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O RESGATE E A VALORIZAÇÃO DA CULTURA E HISTÓRIA AFRO

BRASILEIRA

Lucilene Pereira da Silva

RESUMO

Este trabalho tem o objetivo de trabalhar a pluralidade cultural do nosso país, dando ênfase à
cultura afro-brasileira, pois os africanos, trazidos para o Brasil, vieram de diversas regiões da
África e trouxeram consigo suas diversidades culturais, o que tornou o Brasil um país
multicultural, por isso é necessário o conhecimento da história da África. Por meio de contos
oriundos da oralidade, faremos um auto reconhecimento da nossa história enquanto
afrodescendentes, os textos nos levarão a um mergulho no mundo imaginário das lendas,
fábulas e mitos, da África subsaariana cuja cultura ronda a história dos brasileiros, quer sejam
brancos ou negros. As atividades proporcionaram um debate sobre o ensino-aprendizagem da
leitura no Ensino Fundamental, no qual sondaremos o horizonte de expectativa de nossos
alunos para que haja a ampliação e ruptura desse horizonte de expectativas inicial.

Palavras-chave: Contos africanos. Cultura afro-brasileira. Literatura. Oralidade.

1 INTRODUÇÃO

O projeto foi aplicado aos alunos do 8º ano do Ensino Fundamental do


Colégio Estadual Hermínia Lupion, localizado à rua Antônio Rosa, número
1228, em Ribeirão do Pinhal – PR. Como resposta inicial à implementação do
projeto, percebemos o contentamento dos estudantes por serem escolhidos. O
projeto tem por objetivo conhecer as práticas de comunicação oral, leitura e
escrita de contos africanos, visando à construção da história literária brasileira.
Fazendo-se necessário analisar a lei 10.639/03, cujo objetivo é a
obrigatoriedade do ensino da História e Cultura afro-brasileira e africana no
ensino fundamental e médio, ainda experenciamos a dificuldade de muitos
educadores em implementá-la.
Trabalhar contos africanos é uma maneira de por em prática a lei
10.639/03 e de compreender a importância da tradição oral nas comunidades
africanas, como fonte de saberes e fazeres. A literatura oral tem um papel
muito importante na preservação da cultura.
Os contos africanos, como conteúdos educativos ou recreativos, têm o
poder de brincar com o imaginário dos leitores, levando-os ao mundo dos
mitos, sobrenatural, magias e de aventuras ora alegres, ora tristes, lembrando
que a vida pode ser experimentada de diversas maneiras, especialmente, por
meio da contação de histórias, há muito esquecida.
Por meio do trabalho com os contos africanos, espera-se que todos os
alunos, negros ou brancos, conheçam a história de seus ancestrais e
suas contribuições, histórica, política, social e cultural para formação da
história deste país, e sintam-se orgulhosos de seu pertencimento racial e,
desta maneira, possam construir uma visão de identidade negra mais positiva.
É importante que os alunos, desde o ensino fundamental, saibam que
existem outras histórias, além das contadas nos livros didáticos, pois essas
mostram apenas uma parte da história, ou seja, a do povo africano
escravizado. Mostrar somente essa faceta dos fatos é negar aos nossos alunos
o direito de conhecer a história de luta, coragem e glória de seu povo.
Neste projeto será trabalhado o conto „‟O Natal de Nkem‟‟ (o menino rei)
do autor Nigeriano Sunday Ikechukwu Nkeechi, mais conhecido como
Sunny. No conto é possível identificar a presença de um importante Griot que
acrescenta novos valores à cultura nigeriana.
É fulcral ressaltar o valor da figura dos Griot ou Griottes para a tradição
oral, pois constituem os guardiões da memória, os responsáveis
pela manutenção da história e da cultura do povo africano.
A proposta deste trabalho, portanto, é levar à escola a literatura que
valoriza a diversidade étnica e cultural afro-brasileira e africana, com vistas a
conscientizar docentes e educandos da imprescindibilidade de tais conteúdos à
constituição do brasileiro, além de ser uma ótima alternativa para se atender,
eficazmente, a lei 10.639/03.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 HISTÓRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA

O Brasil é um país onde se pode dizer “há mais africanos vivendo fora
da África” (divulgação EBC). A África é o mais antigo continente ocupado pelos
seres humanos, por isso é denominado o „„berço da humanidade”, ainda, é
responsável pela origem dos saberes de grande parte das populações
humanas.
Para termos uma história brasileira ampla e justa é necessário imergir na
história e na cultura africana. As primeiras culturas agrícolas e pastoris tiveram
um importante desenvolvimento em solo africano. As culturas, manufaturas e
as artes também foram intensamente processadas pelos diversos povos
africanos. No campo da filosofia, da matemática e da cultura letrada, a África
precede outros continentes com seu rico acervo (CUNHA Jr, 2008).
Não podemos falar em história da África sem citar o historiador do
Senegal Anta Diop. Diop fala da unidade cultural africana na diversidade. Isso
significa que existem eixos norteadores do conhecimento, da história e da
cultura africana, que dão significados à unidade cultural africana.
A unidade territorial e histórica africana é importante para interligarmos a
história africana às histórias de outros povos. A ideia de Europa como
civilização ocidental tem seu nascedouro cultural nas tradições, costumes e
crenças africanas (BECKER,1967).
As culturas africanas tiveram grande influência na formação cultural
brasileira e a diversidade de escravos (cinco milhões de escravos) trazidos ao
Brasil reflete diretamente a variedade de povos existentes na África.
Muitos são os aspectos nacionais que sofreram influência africana no
país, destacam-se, dentre outros, o candomblé, religião afro-brasileira
caracterizada como culto aos orixás, a capoeira, uma dança luta praticada
pelos antigos escravos, a culinária, com vários temperos e pratos típicos como
caruru, vatapá e acarajé. Na música quase todos os estilos brasileiros
apresentam os ritmos africanos, como: maxixe, choro, bossa-nova e o samba.
Na dança, o samba é a maior expressão da cultura afrodescendente, mas há
ainda outros estilos musicais vigentes em diversos países americanos, como:
blues, jazz, reggae, salsa e rumba. A língua é outro ponto importante a ser
observado, pois dentre os oito países que tem a língua portuguesa como
oficial, fora o Brasil e Portugal, seis são países africanos: Angola, São Tomé e
Príncipe, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, Timor Leste.
Diversos termos que utilizamos com frequência em nosso vocabulário
são originários do continente africano como: muvuca, dendê, bagunça, caçula,
pinga e muitos outros.
A palavra falada, para os povos africanos, possui uma energia vital,
capaz de criar e transformar o mundo e de preservar os ensinamentos. A fala,
tradição oral, está relacionada ao modo de vida interativo do africano.
Segundo J. Vansina (1994 apud Cadernos Temáticos, 2008), nas
sociedades africanas reconhece-se a fala não apenas como uma forma de
comunicação cotidiana, mas também como uma forma de preservação da
sabedoria, por meio daquilo que chamamos de tradição oral. A tradição, nesse
caso, é entendida como um testemunho transmitido verbalmente de uma
geração a outra.

2.2 A LEI 10.639/03

A proposta da lei de inclusão da História Africana e Afrodescendente, lei


10.639/03, é ampla em seus aspectos sociais e necessária, a fim de haver um
justo reconhecimento dos diversos fatores da participação de africanos e
afrodescendentes na história do Brasil.
Ao compreender a dimensão dessa história, percebe-se o quão se
tornam elementos fundamentais para nossa formação cultural (CNE/CP-2004).
A escola sempre teve dificuldade em trabalhar a pluralidade e as
diferenças étnicas e sociais, talvez, por isso, que, ainda hoje, em pleno século
XXI, há dúvidas sobre o valor e a importância do „‟negro‟‟ para a formação da
história do Brasil. Urge trabalhar a história dos negros do ponto de vista político
social e histórico, como povos que deram origem à humanidade e ainda
contribuíram para a formação cultural brasileira.
Essa dificuldade incorre em abordagens educativas equivocadas ou
limitadas, com ações docentes que culminam no ensino da história e da cultura
afro-brasileira de maneira fragmentada, apenas como folclore, ou algo
imaginário, para ser apresentado, unicamente, no dia da „‟Consciência Negra‟‟.

É nesta perspectiva de desconstruir estereotipo que devemos mostrar


aos nossos alunos, quer sejam negros ou brancos, que existe uma
Lei a ser cumprida e respeitada, pois foram graças há anos de lutas,
dos movimentos Negros organizados, que hoje podemos discutir essa
temática. A Lei 10.639 de 9 de janeiro de 2003, às vezes ignorada
pela própria escola. em seu Art. 26-A Torna obrigatório o
Ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira que estabelece as
diretrizes e bases da educação nacional para incluir no currículo
oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da Temática „‟História e
Cultura afro-brasileira‟‟ (CADERNOS TEMÁTICOS, 2008, p.13).
Compreendendo que a função social da escola é a transmissão de
conhecimentos construídos historicamente, trabalhar a implementação da lei
10.639/03 nas escolas é garantir aos alunos negros e afrodescendentes o
direito de fazer valer o que diz a Deliberação do Conselho Estadual de
Educação que delibera:

Art. 1º. A presente Deliberação institui Normas Complementares às


Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações
Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e
Africana, a serem desenvolvidas pelas instituições de ensino públicas
e privadas que atuam nos níveis e modalidades do Sistema Estadual
de Ensino no Paraná.
§ 1º A Educação das Relações Étnico-Raciais tem por objetivo a
divulgação e produção de conhecimentos, assim como de atitudes,
posturas e valores que preparem os cidadãos para uma vida de
fraternidade e partilha entre todos, sem as barreiras estabelecidas por
séculos de preconceitos, estereótipos e discriminações que
fecundaram o terreno para a dominação de um grupo racial sobre
outro, de um povo sobre outro.
§ 2º O ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana tem por
objetivo o reconhecimento e valorização da identidade, história e
cultura dos afro-brasileiros, bem como a garantia de reconhecimento
e igualdade de valorização das raízes africanas da nação brasileira,
ao lado das indígenas, europeias e asiáticas (DELIBERAÇÃO N.º
04/06)

