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A Presença da Mulher nos Descobrimentos

Gabriel Neto

Resumo:

Tendo em conta que a História de modo geral é dada como exclusiva dos homens, assim
como neste caso mais específico na Expansão Portuguesa será interessante analisar o
papel da mulher nesta época.
O título dado a este texto creio ser explicito quanto ao que vai ser tratado, assim sendo
com o presente estudo pretende-se, apresentar de forma genérica algumas reflexões
sobre as condições sociais da mulher no Século XV, o pensamento do homem face ao
sexo feminino, como é que estas mulheres contribuíram para a expansão portuguesa
durante o século XV e XVI e por fim vou destacar algumas destas figuras femininas.

Palavras-chave: Expansão Portuguesa; Mulher; D.Filipa de Lencastre;

Introdução

Para contextualizar, a expansão portuguesa inaugura um processo histórico que afetou


toda a Humanidade.
Inicialmente eram vários os debates sobre as motivações que fizeram com que Portugal
fosse pioneiro neste movimento de descoberta. Fala-se de algumas razões como o
crescimento interno do país integrado na recuperação económica e demográfica que
atingiu a Europa da Baixa Idade Média ou ainda da entrada de Portugal no comércio
marítimo, no entanto não serão razões determinantes para o início da expansão.
As razões económicas, políticas, religiosas, históricas e sociais existentes fundem-se
com D. João I e a conquista de Ceuta em 1415, o marco do início da expansão
portuguesa.
Sempre que se fala dos Descobrimentos portugueses, são raras as vezes que as mulheres
são mencionadas e o papel que desempenharam enquanto constituintes de uma
sociedade.
E quando o seu papel é referido, é o mesmo de sempre, o mesmo papel de como a
mulher é representada habitualmente e que a maioria aprendeu ainda nos manuais
escolares do secundário e enganador, em que a mulher via os maridos ou os filhos
partirem para o desconhecido. Assim estas mulheres ficariam assim em casa aguardar o
regresso dos homens e a desempenhar o papel de mulher da casa.

Antes de explicar o papel da mulher na sociedade do século XV é importante


compreender em que se traduz a sociedade deste século. A sociedade portuguesa do
início do século XV caracteriza-se, sobretudo, por uma forte estratificação social. A
divisão da sociedade em ordem perdurou para além da Idade Média. Em traços gerais
podemos dizer que a estratificação se idealizava da seguinte forma:
A existência de três grupos: o clero, que possuía uma grande importância na sociedade
porque representava o mediador para com a figura máxima – Deus, auferia de bastantes
privilégios e tinha como função a proteção divina para todos; depois a nobreza que tinha
como função a proteção no campo de batalha aos trabalhadores e ao clero; e na base
desta pirâmide encontramos o povo, que tinha como função o trabalho para dar alimento
e sustentar as classes superiores. (Porto Editora – Sociedade e População dos Descobrimentos na
Infopédia )

E onde se encontra a mulher no que acabei de mencionar?


Numa sociedade em que o clero tem esta importância e influência em todas as classes
sociais quer a nível de pensamento quer a nível das leis, a imagem da Mulher estaria
condenada, sendo ela a razão do pecado original.
Portanto é a partir desta sociedade religiosa que a mulher assume em primeiro lugar
uma imagem que em nada a dignifica. A mulher era vista como um ser inferior e como
se refere na lei da natureza é natural que as mulheres sirvam os homens e os filhos, pois
é um ser menor a servir o maior (António Manuel Hespanha, p.56 –Toma como fonte
S.Agostinho. )
Podemos assim ver um pouco de como era o pensamento do homem sobre o sexo
oposto.
Assim como, e mesmo já nos afastando um pouco do século XV podemos falar do caso
de D. João III, que conforme envelhecia, quem tomava o poder era a sua esposa, a
rainha D. Catarina de Áustria, no entanto o poder desta era visto pelos conselheiros do
rei como uma afronta por esta ser mulher.
Podemos ainda falar do Livro das Três Virtudes, um livro do início do século XVI, que
“se destina a formar mulheres segundo um determinado modelo”, e que mais uma vez
se encontra que estas deveriam em primeiro lugar amar Deus, em segundo fala da
obediência ao marido mesmo que este não seja o mais correto com elas. Não se fala
neste livro sobre o apreço que as mulheres tinham sobre os homens, no entanto também
não se fala mal destes nem da forma que eles mantinham a ordem. (Maria de Lourdes
Crispim, p. 215-216).
Dois casos de como a mulher era visto ainda no século XVI como ser inferior, um visto
por homens e outro dado como modelo de mulher para mulher, portanto a mentalidade
da época perdurou.
Desta forma, a mulher não sendo considerada digna nem competente para desempenhar
funções de mando normalmente referidas como próprias dos homens, era então excluída
do ensino, ficando assim limitadas à religião e a aprender a ser uma boa esposa, estando
sempre ao dispor do Homem, não desprezando é claro estas funções aqui apresentadas
porque estas eram o alicerce da vida familiar e foi assim que nos séculos XV
contribuíram para a manutenção da sociedade. (Maria Silva de Alarcão, p.77).
Podemos ainda falar sobre o modelo da mulher segundo o Livro das Três Virtudes.
Um texto

