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CIDADE, FLORESTA E SERTÃO: CULTURA, TRABALHO E PODER

Cabelo afro no cotidiano escolar: Identidade e resistência

JUSTIFICATIVA:

A temática cabelo afro é relevante para discutir a questão étnico-racial, pois


exerce um papel fundamental na construção da identidade negra, além de
representar uma forma de resistência na luta contra o preconceito étnico-racial
no cotidiano escolar e nas relações sociais dos alunos. Tal questão (cabelo
afro), necessita ser trabalhada no espaço escolar, por ser essencial na
construção de cidadãos que respeitem as diversidades. Historicamente negros
sofrem com preconceitos e tentativas de inferiorizar e desvalorizar suas
crenças, opiniões e culturas. MATTOS, 2015:

Historicamente, o corpo negro carrega o estigma da cor entre o


que é “bom” e o que é “ruim”, recai sobre o corpo negro todas
imposições do que é negativo. Ser negro no Brasil é ser
condenado a um juízo de valor no qual a cor da pele e a textura
do cabelo classificam o grau de discriminação. (MATOS,
2015,pág.04).

Nos últimos anos a questão étnica vem sendo palco de grandes discussões em
vários espaços: educacionais, políticos, sociais, culturais e religiosos, os
debates acerca das diferenças estão entrelaçados em nossa história por
questões de poder que inferiorizam uma grande parcela de nossa sociedade
(quilombolas, indígenas e ribeirinhos) e tornando-os invisibilizados no espaço
que transitam. Para CANDAU – 2011, as diferenças devem ser reconhecidas e
valorizadas de forma positiva para que não haja desigualdades e que essas
sejam combatidas.

Temos um desafio, utilizar o espaço escolar para essas discussões (identidade


negra), pensamos que a reflexão relativa ao assunto (cabelo afro) é o primeiro
caminho a seguir. Mas como fazer com que a escola abra caminho para esses
debates acerta da temática étnico-racial. Para MOREIRA E CANDAU, 2006
P.161, o grande desafio que a escola enfrenta, é abrir espaço para diversidade,
para a diferença e para o cruzamento de culturas. O cabelo é sem dúvidas um
“fio condutor” no que se refere a questão racial, FIGUEIREDO, 2002, nos
aponta essa discussão entorno da estética capilar para entendermos melhor a
dinâmica da classificação da cor na construção da identidade negra. Sabendo
da importância do amparo legal tomaremos como base a Lei nº 10.639/2003,
que propõe, o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros
no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade
nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica
e política pertinentes à História do Brasil.

Entendemos que, em função do fenótipo (cabelo afro e cor da pele), os alunos


eram vítimas do preconceito racial. Partindo dessa ideia nosso projeto tem
como proposta, contribuir no processo de reconhecimento da identidade negra
estabelecendo relações entre ensino, pesquisa e extensão através do
desenvolvimento de ações inclusivas, compartilhadas em grupos dentro do
âmbito escolar de forma democrática e respeitosa.

OBJETIVOS

Objetivo principal da iniciativa é a percepção e valorização da beleza negra,


trabalhando a autoestima dos (as) alunos (as) por meio da estética (cabelos
–afro).

Os objetivos específicos são:

Analisar o espaço escolar como ponto de partida para debates acerca de


questões étnico-raciais;

Conhecer a importância dos cabelos para o povo negro;

Compreender os malefícios causados pelas químicas capilares;

Reconhecer a importância dos cabelos afros, como forma de identidade e


resistência;

Propor ações de reconhecimento das diferenças étnico-raciais;

Combater práticas racistas;

Observar a representatividade do negro (a) nas telenovelas brasileiras;

Conhecer e discutir músicas e texto que tratem a questão capilar (cabelo afro);

Valorizar o ser humano através das suas diferenças singulares.


METODOLOGIA:

À análise de temas como racismo, intolerância e preconceito por conta da


dupla cabelo e cor da pele e a lacuna nos livros didáticos em relação ao
protagonismo negro na construção da história do Brasil, bem como a
representação do negro nas telenovelas espera-se que os estudantes
percebam a importância do discurso acerca das relações étnico-raciais
estabelecidas no espaço escolar entre os agentes históricos que compõe este
cenário. Trabalhar com a música: cabelo, cabeleira, cabeluda descabelada, as
variedades de cabelos e a identidade e resistência através dos fios, trabalhar
na última sexta-feira de cada mês propostas de valorização da beleza negra
através de desfile de moda afro, oficina de turbantes e adereços, tratamento
capilar afro, maquiagem e concurso de cabelo afro mais estiloso, lembrando
que está programação será vinculada a um blogue e uma página no facebook
que será criado pelos (as) alunos (as) para visibilização a beleza negra através
das mídias sociais. Trabalhar a dinâmica do espelho em sala de aula
objetivando o reconhecimento das diferenças étnicas-raciais no cotidiano
escolar. Elaborando propostas de resistência, combate ao preconceito e
discriminação étnico-racial no cotidiano, tal projeto, utilizará de textos e música
de valorização que exalte a estética negra, por meio de construção de histórias
em quadrinhos e contos de fadas, que criem personagens negros (a), para
incentivem a valorização da beleza e da autoestima negra (meninos e meninas)
como forma de empoderamento identitário, político e social, objetivando que o
aluno(a) se reconheça enquanto participante ativo de sua história e da história
do povo negro. Trabalha em ppt (power point) a história da África através da
diáspora do povo negro para o Brasil, pesquisar e debater a importância de Lei
10.639 (mesa redonda entre alunos (as) e professores e colaboradores da
escola. Identificar os cabelos como fios condutores na luta pela resistência
negra. Relacionar a importância das mídias sociais (Blog e Facebook), como
vitrine neste projeto, com objetivo de visibilizar as atividades realizadas no
período de execução deste.

