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TURBANTES: UMA FERRAMENTA DE EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA

Gabriele Costa Pereira 1

Resumo: O Turbante é um símbolo étnico transgressor que está presente na história e


cultura do Brasil. Para a população afro-brasileira, ele também é sinônimo de resistência,
estética negra e fé. Uma indumentária que traz discussões de raça, gêneros e classe.
Segundo Rodney William (2020) para mulheres negras, os turbantes e o próprio cabelo
natural são uma forma de afirmação política. O problema é ensinar a importância deste,
não somente por suas amarrações, mas através do contexto sócio histórico. O objetivo
é ensinar práticas pedagógicas a partir dele para combater o racismo. Está escrita faz
parte de uma pesquisa de mestrado em desenvolvimento no Programa de pós-
graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande/FURG, cuja temática
são os Turbantes e a Educação antirracista. A partir deste trabalho será apresentado o
Turbante como uma ferramenta de ensino para a educação antirracista nos espaços
educacionais.

Palavras-chave: Turbante; educação; antirracismo;

Abstract ou Resumen: El Turbante es un símbolo étnico transgresor que está presente


en la historia y cultura de Brasil. Para la población afrobrasileña, también es sinónimo de
resistencia, estética negra y fe. Un atuendo que trae discusiones sobre raza, género y
clase. Según Rodney William (2020) para las mujeres negras, los turbantes y el cabello
natural en sí son una forma de declaración política. El problema es enseñar la
importancia de esto, no solo a través de sus vínculos, sino a través del contexto socio-
histórico. El objetivo es enseñar prácticas pedagógicas basadas en él para combatir el
racismo. Está redactado como parte de una investigación de maestría en desarrollo del
Programa de Posgrado en Educación de la Universidad Federal de Rio Grande / FURG,
cuyo tema es Turbantes y educación antirracista. A partir de este trabajo, el Turbante se
presentará como una herramienta didáctica para la educación antirracista en los
espacios educativos.

Keywords ou Palabras clave: Turbante; educación; anti racismo;

INTRODUÇÃO
Um símbolo étnico transgressor, o turbante, está presente na história e cultura do
Brasil, como também na sociedade mundial, especialmente no continente Africano, com
várias significações diferentes entre os locais. A sua construção é feita com os mais

1
-Mestranda em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação na Universidade Federal do
Rio Grande/FURG. Grupo de estudos e pesquisa interdisciplinar Lélia Gonzalez.
diferentes tecidos e acessórios. Em sua história é importante ressaltar que a sua origem
ainda é um mistério, mas na atualidade, devido a propagação das mídias, principalmente
das redes sociais, o uso dos turbantes se tornou mais visto nos diferentes lugares do
mundo.
No Brasil, no período que era colônia de Portugal, o turbante chega através da
cultura africana, em que as mulheres africanas escravizadas trazidas de diferentes
lugares do continente africano, como Senegâmbia (Guiné), Angola, Congo, Costa da
Mina e Benin; usavam em suas cabeças. O adorno envolvia a cabeça das mulheres
negras para cobrir os cabelos, para proteção de suas cabeças para carregarem os cestos
pesados sobre elas, para carregarem seus filhos, para esconder as suas cabeças
raspadas, devido a sua fé como proteção, entre outros. Em cada país da qual estas
mulheres foram trazidas haviam significados diferentes. Desta maneira, é importante
contar aos afrodescendentes este resgate de um pouco da história dos seus, com a
importância da sua cultura, pois segundo Adichie (2019)
Todas essas histórias me fazem quem eu sou. Mas insistir só nas
histórias negativas e simplificar minha experiência e não olhar para as
muitas outras histórias que em formaram. A história única cria
estereótipos, e o problema com os estereótipos, não é que sejam mentira,
mas que são incompletos. Eles fazem com que uma história se torne a
única história. (ADICHIE, 2019 p.26)

