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CartIlha EspeCial

EducAÇÃO AntiRraCistA
EducAÇÃO AntiRraCistA
Ano 2023 - Nº 01 - maio. 2023 - Cartilha
"Educação Antirracista"
SumÁRio
© – TODOS OS DIREITOS RESERVADOS
ao Laboratório de Inovação e Tecnologia
Social Das Pretas. A reprodução não CapÍTulo 1 - Como
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em parte, constitui violação dos direitos
cHegaMos aTé aQui -
autorais (Lei nº 9.610/1998) BrasIl Afro-BrasIleiRo e
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RaciSmo
Laboratório de Inovação e Tecnologia
Social – DAS PRETAS
Av. Jerônimo Monteiro, 1000 - CEP:
CapÍTulo 2 - FundAmenTos
29010-004 – Vitória, ES dE uMa cUltuRa
www.daspretas.com.br
aNtirRaciSta
Presidente
Priscila Gama
CapÍTulo 3 - LetrAmenTo
Head de Educação rAciaL e eMpodEramEnto
Luana Loriano

Autoras CapÍTulo 4 - ExprEssõeS


Priscila Gama e Luana Loriano
aNtiRrAcisTas
Identidade Visual
Amanda Lobos
CapÍTulo 5 - Meu pEqueNo
Projeto Gráfico, Editoração sOfreU rAcisMo. o qUe
Eletrônica e Diagramação
André Ramos, Jhon Lucas Paes
fAzer?
Revisão Ortográfica
Diego Miranda

Disponível em: www.escoladeelisas.com

GAMA, P.; LORIANO, L. Cartilha


"Educação Antirracista". 1. ed. Vitória:
Espírito Santo, 2023

Patrocínio NIVEA
Quem SomoS?
O Das Pretas é um Laboratório de Inovação e tecnologia
social que está há anos trabalhando em construções de
projetos para a resolução de problemas socioculturais. São
inúmeros os projetos já realizados pela organização desde
sua fundação em 2015 e todos, sem exceção, tem como
fundamento as dinâmicas que conectam a potencialização
da ancestralidade em conexão com a contemporaneidade
das metodologias ágeis buscando sempre, em tempo atual,
execuções de soluções sensíveis e de impacto relevante de
forma eficaz, eficiente e efetiva, desde a elaboração, passan-
do pelo monitoramento até a avaliação dos resultados.

Em meio a estes projetos surge então a Escola de Elisas que


é uma escola de letramento racial e futuros para crianças que
têm como caminho a literatura e a poesia. A iniciativa surge
com a necessidade de desconstruir estereótipos e padrões
de comportamento negativos perpetuados pela sociedade
nas esferas de raça e gênero. Além disso, todo o caminho
percorrido com o letramento proporciona às crianças partici-
pantes uma compreensão mais profunda e crítica da realida-
de em que vivem, o que é fundamental para o desenvolvi-
mento de sua autoestima e autoconfiança.

1
Este projeto tem como base a lei nº 10.639/03 e a nº 11.645/08,
que asseguram a obrigatoriedade do ensino de história e da
cultura afro-brasileira e indígena, os Objetivos de Desenvol-
vimento Sustentável (ODS) da Organização Nações Unidas –
ONU com basilar das ODS 4, 10 e 16 bem como o Estatuto de
Igualdade Racial – 2010. Em sua primeira jornada, que acon-
teceu no ano de 2022, contemplou 20 meninas negras de
territórios periféricos com oficinas de escrita criativa, slam e
rodas de conversa, além de proporcionar que todas ganhas-
sem 7 obras literárias de forma permanente como legado
deste projeto.

www.daspretas.com.br

@das.pretas https://www.linkedin.-
@escoladeelisas com/company/daspretas/

2
PrefÁCio
BrinCar é pOder
Educação transforma! Pensando na precariedade das esco-
las que atendem a maioria da população negra no Brasil,
temos um desafio para uma transformação sócio-política
efetiva. A educação antirracista, dentro dessa escola que já
está estruturada nos territórios, é ferramenta de formação de
sujeitos que tem suas potencialidades desenvolvidas. Sem
diversidade, brinquedos, personagens, e materiais educati-
vos com uma perspectiva antirracista, a gente reduz as pos-
sibilidades de existir no futuro nesse mundo, com pouquíssi-
mas opções de resposta para a pergunta: “o que você quer
ser quando crescer?”.

Crianças aprendem cotidianamente sobre o mundo a partir


do que veem, e a escola tem papel fundamental na constru-
ção dessas possibilidades de futuro no imaginário infantil.
A representatividade nos materiais lúdico-educativos pode
ser um primeiro acesso à diversidade, pode permitir a cons-
trução de narrativas positivas e de sucesso, ampliando as
possibilidades de ser e rompendo as barreiras racistas que
são sutis, mas bastante concretas.

Existe uma inquietação, curiosidade e vontade de criar um


mundo com futuros possíveis e potentes em mim, e esse
sentimento faz eu entender que são necessários brinquedos
e outras ferramentas que auxiliem na educação antirracista,
quem entreguem a possibilidade de ser, entreguem espelho
mais positivos onde a criança negra se vê e se imagina em
cenários infinitos (infinitos como a imaginação de uma crian-
ça te que ser), que entregue o sonho como força mobilizado-
ra da realização. Que entregue a possibilidade de humaniza-


ção de corpos negros, desde a infância, possibilitando um
futuro com adultos que entendem a diversidade de corpos e
existências plurais, com respeito e normalização da presen-
ça negra em todos os espaços.

Brincar é poder. Essa é a frase que vai em todos os brinque-


dos que saem do lugar que eu chamo de Fábrica de sonhos.
Nesse lugar, poder é verbo, que realiza sonhos, que autoriza
nossa trajetória, que constrói a certeza de que efetivamente
podemos tudo o que quisermos ser, e é também substantivo,
que nomeia nossa potência, que nos confere autonomia,
liberdade de pensamento, criticidade e, sobretudo, seguran-
ça para seguirmos firmes no caminho que vamos escolhen-
do ao longo da vida.