A Educação das relações Étnico-Raciais tem por objetivo a divulgação e


produção de conhecimentos, assim como atitudes, posturas e valores que
preparem os cidadãos para uma vida de fraternidade e partilha entre todos,
sem barreiras estabelecidas por séculos de preconceitos, estereótipos e
discriminação que fecundaram o terreno para a dominação de um grupo racial
sobre o outro, de um povo sobre o outro.
Sabe-se que a educação dissemina a cultura, por isso não podemos nos
esquecer que o Brasil é um país multicultural e que é muito importante, neste
momento da história, mostrar aos nossos alunos que há várias maneiras de se
contar a história do país.
O Caderno Temático „‟Educando para as relações étnico-raciais‟‟ (2008,
p. 89) mostra a importância da cultura da identidade e da história da África, a
partir da perspectiva africana, ou seja, mostrando que os saberes culturais e
históricos estão interligados. Nós, educadores, devemos oportunizar aos
alunos contato com diversas expressões culturais afro-brasileiras, visando
tornar a escola um espaço aberto à diversidade.
2.3 CULTURA POPULAR E ORALIDADE

Podemos chamar de cultura popular as manifestações dos costumes,


crenças e atividades artísticas produzidas pelo povo e passadas livremente de
geração a geração. A contação de história é um exemplo desta manifestação
popular, muitas vezes olvidada, mas a escola tem o poder de resgatá-la.

A diversidade histórica e cultural do povo brasileiro, suas cores e


suas nuances permite que teias sejam tecidas através de discussões,
debates e reflexões no estudo da literatura afro-brasileira e africana
com objetivo de eliminar as leituras de diferentes e exóticos sobre os
biótipos brasileiros e africanos. Novas histórias deverão ser contadas
e sobre os mais variados prismas num constante criar e recriar de
diferentes pontos de vistas fornecendo assim elementos que
possibilitam uma visão diferente sobre “o eu e o outro” (ABDALA,
2006, p.19).

Conceição Evaristo disse em uma entrevista a Edmilsom Almeida


Pereira (2010): “eu não nasci rodeada de livros, nasci rodeada de palavras”. A
escritora, na mesma entrevista, afirmou que ouvir as histórias de sua mãe foi
decisivo para despertar em si o gosto de contar histórias, que a experiência
oral, em família, influenciou seu processo de criação literária e a inspirou a lidar
com as palavras.
Essa experiência é reafirmada quando lemos na introdução do Caderno
Temático de Apoio à Prática Pedagógica- contos africanos- Prefeitura de
Salvador, que a palavra tem poder e o poder da palavra garante e preserva
ensinamentos, uma vez que possui força vital para a capacidade criadora e
transformadora do mundo.
Na cultura africana a fala ganha força, forma e sentido, significado e
orientação para a vida. A palavra é vida, é ação, é jeito de aprender e ensinar.

2.4 LITERATURA

A Literatura é uma das manifestações culturais mais presentes na


escola, por meio dela é possível nos integrar no tempo, no espaço, nas
tradições de um povo.
De acordo com Edmilsom de Almeida Pereira (2010), em seu
livro‟‟ Malungos na Escola: questões sobre culturas afrodescendentes e
educação:

A Literatura Negra ou Afro-brasileira é também Literatura Brasileira,e


na medida que estas linguagens literárias dialogam ou entram em
conflitos, permitem a expressão das múltiplas vozes que constituem
nossa sociedade.(PEREIRA, 2010,p.188).

Segundo Pereira, o professor deve estar sempre alerta ao tipo de leitura


que está sendo levada à sala de aula. Em se tratando das culturas africanas e
afro-brasileiras, o mercado vem oferecendo materiais excelentes que atendem
as exigências da lei 10.639/03. Segundo Conceição, talvez, até mais que a
História, a Literatura vem sendo, mais contemplada cujas obras vão ao
encontro do que estipula a lei, uma vez que os textos literários primeiramente
atingem a emoção do sujeito, permitindo ir muito além da mera introdução dos
temas das culturas africanas e afro-brasileiras nas escolas. Nesse sentido, a
literatura propicia a assunção e o respeito por uma afro-brasilidade tanto para o
aluno como para o professor e, ainda, permite o reconhecimento da nossa
identidade nacional.
Nessa perspectiva, ressaltamos o valor da Literatura Oral que retrata o
que temos de mais importante dentro dos costumes africanos: a formação de
consciências. A literatura oral pode ser vista como fonte de saberes,
ensinamentos, tradições, conhecimentos e cultura. Por meio dela, de geração a
geração, obtivemos os valores para o nosso autoconhecimento e
compreensão das nossas tradições.