A simbologia do turbante no Brasil, para os afrodescendentes está ligada a


resistência de seus ancestrais que foram trazidos de África através do tráfico de pessoas
para a escravização dos mesmos, segundo GODOI2 “O turbante é um adorno repleto de
simbolismo para quem usa; tem seu uso originado no Oriente e na África negra” (2016,
p.70), contraditoriamente de como era usado na Europa, em que apenas era um
acessório relacionado à moda.
E existe um movimento estético-político que está em alta no Brasil, de assumir
as raízes dos cabelos afros com a sua forma natural, para se reconhecer enquanto sua
corporeidade e estética negra, homens e mulheres estão envolvidos nesta chamada
Transição Capilar, um processo de negação ao uso de produtos químicos para

2 Dissertação de Ana Cecilia Rodrigues dos Santos Godoi no Programa de Pós- Graduação em
Educação, Culturas e Identidades da Universidade Federal Rural de Pernambuco, no ano de 2016,
nomeada de “Porque fomos sequestradas dos pés até o último fio de cabelo: práticas pedagógicas no
movimento de mulheres negras e a ressignificação do corpo negro”
alisamento dos cabelos, nos mais diversos cantos do país, em que também utilizam o
turbante para se aproximar das suas origens.

Para a sociedade, desde sempre, a educação antirracista é extremamente


importante, para o combate ao racismo e a intolerância religiosa. Perante a uma
sociedade racista que existe no Brasil, mesmo sendo composta em sua maioria por
pessoas negras (os) e parda(os), com a maioria da população negra a qual está afastada
do continente africano, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad)
Contínua do IBGE de 2019, as pessoas as quais se declaram negras no Brasil são
56,10%, mais que a metade do país é composta por afrodescendentes, fora os quais
ainda não se autodeclaram como tais, por inúmeros motivos.
Assim, investir na educação é uma opção mais favorável para o extermínio do
racismo e demais discriminações raciais. Em sua história, a escola, é o local que as
pessoas negras sofreram com o racismo, de forma perversa, em que muitos ainda
confundem com o bullinyng, que em muitos casos tem retorno porque não está na cor
de sua pele a violência sofrida. Neste sentido, Cavalleiro, afirma que
Para indivíduos negros, a experiência escolar também parece repleta de
acontecimentos prejudiciais, o que dificulta a aquisição de uma
identidade positiva, ao mesmo tempo que lhes confere o lugar daquele
que não é bem-vindo e aceito no grupo. (CAVALLEIRO, 2020, p.83)

Diante da pluralidade de gênero, classe e raça, existentes nas salas de aula, é


necessário ser pontuado a importância do Turbante na história da população negra
brasileira para a compreensão de toda a sala, exaltando a enegressência3 que existe
nele, e comunicando sobre ele em outras culturas não-negras, porque segundo bell
hooks (2017) fazer da sala de aula um contexto democrático onde todos sintam a
responsabilidade de contribuir é um objetivo central da pedagogia transformadora.
Ao pensar também como pedagogia transgressora, na qual visa por uma
resistência transgressiva, sabendo que “a intenção de transgredir, política e
teoricamente, os limites do pensamento e da ação tradicionais, não somente entrando
em território proibido, mas tentando pensar o que não deveria ser pensado, fazer o que
não deveria ser feito” (PENNYKOOK, 2006, p. 82).

3
Enegressência é um conceito utilizado em eventos para reafirmar a importância da autoafirmação da
estética negra a partir da palavra enegrecer que significa torna(-se) negro, dar ou adquirir tonalidades
escuras
Considerado como um símbolo transgressor, devido aos atravessamentos que o
mesmo faz entre multiculturas, raças, gêneros e classes; foi possível criar uma forma de
educação através do mesmo, junto a educação antirracista. Ser um(a) docente
antirracista é criar conteúdo e aplicar sobre as questões para as relações étnico-raciais,

