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Modelo para escrita de ensaio acadêmico

Nome: Rochelle da Fonseca Oliveira

Proposta: B: A partir de sua leitura e sua vivência, que mudanças precisariam ser realizadas na
escola e na universidade para que sujeitos brancos fossem estimulados a pensar
complexamente sobre racismo?

Referências:

→ DIANGELO, Robin. Fragilidade branca. Revista ECO-Pós, v. 21, n. 3, p. 35-57, 2018.

→ FRANKENBERG, R. The social construction of Whiteness: White women, race matters.


Minneapolis: University of Minnesota Press, 1993. ___. “Introduction: Local Whitenesses,
localizing Whiteness”. In: FRANKENBERG, R. (Org.). Displacing Whiteness: Essays in social and
cultural criticism. Durham, NC: Duke University Press, 1997, pp. 1-33.

→ BRASIL. Lei n° 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de


1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial
da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras
providências.

→ BRASIL. Lei nº 11.645, de 10 março de 2008. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de


1996, modificada pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e
bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade
da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”.

→ MUNANGA, Kabengele. Educação e diversidade cultural. Cadernos Penesb – Periódico do


Programa de Educação sobre o Negro na Sociedade Brasileira – FEUFF (n. 10) (janeiro/junho
2008/2010) Rio de Janeiro/Niterói – EdUFF/2008/2010.

Título: Educação antirracista: questões étnico-raciais nas práticas pedagógicas


→ Pessoas brancas estão dispostas a apontar o racismo como um problema. No entanto,
quando se trata de privilégios, elas não estão aptas a reconhecê-los, construindo, assim, uma
postura profundamente ignorante.

→ Essa postura advém da pouca/ausência de discussões atreladas a questões raciais nos meios
educacionais, da não abordagem e do não pensar o racismo de forma mais complexa nas
escolas.

→ Embora já exista a determinação da lei sobre história e cultura afro-brasileira nas escolas,
ainda é comum esses temas serem abordados apenas quando o foco é a invasão do Brasil pelos
portugueses e o período de escravidão, sob uma visão europeia.

→ Por isso, não basta apenas abordar história afro-brasileira na sala de aula, é preciso discutir
racismo estrutural e privilégios. Fazer da educação um meio de reconhecimento das
diversidades culturais e luta contra o racismo.
O Brasil é um país caracterizado pela sua diversidade étnico-racial, fruto de
um processo histórico construído através das relações inter-raciais. A questão é
que, mesmo contendo essa ampla diversidade, há ainda uma forte ideologia que
considera o domínio de uma raça em relação outra, baseada nos estereótipos de
inferioridade e superioridade racial. Essa ideologia de branquitude que propaga a
inexistência de privilégios e diferenças raciais, bem como a ideia de que toda a
população vive de forma harmoniosa, sem conflitos e com igualdade de
oportunidades, não passa de um mito, o qual esconde as disparidades sociais.
Sob essa perspectiva, Robin Diangelo (2008) em seu ensaio intitulado
Fragilidade Branca, abre espaço para a discussão acerca das definições de
branquitude. Segundo Robin, a expressão Branquitude, está relacionada à todas as
especificidades do racismo, a fim de categorizar a racialidade das pessoas brancas.
Esta definição de racismo, no entanto, vai de encontro à representação proposta na
educação regular ao se pensar em uma educação antirracista. A autora cita ainda
as definições de branquitude apresentadas por Frankenberg, as quais ele classifica
como sendo multidimensionais, ou seja, “um local de vantagem estrutural, de
privilégio racial” (1993 p. 1), ou ainda, “um conjunto de práticas culturais que são
geralmente invisíveis e anônimas” (1993, p.1). Assim, a Branquitude não está
relacionada somente a questões de cor de pele, mas também à distribuição
desigual de poder e recursos entre pessoas brancas e não-brancas.
Fica evidente, portanto, que pessoas brancas estão dispostas a apontar o
racismo como um problema. No entanto, quando se trata de privilégios, elas não
estão aptas a reconhecê-los, construindo, assim, uma postura profundamente
ignorante. Nesse viés, Robin Diangelo (2008) traz a questão da arrogância racial
presente no racismo ideológico. Segundo ela, pessoas brancas, por viverem em
ambientes racialmente isolados, acabam construindo imagens fortemente positivas
a respeito do que é ser branco, em oposição a imagens negativas quando se trata
de sujeitos não-brancos:

Essa auto-imagem engendra um senso auto-perpetuado de direito, porque


muitos brancos acreditam que seus sucessos financeiros e profissionais
são o resultado de seus próprios esforços, ignorando o fato do privilégio
branco. Como a maioria dos brancos não foi treinada para pensar
complexamente sobre o racismo nas escolas (DERMAN-SPARKS,
RAMSEY & OLSEN EDWARDS, 2006; SLEETER, 1993) ou no discurso
convencional, e porque o domínio branco se beneficia em não fazê-lo,
temos uma compreensão muito limitada do racismo (DIANGELO, 2018, p
45).

Essa postura de superioridade e arrogância racial, advém da pouca/ausência


de discussões atreladas a questões raciais nos meios educacionais, isto é, da não
abordagem e do não pensar o racismo de forma mais complexa nas escolas.

O RACISMO NO CONTEXTO ESCOLAR

O discurso em relação às diversidades étnico-raciais nas escolas e


universidades parte da iniciativa do professor, bem como a consciência do aluno no
seu tratamento, diversidades que são vistas como inferiores pela sociedade por
conta do preconceito racial. No nosso cotidiano escolar é comum propagarem a
existência utópica de uma democracia racial, aspectos pertencentes à cultura da
classe dominante, os quais representam somente as classes de prestígio, excluindo
o restante da população.