A história e a memória de diversos povos africanos fazem parte da


cultura brasileira, principalmente as relacionadas à literatura oral de
lendas, contos e mitos. Assim, trazer contos africanos para a sala de
aula é uma forma de resgatar tradições já esquecidas como a
contação de histórias, por exemplo. Para a cultura africana, as
palavras têm poder e ignorá-las é considerado uma falha grave, pois
é por meio das palavras que um mestre contador de histórias valoriza
a cultura de seu povo e ensina seus ouvintes sobre os mais diversos
assuntos (SOLLER-POINT, 2009, p.15).

No livro Contadores de Histórias: um exercício para muitas vozes, de


Benita Pietro, citado por Barbosa (2011), observa-se que a matriz africana
mantém parte de sua essência graças à tradição de contar e vivenciar histórias
míticas. As histórias brasileiras, as danças, as canções e os saberes
tradicionais têm uma grande influência da “Mãe África”. Neste aspecto, os livros
destinados aos mais jovens têm o papel fundamental de contribuir para que a
criança sinta-se orgulhosa de pertencer a uma cultura, seja ela qual for, de
aprender a respeitar as diferenças, contribuições e valores de sua própria
comunidade e também de outros povos.
Para Rogério Andrade Barbosa (2011), as palavras e as ilustrações de um
livro são como um espelho e se a pessoa não vê sua imagem refletida, pode se
sentir desinteressada e desmotivada e sua autoestima é afetada.

2.5 CONTOS

Segundo Machado (2007), contar mitos em muitos lugares da África faz


parte do jeito de educar a criança que mesmo antes de ir à escola, aprende
sobre a história de sua comunidade, os acontecimentos passados, valorizando-
os como novidade. Os mitos de matriz cultural evidenciam valores de
convivência e solidariedade.

O conto é um relato que encerra um relato secreto. Não se trata de


um sentido oculto que dependa de interpretação: o enigma não é
outra coisa senão uma história contada de um modo enigmático. A
estratégia do relato é posta dessa narrativa cifrada (PIGLIA, 1999, p.
91).

Podemos afirmar, então, que o conto é um transmissor de valores


tradicionais. Na África, desde sempre, os contos e as lendas passaram de
geração a geração, ao longo dos séculos, sem serem escritos.
Osgriots (espécie de músico e poeta da África Ocidental, que conserva e
transmite a memória oral) os contavam, os pais e os avós decoravam-nos e
continuavam a transmiti-los aos mais jovens. Ainda hoje, como diz Anna Soler-
Pont (2009, p. 04) na apresentação do livro O Príncipe Medroso e Outros
Contos Africanos "contar contos nas praças dos povoados, nos pátios das
casas ou embaixo de uma árvore numa escola rural ainda é uma atividade
comum em muitos rincões do continente africano. E os contos continuam muito
vivos e mutantes. A mesma história pode ter muitas versões, dependendo de
onde é contada e de quem a conta!"
Pelo conto é possível relatar, perpetuar e passar adiante nossas
histórias. Nele, geralmente, narra-se um fato inusitado, ou seja, que não é
comum, mas que pode ocorrer nas vidas das pessoas. Por isso, atrai leitores
de todas as idades e níveis intelectuais. Sua linguagem é simples, direta e
dinâmica. Daí a escolha do gênero conto para alunos do oitavo ano, por ter um
número razoável de personagens, ser uma narrativa linear e curta no tamanho
e no tempo e ser uma narração breve, com foco em determinado
acontecimento.

O conto é um vértice de ângulo dessa memória e dessa imaginação.


A memória conserva os traços gerais, esquematizadores, o
arcabouço do ofício. A imaginação modifica, ampliando pela
assimilação, enxertias ou abandono de pormenores, certos aspectos
da narrativa. O princípio e o fim das histórias são as partes mais
deformadas na literatura oral. (CASCUDO, 2003, p. 12).

