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BELO HORIZONTE - MG
2018
DENNIS ALONSO DE PAULA BRANDÃO
Belo Horizonte - MG
2018
BRANDÃO, Dennis Alonso de Paula. A História da África sob a égide da Educação e da
Lei: Desafios e Possibilidades. Belo Horizonte: IPEMIG/FACEL, 2018. Especialização em
História e Cultura Afro-brasileira.
RESUMO
O Presente Artigo tem como objetivo fazer uma análise sobre a composição da imagem e
a representação social dos povos negros e seus descendentes na elaboração das leis destinados
ao ensino de história da África em todos os níveis da educação. O objetivo que desejamos
alcançar é o de demonstrar que, mesmo após os debates travados pela comunidade negra em
defesa da manutenção e também da difusão de sua história e cultura e a subsequente
aprovação de leis que tornam obrigatório o ensino de História da África e da cultura Afro-
brasileira nas escolas de ensino básico - mais precisamente a lei 10.639/2003 - a falta de
preparo por parte de grande parte dos professores das áreas de ciências humanas que
compõem o quadro do ensino regular, aliado à pouca pesquisa e conteúdo produzido sobre o
tema por professores e pela academia tem permitido que, mesmo com os avanços conseguidos
na legislação a respeito do tema sobre a importância da constituição de uma história da
educação antirracista, o negro africano e seus afrodescendentes, ou seja, a comunidade negra
ainda é concebida a partir de estereótipos herdados de uma construção que remete ao período
colonial, perpassando nossa história e presente aos dias atuais.
1. Introdução.........................................................................................................................05
2. Desenvolvimento...............................................................................................................07
2.1. O Período Republicano e os “novos” olhares sobre a população negra..............07
2.2. A Luta do Movimento Negro pelo reconhecimento e estudo da sua
história....................................................................................................................................11
2.3. Uma breve análise sobre a África, o negro e a história na perspectiva do livro
didático...................................................................................................................................18
3. Conclusão..........................................................................................................................22
4. Bibliografia.......................................................................................................................24
5
INTRODUÇÃO
humano aqui presente: era necessário ser homem, branco e filho de donos de terras ou dos
colonizadores para ter acesso a essa educação escolarizada ofertada pelos jesuítas. O objetivo
desse ensino era garantir a instrução quanto à cultura geral básica. Além disso, aos filhos de
colonos também era reservada a catequese, assim como também aos nativos. À população
negra restava apenas o trabalho escravo, sem a possibilidade de frequentar a sala de aula. Essa
educação de caráter separatista e exclusivista predominou durante todo o Império e boa parte
da República, como pode ser observado através de uma análise das constituições nacionais, ou
mesmo com a criação de leis que proibiam de forma clara a presença do negro em sala de
aula. Exemplo dessa exclusão foi o advento da lei nº 14 de 22 de dezembro de 1837, que ao
tratar das escolas de instrução primária no Rio Grande do Sul, dizia o seguinte em seu artigo
3º: “São proibidos de frequentar as Escolas Públicas: £ 2º – os escravos, e pretos ainda que
sejam livres, ou libertos.”1 Em 1854, no Rio de Janeiro, município da corte e espelho da nação
que se construía, essa proibição atingia somente as pessoas escravizadas e os portadores “ de
moléstias contagiosas”, como afirma Alessandra Schueler:
1Fonte: ¹ BARBOSA, Eni (Org.) O processo legislativo e a escravidão negra na província de São Pedro do Rio Gran de do Sul – Fontes. Porto
Alegre, Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul; CORAG, 1987, pg. 49. In: PEREIRA, Amilcar Araujo: Movimento ne gro
contemporâneo, memória e educação: aspectos da luta anti-racista na segunda metade do século XX.
7
preocupação pelo destino do escravo manteve-se em evidência enquanto este esteve ligado ao
trabalho na lavoura. Nela aparece nos vários projetos que visavam regular, pelas vias legais, a
transição do trabalho escravo para o trabalho livre, desde 1823 até a assinatura da Lei Áurea.
Com a Abolição pura e simples, a atenção dos senhores se volta especialmente para
seus próprios interesses. Conforme estabelece Rezende da Silva
Portanto, mesmo o negro liberto não era bem visto na sociedade brasileira. Os valores
nela incutidos continuarão a persegui-lo de forma a gerar preconceitos e injustiças sociais,
pois os negros muitas vezes sem emprego e sem acesso à propriedade da terra ocupam uma
posição inferior na sociedade.