Mãe do Matias.
Historiadora, Educadora, Empresária.
Sócia-fundadora e Diretora executiva da Era
Uma Vez o Mundo - Startup educacional e
de impacto social que que desenvolve
brinquedos e atividades educativas afrorre-
ferenciadas, e que valorizam a representati-

Jaciana Melquiades vidade e estética da população negra.

@eraumavezomundo
https://eraumavezomundo.com


IntrOduÇÃO
O racismo é uma forma de opressão que afeta negativamente
a vida de milhões de pessoas em todo o mundo. E o Brasil foi
o país que mais recebeu negros escravizados em todo
mundo, além de ter sofrido com um genocídio de seu povo
originário quando da colonizacão do território brasileiro e em
razão de toda a cultura discriminatória no qual todos nós
somos educados, acreditamos que uma educação antirracis-
ta é fundamental para combater o racismo e criar uma socie-
dade mais justa e igualitária.

A questão é que como performar uma educação, que de fato


seja, antirracista sem analisar primeiramente os vieses in-
conscientes que existem no nossa história e performances
individuais a fim de encerrar ciclos de violência que, mesmo
que inconscientemente, a gente acaba reproduzindo e enrai-
zando na vida das pessoas pelas quais somos responsáveis,
especialmente quando na educação de crianças e adolescen-
te que como todo nós sabemos, são espelhos instantâneos
da cultura familiar. Por isso, refletir individualmente e priori-
tariamente sobre como o racismo se manifesta em nós e atra-
vés de nós, é imprescindível para que possamos garantir que
essa educação antirracista seja bem semeada nos nossos
frutos de futuros para que sejam, desde pequenos, agentes
de uma mudança real.

No decorrer e após os encontros com as crianças participan-


tes da primeira edição do Projeto ESCOLA DE ELISAS, perce-
bemos uma sede dos mesmos para letramentos raciais e de
futuros por parte das pessoas responsáveis das meninas
dessa primeira turma e que, no trânsito, na espera ou em
casa, vivenciaram de dores, incômodos, desafios, sonhos e
empoderamentos que transbordavam às suas pequenas e
que ecoavam em suas próprias histórias e buscaram de
alguma forma saber o que fazer com toda essa informação


que propulsionava daqui, mas que atravessava-se em si
mesmas, com vontade e intenção de entender e fazer parte
desse processo como partícipe ativo.

Esta cartilha tem como objetivo fornecer informações e


sugestões para pessoas responsáveis sobre como educar
crianças negras e não negras com uma educação antirracista
comprometida, sobretudo, com o fim de uma idéia de supe-
rioridade ou inferioridade de pessoas em razão da sua racia-
lização e que, para além disso, entende e incentiva o respeito
às diferenças a partir da educação dos nossos, de nossos
espaços de convivência familiar para todos os lugares do
mundo.

Nelson Mandela disse certa vez que:

“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela


cor de sua pele ou por sua origem, ou sua
religião. Para odiar, as pessoas precisam
aprender. E se podem aprender a odiar, podem
ser ensinadas a amar, pois o amor chega mais
naturalmente ao coração humano do que o
seu oposto. A bondade humana é uma chama
que pode ser oculta, jamais extinta.”

Partindo desse princípio, a gente que verda-


deiramente acredita na educação como fonte
de transformação e, certas do nosso compromisso individual
e coletivo em tornar o mundo um território que respeita as
diferenças de todos e em todos, desejamos a você uma boa
leitura e uma boa jornada de passos antirracistas na sua vida
para a vida do todo.

6
cApítUlo 1
Como cHegaMos aTé aQui
- BrasIl Afro-BrasIleiRo e
RaciSmo

1.1 O qUe é rAcisMo?

“O racismo é uma violência que fere a humanidade e


impede a construção de uma sociedade mais justa e
igualitária” (SOUZA, 2018).

Racismo, preconceito e discriminação racial são palavras


que muitas vezes são usadas como sinônimas, mas na
verdade têm significados diferentes. É importante entender
essas diferenças para combater essas atitudes negativas e
construir uma sociedade mais justa e igualitária.

O racismo é a distinção ou preconceito baseado em caracte-


rísticas raciais, geralmente associadas à superioridade de
uma raça em relação a outras. Isso pode se manifestar de
várias formas, desde à violência física até a exclusão social e
a negação de até oportunidades. Segundo o IBGE (2021), o
racismo é um fenômeno social que afeta a vida das pessoas
em diferentes aspectos, incluindo a saúde, a educação e a
segurança pública.

7
Já o preconceito é uma opinião formada antecipadamente,
sem conhecimento ou experiência suficiente. Ele pode estar
relacionado a diversas questões, como a raça, orientação
sexual, a religião, a classe social, entre outras.

“Quando associamos determinados comportamentos a


algum indivíduo de um grupo específico, criando este-
reótipos sobre esse alguém. Achar que toda negra
brasileira sabe sambar, que árabes são terroristas ou
que todas as pessoas de origem asiática têm a língua
presa são estereótipos que estão relacionados à cor de
pele de uma pessoa, e isso gera o preconceito racial,
seja consciente ou inconsciente.” Almanaque Antirra-
cista para Adolescente - ONU MULHERES. Página 13

O preconceito pode levar a comportamentos discriminató-


rios e excludentes, como a negação de emprego ou moradia
para determinados grupos. Segundo a UNESCO (2021), o
preconceito é uma forma de reconhecer que se baseia na
angústia e na falta de informação.

Por fim, a discriminação racial é a ação ou omissão que


causa prejuízo ou trânsito a uma pessoa ou grupo, com base
em características como a raça, a cor, a religião, a orientação
sexual, entre outras. A discriminação pode se manifestar de
várias formas, desde a negação de serviços básicos até a
violência física. Segundo o Ministério da Mulher, da Família e
dos Direitos Humanos (2021), a discriminação é uma viola-
ção dos direitos humanos e deve ser combatida em todas as
suas formas.

