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Precisamos falar sobre a importância da diversidade na vida de

crianças e adolescentes: rótulos, racismo e preconceito.

A escola é muito mais que um lugar onde compartilhamos conhecimentos,


é o espaço onde há mais interações sociais, o lugar onde precisamos aprender
e compartilhar valores.
É na escola que as crianças passam a conviver em um ambiente totalmente
diferente de suas casas e ganham a grande oportunidade de se relacionarem
com pessoas com características, pensamentos, costumes e até culturas
totalmente diferentes das suas.
Ao longo da vida escolar, crianças e adolescentes se deparam com todo tipo
de diferença, valores, gênero, raça, religião, orientação sexual, ritmos de
aprendizagem, configurações familiares, entre outras. A diversidade na escola é
essencial e benéfica, pois cria um ambiente mais inclusivo, onde todos precisam
se sentir valorizados. Como resultado, se bem trabalhada, tende a diminuir casos
de bullying e comportamentos que impactam diretamente na saúde mental dos
estudantes.
Diante dessa realidade, o nosso papel, como educadores é promover a
valorização da diversidade na escola. Mas como nós educadores, podemos agir
de forma assertiva e impactar a vida dos nossos alunos? Quando falamos em
transformações, que envolvem mudanças em termos de valores e crenças
culturalmente estabelecidas, é necessário um trabalho cuidadoso com toda a
comunidade escolar e, para isso, é imprescindível investigar e construir
conhecimentos sobre os processos capazes de mobilizar mudanças profundas
no posicionamento das pessoas quanto aos rótulos, preconceito e racismo,
valorizando assim a diversidade.
Mas o que é diversidade?
A valorização da diversidade nas escolas é uma das competências gerais
da BNCC, Base Nacional Comum Curricular, que diz o seguinte:

“Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a


cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao
outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da
diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes,
identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de
qualquer natureza”.

Sabemos que o preconceito é construído socialmente. Porém, cabe


ressaltar que crianças e adolescentes, estão em pleno desenvolvimento,
construindo seus conhecimentos e muitas vezes não têm total capacidade de
compreender as diferentes características, que em alguns casos, não
conheciam, ou podem estar entrando em contato pela primeira vez. Ninguém
nasce preconceituoso, isso é aprendido a partir do convívio com o outro.
Cabe salientar, é possível que alguns de nós, já tenhamos nos sentidos
desconfortáveis ao lado de pessoas com comportamentos ou características
muito diferentes das nossas, pode ter sido por medo ou estranhamento. A falta
de informação pode gerar um distanciamento e até julgamentos errôneos,
construindo preconceitos que podem levar a ações de discriminação. Respeitar
o próximo, sem rótulos e preconceitos, é algo que deve ser aprendido ainda na
infância, período importante na formação de valores.
O preconceito pode ser compreendido como uma epidemia invisível em
nossa sociedade, a qual urge ser combatida com o treino de competências
socioemocionais, tais como empatia, compaixão e generosidade (Fóz, 2019).

Mas como podemos trabalhar o tema com crianças e adolescentes?

Primeiramente, precisamos avaliar os nossos próprios valores, como


lidamos com o diferente, pois na maioria das vezes, sem perceber, replicamos
conceitos aprendidos. Assim a autoavaliação é o ponto inicial, e a reflexão
corajosa sobre nossas crenças e atitudes é necessária.
Além disso, não podemos esquecer que escola e família precisam estar
sempre alinhadas, sendo essencial o trabalho junto às famílias. O assunto pode
ser abordado ou discutido, por meio de palestras, diálogos e rodas de conversa
locais, informativos, recomendações de filmes ou séries para assistirem com os
filhos e a amostra cultural, que pode ser uma excelente oportunidade para
envolver alunos e pais.
Como a neuropsicóloga Adriana Fóz mencionou, a educação
socioemocional é um dos caminhos. A educação socioemocional envolve, de
forma geral, desenvolver habilidades emocionais e relacionais, A educação
socioemocional também faz parte dos pilares da Base Nacional Comum
Curricular, BNCC e do currículo nas escolas do SESI-SP, através dos três
grandes pilares: Educação de Sentimentos e Valores, Construção de uma
cultura democrática na escola e Projetos de Vida dos Estudantes (Referencial
Curricular do SESI-SP).