APORTE TEÓRICO-METODOLÓGICO
O conhecimento acerca das relações étnico-raciais e das variações sociais no
ambiente escolar, põe em pauta reflexões importantes sobre o modo da relação
estabelecida entre os indivíduos humanos, tais relações são passiveis de
debate, e o espaço escolar é o local adequado para tal discursão. Esse
exercício de reflexão em torno das diferenças humanas é necessário para
combater preconceitos étnico-raciais, SANTOS, 2007, destaca a importância
de, perceber as diferenças e estabelecer diálogos entre elas, que é primordial,
para quebrar barreiras do preconceito e fortalecer relações de respeito. Neste
sentido é necessário destacamos o cabelo afro como pauta principal, para falar
da relação étnico-racial. SANTOS, 1999, em O negro no espelho, propõe uma
reflexão sobre ideia que está sendo elaborada nos salões de beleza, como
construção de uma imagem negra que se contrapõe à representação
dominante nas sociedades ocidentais:

Desde muito jovens as mulheres negras são socializadas para


terem o cabelo alisado, muitas relataram experiências em que
a família e, principalmente, a mãe, impunha que elas tivessem
os cabelos alisados. Na fase adulta, algumas alisam o cabelo
porquê de fato acham que o cabelo alisado fica mais bonito,
enquanto outras alegam questões relativas ao cotidiano do uso
do cabelo crespo e, em parte, justificam a intervenção no
cabelo como uma forma de torná-lo mais prático no cotidiano.
Além disso, o cabelo parece ser o lugar da manipulação e da
expressão de modernidade. (FIGUEIREDO,2002,P.05).

Rafaela FAGUNDES, 2010, destaca a importância da construção de uma


identidade negra através do uso consciente do cabelo afro e da maneira como
isso reflete a imagem do afrodescendente perante a sociedade e si mesmo.
Percebemos que é necessário, que a escola, elabore métodos de combate ao
preconceito étnico-racial. para CANDAU E MOREIRA, 2006, construir métodos
para combater a discriminação e o preconceito, presentes na sociedade e nas
escolas, através de práticas educativas (diversidade cultural e currículo).
Pensar que racismo não existe entre crianças, é ingenuidade, é o mesmo que
dizer, racismo no Brasil é mito. Para desmistificar esta ideia, nos reportamos a
TRINDADE, 1994, que busca dimensionar, o racismo praticado por
crianças/alunos com uma frequência maior do que se imagina, o fenótipo. Para
TRINDADE, 1994, é uma questão a ser levada em consideração, uma vez que
ele interfere nas relações sociais. Portanto é necessário que a escola busque
desenvolver. FIGUEIREDO, 2002, em seus estudos realizados, destaca que a
manipulação do cabelo do negro (a), demonstrando a relevância do tema tanto
para entender melhor a dinâmica da classificação da cor quanto o discurso
sobre a construção da identidade negra . Observamos na página 05 de seu
artigo : Cabelo, Cabeleira, Cabeluda e Descabelada: Identidade, Consumo e
Manipulação da Aparência entre os Negros Brasileiros, 2002, as experiências
vividas pelas mulheres negras que utilizam ou utilizaram produtos químicos
(alisastes capilares). Para compor uma das atividades do projeto, utilizaremos
a música: Cabelo (Jorge Benjor / Arnaldo Antunes)1990, interpretada por Gal
Costa em seu álbum Plural, que fala da liberdade/resistência através dos
cabelos. MARCELLE FELIX, 2014, em seu artigo intitulado: Para Além dos Fios
discutir as relações sociais, o racismo e o cabelo afro como forma de
identidade e resistência. GOMES, 2002,ara abordar a questão o cabelo como
símbolo da identidade

"O cabelo crespo na sociedade brasileira é uma linguagem e,


enquanto tal, ele comunica e informa sobre as relações raciais.
Dessa forma, ele também pode ser pensado como um signo,
pois representa algo mais, algo distinto de si mesmo. Assim
como a democracia racial encobre os conflitos raciais, o estilo
de cabelo, o tipo de penteado, de manipulação e o sentido a
eles atribuídos pelo sujeito que os adota podem ser usados
para camuflar o pertencimento étnico/racial, na tentativa de
encobrir dilemas referentes ao processo de construção da
identidade negra. Mas tal comportamento pode também
representar um processo de reconhecimento das raízes
africanas assim como de reação, resistência e denúncia contra
o racismo. E ainda pode expressar um estilo de vida".
(GOMES, 2002, p 8.)

Para PONTES E CASTRO, 2011, o blog é um espaço para que os usuários


escrevam comentários onde o leitor pode dialogar com o autor e vice-versa,
concordando, discordando ou acrescentando alguma outra discussão ou
elemento, como um link para outro blog que discuta a temática abordada, “uma
ação coletiva e construída de complexa transformação da rede hipertextual
pela ação de blogueiros e leitores, que terminam por participar também como
autores” PONTES E CASTRO-2011.

O projeto busca traçar ações que visibilizem as variações étnico-raciais através


de práticas escolares utilizando um Blog como vitrine para as práticas
afirmativas. A execução do projeto ocorrerá através das atividades proposta.
REFERENCIAS:

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