8
“Tratar pessoas negras (pardas e pretas) ou de qualquer
outro grupo específico (árabes,asiáticos, judeus, etc.) de
maneira injusta e/ou desigual por conta da sua origem
ou cor da pele caracteriza uma atitude de discrminação
racial.”Almanaque Antirracista para Adolescente - ONU
MULHERES. Página 13

Essas diferentes formas de tratamento


acabam criando rupturas sociais, con-
tribuindo para a manutenção de privilé-
gios, de alguns grupos, que no caso do
Brasil são de pessoas brancas, e des-
vantagens para outros. Quando falamos
de população negra, a manutenção Para o IBGE, negros são
deste desequilíbrio de poder leva ao aqueles que se autodeclaram
pardos ou pretos, e esses
racismo, que pode se manifestar como representam
dois grupos somados
mais dametade
preconceito e discriminação racial. Por https://educa.ibge.gov.br/jovens/conhe-
da população do Brasil.

isso se faz importante saber a distinção ca-o-brasil/populcao/18319-diversidade-


etnico-racial.html
entre esses termos para facilitar a iden-
tificação do comportamento racista no dia a dia. Seja pre-
conceito, discriminação ou racismo, essas manifestações
são graves e criminosas.

Você sabe o que é racismo Os Africanos | Raízes do


estrutural? | Conversas Brasil #3, Rizoma
Gostosinhas. Ana Paula Estúdio, 2016:
Xongani, 2019: https://bit.ly/3kLZqFM
https://bit.ly/3LBryXt

9
1.2 BrasIl aFro-bRasiLeirO
e rAcisMo
"O Brasil é um país com uma rica diversidade cultural, resul-
tado da mistura de diferentes povos e tradições" (IBGE,
2021). No entanto, essa diversidade também é marcada por
histórias de discriminação e racismo, especialmente contra a
população negra.

Para entender como chegamos até aqui, é preciso entender a


história do Brasil e a forma como a escravidão moldou as
relações sociais e o país. “Durante mais de 300 anos,
milhões de africanos foram trazidos para o Brasil como
escravos, trabalhando em condições desumanas nas planta-
ções de cana-de-açúcar, café e outras culturas” (Silva, 2018).

Com a abolição da escravatura em 1888, muitos negros foram


deixados à própria sorte, sem acesso a educação, emprego
ou moradia digna. "Ainda hoje, as consequências desse pas-
sado escravocrata são sentidas pela população negra, que
enfrenta altos índices de pobreza, violência e exclusão
social" (Lopes, 2020).

10
Mesmo após mais de dois séculos de insurreições e revoltas,
no dia 13 de maio de 1888, a Lei Aurea, documento que decla-
rou a extinção da escravidão no país, foi assinada, entretanto
a lei não garantia nada as pessoas recém-libertas, muitos
foram deixados à própria sorte, sem acesso a educação,
emprego ou moradia digna. "Ainda hoje, as consequências
desse passado escravocrata são sentidas pela população
negra, que enfrenta altos índices de pobreza, violência e
exclusão social" (Lopes, 2020).
Muito além da princesa
Após a assinatura da Lei Isabel, 6 brasileiros que
lutaram pelo
Áurea, diversas leis foram fim da escravidão no Brasil’
criadas impossibilitando que https://www.bbc.com/portu-
guese/brasil-44091469
pessoas negras recém-liber-
tas e seus descendentes,
conseguissem ter uma vida digna. "A Lei dos Vadios e Capoei-
ras de 1890, por exemplo, incriminava todas as pessoas que
perambulavam pelas ruas, sem trabalho ou residência com-
provada, o que era comum, já que após a abolição as pessoas
negras recém-libertas foram abandonadas pelo Estado, fican
do sem casa e trabalho."

Com a chegada dos imigrantes europeus isso se agrava, visto


que eles chegavam como força de trabalho remunerada e com
acesso a terras. Muitos intelectuais e políticos brasileiros acre-
ditavam que ter uma população negra maior que branca preju-
dicaria o futuro do país, a partir disso intensificou-se a imigra-
ção de europeus para o Brasil, na tentativa de embranqueci-
mento da nação, acreditando que a miscigenação possibilita-
ria ao país ocupar um lugar de superioridade numérica branca,
garantindo que as próximas gerações fossem sendo embran-
quecidas.

11
“UMA POPULAÇÃO
CHEGADA DOS NEGRA MAIOR DO
IMIGRANTES QUE A BRANCA
PREJUDICARIA O
EUROPEUS FUTURO DAS TERRAS
BRASILEIRAS”

MISCIGENAÇÃO:
EMBRANQUECIMENTO
DO PAÍS

O Brasil depois da
Teoria do Embran- abolição da escravatura
quecimento e o Canal Nostalgia Animado
Colorismo. ft Rael, 2021:
Soul Vaidosa, 2018: https://www.youtube.com
https://bit.ly/3G9yYQh /watch?v=kaD2kBpWuV0

Este longo período causou grandes efeitos na sociedade, um


dos mais evidentes que prevalece até os dias de hoje é o
RACISMO ESTRUTURAL. O racismo estrutural, que se mani-
festa de forma sutil e muitas vezes invisível, é uma realidade
para muitos negros brasileiros. “Eles são frequentemente
alvo de preconceito, discriminação e violência, seja nas ruas,
no trabalho ou em outros espaços” (Silva, 2018).

É importante que os pais e responsáveis estejam cientes


dessas questões e ensinem seus filhos sobre a história e a
cultura afro-brasileira, valorizando a diversidade e combaten-
do o racismo em todas as suas formas. A educação é uma
ferramenta poderosa para mudar a realidade do país e cons
truir um futuro mais justo e para todos.

12
cApítUlo 2
FundAmenTos dE uMa
cUltuRa aNtirRaciSta
Em um primeiro momento precisamos trazer aqui que CUL-
TURA É TECNOLOGIA que acumula nossas formas de perfor-
mar a vida, ou seja: de falar, de comer, de pensar e de agir.
Essa tecnologia tem uma atualização diferente em cada parte
do mundo e, de certo, cada cidade, estado e país, tem a sua
própria 'atualização de software' garantindo a identidade de
seu povo enquanto povo. A questão é que a mesma tecnolo-
gia que preserva as tradições mais bonitas de uma comunida-
de também tem uma lógica semelhante para a manutenção de
práticas como o racismo, a xenofobia, o machismo e outras
tantas violências.