para que as crianças e as pessoas negras se vejam, se amem, sem pensar que somente
a branquitude é a cor ideal. Porque as exigências ideológicas vindas da herança dos
colonizadores no Brasil, provocaram de forma violenta uma problemática diante dos
valores estéticos e culturais para a população negra, segundo Kabengele Munanga
(2020)
Na sua totalidade, a elite negra alimentava um sonho: assemelhar-se
tanto quanto possível ao branco para, na sequência, reclamar dele o
reconhecimento de fato e de direito. (...) Ora, para chegar a isso,
pressupunha-se a admiração da cor do outro, o amor ao branco, a
aceitação da colonização e a autorecusa. E os dois componentes dessa
tentativa de libertação estão estreitamente ligados: subjacente ao amor,
pelo colonizador, há um complexo de sentimentos que vão da vergonha
ao ódio de si mesmo. O embranquecimento do negro realizar-se-á
principalmente pela assimilação acontecerá pelo domínio da língua do
colonizadora. Por isso, todo povo colonizado sempre admirou as línguas
invasoras, que achava mais ricas do que a sua. Num grupo de jovens
africanos de qualquer país de seu continente, aquele que se expressava
bem e tinha controle da língua não materna (francês, inglês ou português)
era muito respeitado. (MUNANGA, 2020, p. 35-36)

Neste sentido, enquanto docentes resgatar a Negritude é importante nos espaços


educacionais brasileiros, para que a discussão seja de forma mais coerente e atualizada
perante as relações antirracistas, mas o que significa este termo, Munanga (2020) cita
que negritude, embora tenha sua origem na cor da pele negra, não é essencialmente de
ordem biológica. A partir deste olhar do autor, é necessário também observar que
segundo ele
(...) o termo Negritude à cor da pele, mas sim o fato de terem sido na
história vítimas das piores tentativas de desumanização e de terem sido
culturas não apenas objeto de políticas sistemáticas de destruição, mas,
mais do que isso, de ter sido simplesmente negada a existência dessas
culturas. (MUNANGA, 2020, p.19)

E a educação antirracista, terá como missão trazer para a sociedade estas


questões, como também o desafio de ensinar as novas gerações de negras e negros, a
importância da sua existência, que segundo Gomes (2017) exemplifica que “O corpo
negro nos conta uma história de resistências constituída de denúncia, proposição,
intervenção e revalorização. Neste sentindo, pensar na criação de uma consciência da
auto beleza negra, em que a própria comunidade negra, em que Lélia Gonzalez (2018)
afirmava que inicialmente deveria ser feito
... o primeiro trabalho a ser feito, no interior da própria comunidade, é
despertar uma consciência da beleza da própria imagem - o chamado
"Black's Pride" (Orgulho Preto). Ter a etnia valorizada. Acho que teremos
que recorrer aos mitos, às histórias, uma literatura infantil em que a
criança negra esteja presente. (...) De qualquer modo é necessário criar
e afirmar uma nova estética. "Sou negra, vou me vestir como negra, tenho
direito a usar minhas cores, a ser criativa para me valorizar dentro do meu
potencial. (GONZALEZ, 2018, p.377)

Diante disso, trabalhar com os turbantes em espaços de ensino como prática


pedagógica, é ter a etnia valorizada, ensinando a todas e todos sobre a história, cultura
e importância, e não somente ensinando os tipos de amarrações. A partir de bases
teóricas e estórias de mulheres, que utilizavam e usam turbantes, resgatando o
conhecimento sobre ele, segundo Rodney William (2020) para mulheres negras, os
turbantes e o próprio cabelo natural são uma forma de afirmação política. A sala de aula
foi primeiramente o lugar escolhido para a prática, bell hooks (2017) afirmava que ao
entrar em uma sala de aula com
...vontade de partilhar o desejo de estimular era um ato de transgressão.
Não exigia somente que se cruzassem as fronteiras estabelecidas; não
seria possível gerar o entusiasmo sem reconhecer plenamente que as
práticas didáticas não poderiam ser regidas por um esquema fixo e
absoluto. Os esquemas teriam de ser flexíveis, teriam de levar em conta
a possibilidade de mudanças espontâneas de direção. (HOOKS,2017,
p.17)