O próprio negro que na maioria dos casos já não era africano, pois sofreu forte
processo de aculturação, também não era branco; entretanto acaba por ficar exposto a um
processo de embranquecimento que se dá, segundo Munanga 2(1988) pela assimilação dos
valores culturais do branco. Dessa forma muitos negros professarão a religião deste, se
vestirão e se alimentarão, e acima de tudo, falarão a língua dos brancos. Outra forma de
branqueamento são os casamentos ou relacionamentos entre negros e brancos. Por parte dos
negros há um desejo ainda que inconsciente, de se embranquecer e posteriormente
embranquecer seus filhos para que estes, eventualmente ocupem posição melhor na sociedade
e que sofram menos preconceitos. Não vivemos em uma democracia racial, embora seja
inegável a grande miscigenação ocorrida em nosso país, é inegável também que o preconceito
existe, ainda que camuflado. Se refletirmos bem, tergiversar que o colonizador pudesse aceitar
de bom grado a assimilação ou aceitação do negro no cerne da sociedade, fazendo parte ativa
da mesma e tomando decisões sobre o seu destino seria escamotear a relação colonial. Por
esse motivo, até os dias atuais nos deparamos com preconceitos e injustiças sociais e,
boquiabertos, reagirmos com certa perplexidade ao observarmos pessoas de cor que, assim
como o branco, consegue atingir certo padrão de vida ou se torna bem-sucedido em
2MUNANGA, Kabengele. Origem e histórico do quilombo em África. In: MOURA, Clóvis. Os quilombos na dinâmica social do
Brasil. Maceió: EDUFAL, 2001. p. 21-31.
10
3GUIMARÃES, Antônio Sérgio Alfredo. Racismo e anti-racismo no Brasil. São Paulo: Editora 34, 1999. 240 p.
11
4D’ Adesky, Jacques. Pluralismo étnico e multiculturalismo: racismos e antirracismos no Brasil. 1ª Ed. 1ª Reimp. Rio de Janeiro: Pallas,
2005. in: NUNES: Érica melanie Ribeiro: Políticas Públicas e marcos legais para educação antirracista no Brasil: da Constituição de 1988 à
Lei 10.639/03.
12
direitos, como o artigo 3º que, em seu inciso IV indica como objetivo da República federativa
do Brasil “promover o bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação”. Devido às grandes expectativas por parte de
determinados grupos, em particular os minoritários, que tinham na confecção da Constituição
o marco simbólico da passagem de uma ordem antiga (ditadura civil-militar) para uma nova
ordem política (de viés democrático) que não somente lhes representaria, mas lhes permitiria
a inclusão no jogo das decisões políticas e de luta por direitos, havendo críticas contundentes
à mesma por parte desses grupos. A primeira delas evidencia que o processo teria sido muito
demorado, uma vez que a Constituição foi promulgada quase um ano após sua previsão. Outra
crítica diz respeito à extensão do texto constitucional, tanto em relação ao tamanho quanto em
abrangência (NUNES, 2014, p. 3). Uma das explicações para tal demora da promulgação foi a
atuação de diversos grupos com interesses distintos, cada qual pressionando os constituintes
para o atendimento de suas demandas. Outro fator a ser destacado foi a forma descentralizada
que se organizou a Assembleia Nacional Constituinte no início dos seus trabalhos. Apesar de
toda a extensão e abrangência do texto constitucional, as demandas do movimento negro
foram apenas parcialmente atendidas com a Constituição, sobretudo no que diz respeito às
reivindicações na esfera educacional.
O movimento negro, a partir de 1985, organizou encontros municipais e estaduais com
o objetivo de refletir a participação do negro no processo constituinte. Entre estes, destaca-se
o Primeiro Encontro Estadual “O negro e a constituinte”, realizado em julho de 1985 na
Assembleia Legislativa de Minas Gerais (RODRIGUES, p. 5). Essas reflexões prolongaram-
se por todo o ano de 1986, culminando com a realização em Brasília da Convenção Nacional
do negro pela Constituinte, com membros de mais de 60 entidades do Movimento Negro,
representando 16 estados da federação. Nessa convenção produziu-se um documento,
destinado aos constituintes, resultado dos encontros regionais ocorridos nessas unidades da
federação, com uma série de reivindicações. Dentre elas estavam: a criminalização do racismo
e a obrigatoriedade da inclusão nos currículos escolares de I, II e III graus, do ensino de
História da África e da História do negro no Brasil. Destas, apenas a primeira demanda foi
plenamente atendida na Constituição de 1988.5Torna-se imprescindível destacar que, no que
se refere à educação, uma das principais demandas do movimento negro no âmbito da
Subcomissão de negros, populações indígenas, pessoas deficientes e minorias6 era a de que a
5Rio de Janeiro: NUNES: Érica melanie Ribeiro: Políticas Públicas e marcos legais para educação antirracista no Brasil: da Con stituição de
1988 à Lei 10.639/03. (Pag. 3).
