dados de pesquisas e
noticiários não negam o atraso social e a desigualdade entre negros e brancos no Brasil.
Crisitane Sobral
Carioca, moradora de Brasília, escritora e
professora de teatro.
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Pixaim Elétrico
Pixaim Elétrico
Naquele dia Meu cabelo escuro, crespo, alto
Meu pixaim elétrico gritava e grave
alto Quase um caso de polícia
Provocava sem alisar ninguém Em meio à pasmaceira da cidade
Meu cabelo estava cheio de si Incomodou identidades e pariu
Naquele dia novas cabeças
Preparei a carapinha para Abaixo a demagogia
enfrentar a monotonia da Soltei as amarras e recusei
paisagem da estrada qualquer relaxante
Soltei os grampos e segui Assumi as minhas raízes
De cara pro vento, bem Ainda que brincasse com alguns
matizes
desaforada
Confrontando o meu pixaim
Sem esconder volumes nem
elétrico
negar raízes Com as cores pálidas do dia.
Pura filosofia