A partir disso, se transgredir tem como um dos seus significados ir além, fazer
atravessamentos, uma educação através dos turbantes, está para além da formalidade
do ensino para com as pautas raciais, muito mais além para com o ensino formal nos
espaços escolares, em que a autonomia para a criação desta pratica requer coragem
para os embates que ocorreram. Desta maneira, uma professora do extremo sul do Brasil
criou o seu projeto de ensino através dos turbantes, pensando prioritariamente na Lei de
nº10.639/03 a qual garante a obrigatoriedade do ensino da História e Cultura Afro-
Brasileira nos currículos escolares, uma lei que já tem dezoito anos, e ainda existem
falhas, como disciplinas não obrigatórias para os cursos de licenciaturas nas
universidades. Para Zélia Amador de Deus,
Vale ressaltar que a aplicação da lei se apresenta como um grande
desafio para os docentes, pois muitos desconhecem qualquer conteúdo
que trate da África e da cultura afro-brasileira. Nessa perspectiva o papel
do educador, assume grande dimensão, pois, além de buscar formação
para cumprir suas funções, na medida em que são poucas as
universidades brasileiras que já adequaram seus currículos visando à
aplicabilidade da lei, esse docente tem que iniciar um processo de
descontruir imagens estereotipadas que sempre enfocam a África
ressaltando aspectos negativos: atraso, selva, fome, doenças
endêmicas, AIDS, guerras, misérias, pobreza. Essa imagens
estereotipadas precisam sair de cena e dar lugar (DEUS, 2020, p.65-66)

Contudo, a proposta inicia para colaborar com as demais professoras de


educação antirracista no Movimento Negro do município de Rio Grande - RS, onde eram
poucas as professoras que faziam nas escolas do município. É de extrema relevância
lembrar que o Movimento Negro esteve e está presente na luta em busca de políticas
afirmativas, junto a legislação a muito tempo, na história e na contemporaneidade,
obtendo conquistas, para aquisição de diversas pautas voltadas para o ensino da
educação antirracista e também em busca de uma legislação para a inserção desta nos
currículos, nos mais variados espaços, formais ou informais. Algumas pessoas não
sabem qual a função deste movimento social, Gomes(2017) exemplifica que:
O Movimento negro ressignifica e politiza a raça, compreendendo-a como
construção social. Ele reeduca e emancipa a sociedade, a si próprio e ao
Estado, produzindo novos conhecimentos e entendimentos sobre as
relações étnico-raciais e o racismo no Brasil, em conexão em a diáspora
africana. (GOMES, 2020, p.38)

Entretanto, o projeto visa contar os turbantes em sua totalidade, isto é, apresenta


os turbantes na história afro-brasileira, africana, entre outras culturas; pensando na
prática de uma sala de aula, onde não estão somente afrodescendentes, como também
não estão somente brancos. Com o cuidado com a recepção da criança negra por este
símbolo de resistência, político e religioso, que nunca foi lhes dito que fazia parte de suas
raízes, para que a criança se sinta representada de forma positiva, não sendo alvo de
mais preconceito diante deste conhecimento. E ao mesmo tempo a recepção da criança
branca, que aprendera sobre a exaltação deste símbolo para os afrodescendentes, mas
também através de pessoas brancas que usavam porém com outro significado.
Pensando nesta pratica de ensino através dos turbantes, na qual faz parte de uma
pesquisa de mestrado em desenvolvimento no Programa de pós-graduação em
Educação da Universidade Federal do Rio Grande/FURG, cuja temática são os
Turbantes e a Educação antirracista, que está em desenvolvimento.

1 A história resumida dos turbantes


A origem dos turbantes, não se sabe ao certo, somente que está presente no
Oriente e na África Subsaariana, mas uma das origens possa ter sido no Antigo Egito,
que foi feita uma das primeiras amarrações usadas na cabeça, que fazia parte da veste
faraônica utilizada com a máscara do famoso Tutankhamon, em que a representação
mais antiga está na cabeça da estátua do faraó de Djoser (c 2630 ac 2611), em que
Além das coroas, um adorno de cabeça que cai em duas tiras sobre os
ombros e tem a parte pendente sobre a nuca amarrada em trança,
denominado nemes, também se tornou bastante conhecido, sobretudo
porque é usado pela esfinge de Gizé e, ainda porque aparece na famosa
máscara de Tutankhamon...Tratava-se de um elemento fundamental da
veste faraônica, tendo entrado em voga a partir da III dinastia (c. 2649 a
2575 a.C. ). Sua representação mais antiga está na cabeça da estátua
do faraó Djoser (c. 2630 a 2611 a.C.) sentado, encontrada no complexo
da Pirâmide de Degraus (AS VESTIMENTAS, s/d).