Dessa forma o racismo é produto e meio de uma Cultura que


desenha as relações a partir da hierarquia entre pessoas a
partir da sua raça - de seu tom de pele, seus cabelos, e outros
fenótipos de identidade negra - e que, independente de
quando, como e onde nascemos, somos atravessados por ela
de muitas formas, TODOS NÓS, que consciente ou incons-
cientemente, reproduzimos pensamentos e comportamentos
racistas de forma naturalizada. E a incorporação dessa repro-
dução de racismo se dá em muitas camadas, na Educação, na
Saúde, na Segurança, no acesso aos direitos básicos, nas
nossas casas e na absoluta maioria dos lugares que frequen-
tamos.

Adilson Moreira, no Livro Racismo Recreativo, fala muito


sobre os estereóriopos aculturados pelo racismo no nosso

13
dia-a-dia e fala o quanto "é interessante observar como repre-
sentações culturais sobre negros motivam atos que muitos
consideram racistas, embora pessoas brancas pensem que
são apenas meios de aproximação social, entendimento refe-
rendado por nosso sistema jurídico" (Página 22)

Nesse mesmo sentido, conseguimos entender um pouco


mais que há diversas formas de se operar o racismo, mas que
todas elas veem de uma normalização desta violência de
forma cultural e sistêmica e que então perceber, admitir e
declarar em compartilhamento como essa estrutura sistêmi-
ca social funciona, já é uma forma importante de combatê-la.
Assim, se a nossa Cultura é Racista, a atualização deste soft-
ware pode ser uma CULTURA ANTIRRACISTA, não é mes-
mo?

Nossa dica é você começar observando os seus vieses


inconscientes e a partir daí refletir sobre o que você pensa,
especialmente sobre pessoas em razão das suas característi-
cas negras. Estereótipos, tratamentos diferentes, termos.
Isso porque acreditamos que para educar alguém de forma
antirracista, pressupõe-se que você tenha necessariamente
mais do que boa intenção, mas tenha sido verdadeiramente
(re)culturado de forma a praticar em pensamentos e práticas,
o antirracismo.

Em seu "Pequeno Manual Antirracista" a filósofa Djamila


Ribeiro diz que "é fundamental que pessoas brancas compre-
endam os mecanismos pelos quais o racismo opera, pois
podem reproduzi-los acreditando estarem imunes por terem
um marido, uma esposa ou um filho negros. Estar atento ao
que a pessoa negra da família relata é um passo importante".
E continua com algo muito desafiador sobre empatia e como
o uso irrestrito e indevido dessa palavra tem trazido uma
espécie de "falsa suficiência" ou, quem sabe, uma "suficiên-

14
cia limitada" que impacta de forma muito negativa na luta
antirracista - pois a prática de validar-se como uma pessoa
não racista através da existência negra de um parente ou de
pessoas próximas em seus círculos pessoal e/ou profissio-
nal, não garante que ela seja de fado alguém não só antirra-
cista, mas alguém que não reproduza, em nenhuma de suas
camadas, o racismo. E assim, diz.

"Ao amar alguém de um grupo minorizado, deve-


-se entender a condição do outro, para que se
possa, de fato, assumir ações para o combate de
opressões das quais a pessoa amada é vítima. É
uma postura ética: questionar as próprias ações
em vez de utilizar a pessoa amada como escudo."
Djamila Ribeiro - Pequeno Manual
Antirracista [Página 90 e 91]

A partir daí a gente já começou a


aprofundar na consciência de
que o racismo pode ser pratica-
do e/ou reproduzidos por pesso-
as negras ou não-negras e que,
independente disso, mas de
pontos de partidas diferentes, a
cultura antirracista vai ser pro-
movida, compartilhada e viven-
ciada também sob a ótica da
busca e restituição de suas lem-
branças infantis que podem te
DJAMILA RIBEIRO munir da consciência de um ato
racista praticado por você ou
sofrido por você quando criança

15
e, a partir daí, a reflexão de como isso te impactou antes e
como isso agora te impacta, ou não.

AtenÇÃO!!! RaciSmo CampAnha UnicEf Por


ReveRso NÃO ExisTe! Uma InfâNcia Sem RaciSmo

Racismo reverso | Campanha faz um alerta sobre os


Lili SchwarczI impactos do racismo na vida de
milhões de crianças e adolescentes
https://youtube.com/ brasileiros e convida cada um a fazer
shorts/QDfewbyn6VM? uma ação por uma infância e adoles-
feature=share cência sem racismo.

O MIMIMI DO RACISMO
https://youtu.be/G8
REVERSO | Ana Paula
7QTe7CzW4
Xongani e Lili
Schwarcz
Vídeo com narração
de Lázaro Ramos.
https://youtube.com/
shorts/QDfewbyn6VM?
feature=share

Dicas práticas para dialogar e promover uma cultura antirra-


cista ao seu redor:
1. Não use pessoas negras dos seus círculos sociais como
escudo. Frases como "Eu até tenho um amigo negro", "Meu
marido e/ou filho é negro", "A moça que trabalha lá em casa é
negra e é como se fosse da família", "Eu contrato pessoas
negras". Ao invés disso, reflita do porque precisa de alguma
dessas justificativas.
2. Priorize pessoas negras no seu consumo, nas suas con-
tratações, no financiamento/investimento de estudos de
alguém, da doação e no voluntariado de instituições, nas
suas novas relações. A Inclusão precisa ser financiada.
Circule seus acessos e suas riquezas por pessoas negras, a
geração de renda é pauta muito importante para a nossa
comunidade.

16
3. Procure ver séries e filmes protagonizados por pesso-
as negras performando normalidades da vida e observe-se.
Se algo te incomodar ou questionar-se da possibilidade da
vida performada na tela, mergulhe fundo em responder à
pergunta: "Por quê eu estou pensando assim?" .
4. Fure a sua bolha e ofereça mais. - Raramente consegui-
mos criar estereótipos que são respaldados em nossa vida
pelo racismo estrutural sistêmico se não procurarmos olhar
para além das fronteiras do nosso círculo familiar e social.
Assim, estereótipos como que mantém pessoas negras longe
da idéia de sucesso, inteligência ou confiança serão manti-
dos porque foram normalizados através de anos de história
de racismos sobrepostos não só na idéia de discriminar, mas
na prática - tirando o acesso de pessoas negras à direitos
básicos como: alimentação, saúde, educação, moradia, sane-
amento básico e segurança.
5. O lugar de fala é quem tem a oportunidade da fala! Ou
seja, tendo uma pessoa negra na conversa: escute-a sobre o
tema, pergunte, reflita. Mantenha o lugar do aprendizado na
conversa. Não tendo uma pessoa negra na conversa: garanta
que a cultura antirracista seja promovida, conscientize outras
pessoas e nunca "passe pano" pra violência qualquer.