Os Contos Africanos serão estudados como um recurso de resgate da


cultura, uma vez que eles permitem compreender a forma de vida dos povos
africanos ao apresentar a língua, a religião e os valores locais, bem como suas
origens, muitas vezes implícitas em suas histórias. Além disso, tais narrativas
permitem conhecer as cantigas, danças e línguas de um grupo étnico, a
geografia local, os costumes, suas percepções sobre o mundo e as histórias de
vida dos habitantes, dentre outros aspectos.
Cascudo (2003, p.12) afirma que “o conto popular revela informações
históricas, etnográficas, sociológicas, jurídica, social. É um documento vivo,
denunciando costumes, ideias, mentalidades, decisões e julgamentos”. Dessa
forma, faz-se necessário desenvolver propostas de trabalho por meio de
metodologias e ações de ensino relacionadas aos contos africanos no contexto
escolar, pois as histórias estão presentes em muitas culturas há muito tempo,
inclusive na brasileira.
Contar histórias é a mais antiga das artes e o hábito de ouvi-las e de
narrá-las gera inúmeros significados, incorrendo no desenvolvimento da
imaginação, da capacidade de ouvir o outro e de se expressar, da construção
de identidade e cuidados afetivos, além do saber que transmitem.
Conforme dissemos anteriormente, as antigas sabedorias dos povos
africanos vêm sendo contadas de boca em boca por sucessivas gerações,
especialmente, nas figuras dos Griots.
Segundo Mello (2009), o termo Griot na cultura africana significa
contador de história, função designada ao ancião de uma tribo, conhecido por
sua sabedoria e transmissão de conhecimento. O contador de história é uma
figura presente na África tribal que percorre a savana para transmitir oralmente
ao povo os fatos de sua história. Os griots são agentes responsáveis pela
manutenção da tradição oral dos povos africanos, essa é contada, cantada e
dançada através dos mitos e das lendas.
Cada país, cada povo, cada região tem suas tradições, seus costumes,
sua cultura. As histórias, lendas, danças, artes e a maneira de viver de um
determinado grupo social é o que chamamos de cultura popular. As lendas e os
contos africanos cruzaram os mares e chegaram ao Brasil.
A figura do griot, griotte ou doma tem muita importância na conservação
da palavra, da narração do mito, da magia e das tradições culturais da
comunidade africana. O propósito maior é destacar a importância de se
transmitir aos jovens valores fundamentais de respeito aos antepassados, à
natureza, aos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade.
Pelo fato dos griots serem considerados os guardiões da memória
coletiva e da história de muitos povos africanos, é costume dizer entre eles:
“Na África quando morre um ancião é uma biblioteca que desaparece”
(Amadou Hampaté-Bâ).
Para Soller-Point (2009) a tradição oral do continente fez com que os
contos e as lendas fossem disseminados e permanecessem através dos
séculos, sem serem escritos. Os griots contavam aos pais, mães, avôs e avós
que os decoravam e continuavam a transmiti-los aos mais jovens. Só no final
do século XIX e início do século XX é que se começou a registrar por escrito a
mitologia e os contos da África na forma de livros.
Mesmo hoje, contar contos nas praças e povoados, nos pátios das
casas ou embaixo de uma árvore numa escola rural ainda é uma atividade
comum em muitos rincões do continente africano. Os contos continuam bem
vivos e mutantes. A mesma história pode ter diversas versões, dependendo de
onde, como e de quem a conta.
3 METODOLOGIA

A implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica - PDE teve


como público alvo 30 alunos do 8º ano do Ensino Fundamental, no turno da
manhã, do Colégio Estadual Hermínia Lupion - E.F.M.P, localizado à rua
Antônio Rosa, Centro Ribeirão do Pinhal -PR, no primeiro semestre letivo de
2017. Iniciou-se em fevereiro a pesquisa sobre a origem étnica dos alunos e a
sua história de vida e, em seguida, aplicou-se um questionário sobre a África
para verificar quais eram seus horizontes de expectativa. Para a divulgação
coletiva no Colégio foi organizado um momento da semana pedagógica para
informações sobre o Projeto, sobre seu desenvolvimento, objetivo e
aplicabilidade. As ações programadas começaram a ser aplicadas em março. A
última atividade foi realizada no mês de julho.
A biblioteca do Colégio Estadual Hermínia possui, em seu acervo,
pouquíssimos livros que contemplam o trabalho com Contos africanos, por
isso realizou-se uma pesquisa na biblioteca de outras escolas estaduais e
municipais, todos os livros utilizados nesse projeto nos foram emprestados por
outras instituições, assim todos os alunos envolvidos tiveram um exemplar
para a leitura.
Os encaminhamentos metodológicos seguiram os princípios da
oralidade, tendo as histórias como pano de fundo para o conhecimento da
história cultura africana. Para o desenvolvimento do projeto, trabalhou-se de
acordo com a seguinte metodologia: - Exposição do projeto aos pais,
professores e funcionários; - Intervenção, a partir da contação de história, de
modo a implementar a proposta da lei 10.639/03 - Elaboração de cartazes,
desenvolvimento de receitas culinárias, oficina com argila, confecção da árvore
genealógica de cada aluno e a compilação das atividades em um material para
divulgação.
Com vistas à formação de um leitor competente, a teoria da Estética da
Recepção (Jauss, Iser) centra estudos na compreensão do leitor que recebe a
obra, analisa-a e a torna viva. A partir dela, foram desenvolvidos estudos em
torno da reflexão sobre as relações entre narrador-texto-leitor.
No Brasil, as professoras Maria da Glória Bordini e Vera Teixeira Aguiar
(1993) propuseram o Método Recepcional para o Ensino-aprendizagem de
Literatura, no qual o professor, considerando a realidade vivida pelos alunos,
organiza seu trabalho em cinco etapas:
 Determinação do horizonte de expectativas, a fim de prever estratégias
de ruptura e transformação do mesmo;
 Atendimento do horizonte de expectativas, proporcionando à classe
experiências com os textos literários que satisfaçam suas necessidades;
 Ruptura do horizonte de expectativas, com a introdução de textos e
atividades de leitura que abalem as certezas e costumes dos alunos;
 Questionamento do horizonte de expectativas, com a comparação entre
as duas questões anteriores;
 Ampliação do horizonte de expectativas, com os alunos tomando
consciência das alterações e aquisições, obtidas através da experiência
com a literatura.
O Método Recepcional, atrelado ao ensino da Historia e Cultura Africana
e Afro-brasileira, contempla cinco passos básicos. O primeiro passo é “a
determinação do horizonte de expectativas”. Nessa etapa, o professor faz um
levantamento das vivências do aluno e suas preferências. Deve-se iniciar com
um texto que contemple o interesse dos alunos, neste momento se dá a
recepção do texto e seu reconhecimento, assegurado pela relação dialógica
estabelecida entre autor, obra e leitor.
Segundo, Bordini e Aguiar (1993, p.88), “às estratégias de ensino, que
deverão ser organizadas a partir de procedimentos conhecidos dos alunos e de
seu agrado”.
Para tanto, será elaborado e aplicado um questionário impresso com
perguntas sobre as origens dos estudantes, suas descendências e tradições
culturais e como se considera com relação à cor da pele e características
físicas. Além disso, o que conhecem sobre os termos: racismo, autoestima,
democracia racial, discriminação racial, biótipo, resistência negra, África e
consciência negra.
Para completar essa etapa haverá uma enquete, com cinco tópicos: 1)
indagar como eles se consideram em relação à cor da pele; 2) relatar sua
origem familiar; 3) definir etnia pelas características físicas; 4) indicar os
momentos, no contexto brasileiro, quando a cor da pele ou a etnia influencia a
vida das pessoas; 5) indicar as influências culturais.
O segundo passo do Método Recepcional é “o atendimento do horizonte
de expectativas”: Essa etapa é um pouco mais longa e os textos apresentados
aos alunos devem vir ao encontro do conhecimento já construído e da visão de
mundo alicerçada. Nesse momento, o aluno fará uma leitura rápida,
apreendendo sobre as significações explícitas do texto.
Para Bordini e Aguiar, uma vez detectadas as aspirações, valores e
familiaridades dos alunos com o tema proposto, a etapa seguinte consiste no
atendimento do horizonte de expectativas, ou seja, proporcionar à classe
experiências com os textos visuais/literários que satisfaçam as suas
necessidades em dois sentidos.
Primeiro, quanto ao objeto, uma vez que os textos escolhidos para o
trabalho em sala de aula serão aqueles que correspondem ao esperado.
Segundo, quanto às estratégias de ensino, que deverão ser organizadas a
partir de procedimentos conhecidos dos alunos e de seu agrado (BORDINI e
Aguiar, 1993). Nessa etapa, após a leitura dos textos, será promovido o debate
sobre o(s) tema(s).
Em um primeiro, momento é necessário um questionamento oral com os
alunos sobre o que eles sabem a respeito do continente africano, que história
da África conhecem, quais contos africanos já leram e o que pensam sobre
essas narrativas.
Em outro contato com os alunos, selecionaremos alguns contos
africanos para que realizem uma leitura mesmo que superficial dos textos. Por
meio dos questionamentos, poderemos perceber quais são seus horizontes de
expectativas, para isso, foram necessárias várias intervenções sobre o que
sabiam da África, sua cultura, história e identidade. A concepção de África não
é equivocada apenas para os brasileiros, mas para muitos povos em todo o
mundo. Porém, não podemos nos esquecer de que a história do Brasil passa
pela história da África. Por isso, haverá trabalho com vídeos, cartazes,
maquetes e textos literários para fomentar debates críticos e a percepção da
proposta deste projeto.
Trabalhar com a leitura de contos, quer em sua fase escrita ou oral,
requer as mesmas habilidades. A leitura do conto O natal de Nkem permitirá
descobrir vários elementos da cultura africana, além das características formais
do próprio gênero.
Quando falamos de leitura de contos brasileiros ou africanos estamos
falando também de cultura popular, portanto não podemos nos esquecer dos
artistas populares. Eles, por meio de sua arte, nos levam ao mundo da
contação de histórias reais ou imaginárias como se fossem “Griots da
modernidade” podem ser identificados com os Repentistas e os Rapper.
Com a intenção de criar um clima de magia, levaremos algumas músicas
de rap e hip hop, ritmos mais próximos da realidade destes alunos e, ainda,
haverá o contato inusitado com uma contadora de história e poetisa popular,
que mora no patrimônio Triolândia, próximo a Ribeirão do Pinhal. Desse modo,
pretendemos ampliar o horizonte de expectativa dos alunos a respeito do valor
e relevância da cultura africana e afro-brasileira na identidade dos brasileiros.