Em outra momento da pesquisa, houve a busca pelo turbante nos impérios


africanos em que a partir de algumas mulheres negras guerreiras já era utilizado este
símbolo. No século XVI, a rainha Amina de Zaria (ou Zazzau) utilizava o turbante, que
pode ser encontrado em registros de imagens. Foi descoberto também sobre a rainha
pertencente ao reino do Walla chamada de Ndaté Yalla Mbodj no século XIX, dos reinos
Wolof da Senegâmbia, localizada atualmente ao noroeste do Senegal. E a Rainha Yaa
Asantewaa do Império Ashanti , conhecida como atual Gana, nascida em 1840, que lutou
bravamente liderando a rebelião Ashanti contra o colonialismo Britânico, em 1900. E a
princesa Yennenga do reino Dagomba conhecido atualmente como o norte de Gana, a
mil anos atrás usava o turbante. Todas estas mulheres citadas são importantes
referencias para usar no espaço escolar devido ao seu uso como símbolo de bravura e
resistência.
Em outra pesquisa, foi encontrado que na Idade do Bronze (3000 a.C) existem
pinturas e estatuas de pessoas que estão de turbantes, em que podem ser visitadas no
sitio arqueológico de Cnossos, localizado na ilha de Creta na Grécia. E também o uso
de turbantes através de registros de figuras na Grécia Antiga (1100 a.C e até 146 a.C.)
e na Roma Antiga (século VIII a.C), mas com significados diferentes, talvez somente
ligados a religião.
No Brasil, este símbolo chega através das mulheres africanas, no período da
escravidão, os primeiros africanos e africanas chegam no século XVI. Assim, é
importante citar mulheres como Dandara dos Palmares, uma guerreira que lutava pela
liberdade e defesa do Quilombo, nascida no continente africano ou no Brasil, não se
sabe sua origem, era esposa de Zumbi de Palmares, em registros na história aparece
com tecidos em sua cabeça, o que hoje conhecemos como turbante. Assim como ela,

Acotirene que foi considerada a matriarca no Quilombo dos Palmares e conselheira dos
escravizados e escravizadas, em alguns registros está com seu turbante. E Zeferina,
nascida em Angola foi trazida para o Brasil para a região da Bahia ainda criança como
uma menina escravizada, lutava pela sua liberdade, fundou o Quilombo Urubu, com seu
turbante lutava.
Na década de 60, a afro- estadunidense Eunice Kathleen Waymon conhecida pelo
seu nome artístico como Nina Simone, cantora, compositora pianista e militante que
lutava pelos direitos civis dos afro-estadunidenses através de suas canções, em muitas
fotos está com vários tipos de amarrações de turbantes, destacando a importância do
Orgulho Negro. No texto de Glenda B.Ferreira, chamado de Nina Simone: Uma das cores
da minha alma, apresenta que “Ela usava turbantes, brincos gigantes, joias, estampas
super colors, pulseiras, óculos grandes. “(2016). Uma das frases mais conhecidas da
pianista é “ Eu te digo o que a liberdade significa para mim: não ter medo.”
A escritora e feminista francesa Simone de Beuvoir, usava o turbante com outro
formato e significações do que para as mulheres negras, uma das frases mais conhecida
de Simone é “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher”. A cantora Carmem Miranda
também foi uma das mulheres que estiveram presentes nesta pesquisa devido ao seu
uso dos turbantes, com formas diferentes e da sua representatividade no país, em que
segundo em NASSER (1989), para Carmem
Os Turbantes, são feitos por Miranda, os balangaundas são da baixa do
sapateiro de Salvador, isto mostra a influência da cultura baiana na moda
e nas criações de Carmem Miranda. Sendo assim na viagem que fez a
Bahia antes de ir para América do Norte, ela levou toda cultura baiana
pautando-se na tropicalidade e o carnaval do povo brasileiro criando
assim uma moda particular. Os colares, turbantes, vestidos, saias,
chapéus, jóias e sapatos plataformas eram características do vestir de
Camem Miranda nas apresentações pelos Estados Unidos sempre
revelando o que é que a baiana tem ( NASSER,1989).