Lembro-me que durante o ensino fundamental líamos com frequência as obras de


Monteiro Lobato, mas em nenhum momento da leitura foi mencionado pelo(a)
professor(a) explicações a respeito do racismo presente no livro. Naquela época,
ainda não possuía uma consciência concreta sobre o assunto, tanto pela inocência,
quanto pela não conscientização. Durante o ensino médio, a questão do racismo
era abordada de forma muito fechada, referindo-se somente aos períodos de
colonização e escravidão no Brasil. Somente mais tarde, já na universidade, que
pude vivenciar discussões um pouco mais complexas em relação às relações
étnico-raciais, bem como observar a existência de diversos projetos de pesquisa e
extensão direcionados ao assunto. Não obstante, ainda há muito a se fazer.

Um outro exemplo que pode ser citado aqui, é que as escolas, na maioria
das vezes, falam da história e cultura afro-brasileira somente na data da
Consciência Negra, no dia 20 de novembro, enquanto no restante do ano essa
problemática não é discutida, muito menos lembrada.
Embora já exista a determinação da lei sobre história e cultura afro-brasileira
nas escolas, ainda é comum esses temas serem abordados apenas quando o foco
é a invasão do Brasil pelos portugueses e o período de escravidão, sob uma visão
europeia. Nesse aspecto, houve a implementação da lei nº 10.639, de 9 de janeiro
de 2003, que alterou os artigos 26-A e 79-B da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de
1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, para incluir no
currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática História e Cultura
Africana e Afro-Brasileira, passando a vigorar com as seguintes modificações:

Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e


particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-
Brasileira.

§ 1° O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá


o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil,
a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional,
resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e
política pertinentes à História do Brasil.

§ 2° Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão


ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas
de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras.

Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como ‘Dia


Nacional da Consciência Negra. (BRASIL, 2003)

Esta lei foi um grande marco histórico do Movimento Negro em todo o país,
em relação às políticas de ações afirmativas. Mais tarde, já no ano de 2008, foi
sancionada a lei 11.645/08 que estabeleceu a inclusão no currículo oficial da rede
de ensino a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-Brasileira e
Indígena.
No entanto, conhecer e aprender sobre a história e cultura afro-brasileira não
é o suficiente no quesito da construção de uma educação antirracista, não adianta
mostrar somente a cultura desses povos, se não é discutido de fato o racismo
estrutural e privilégio branco nos meios educacionais.
Para que os processos pedagógicos alcancem os objetivos da referida lei é
necessário fazer da educação um meio de reconhecimento das diversidades
culturais e luta contra o racismo.

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS PARA UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA

Para se construir uma educação antirracista, faz-se necessário que as


práticas pedagógicas sejam embasadas sob os aspectos da diversidade cultural
brasileira, possibilitando o melhor entendimento da identidade cultural dos alunos,
assim como compreender e respeitar as disparidades sociais, a fim de auxiliá-los
em uma relação étnico-racial mais democrática. Desse modo, tem o professor, o
papel de reconhecer e implementar na sua prática pedagógica a promoção de
ações educativas de combate ao racismo e a discriminação, que permitam a
reflexão sobre a visão embranquecida da sociedade, assim como a ausência da
presença negra nas discussões e nos ambientes educacionais.
Nessa mesma linha de pensamento, Kabengele Munanga em seu artigo
intitulado Educação e diversidade cultural, ressalta a importância de se pensar a
educação dentro do contexto de reconhecimento das diferenças e a luta contra os
preconceitos raciais, bem como exemplos de conteúdos que podem ser abordados:

O racismo é tão profundamente radicado no tecido social e na cultura de


nossa sociedade que todo repensar da cidadania precisa incorporar os
desafios sistemáticos à prática do racismo. Neste sentido, a discussão
sobre os direitos sociais ou coletivos no sistema legal e, por extensão, no
sistema escolar, é importantíssima. (MUNANGA, p. 53)

[...] ensinar aos alunos as contribuições dos diferentes grupos culturais na


construção da identidade nacional; mudar o currículo e a instrução básica,
refletindo as perspectivas e experiências dos diversos grupos culturais,
étnicos, raciais e sociais; realçar a convivência harmoniosa dos diferentes
grupos; o respeito e a aceitação dos grupos específicos na sociedade;
enfocar a necessidade de reduzir os preconceitos e buscar igualdade de
oportunidades educacionais e de justiça social para todos; enfoque social
que estimule o pensamento analítico e crítico centrado na redistribuição do
poder, da riqueza e dos outros recursos da sociedade entre os diversos
grupos etc. (MUNANGA, p. 53)
Para que os conteúdos apresentados por Munanga sejam de fato abordados
na escola, faz-se necessário apropriar-se de novas metodologias, como por
exemplo, uma educação mais intercultural e crítica, a qual pode-se desenvolver a
superação da exclusão e discriminação racial, a partir da percepção da diversidade
cultural existente.
Portanto, o papel da escola/universidade não é apenas abordar o racismo,
mas também ser um espaço de desconstrução das discriminações étnico-raciais
enraizadas na sociedade, isto é, pôr em prática uma educação antirracista, que vá
além do currículo escolar, que alcance tanto a formação dos professores, quanto a
gestão e as práticas pedagógicas adotadas.

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