6Os trabalhos organizaram-se inicialmente em Subcomissões, que eram responsáveis pela preparação de anteprojetos básicos, esses eram
emendados e votado no âmbito das próprias subcomissões, em uma primeira etapa; na segunda etapa eram consolidados e novamente
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O quadro abaixo, proposto por Nunes, sintetiza as gradativas mudanças que foram
sendo impressas à proposta inicial:
Art. 4º A Educação dará ênfase à igualdade dos sexos, à luta contra o racismo e todas as formas de
discriminação, afirmando as características multiculturais e pluriétnicas do povo brasileiro.
Art. 5º O Ensino de “História das Populações Negras do Brasil” será obrigatório em todos os
níveis da educação brasileira, na forma que a lei dispuser.
Art. 85 O Poder público reformulará, em todos os níveis, o ensino de história do Brasil, com o
objetivo de contemplar com igualdade a contribuição das diferentes etnias para a formação
multicultural e pluriétnica do povo brasileiro.
votados em Comissões Temáticas e finalmente reunidos em um texto completo na Comissão de Sistematização. Só então o texto seria
apreciado, emendado, e se fosse o caso, votaod pelo Plenário da Assembleia Nacional Constituinte. In: RODRIGUES, Tatiane Cosentino:
Movimento negro, raça e política Educacional; GT: Afro-Brasileiros e Educação, nº 21. pag. 5.
14
Art. 242 O Ensino de história do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas
étnicas para a formação do povo brasileiro.
FONTE: RODRIGUES, Tatiane Cosentino: Movimento negro, raça e política Educacional; GT: Afro-Brasileiros
e Educação, nº 21. pag. 6.
brasileira. A nova LDB estabeleceu, em seu artigo 26º, que os currículos da educação básica
devem ter uma base nacional comum a ser complementada por uma parte diversificada,
conforme as características regionais da sociedade, da cultura, da economia e dos estudantes.
Dessa forma, ela permite a flexibilização dos currículos oferecendo autonomia às regiões e
permitindo que o conteúdo seja reestruturado de acordo com as demandas educativas
regionais. A base nacional comum, segundo a LDB, deveria ser composta pelo estudo de
Língua Portuguesa, Matemática, mundo físico e natural, realidade social e política, em
especial do Brasil, Educação Artística, Educação Física, e a partir da 5ª série uma Língua
Estrangeira Moderna. Estabeleceu também, a partir do artigo 26º, ínciso 4º, que
Dessa forma, tal como a constituição federal determinava, a LDB aponta que o ensino
de História do Brasil deveria levar em consideração as contribuições pluriétnicas na formação
do Brasil e nomeia aquelas a que se deve dar destaque.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB/1996) não contemplou as
reivindicações educacionais do Movimento Negro, como a inclusão da obrigatoriedade nos
currículos escolares de todos os níveis do ensino de História da África e da História do Negro
no Brasil; porém trouxe, observando sob outra perspectiva, o primeiro movimento no sentido
de afirmação, por parte da legislação educacional, de uma diversidade étnica e cultural
brasileira, ao afirmar que o ensino de História do Brasil deve primar por apresentar as
diversas contribuições étnicas e culturais do país. A obrigatoriedade do ensino de História da
África não estava posta na nova LDB, devido ao caráter flexível que o documento possuía,
particularmente na composição do currículo; entretanto as reivindicações de entidades
indígenas, de entidades negras e de intelectuais comprometidos com a diversidade e mesmo
de referências da historiografia crítica ao eurocentrismo não foram atendidas em sua proposta
essencial. Comprovando os pressupostos apresentados, Ubiratan Aguiar8, quando questionado
sobre a ausência da temática racial e da participação do movimento negro no processo de
elaboração e discussão da LDB, ressaltou:
8Coordenador da comissão suprapartidária que elaborou a proposta de texto para a educação, na Comissão de Sistematização da
Constituinte, depois foi presidente da Comissão de Educação e Cultura. Coordenador da discussão da LDB na Câmara dos Deputados.