E a estilista francesa Gabrielle Bonheur Chanel conhecida como Coco Chanel,


também utilizava os turbantes, e sua luta era pelo movimento de liberdade expressão
através da moda feminina. Dessa maneira, de forma resumida foi apresentada um pouco
da história dos turbantes, os seus significados para cultura africana e demais culturas
através de mulheres.

2 Projeto Turbante-se com Gabriele Costa

A legislação para as pautas raciais é de extrema importância para que todos


saibam, neste projeto estão sendo citadas apenas algumas entre todas as demais.
Primeiramente, a Lei nº7.716/1989 de 5 de janeiro de 1989, na qual define os crimes
resultantes de preconceito de raça ou de cor, em que sofre alterações no dia 13 de maio
de 1997, a Lei nº9.459, do "Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes
resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência
nacional." e o "Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça,
cor, etnia, religião ou procedência nacional.”

No ano de 2012, recebe outra alteração, Lei nº12.735, de 30 de novembro de


2012; a qual altera novamente acrescentando condutas ligadas ao sistema a partir das
tecnologias. No ano dia 9 de janeiro 2003, altera a Lei nº9.394/96, que estabelece as
diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de
Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras
providências. Após 5 anos desta lei, recebe modificações, no dia 10 de março de 2008,
foi criada a Lei nº11.645/08, em que estabelece a inclusão na mesma também a “História
e Cultura Afro-Brasileira e Indígena.” A partir destas leis, é importante pensar em dois
conceitos com suas definições, o conceito de Raça que segundo Almeida (2020)
Raça não é um termo fixo, estático. Seu sentido está inevitavelmente
atrelado às circunstancias históricas em que é utilizado. Por traz da raça
sempre há contingência, conflito, poder e decisão, de tal sorte que se
trata de um conceito relacional e histórico. (ALMEIDA, 2020, p.24)

E o conceito de Racismo, o fato de agir contra a cor da pele do outro, segundo


Almeida (2020), “O racismo é uma imoralidade e também um crime, que exige que
aqueles que praticam sejam devidamente responsabilizados, disso estamos convictos.”
(ALMEIDA, 2020, p.36). A partir dos conceitos citados acima, devemos pensar, uma
abordagem destes conceitos para serem utilizados em sala de aula através de serias
discussões. Existem um equívoco para a discussão entre bullyng e racismo nos espaços
escolares, racismo é um crime previsto na Constituição Federal e o bullyng é uma
violência escolar.
Os espaços de ensino formais, as escolas, são locais necessários para as
discussões e práticas de ensino voltadas para as diferenças raciais, segundo Cavallero
(2001), o ambiente escolar é um espaço importante para trabalhar as diferenças raciais,
visto que, neste ambiente estão todos “unidos” através de seus gêneros, classe e raça.
Mesmo sabendo que existem tratamentos diferenciados, mas este é o local adequado
para agir diante de uma ação de educação inter-racial. Nos espaços escolares,
atualmente existe um discurso voltado a diversidade, com a política de que “somos todos
iguais”, mas sabemos que durante a história os espaços escolares sempre apresentaram
tratamentos diferenciados e discriminatórios de forma oculta ou não. E a escola, segundo
Cavalleiro(2020), ao se achar igualitária, livre do preconceito e da discriminação, a escola
tem perpetuado desigualdades de tratamento e miando efetivas oportunidades
igualitárias a todas as crianças. (2020, p.99)
O projeto Turbante-se com Gabriele Costa sua criação inicia a partir de um olhar
de uma professora, no começo houve a parceria de uma amiga e colega militante, mas
depois o projeto persistiu somente com a percursora, que ao longo dos anos vem
atuando no munícipio de Rio Grande e no momento da pandemia em formato online
esteve presente no Chile e na cidade de Pelotas.