Lembre-se que um mundo com cultura antirracista, diverso e


inclusivo é um lugar de consciência da abundância que tem.
Onde tem, e tem que dar para todo mundo. Assim, saiba:

"Incluir pessoas diversas nas pautas e nas práticas de


acesso em igualdade e equidade, não é sobre cortar o
bolo em mais pedaços, mas sobre aumentar o tabulei-
ro." - Priscila Gama

17
cApítUlo 3
LetrAmenTo rAciaL e
eMpodEramEnto
3.1 O qUe é lEtraMentO rAciaL?

“O letramento racial está relacionado principalmente


com a necessidade de desconstruir formas de pensar e
agir que foram naturalizadas.” - Lia Vainer Shuman.

O letramento racial é uma prática de ensino que busca cons-


cientizar as pessoas sobre a importância de entender a ques-
tão racial em todas as suas dimensões. Este conceito está
relacionado ao desenvolvimento de habilidades para lidar
com as diferenças étnicas e culturais e para promover uma
convivência mais harmoniosa e justa em sociedade.

“Não se faz educação antirracista


sem letramento racial”
O letramento racial ensina adultos e crianças sobre a exis-
tência de diferentes culturas, etnias e raças, e como essas
diferenças podem impactar as relações sociais e a vida

18
em comunidade. Além disso, o letramento racial também
pode ajudar a combater o racismo estrutural, que muitas
vezes é naturalizado e reproduzido no cotidiano.

Uma forma de fazer o letramento racial com as crianças é


através do diálogo aberto e honesto sobre a questão racial e
sua importância na sociedade. É importante que os pais,
mães e responsáveis estejam atentos aos comportamentos e
atitudes dos filhos em relação à raça e à etnia, e estejam
dispostos a debater e esclarecer dúvidas.(Nascimento, 2018)

Para os responsáveis que desejam se aprofundar no letra-


mento racial o caminho pode ser trilhado através de palestras
e workshops que abordam a questão racial em todas as suas
dimensões. Seguir perfis de influencer que falem sobre essa
temática, bem como consumir livros e filmes que propiciem a
reflexão deste assunto.
É fundamental destacar que o
letramento racial não é uma
prática isolada, mas sim uma
parte integrante de um pAra cOnheCer e sEguiR
processo mais amplo de cons-
cientização e luta contra o FAMILIA QUILOMBO
racismo, ele é um dos cami- www.instagram.com/
familiaquilombo/
nhos para a construção do ANDRESSA REIS
futuro que queremos, mas não www.instagram.com/
andressareiis/
é o único. É preciso também
promover ações concretas de
combate ao racismo, como políticas públicas, ações
afirmativas e mobilizações sociais.
Portanto, o letramento racial é uma prática educacional fun-
damental para o desenvolvimento de uma sociedade mais
justa e igualitária, que valorize a diversidade e respeite as
diferenças.

19
diferenças. É preciso que todos estejam engajados nesse
processo, para que possamos construir um mundo mais
harmônico e livre de preconceitos.

3.2 O qUe é eMpodEramEnto?


O empoderamento é um processo que visa dar poder e auto-
nomia às pessoas, especialmente aquelas que historicamen-
te foram marginalizadas e oprimidas. O empoderamento
pode acontecer individualmente ou em grupo, e pode ser
alcançado através de diversas ferramentas, como o conheci-
mento, a educação, a organização social e a participação
política.

Já no contexto racial, o empoderamento racial é um proces-


so que busca dar poder às pessoas negras, que historica-
mente foram marginalizadas e discriminadas em diversos
aspectos da vida social. O empoderamento racial pode ser
alcançado através de diversas práticas, como o letramento
racial, a promoção da autoestima e da identidade negra, o
fortalecimento das redes de solidariedade, entre outras.

20
A relação entre o letramento racial e o empoderamento racial
é estreita, já que o conhecimento e a reflexão crítica sobre as
questões raciais são fundamentais para o desenvolvimento
do poder e da autonomia das pessoas negras. Como afirma a
pesquisadora Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva, "a educa-
ção é uma ferramenta fundamental para a promoção do
empoderamento racial, já que ela permite que as pessoas
negras tenham acesso ao conhecimento, à cultura e ao
saber".

Empoderar crianças negras e não negras é uma tarefa impor-


tante na construção de uma sociedade. Abaixo, listamos
cinco passos que podem ajudar nesse processo:

Educação antirracista: é importante que as crianças tenham


acesso a uma educação que valorize a diversidade e ensine
sobre a história e a cultura negra, de forma a combater o
racismo estrutural. Isso pode ser feito através da escolha de
livros, filmes e brinquedos que tenham representatividade
negra.

Fortalecimento da autoestima: é fundamental que as crianças


sintam-se valorizadas e respeitadas em sua identidade racial.
Os pais, mães, responsáveis e educadores podem ajudar
nesse processo, promovendo uma cultura de valorização da
diversidade e da autoestima negra, por exemplo, elogiando a
beleza dos cabelos crespos e incentivando a valorização da
história e cultura afro-brasileira.

Diálogo aberto e honesto: é importante que as crianças se


sintam à vontade para falar sobre suas experiências e dúvi-
das em relação à questão racial. Os pais, responsáveis e edu-
cadores podem ajudar criando um ambiente seguro e acolhe-
dor, onde as crianças possam expressar seus sentimentos e
opiniões

21
Promoção da igualdade: é preciso ensinar às crianças o valor
da igualdade e do respeito mútuo. Os pais, responsáveis e
educadores podem ajudar nesse processo, promovendo
ações que valorizem a igualdade e o respeito mútuo, como a
organização de atividades que promovam a união entre crian-
ças de diferentes raças.

Participação social: é importante que as crianças sejam


incentivadas a participar de atividades sociais que valorizem
a diversidade e a cultura negra. Isso pode incluir atividades
como dança, música e artes, bem como a participação em
movimentos sociais que lutam contra o racismo e a discrimi-
nação racial.