16
Sob o ponto específico que você está ressaltando, o enfoque não é o da cor, o
enfoque é o da necessidade, você pode ser branco, negro, mameluco, índio
riquíssimo e isso não quer dizer que deva assegurar a ele uma cota para ingressar na
universidade, a cota deve ser a da competência, do conhecimento que seja dada pela
qualidade do ensino, seja público ou particular. A vertente é de um Brasil de
injustiça social, que poucos têm muito e muitos não têm nada. Por isso se há um
modelo de educação nacional, ele deveria ser retangular, quem ingressa deveria ter a
oportunidade de sair, e aí estão incluídas as minorias e a grande maioria dos que não
têm. (…). Nós nascemos de um caldeamento de raças, quem é que não tem um
sangue um pouco de português, de africano, de indígena, nós somos o produto do
caldeamento dessas raças, uns tão mais presentes na pigmentação da pele. Sobre o
movimento negro, olhe, eu sei que houve algumas manifestações, mas não
propriamente na área educacional, considerando essa questão lembro-me do
problema da educação indígena, esse eu lembro que houve uma presença muito forte
(entrevista com Aguiar, 2004).
Segundo Nunes, na fala de Aguiar “há alguns elementos que deixam latente qual a
concepção que orientou a formulação da lei de Diretrizes e Bases e a que se deve a recusa ou
reapropriação das propostas do movimento negro” (NUNES, 2014, p. 9)
9HERINGER, R. Promoção da igualdade racial no Brasil. Teoria e Pesquisa, nº. 42 e 43, p. 285-302, 2004. In: RODRIGUES, Tatiane
Cosentino: Movimento negro, raça e política Educacional; GT: Afro-Brasileiros e Educação, nº 21. pag.
18
Uma breve análise sobre a África, o negro e sua história na perspectiva do Livro
Didático
Convivendo com os bancos escolares desde 1982, ora como aluno, ora como
professor, é interessante perceber que a maneira como nos apresentam a
configuração social, étnica e cultural dos brasileiros enfatiza a ideia de que somos
frutos de um grande tronco europeu branco que recebeu alguns empréstimos
indígenas e africanos. Partindo desse princípio, seria preciso conceder ao estudo da
História europeia uma maior atenção e apenas dar breves e fragmentadas notícias da
História indígena e da África. Com relação a esta última, ela aparece muitas vezes
apenas como um apêndice passivo da história comercial europeia. Nem o Egito
parece ser africano. Temos certeza de que os reis europeus ou os feudos medievais
são muito mais brasileiros do que os reinos iorubás ou do Ndongo e as práticas
comerciais agrícolas ou de metalurgia de suas etnias, que, aliás, nunca nos foram
apresentadas na escola (OLIVA, 2004, 28)10
10OLIVA, Anderson Ribeiro. A África, o imaginário ocidental e os livros didáticos – Reflexões de uma pesquisa acerca do ensino de
História da África. In: ROCHA, Maria José & PANTOJA, Selma (ORG) - Rompendo silêncios: História da África nos currículos de
educação Básica.
19
11VIGORITO, Raquel Garcia. A lei nº. 10.639/03 nas escolas públicas na cidade de pelotas/RS –
www.ufpel.edu.br/cic/2008/cd/pages/pdf/CH/CH 01428. pdf 2008
12SILVA, Geovan João Alves da. Fórum para implementação da lei 10.639/03.
20
grande parte do material didático de História utilizado na rede básica de ensino não reservar
espaço adequado para a temática e, quando o faz, parte do pressuposto de que a história do
negro, principalmente o africano, só adquire forma a partir de seu sequestro e escravização
nas Américas, deixando-o a mercê do colonizador europeu, junto aos nativos americanos, ou
seja, a referência que surge a África, enquanto continente ocorre somente a partir do tráfico.
