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20 ANOS DA LEI 10.

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Profª Ms. Dandara Matos
Doutoranda em História Social na UNICAMP
Ensinar História da África, afro-brasileira e indígena aos alunos é uma
das maneiras de romper com a estrutura eurocêntrica que até hoje
caracterizou a formação escolar brasileira. Com a lei sancionada,
tornando obrigatório o ensino da História dos afro-brasileiros,
africanos e dos povos indígenas no ensino fundamental e médio, deu-
se conta das dificuldades de sua implementação, a começar que com
algumas exceções os professores nunca tiveram, em suas graduações,
contato com as disciplinas específicas sobre a história da África ou
indígena, além do que a grande maioria dos livros didáticos de
História utilizada nestes níveis de ensino não reserva para os africanos
e indígenas espaço adequado, os alunos passam a construir apenas
estereótipos sobre essas populações.
Vamos falar da legislação?
Pontos de destaque da C.F (1988)
• Art. 3º, V - Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça,
sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
• Art. 5º, I - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, (...)
• Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I -
igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
• Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de
maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores
culturais e artísticos, nacionais e regionais.
• Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e
acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a
difusão das manifestações culturais.
• Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza
material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de
referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores
da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados
às manifestações artístico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,
arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
• Art.242. O ensino de história do Brasil levará em conta as
contribuições das diferentes culturas e etnias para a
formação do povo brasileiro.

• Em 1996, o Parágrafo 4° do Artigo 26 da nova LDB ficou com a


seguinte redação:
• Artigo 26 – Parágrafo 4º: O ensino de história do Brasil levará
em conta as contribuições de diferentes culturas e etnias para a
formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes
africanas, indígenas e europeias.
Então como ficou o ensino?
Vamos pensar...
• O que pode ter de mais, na simples tarefa do auto
desenho ou na narrativa dos tradicionais contos de
fadas para nosso alunos?

• O que o calendário escolar tem a ver com racismo?

COMO O RACISMO SE MANIFESTA E SE EXPANDE


NA ESCOLA, ATRAVÉS DE QUE PRÁTICAS?
NÃO É SÓ NA ESCOLA QUE SE APRENDE O RACISMO

Crianças chegam na escola com seu conhecimento


moldado:

• Família
• Espaços religiosos
• Sociedade (o ambiente em que cresce/cresceu).
• A proposta do movimento social negro, só foi atendida em 09 de
janeiro de 2003, com a assinatura da Lei 10639/03.

• A nova legislação acrescentou dois Artigos à Lei de Diretrizes e


Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96):
• Lei 10639, de 9 de janeiro de 2003
• Altera a Lei no 9.394/96, que estabelece as diretrizes e bases
da educação nacional, para incluir no currículo oficial da
Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e
Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências.
• Art. 1º - A Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar
acrescida dos arts. 26-A e 79-B:

• Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais


e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura
Afro-Brasileira.
• § 1o O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo
incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos
negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da
sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas
áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.
Não existe políticas inclusivas se não houver a
intencionalidade de que as ações aconteçam.
Ao tratar da História da África e da
presença negra do Brasil, deve-se
fazer abordagens positivas, claro
que não deixando de mostrar todo
sofrimento dos negros, mas
principalmente salientando as
várias lutas de resistências
empreendidas por eles.
Lei 11.645, de 10 de março de 2008

• Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996,


modificada pela Lei no , de 9 de janeiro de 2003,
que estabelece as diretrizes e bases da educação
nacional, para incluir no currículo oficial da rede
de ensino a obrigatoriedade da temática “História
e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”.

• “Art.26-A Nos estabelecimentos de ensino


fundamental e de ensino médio, públicos e
privados, torna-se obrigatório o estudo da
história e cultura afro-brasileira e indígena.
TANTAS MENTIRAS QUE PARECEM VERDADES
• É índio ou são povos indígenas?
• Foi descoberta ou invasão?
• Os índios são aculturados?
• São povos do passado?
• Tem muita terra pra pouco índio?
• Por que eles não trabalham, como nós?
Posso então nos perguntar:

Em que medida o ensino da História e da cultura


Africana e Indígena nas escolas irão contribuir para a
superação do racismo e das desigualdades raciais?
Racismo – Estrutura de poder baseada na Ideologia da
existência de raças superiores ou inferiores. Pode
evidenciar-se na forma legal, institucional e também por
meio de mecanismos e de práticas sociais. No Brasil, não
existem leis segregacionistas, nem conflitos de violência
racial; todavia, encoberto pelo mito da democracia racial,
o racismo promove a exclusão sistemática dos negros da
educação, cultura, mercado de trabalho e meios de
comunicação.
Fonte: Almanaque Pedagógico Afrobrasileiro – Rosa Margarida de Carvalho Rocha, Nzinga .
Isto é preconceito, você sabia?
• Colocar apelidos nas pessoas negras, como Pelé, Mussum, tição, café, chocolate, buiu, branca
de neve. Os apelidos pejorativos são uma forma perversa de desumanizar e desqualificar seres
humanos.
• Elogiar negros dizendo que são de “alma branca”.
• Fazer piada de mau gosto, usando o termo “coisa de preto” ou “serviço de preto”.
• Querer agradar a negros dizendo que é negro, “mas” é bonito, ou que “apesar” do “cabelo
ruim” é inteligente.
• Usar eufemismo como “moreninho”, “escurinho”, “pessoas de cor”, evitando a palavra negro
ao se referir a pessoas negras.
• Negar a ascendência negra do mulato, dizendo que ele não é “totalmente” negro, que é de raça
apurada, ou usar as expressões “limpar o sangue” e “melhorar a raça”, ao se referir à
miscigenação.
• Fazer comparação, usando a cor branca como símbolo de que é limpo, bom, puro e, em
contrapartida, usar a cor preta representando o que é sujo, feio, ruim.
Fonte: Almanaque Pedagógico Afro-brasileiro – Rosa Margarida de Carvalho Rocha, Nzinga.
“O enfrentamento da desigualdade racial brasileira
solicita uma política pública afirmativa que enfrente
o desafio de integrar as perspectivas ‘universalista’ e
‘diferencialista’ na construção de uma política
educacional antirracista orientada pelos valores da
diversidade e o direito à diferença”.
Referência: CAVALLEIRO, Eliane & HENRIQUES, Ricardo. Educação e Políticas Públicas Afirmativas:
elementos da agenda do Ministério da Educação. In Ações Afirmativas e Combate ao Racismo nas
Américas. Edição MEC /BID UNESCO, Brasília, 2005. P 212.
A educação das relações étnico-raciais impõe aprendizagens entre brancos e
negros, trocas de conhecimentos, quebra de desconfianças, projeto conjunto
para construção de uma sociedade, justa, igual, equânime.

A escola tem papel preponderante para eliminação das discriminações e para


emancipação dos grupos discriminados, ao proporcionar acesso aos
conhecimentos científicos, a registros culturais diferenciados, à conquista de
racionalidade que rege as relações sociais e raciais, a conhecimentos avançados,
indispensáveis para consolidação e concerto das nações como espaços
democráticos e igualitários.

A escola têm que desfazer a mentalidade racista e discriminadora secular,


superando o etnocentrismo europeu, reestruturando relações étnico-raciais e
sociais, desalienando processos pedagógicos.
Referências:
BARROS, José Flavio Pessoa de. Xangô, a Historia que a escola vai poder contar. In:
SANTOS, Ivanir dos, ROCHA, José Geraldo da (orgs). Diversidade & Ações Afirmativas..
Rio de Janeiro: CEAP, 2007.
CAVALLEIRO, Eliane & HENRIQUES, Ricardo. Educação e Políticas Públicas Afirmativas:
elementos da agenda do Ministério da Educação. In Ações Afirmativas e Combate ao
Racismo nas Américas. Edição MEC /BID UNESCO, Brasília, 2005.
MUNANGA, Kabenguele. Superando o Racismo na Escola. 2ª edição revisada, Brasília:
Ministério da Educação/ Secretaria de Educação Continuada , Alfabetização e
Diversidade,2005.
SALES, Alcígledes de Jesus. Educação uma questão de cor: a trajetória educacional
dos negros no Brasil. Disponível:
https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/educacao/educacao-questao-cor-trajetoria
-educacional-dos-negros-brasil.htm
- acessado 09/11/2021.

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