Esses são alguns dos passos que podem ser tomados para
empoderar crianças negras e não negras na luta contra o
racismo e na promoção da igualdade. É importante lembrar
que esse é um processo contínuo e que exige uma reflexão
constante sobre nossas ações e atitudes em relação à ques-
tão racial.

DICA

Olhares Negros
raça e representação

Bell Hook

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cApítUlo 4
ExprEssõeS (aNti)rracIstaS
As expressões racistas são palavras, gestos ou atitudes que
têm como objetivo ofender, discriminar ou menosprezar uma
pessoa ou grupo de pessoas em função da cor de sua pele ou
origem étnica. Essas expressões são extremamente prejudi-
ciais e contribuem para a manutenção do racismo estrutural
em nossa sociedade.

Algumas palavras e expressões racistas são utilizadas de


forma naturalizada em nossa cultura, resquícios de um pas-
sado escravagista, e muitas vezes as pessoas não percebem
o quanto elas são ofensivas e discriminatórias. Por isso, é
importante que todos estejam atentos a essas expressões e
se esforcem para eliminá-las de seu vocabulário.

Abaixo, separamos alguns termos racistas e como substituí-


los ou dispensar de seu vocabulário:

"Negro de alma branca": Essa expressão é utilizada para se


referir a pessoas negras que, segundo o autor da expressão,
teriam comportamentos e atitudes que se aproximam dos
brancos. Essas expressões são extremamente ofensivas e
reforçam a ideia de que o comportamento "ideal" seria o
branco. O termo correto é "pessoa negra".

"Moreno" ou "Mulatinho": Essas expressões são utilizadas


para se referir a pessoas negras que têm a pele mais clara.
Esses termos são discriminatórios e reforçam a ideia de que
a cor da pele é um fator determinante na hierarquia racial. O
termo correto é "pessoa negra".

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"Crioulo": Essa expressão é utilizada para se referir a pesso-
as negras de origem africana. Essa palavra tem uma carga
histórica muito negativa, remetendo à época da escravidão e
da violência contra pessoas negras. O termo correto é
"pessoa negra".

"Denegrir": Essa palavra é utilizada para se referir a difamar


ou caluniar uma pessoa. O termo "denegrir" tem origem na
palavra "negro" e é extremamente ofensivo. O termo correto
é "difamar" ou "caluniar".

“Mercado negro / Humor negro / Lista negra”: Traz a mesma


premissa de denegrir, de dar uma ideia negativa para tudo
que é associado ao negro. Porque é negro é ruim? É errado?
Substitua por: Mercado
 clandestino, lista proibida,
humor ácido.

“Inveja branca”: A ideia do branco como algo positivo.


Porque é branco, é bom. Se fosse preto seria ruim?

“Criado mudo”: Era o escravizado ou criado que ficava em


pé, ao lado da cama a noite toda em silêncio, normalmente
segurando água e objetos para servir os “senhores”. Substi-
tua por: Mesa de cabeceira.

“Feito nas coxas”: As telhas das casas antigamente eram


moldadas nas coxas dos escravizados e como eles tinham
corpos diferentes, as telhas não ficavam no mesmo formato
e, por isso, estariam mal feitas. Substitua por: Mal feito.

“Mulata”: A palavra faz referência a “cor de mula”. Ou seja,


compara uma pessoa negra a um animal. Pior ainda quando
usa “mulata tipo exportação”, reforçando a visão do corpo
da mulher negra como mercadoria.

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“Não sou tuas negas: Na época da escravidão, as mulheres
negras eram propriedades dos homens brancos e eles
faziam o que bem entendessem com elas. O termo remete à
questão do racismo estrutural. “Não sou tuas negas pra fazer
o que quiser”

“Boçal”: Expressão para chamar alguém de ignorante, com


falta de conhecimento, com referência ao escravizado recém
chegado ao Brasil, que não sabia falar a língua portuguesa.

“Nhaca”: Inhaca é uma Ilha de Maputo, em Moçambique,


onde vivem até hoje os povos Nhacas, um povo Bantu.
chamam de inhaca o odor corporal, relacionado a um povo
preto.

“A coisa tá preta”: A fala racista se reflete na associação


entre “preto” e uma situação desconfortável, desagradável,
difícil, perigosa, negativa.

“Da cor do pecado”: “Elogio” proferido por pessoas brancas.


Mas que contém origem na violência sexual cometida contra
mulheres negras regularmente pelos senhores que encara-
vam como diversão. Não hiper-sexualizar corpos negros.

“Índio”: O termo “índio”possui uma ideia caricata que foi


criada de selvageria pelos colonizadores. Também por igno-
rar a pluralidade dos povos indígenas. Substitua por: Indíge-
na.

“Pé na cozinha/senzala”: No período colonial, o único local


permitido às mulheres negras era a cozinha da casa grande.
O termo se refere de forma racista a uma pessoa de origem
negra, vamos abdicar dessa expressão?

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“Serviço de preto”: Define atividade mal feita e desqualifica o
trabalho de pessoas negras. Substitua por: Serviço mal feito.

"Cabelo ruim", “Cabelo bombril”, "Cabelo de nego”: Essas


expressões são utilizadas para se referir ao cabelo crespo ou
cacheado das pessoas negras. Essas expressões são discri-
minatória e reforçam a ideia de que o cabelo liso é o "ideal" é
o mais bonito. O termo correto é "cabelo crespo" ou "cabelo
cacheado".

"Cor de pele": Aprende-se desde criança que “cor de pele” é


aquele lápis meio rosado, meio bege. Esse termo é errado
pois evidencia a referência eurocêntrica de cor da pele asso-
ciado unicamente a uma pessoa branca desconsiderando a
diversidade de tons de pele existentes na sociedade brasi-
leira. Substitua por: Rosa claro, bege.