Com a partida dos homens para o mar, a sociedade perdeu grande parte da sua
população, o que causou é claro, uma destruturação do seio familiar, pois estas mulheres
que ficavam a cuidar da casa enquanto o marido partia tinham agora que arranjar forma
de subsistir a si e à família que ficava.
Com isto houve uma transformação do papel feminino na sociedade porque tiveram de
começar a exercer funções que eram ditas do homem. (Polónia,2002. Espaços de
Inclusão e de exclusão de agentes femininos no processo de expansão ultramarina
portuguesa.)
Relativamente a essa partida que ocorreu, e da possibilidade destes homens não
voltarem houve a necessidade de se criar “mecanismos legais que permitiam a mulher
exercer um papel ativo em prol da manutenção dos seus direitos, sobre seus bens ou
bens do casal” ( XXIII Simpósio Nacional de História, 2005)
Assistimos assim a uma mudança de paradigma da mulher, talvez também pela perda de
poder da religião de certa forma, no sentido em que, mesmo sendo feito de forma
gradual, a legislação e os costumes religiosos tenham menos força e influência neste
momento em que se precisava da mulher para existir uma sociedade estável. Nesta nova
legislação, a mulher deveria ficar com todos os bens se o seu cônjuge morresse, e ficava
também responsável de forma igualitária ao marido das terras que possuíam,
respondendo assim por possíveis danos causados à propriedade.

Quase num mundo à parte da História, em que não se apresentam como mulher frágil e
que viviam nas leis de submissão do Homem e como ser que necessitava de proteção
temos o lado reverso, em que é relatado a cooperação da mulher na expansão
portuguesa.
Desde logo a presença das mulheres nas viagens marítimas foi um tema que me
intrigou, mas creio que a não só a mim quando ouvi pela primeira vez porque muitos
ainda negam as mesmas nas descobertas marítimas.
Em alguns relatos de naufrágios ocorridos aquando da expansão podemos constatar que
estes relatos foram escritos sempre por homens o que é interessante quando
continuamos a assistir a uma perspetiva do homem sobre a mulher e que por mais uma
vez nesses relatos, que muitos foram escritos por homens ligados à religião vê-se a
intenção de ocultar as mulheres destas memórias. (Isabel Boavida Carvalho, p.235).
Fina d´ Armada quando fala no seu livro “Mulheres Navegantes no tempo de Vasco da
Gama”, da presença da mulher nas embarcações, menciona que há registos deste ter
imposto uma lei que proibia a presença de mulheres nas naus, o que leva a crer que há
história por trás disto, ou seja, se realmente a mulher assumisse o papel desejado pelo
Homem, de ficar em casa, qual era a necessidade de Vasco da Gama criar esta lei?
Creio que então as mulheres já teriam estado nas embarcações, quer tenha sido para não
abandonarem os maridos ou para fazer parte da expansão lutando como os homens
mostrando que afinal poderiam ser dignas de desempenhar as mesmas funções que eles.
Assim estas foram contra aquilo que se dizia sobre elas, mostrando-se mais inteligentes
que certos homens e afirmando-se na História da expansão portuguesa a par do homem
de uma maneira ou de outra como vamos ver alguns casos que irei mencionar.

No entanto Vasco da Gama arrependeu-se de ter criado esta lei, visto que deixou em
testamento , um pedido de desculpas a algumas mulheres e como reconhecimento pelo
papel destas nas embarcações uma quantia em dinheiro.
Porque é que será que a Vasco da Gama e a outros navegadores não lhes agradava a
presença das mulheres nas suas embarcações?
Porque talvez, como já referi anteriormente a mulher é associada ao pecado e levando as
mulheres a bordo não seria conveniente porque estas seriam uma tentação e distração
para o homem, resultando assim em vários problemas o que não seria benéfico para a
tripulação.
Por esta mesma razão, aquando da necessidade de colonizar as terras conquistadas, foi
permitida a embarcação das mulheres para esse efeito, para assim se formarem famílias
e conduzirem a um aumento do poder colonial de Portugal, mas, no entanto, nas
embarcações as mulheres continuavam a ser colocadas à parte dos homens.
Ainda relativamente à presença das mulheres nas naus temos mais uma vez associada a
igreja, pois eram os padres que tinham como função assegurar que estas não entrassem
nas embarcações e estando como se de um fiscal se tratasse em toda a viagem para ver
se era detetada alguma ilegalidade.

Como já tivemos algumas noções sobre as mulheres que se revelaram importantes para
os descobrimentos pretendo destacar duas figuras e mostrar de que forma é que
contribuíram para a expansão portuguesa.
A Rainha D. Filipa de Lencastre e D. Beatriz (Infanta de Portugal) ou a Infanta D.
Isabel (Filha de João I).

A Rainha
Bibliografia

 PINTO, Ana Fernandes. (s.d). O Início da Expansão Portuguesa In A Época dos


Descobrimentos, Grande História Universal ( vol.XII, pp. 169-187). Alfragide:
Edições Ediclube
 Porto Editora – Sociedade e População dos Descobrimentos na Infopédia [em
linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2022-11-19 17:39:18].
Disponível em https://www.infopedia.pt/$sociedade-e-populacao-dos-
descobrimentos
 POLÓNIA, Amélia - O rosto feminino da expansão portuguesa, 2 vols., Lisboa,
1995 • POLÓNIA, Amélia - Ocupações femininas em sociedades marítimas,
2000 • ARMADA, Fina d` - Mulheres navegantes no Tempo de Vasco da Gama,
2006

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