4 RESULTADOS

As atividades realizadas foram desenvolvidas de acordo com Método


Recepcional de Bordini e Aguiar procurando atender as cinco etapas do
Horizonte de expectativa dos alunos.
1º Momento: Determinação do horizonte de expectativa, quando é
importante saber o que os alunos trazem de bagagem para realização das
atividades. Realizou-se uma sondagem através de questionários, escritos e
perguntas feitas oralmente sobre suas histórias, costumes e tradições. Logo
após, houve uma produção de texto “História de Vida”, tal produção foi ilustrada
com a árvore genealógica dos alunos. Ainda, nesse mesmo momento, houve a
aplicação de outro questionário como sondagem sobre o conhecimento que os
alunos tinham sobre a África. Para, em seguida, haver a contextualização
histórica e geográfica da África, com mapas, vídeos sobre as rotas do tráfico
negreiro entre países africanos e regiões brasileiras para as quais foram
destinados; dando ênfase à África subsaariana (região de onde foram trazidos
os negros para serem escravizados no Brasil). Houve a apresentação do vídeo
África de A a Z , com o intuito de desmistificar a imagem de uma África
selvagem e primitiva. Fez-se a apresentação da Lei nº 10.639/03, com foco no
objetivo pelo qual se torna obrigatório o ensino de história e cultura afro-
brasileira nas escolas, e o papel fundamental dos Movimentos Negros
Organizados para a criação e promulgação da Lei.
Houve a apresentação pela professora do conto ”Bruna e a Galinha
d‟angola‟‟, de Gercilda de Almeida, o trabalho de pesquisa sobre a bandeira e o
aspecto geográfico de Angola, a confecção da galinha de angola de argila.
2º Momento: Atendimento do horizonte de expectativa, momento de
proporcionar ao aluno a experiência com textos que venham ao encontro dos
seus anseios. O texto escolhido partiu da estratégia do conhecimento sobre os
interesses dos alunos. Fez–se a leitura do conto “As Panquecas de Mama
Panya”, de Mary e RichC hamberlin.
Nesse conto podemos observar muitas palavras diferentes do nosso
vocabulário, por se tratar de vocábulos próprios do Quênia. Os alunos também
puderam desenvolver a receita de panqueca sugerida pelo livro. Ainda, no
gancho da culinária, foi pesquisado e trazida à discussão o tema: “Feijoada,
prato afro-brasileiro ou não?” Após a discussão sobre o que é mito e verdade
sobre essa iguaria, todos puderam perceber, através da leitura, a crença,
saberes e sabores da cozinha africana e afro-brasileira para, em seguida,
degustarem esse prato, tão comum em nossa cultura.
3º Momento: Ruptura do horizonte de expectativas, com a finalidade de
surpreendê-los com atividades que abalem as certezas e os costumes e
rompam com as expectativas iniciais dos alunos. Primeiramente, alguns
membros da comunidade de Ribeirão do Pinhal contaram-nos algumas
histórias de festas tradicionais no município de Ribeirão do Pinhal, como a
Festa de Reis, realizada todos os anos no dia 6 de janeiro no bairro Jacutinga.
Essa festa teve sua origem no Congo, África, por isso, em muitos lugares, ficou
conhecida como “congada”. Nesse momento foi introduzido, para leitura, o
conto “O Mito Chico Rei”.
Um outro professor, mestrando no curso de história da África nos
relatou a criação do mundo na perspectiva da gênese africana. Todos ficaram
encantados com o clima de magia que se criou no ambiente, estavam
presentes alunos, professores e funcionários, todos hipnotizados pelo modo
como o professor Juscelino conduzia sua narração.
Encerrada essa parte do trabalho, a proposta para os alunos foi realizar
uma atividade na qual passariam de simples leitores a contadores de histórias.
Nessa atividade, o aluno leitor ficou à vontade para trabalhar o caráter artístico
e estético do texto. Para esse trabalho foi escolhido o livro “Sikilume e outros
contos africanos”, de Júlio Emilio. Nele, cada conto nos remete ao mundo de
magia, suspense e encantamento. A sala foi dividida em sete grupos, cada
grupo fez a leitura de um dos contos do livro. Para que isso acontecesse, foram
utilizadas cópias dos contos, já que não possuímos um exemplar para cada
aluno. Após a leitura, foi organizado, pelos próprios alunos-leitores, uma roda
de contação de histórias, onde cada grupo pode contar sua história aos
demais, assim, todos tomaram conhecimento sobre todos os contos que o livro
traz.
4º Momento: Questionamento do horizonte de expectativas, essa foi a
fase na qual os alunos fizeram análise e reflexão dos textos trabalhados
anteriormente. Após analisar quais exigiram mais reflexão para suas
descobertas, todos assistiram ao vídeo Cultura afro-brasileira. A abordagem foi
sobre as culturas afro-brasileiras mostradas no vídeo como: a culinária, vista
anteriormente, a dança, a música, a religião, o folclore e outros aspectos. Os
questionamentos a respeito das imagens do vídeo foram feitos oralmente. Para
sintetizar a discussão acerca da cultura afro-brasileira, foi apresentado aos
alunos o conto do Zimbábue “Nyagara Chena- a cobra curandeira”, de Rogério
Barbosa. Os enigmas encontrados no texto (como o número de criança
encontrada na história, ou o número de vezes que a canção era repetida) foram
comparados à lenda da ”Velha Bruxa” que também faz referência à
numerologia (a sétima filha tem que ser batizada pela primeira para que não
vire bruxa). Também, a história da “ Mula sem cabeça ( uma mulher que, como
castigo por se apaixonar por um padre, se transforma em uma mula com fogo
no lugar da cabeça) e outros mitos do folclore brasileiro foram comparados ao
conto Nyagara Chena – a cobra curandeira. Por fim, os alunos pesquisaram
sobre as tradições do povo do Zimbábue. Os trabalhos dos alunos foram
expostos nos corredores do Colégio durante uma semana.
5º Momento: Momento de Ampliação do horizonte de expectativas,
onde os alunos puderam perceber que “ a leitura não se esgota na sala de
aula”, mas que por meio dela é possível adquirir conhecimentos e experiências
que o ajudarão na vida.
Para essa fase da leitura foi apresentado aos alunos um conto do autor
nigeriano Sunday Ikechuwu Nkeechi, “O Natal de Nkem”. Nele, o autor narra
como o natal chegou à África. Sunny busca resgatar uma história que compõe
sua infância no interior da Nigéria.
A partir da leitura da obra e discussão sobre o autor do texto, pode-se
iniciar uma pesquisa sobre a Nigéria registrada em uma ficha com dados
geográficos e políticos do País, além do trabalho realizado pelos alunos, sobre
a bandeira da Nigéria, especialmente, o significado de suas cores.
A leitura desse conto, também, nos levou à reflexão acerca das religiões
africanas. Por meio da pesquisa, pode-se aprender que há muitas religiões na
África, com destaque para o islamismo e cristianismo, bem como as religiões
tradicionais, voltadas aos cultos aos orixás. Tais informações foram
compartilhadas com os demais alunos de outros anos, que juntos encenaram
uma peça sobre a mãe de Jesus com o canto “Negra Mariama”. A peça será
apresentada na Casa da Cultura na Mostra Cultural na Semana da Consciência
Negra, realizada todo ano pela Equipe Multidisciplinar do Colégio Estadual
Hermínia Lupion de Ribeirão do Pinhal.
Os alunos fizeram uma autoavaliação de sua participação nas aulas e,
também, reproduziram uma cartilha com todas as informações referentes ao
trabalho realizado em sala de aula. Esse material foi distribuído nas escolas
municipais e estaduais de Ribeirão do Pinhal.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho apresentado procurou desenvolver atividades para “O