É importante destacar que existem muitas outras expressões


racistas que devem ser eliminadas de nosso vocabulário.
Para isso, é fundamental que todos estejam engajados na
luta contra o racismo e se esforcem para aprender mais
sobre a questão racial em todas as suas dimensões.

pAra rEfleTir
A iniciativa "Respeito Na Medida"
estimula o debate e a reflexão sobre
nomes de doces tradicionais, como
nega maluca ou espera marido:

https://www.youtube.com/watch?
v=HAQ77n4753w

Dez expressões racistas que você


fala sem perceber:

https://www.youtube.com/watch?
v=E_BjYPOE3ag

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cApítUlo 5
E qUandO a cRiança
sOfre rAcisMo?
É indispensável que enquanto pessoas responsáveis e edu-
cadores de crianças, nos atentemos para os grandes e terrí-
veis impactos do racismo na infância e a necessidade de
uma postura individual e coletiva que garanta o respeito e a
igualdade étnico e racial desde a infância bem como a trans-
missão da cultura antirracista. Mas sabemos que, infelizmen-
te, ainda não podemos assegurar que nossas crianças não
sejam atravessadas pelo racismo. Assim, temos dicas sobre
o que fazer caso você presencie ou identifique um ato racista
contra alguma criança.

Antes, precisamos relembrar e registrar que Racismo é crime


tipificado por lei e portanto, nenhuma autoridade pode se
negar a registrar ocorrência e, garantidos os devidos cuida-
dos, não deixe de formalizar uma denúncia no local onde o
racismo aconteceu - se na escola, na coordenação; se no
clube, na diretoria; se em algum parque o equipamento públi-
co, na Secretaria responsável por ele - faça sempre por escri-
to e protocole.

Igualmente indispensável é ir à uma delegacia para registrar


um BO - Boletim de Ocorrência e se não sentir segurança
procure suporte e a orientação de pessoas negras da advoca-
cia que estão por todo Brasil fazendo trabalhos importantes
de empoderamento racial e assistência jurídica na luta contra
o racismo.

27
No caso do racismo ter sido reproduzido por uma outra crian-
ça, vale registrar que é muito importante encontrarmos for-
mas de orientar pessoas responsáveis por essa criança, atra-
vés de conversas diretas em comunicação não-violenta ou
até mesmo em atividades de conscientização no ambiente
escolar sobre o racismo e a luta e as práticas antirracistas.

E, muito embora o registro do crime seja importante, dar uma


grande e carinhosa atenção, munida de suporte psíquico e
emocional devido à criança vítima do racismo e em seguida à
pessoa responsável por ela - é a coisa mais importante a se
fazer. O Racismo dói e deixa marcas muitas vezes, eternas.
Dessa forma, garantir o acolhimento, a escuta dessa dor e um
letramento racial afetuoso é um pacote necessário para além
de acolher, conscientizar e também de fortalecer a criança.

Não desejamos que nenhuma criança sofra racismo. E senti-


mos muito, por cada criança negra que sofreu racismo na
infância, como nós. E garantido que você saiba que nada
justifica ser racista ou "passar pano" pro racismo, também
gostaríamos de te informar que histórias de racismo são
dolorosas mas, não devem ser suficientes para definir a vida
de alguém. Com um bom suporte, pessoas negras violenta-
das pelo racismo, são capazes de transformar dor em luta,
luta em propósito e propósito em representatividade para
outras muitas pessoas.

"Menina pretinha, exótica


não é linda
Você não é bonitinha
Você é uma rainha"
Menina Pretinha - MC Soffia
MC Soffia

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Ao longo de toda história, a luta contra o racismo tem sido
uma batalha constante, mas ainda há muito trabalho a ser
feito. Como pais e responsáveis é nosso dever e responsabi-
lidade garantir que nossos pequenos cresçam em um mundo
onde o racismo não seja tolerado. Devemos ensinar desde
cedo que todas as pessoas merecem respeito.

Esta cartilha de educação antirracista é um passo importante


para ajudar aos pais e responsáveis a educar seus pequenos
e a si mesmos sobre a história do racismo, suas formas e
consequências, e como podemos combatê-lo juntos.

Precisamos lembrar que o racismo não é um problema que


afeta apenas algumas pessoas ou grupos, mas é um proble-
ma que afeta toda a sociedade. É nosso dever individual e
coletivo criar um futuro em que a igualdade e a justiça sejam
uma realidade para todos, independentemente de sua cor de
pele.

Devemos confrontar o racismo onde quer que ele se apresen-


te e lutar por mudanças significativas em nossas instituições
e sociedade como um todo. Precisamos nos comprometer a
trabalhar juntos em uma luta contínua e inabalável contra o
racismo, para que possamos criar um futuro melhor no agora
e no que virá.

29
Portanto, incentivamos a todos a leitura e compartilhamento
desta cartilha de educação antirracista e, mais importante, a
agir em prol de um futuro mais justo e igualitário. Juntos po-
demos criar o futuro que queremos e precisamos! Vamos
continuar lutando pela igualdade e justiça para todos.

Atenciosamente,

Mãe do Antônio Bento e do João Francisco,


Designer estratégica deste Projeto e,
Diretora Presidente do DAS PRETAS.

Priscila Gama

Irmã mais velha da Larissa e do Westley,


Coordenadora pedagógica deste projeto,
Diretora e Head de Educação do Das Pretas.

Luana Loriano

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DicaS
"Se os pais não consomem intelectualidade
preta, se não lêem ou assistem filmes com perso-
nagens negros, não há como as crianças enten-
derem isso, mesmo que você ofereça brinquedos
interraciais, por exemplo. Nós adultos, precisa-
mos ter essa consciência. E ela é um caminho".
Deh Bastos, publicitária e ativista negra.

[https://www.metropoles.com/vida-e-estilo/com-
portamento/por-george-pedro-e-miguel-5-
atitudes-para-criar-criancas-antirracistas]

FilmEs E SÉRies InfaNtis Com


ProtAgonIstaS NegrOs

Motown Magic
Motown Magic é uma série de televi-
são infantil animada produzida para a
Netflix. A série segue Ben, uma crian-
ça de oito anos e olhos arregalados
com um coração grande e uma imagi-
nação incrível que usa um pincel
mágico para dar vida à arte de rua na
Motown.


Cada Um Na Sua Casa
A Terra é invadida por uma raça alie-
nígena em busca de um novo lar.
Porém, uma esperta garota chamada
Tip consegue fugir e acaba virando
cúmplice de um alienígena exilado
chamado Oh. Os dois fugitivos em-
barcam em uma grande aventura.