Este projeto tem como um dos objetivos ensinar a história do turbante para contar
a transversalidade do mesmo em vários aspectos sejam eles étnicos, religiosos ou de
gêneros. Ensinar o respeito pelo seu próximo e tornar um cidadão mais consciente e
antirracista. Outro aspecto relevante da oficina é exaltar o turbante como símbolo étnico
africano e afro-brasileiro, símbolo de resistência para a população negra, como forma de
autoestima, autoafirmação racial e identitária.

Os objetivos da oficina são: Elevar a autoestima do indivíduo através deste


acessório histórico; aprimorar o conhecimento sobre os turbantes; desenvolver a
igualdade de saberes pela causa do outro; manifestar o interesse pela dinâmica;
participar da troca de conhecimentos sócio –histórico e aplicar o conhecimento em suas
vidas.

As temáticas envolvidas: instrumento de comunicação; tipos de turbantes; a euro


centralidade; O turbante em evidencia em momentos históricos: segunda guerra mundial,
orgulho negro nos EUA, personagens da história, etc. A questão social como
empoderamento das mulheres e homens em tratamento para a cura do câncer, o
processo de igualdade de gêneros; os tipos de lápis cor da pele; a religiosidade; a
representatividade.

A metodologia utilizada é através de fontes bibliográficas e virtuais, junto a


pesquisa oral por parte de membros do Movimento Negro. Os materiais utilizados para
as amarrações, isto é, os tecidos, são investimentos próprios e doações. Os turbantes
são feitos com os mais diversos tecidos para que todos tenham acesso e ao chegar em
suas casas possam fazer. É uma semente de saber e aprendizado que deve ser
compartilhada com todas e todos.

O projeto está presente para os muros das escolas, pois já esteve presente em
postos de saúde, associações de bairros, shoppings, câmara dos vereadores, museu da
cidade, OAB, universidades, hospitais e em conversas virtuais. Em que tem percurso ao
longo dos meses, mas no mês de outubro e novembro devido as comemorações do
outubro rosa e do mês de novembro ser referência para a população negra, como o mês
da consciência negra.

Nas redes sociais é possível ter contato com todas as fotos das oficinas. Por fim,
esta oficina tem um papel importante na sociedade para que todos se unam contra o
racismo e qualquer tipo de discriminação referente a raça, religião e gêneros diante do
seu turbante. Os resultados esperados são a aprovação do grupo e atingir as
expectativas do grupo, quanto à oficina.

CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considera-se que a história dos turbantes não se encerra através deste trabalho
que está em desenvolvimento, em um resgate sobre as suas origens e definições,
tornando-o um símbolo transgressor, pelo fato de estar para além dos gêneros, das
classes e das raças. Mas nesta pesquisa sob um recorte da sua história através de
representatividades do feminino no Brasil e demais lugares, apresentando a diferença
do seu significado para mulheres negras e mulheres não-negras.
Assim, através desta escrita é possível perceber o quanto se faz eficaz ensinar a
história e a cultura do mesmo, pensando em um método de educação antirracista através
dos turbantes, empoderando as crianças negras nos espaços de ensino, na tentativa de
mudar a significação da escola para a população negra tão violentada. A experiência
escolar, segundo Cavalleiro é
Para indivíduos negros, a experiência escolar também parece repleta de
acontecimentos prejudiciais, o que dificulta a aquisição de uma
identidade positiva, ao mesmo tempo que lhes confere o lugar daquele
que não é bem-vindo e aceito no grupo. (CAVALLEIRO, 2020, p.83)

Diante disso, quando o Movimento Negro atua em conjunto ao magistério através


de professoras e professores militantes, estando presente nos espaços de ensino,
marcando o território para a proteção e orientação das outras gerações, na esperança
de transformar uma educação antirracista em que os negros e as negras se amem, pelo
seu tom de pele, pelo seu fenótipo, pelo seu cabelo, enfim pela sua estética negra. Em
que, devemos ensinar a importância de ser negra ou ser negro, porque se nasce de
vários tons de pele derivados da negritude, mas se torna negro, segundo Lélia Gonzalez,
Aí me recordo daquela frase de Simone de Beauvoir quando ela diz: "A
gente não nasce mulher, a gente se torna mulher" Do mesmo modo nós
não nascemos negros, nós nos tornamos negros! A gente nasce "pardo"
azul-marinho" "marrom", "roxinho" "mulato claro" e "escuro" mas a gente
se torna negro. Ser negro é uma conquista. Não tem nada a ver com as
gradações de cor de pele! Isso foi o racismo que inventou! (GONZALEZ,
2018, p.361)