Resgate e a Valorização da Cultura Afro-brasileira e Africana” e, para tanto,
focaram-se contos africanos, por meio dos quais pode-se viajar por vários
lugares da África, mais precisamente, da África subsaariana, ou África Negra,
como muitos a chamam, dando preferência às regiões de onde vieram os
negros que foram escravizados no Brasil. Essa região, hoje, consiste em
Nigéria, Quênia, Angola, Congo.
Através dos contos, desses países, foi possível ampliar os
conhecimentos dos alunos e, também, descontruir a imagem negativa que se
tem da África e do povo africano.
O mais importante foi proporcionar aos alunos a leitura e a compreensão
de obras literárias de autores africanos e brasileiros. Os contos selecionados
oportunizaram, ainda, o conhecimento dos valores morais, costumes, tradições
e ensinamentos de antepassados que formaram a história do Brasil.
Houve, também, a oportunidade de troca de experiências. Pode-se
trazer, para dentro escola, pessoas da comunidade, tanto de Ribeirão do
Pinhal, quanto da região, como a pesquisadora Graça Maria da cidade de
Cambará, que ilustrou com maestria sua palestra sobre preconceito racial e
desmistificou a história da escravidão. Todas as pessoas que repassaram seus
conhecimentos tiveram a chance de levar outros. A troca de experiência
contribui para a construção e o fortalecimento da identidade do povo brasileiro.
Partindo da proposta da Lei 10.639/03 art. 26 A, é necessário um
trabalho sistematizado com toda comunidade escolar, a fim de esclarecer o diz
a Lei, e de torná-los cidadãos conscientes e participativos, que possam
reconhecer a contribuição do povo africano na construção do povo brasileiro e
que haja o real reconhecimento da participação do Movimento Social Negro na
efetivação da Lei e na valorização da história e da cultura negra.
Ao concluir esse estudo, observou-se que, mesmo fazendo parte do
currículo escolar, o trabalho com a cultura afro-brasileira, ainda é feito, em
muitas escolas, de maneira esporádica, apenas para apresentação no dia 20
de novembro. Para que se mude essa prática, urgem mais ações afirmativas as
quais intensifiquem atividades em sala de aula de modo a resgatar e valorizar a
identidade do negro no Brasil.
Esperamos que esse trabalho possa auxiliar outros professores de
Língua Portuguesa em sua prática e ações pedagógicas. Ademais, que essa
produção didática possa comtemplar as necessidades dos alunos negros e
brancos e que eles, através da leitura, sejam capazes de respeitar as
diferenças étnico-raciais e, assim, transformem a sociedade na qual estão
inseridos, pois, somente o conhecimento é capaz de acabar com o preconceito.
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