Para saber mais:


Competências socioemocionais como fator de proteção à saúde mental e ao bullying
(mec.gov.br)
http://www.casel.org/social-and-emotional-learning/

Atividades para abordar o tema em cada etapa:

Educação infantil

- Os livros infantis são ótimas ferramentas, crianças adoram, principalmente


quando a história é contada com emoção, diferentes entonações, imitações,
dando ênfase para alguns personagens...
Atualmente, temos livros para abordar qualquer assunto com as crianças.
Seguem algumas sugestões:

Do jeito que você é.


Autora: Telma Guimarães, editora Formato.

Conta a história de uma garota nova no condomínio.


Nossa! Ela é tão diferente! Seu cabelo é estranho, sua roupa esquisita...
Esses são alguns comentários das crianças, mas ao longo da história, todos
percebem que é muito bom cada um ser do jeito que é.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=RUfMPOL8DcI

Só me diz por que...temos cor de pele tão diferente?


Autora: Sara Agostini, editora Escala
De uma forma leve e divertida, a história vai trazendo personagens com
tonalidades de pele diferentes e ao final traz uma linda mensagem comparando
as cores das flores com as nossas.
Disponível em:https://smenf.files.wordpress.com/2020/08/so-me-diz-porque-
temos-cor-de-pele-tao-diferentes.pdf https://smenf.files.wordpress.com/2020/08/so-me-diz-
porque-temos-cor-de-pele-tao-diferentes.pdf e
https://www.youtube.com/watch?v=1dk0n3tPVLo

- Além da leitura, a roda de conversa é muito válida, trazer a discussão sobre o


livro, pedir as opiniões, perguntar se já passaram por uma situação parecida,
questionar sobre os sentimentos dos personagens, explorar o conteúdo ao
máximo;
- Pedir para todos caminharem na sala ou até entre os corredores da escola e
apenas observarem seus colegas ou equipe escolar, oriente para observarem os
detalhes, cor de cabelo, olhos, tons de pele, altura, se usa óculos ou não, se tem
pintas, se sabem algo mais sobre a pessoa, por exemplo se joga bem futebol ou
desenha bem..., enfim para se atentarem aos detalhes de cada colega que
encontrar, após a dinâmica, retornar e abrir uma roda de conversa, inserir o
assunto diversidade e a importância do respeito;
- Vídeos com animações sobre respeito e empatia são excelentes para tratar do
assunto diversidade. O vídeo compartilhado abaixo, conta a história de um porco
espinho que chegou em uma nova escola, no início se sentiu triste e excluído,
mas logo sua história mudou.

Acolher a diferença do outro e ao mesmo tempo criar modos para lidar com tais diferença -
YouTube : https://www.youtube.com/watch?v=jKrnIZF_h_w

Fundamental I e II
- Nos anos iniciais do fundamental I, também podemos utilizar livros infantis e
vídeos, adequados a cada faixa etária;
- Trabalhar situações (diversidade, preconceito, rótulos, racismo...) em formato
de teatro, deixar um grupo representar e abrir para comentários ao final;
- Rodas de conversa, perguntar o que entendem sobre racismo e preconceito.
Com certeza vão trazer diferentes pontos de vista, são suas bagagens, o que
aprenderam em casa, o que presenciaram, o que assistiram, e claro, a forma
que interpretaram, é importante durante a conversa pedir para que todos
respeitem a opinião do outro;
- Propor um trabalho, em formato de entrevistas, para fazer com as famílias, o
aluno terá que conversar com os avós, tios, primos e perguntar se eles já
sofreram ou presenciaram uma situação de preconceito. Posteriormente, as
entrevistas serão compartilhadas e discutidas em sala;
- Resolução de conflitos, o professor pode trazer tirinhas com algumas situações
e distribuir para a turma, em grupos irão discutir e depois abrir para o grupo maior
para apresentarem qual a solução encontrada, por exemplo, para situações de
discriminação.