Acrescente-se ao que foi dito aqui a pouca literatura produzida e o pouco espaço
reservado no mercado editorial brasileiro, além das pouquíssimas especializações sobre o
tema. É como se o continente não tivesse uma história anterior à escravidão atlântica. Nesse
caso, a África é apresentada aos alunos separada em duas ou três faixas étnico-geográficas-
linguísticas de onde sairiam os escravos. A diversidade e complexidade dos povos africanos
ficam nubladas ao realizarmos este imperfeito fatiamento da África; os alunos, ao terem
contato com esta leitura reducionista, passam a reproduzi-la, transformando milhares de
grupos étnicos em outros dois - bantos e sudaneses. São poucos os autores que procuram
estabelecer uma outra divisão na qual, usando uma fusão de grupos linguísticos com espaços
físicos, optam por denominar as regiões do tráfico em África de Guiné, Costa da Mina e
Angola, de onde viriam os congos e angolas.
De forma parecida, quase não existem menções aos africanos ou às formas de
escravização usadas na África. Para muitos autores, somente os comerciantes portugueses,
espanhóis, ingleses e brasileiros fizeram parte das redes de lucro oriundas de tal atividade. A
participação dos africanos no comércio de homens é quase ignorada; quando procuram citar
os grupos e sociedades africanas estudadas, os autores utilizam uma difundida ideia entre
alguns historiadores que se serviram de padrões ou referências europeus para explicar o que
encontravam na África. Neste sentido, há uma busca pelos grandes impérios, as grandes
construções e as esplendorosas obras de arte, conforme o modelo eurocêntrico.
Há ainda, os capítulos que tratam da expansão marítima, onde o continente africano é
retratado como um obstáculo a ser superado para atingir o lucrativo mercado de especiarias do
Oriente, ora como uma fonte de riquezas naturais – ouro, marfim – ou oferta de mão de obra –
os escravos.
Outro problema comum é enfatizar apenas algumas regiões da África Ocidental ou
Central-Ocidental, ignorando outras regiões africanas. Nas descrições, os autores muitas
vezes, se prendem a imprecisões e simplificações. Ao invés de abordar, por exemplo, a
relevância da metalurgia, do domínio da grande agricultura e o circuito comercial que
envolvia as atividades econômicas. Os autores se limitam a ressaltar as dificuldades impostas
pelo meio geográfico e as grandes fomes e epidemias. Não que este quadro não existisse, mas
21
é preciso relevar também a outra face da capacidade dos africanos em dominar e utilizar o
meio.
No que se refere às religiões africanas, em nenhum momento os livros atentam para
uma abordagem explicativa da relação entre as diferentes percepções e definições daquilo que
os ocidentais chamam de Religião para as elaborações africanas sobre a questão. A literatura
existente sobre o pensamento tradicional religioso africano oferece um rico subsídio para este
debate, fundamental para relativizar o universo africano e demonstrar como suas estruturas de
explicação das relações sociais e de vida são diferentes das ocidentais.
22
CONCLUSÃO
13SANTOS, Elaine sasso dos. O Estado e a lei 10.639/05: Compensação ou reparação. Disponível em: Estudiosafricanos.cea.unc.edu,br.
2012.
23
inegável também que o preconceito existe, ainda que camuflado. Nesse sentido percebe-se
uma tentativa por parte do Estado de se redimir das injustiças ocorridas para com a população
negra. Já não bastasse mais de três séculos de escravidão, sua história ficou a parte dos
currículos, ou quando não, cheia de estereótipos e reducionismo a respeito dos povos negros
que para cá foram trazidos à força e do lugar de onde vieram. Este fato causou danos
profundos aos estudantes afro-descendentes que não se sentem representados na escola, na
literatura, no currículo. Nesse sentido “a lei 10.639/03 precisa ser cumprida porque é direito
de todas as etnias terem acesso ao conhecimento e saber sobre a história de todos os povos”
(SANTOS, 2012, p 144).
24
BIBLIOGRAFIA
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Caxambu, MG. Grupo de Estudos: Afro-brasileiros e a educação, nº 21. Disp. Em:
Anped.org.br.
SANTOS, Eliziane sasso dos. O Estado e a Lei 10.639/03: Compensação ou Reparação.
Disponível em: Estudiosafricanos.cea.unc.edu.br. Ano: 2012. acesso em: 14/04/2018, 16: 12.
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Disponível em: Revista Nera, Ano 14, Nº 19. Julho – Dezembro de 2011. ISNN: 1006-6755.
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Unisc.online.br. Acesso em: 14/04/2018, 16:45.