Guilhermina e Calendário
A série mostra o cotidiano cheio de
descobertas e grandes aventuras de
dois irmãos, que levam uma vida sim-
ples, mas feliz, numa praia colombia-
na. A cada dia eles fazem novas des-
cobertas e vivenciam grandes aven-
turas. Exibido pela Tv Brasil.

Reunião de Família
Uma família negra que fala em nome
de milhares de outras. Em vários
momentos introduz questões sociais
e políticas pertinentes. Isso acontece
de maneira bastante inteligente, visto
que certas críticas são inseridas de
forma “natural” e a produção não per-
de a leveza e o humor.


O Mundo de Karma
Corajosa e cheia de talento, Karma
vem para mostrar que o lugar das
meninas é onde elas quiserem, inclu-
sive no Rap! Com beats e rimas muito
divertidas, Karma vai lidando com os
desafios que surgem em sua vida e
com questões que trazem para a con-
versa o racismo e o preconceito.

Ada Batista, Cientista


E falando em representatividade… Va-
mos valorizar as meninas na ciência!
Nesta série novinha da Netflix, a pe-
quena Ada Batista, inteligente e curio-
sa, mostra como experimentos cientí-
ficos podem ser descomplicados e
muito divertidos. Só basta ter vontade
de aprender e, muita disposição para
encarar todos os mistérios do mundo.

Bino e Fino
Bino e Fino é sobre dois irmãos que
vivem em uma cidade moderna na
África. Em cada episódio Bino e Fino,
com a ajuda de sua amiga Zeena e
sua família, descobrem e aprendem
coisas sobre a África e o mundo.
Disponível no Youtube.


Su eStõeS dE lIvoS pAra
 Ò
O Mundo no Black Power de Tayó
Autora: Kiusam de OliveiraI
llustradora: Taisa Borges
São Paulo: Peirópolis, 2013.

Meninas Sonhadoras,
Mulheres Cientistas
$XWRUD)OiYLD0DUWLQVGH
&DUYDOKR
6mR3DXOR(GLWRUD
0RVWDUGD

O Pequeno Príncipe Preto


Autor: Rodrigo França
Ilustradora: Juliana Barbosa Pereira
(GLWRUD˪1RYD)URQWHLUD

Curadoria completa de livros,


disponível no site do
Escola de Elisas.

SugeStõeS dE lIvroS pAra oS
RespOnsávEis

Pequeno Manual Antirracista


Autora: Djamila Ribeiro
São Paulo: Companhia das Letras, 2019

Como Ser Um Educador Antirracista


Autora: Barbara Carine Soares Pinheiro
São Paulo: Planeta, 2023.

O Pacto da Branquitude
Autora: Cida Bento
São Paulo: Companhia das Letras, 2022.


PosfácIo
NossAs vOzes pOr
mEio dA eDucação
Como mulher preta brasileira, mãe de um menino, Arthur
Souza e, profissional da NIVEA, uma marca que faz parte de
uma companhia cujo Cuidado é o principal valor e está em
tudo o que fazemos, recebi com muita honra o convite para
encerrar este conteúdo que é mais do que inspirador, é
necessário.

Nosso País tem uma longa história de racismo enraizado em


instituições e em atitudes no dia a dia. Essa herança colonial
afeta a vida, a educação e as oportunidades de milhões de
pessoas pretas. O Laboratório Das Pretas tem uma trajetória
exemplar na criação de novos futuros e o projeto Escola de
Elisas é um exemplo de como podemos aprender e falar de
educação antirracista.

Precisamos dessas ferramentas de empoderamento que nos


guiem para o reconhecimento e nos auxilie a desenvolver
uma perspectiva crítica que reverencia nossa ancestralidade.

Eu e o Arthur somos de uma família diversa: venho de uma


família de mãe negra e de pai branco e quão confuso foi isso
na minha vida. Minha avó negra não aceitava meu pai branco
e sofri preconceito por ter a pele mais clara que meus primos.
Ao mesmo tempo, passei a vida ouvindo relatos da minha
mãe sobre maus tratos, xingamentos e injustiças pela cor de
sua pele. Tanto tempo se passou e veio meu filho, estudando
em escolas nas quais a maioria esmagadora era de crianças
brancas. O nível social fazia naturalmente essa separação e a


minha luta para mantê-lo num lugar que eu julgava necessá-
rio a um futuro promissor sempre foi forte. Uma fala aqui,
outra ali, e estávamos lá lutando sempre pelo melhor e
tentando derrubar grandes barreiras.

Os desafios foram tantos que minimamente me importei com


essas falas, porém, fiz questão de ensiná-lo a aprender o seu
próprio valor e a valorizar a sua raça. Ser guerreiro, lutar por
seus ideais e saber respeitar a todos. Ao ler a cartilha com
ele, foi me relatando o que já havia visto na escola, me
questionando por que isso acontece e, ao longo da conversa,
fui mostrando o quão extraordinário era aquele trabalho que
a NIVEA e Das Pretas colocaram em prática: fizeram com que
as pessoas colaboradoras ouvissem, pensassem e ainda
divulgaram este rico material para que todas e todos tives-
sem fácil acesso.

O Arthur sabe o quanto o quadro de pessoas colaboradoras


mudou de 2015, ano da minha admissão na empresa, para cá.
Era “claramente” diferente e eu não me enxergava ali. A
primeira questão foi “onde estão os meus?”. Hoje, me orgu-
lho com cada rostinho pardo e de “cabelão” espalhados em
todas as áreas. Obrigada Beiersdorf, NIVEA e Eucerin por
esse trabalho incrível. Certamente o meu Arthur, com esses
avanços provocados por essa e outras empresas, terá um
futuro justo e de sucesso, justamente, porque hoje nós esta-
mos disseminando a cada dia o amor ao próximo, o cuidado
e o respeito.

Que esta leitura seja um marco para estas


crianças negras e não-negras e todas as
identidades femininas que inspiram ao
longo da vida.

Edinalva Souza
Finanças NIVEA e integrante do Grupo
de Afinidade Abrace Nossa Cor, da Beiersdorf NIVEA


RefeRênCias
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Aprenda a mudar expressões racistas no dia a dia: https://eurofarma.-


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www.escoladeelisas.com

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