Ensino médio
- No ensino médio, podemos explorar as rodas de conversa, trazendo temas
atuais, como a questão do padrão de beleza nas redes sociais e os perfis que
eles seguem. Dar voz aos jovens, questionar o que valorizam ao navegar nas
redes sociais. A partir daí trazer a questão dos rótulos, por exemplo;
- Em um grupo de alunos, fazer perguntas simples e do nosso dia a dia, sempre
que a resposta for ‘sim’, orientar para levantarem uma mão e se juntarem a todos
da sala que levantaram a mão também. A ideia é ao final da dinâmica propor
uma conversa com o grupo sobre os diversos aspectos que nos identificam com
os demais e aquilo que nos torna singulares;
Exemplos de perguntas:
Quem gosta de sorvete?
Quem tem irmãos?
Quem usa óculos?
Quem gosta de filmes de terror?
Quem tem medo de escuro?
Quem já ficou muito chateado com um amigo?
Referência: Atividade adaptada, livro: Conversando sobre Saúde Mental na
Escola p;81- Disponível em: https://neuroconecte.com/ebook-conversando-saude-
mental-e-emocional-na-escola/

- Outra atividade interessante é aproveitar algumas datas instituídas


mundialmente ou nacionalmente e desenvolver projetos com o grupo, temas que
estão totalmente relacionados a diversidade e que podem levar a exclusão,
rótulos, preconceito e racismo.

Algumas ideias:

21 de março – Dia Internacional da Síndrome de Down


21 de março – Dia Internacional Contra à Discriminação Racial
02 de abril – Dia Mundial e o Dia Nacional de Conscientização sobre o Autismo
07 de abril – Dia Nacional de combate ao Bullying e à Violência na Escola
28 de junho – Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+
21 de setembro – Dia Nacional da Luta das Pessoas com Deficiência
20 de novembro – Dia da Consciência Negra

Artigos científicos para discussão ou aprofundamento no assunto:


Suicídio e depressão na população LGBT: postagens publicadas em blogs
pessoais (bvsalud.org)
SciELO - Saúde Pública - Percepção de racismo vivenciado por estudantes
negros em cursos de Medicina no Brasil: uma revisão integrativa da literatura
Percepção de racismo vivenciado por estudantes negros em cursos de Medicina
no Brasil: uma revisão integrativa da literatura (scielosp.org)

Bom trabalho!!
Referências:

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília. 2018.


Disponível em: Base Nacional Comum Curricular (BNCC) - Ministério da Educação
(mec.gov.br).

FREREICHBERT, Vanessa Cristine; SANTOS, Luan Pereira; PAIVA, Tamires de


Paiva Rocha; SANCHES, Leide da Conceição. Graduandos em Medicina, Instituto
Multidisciplinar em Saúde, Universidade Federal da Bahia. Vitória da Conquista, BA,
Brasil.2022.Disponível em: SciELO - Saúde Pública - Percepção de racismo vivenciado por
estudantes negros em cursos de Medicina no Brasil: uma revisão integrativa da literatura
Percepção de racismo vivenciado por estudantes negros em cursos de Medicina no Brasil: uma
revisão integrativa da literatura (scielosp.org).

ROSA. A; FÓZ, A.; et al. Conversando sobre saúde mental e emocional na escola. São Paulo :
Fundación MAPFRE : Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, 2021.

TAVARES, Clara . Combate à discriminação racial, 2022. Disponível em:


ttps://www.fiotec.fiocruz.br/noticias/outros/7788-hoje-21-3-e-o-dia-internacional-de-
combate-a-discriminacao-racial.

UNICEF. Racismo e discriminação contra crianças e adolescentes são comuns em países de


todo o mundo, 2022. Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/comunicados-de-
imprensa/racismo-e-discriminacao-contra-criancas-e-adolescentes-sao-comuns-em-paises-de-
todo-o-mundo

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