Dessa maneira, o projeto turbante-se tem uma importância para uma educação
através dos turbantes, em que apenas um tecido poderá unir os alunos, pois mesmo que
tenha uma legislação a qual deveria ser cumprida ainda existe muita resistência dos
docentes pelo ensino de trabalhos voltados para a pauta racial, mesmo sabendo que
racismo também é crime.
O Brasil, vive um período político desgovernado, em que muitos racistas saíram
do armário, algo entristecedor que ocasiona revolta e medo, em que para realizar estas
oficinas através do projeto se torna um ato de coragem, através de um ensino que está
contra os segmentos do governo.
A partir de todos os aspectos citados se torna visível que o ensino através dos
turbantes como pratica pedagógica garante um engajamento de todas e todos
envolvidos, quando existe a explicação sobre sua história, em que
(...)o uso de Turbantes por mulheres negras emerge como engajamento,
reconhecimento, estética de resistência e afirmação cultural. Uma luta
construída por essas mulheres durante anos, mulheres que hoje são
reconhecidas, constroem representatividade, quebram estereótipos e
padrões impostos. Dentre algumas das referências que fazem parte do
meu processo de empoderamento, fortalecimento e representatividade
cito: Dandara de Palmares, rainha Nzinga, Ângela Davis, Lélia Gonzalez,
Chimamanda Ngozi Adichie, Tais Araújo, Maju Coutinho, Conceição
Evaristo, Renilda Cintra, Vilma Reis, Grada Kilomba, Danie Sampaio, Maitè
Freitas, Djamila Ribeiro, Tauá Pires, Érica Malunguinho, Linda Marx, Éllen
Cintra, Sandra Campos, Adriana Barbosa, Cristiane Gutierrez, Cris Blues,
Beth Beli: algumas tantas... ” (SILVA, 2020, p. 20-21).

Como um componente da cultura afro-brasileira e da cultura brasileira, o Turbante


sempre demarcou seu lugar de legitimidade em toda a história deste país, chamado
Brasil, em que a sua chegada através dos africanos no período colonial na escravização
deste povo, onde as mulheres negras pegavam tecidos de suas próprias roupas para
colocarem em suas cabeças, como proteção de seus cabelos e como proteção de sua
fé. Uma comunicação era gerada através deles, de suas amarrações, de suas cores num
tempo depois. Fato este que não devem ser silenciados e apagados na história deste
país e sim contados para as outras gerações, como forma de educação, este saber que
toda a população brasileira deveria conhecer sobre a origem dele para todxs brasileiros.
Este Brasil não se acha racista, mesmo tendo atitudes racistas, mesmo a
população vivenciando diariamente este racismo estrutural e perverso, desta maneira o
Turbante é uma ferramenta de combate mesmo a ele. Educar para as gerações não
serem racistas e a população negra ter um regaste de identidade. Mas sabemos que, o
Turbante é usado também para atacar a população negra, em que mulheres brancas
utilizam e são vistas como modelos, muitas vezes mesmo sendo praticantes de religiões
afro-brasileiras, mas jamais apontadas na rua como macumbeiras, sujas entre outros
xingamentos, como as mulheres negras ouvem de forma violenta. Mas devido a este
país ser aberto a outras migrações, é interessante que as mesmas assim como os
africanos algumas usam o Turbante.
Conclui- se que é necessário mais pesquisas sobre os turbantes para obter outras
discussões, utilizando o mesmo como ferramenta de ensino antirracista de em todos os
espaços de ensino formais e informais, para o combate ao racismo e a intolerância
religiosa. Mas sempre lembrando de pautar sempre que segundo Kilomba (2019) ”O
racismo foi inventado pela branquitude, que como criadora deve se responsabilizar por
ele. Para além de se entender como privilégio, o branco deve ter atitudes antirracistas.”

REFERÊNCIAS

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