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QUESTÕES FEMININAS: padrões femininos/masculinos na transição do Império à

República no Pará (1879 – 1911)

RESUMO: Este trabalho reflete brevemente sobre questões que envolviam os padrões de
comportamento às mulheres no período de transição dos regimes Império-República no
Brasil. Observa a partir dos discursos de homens, em diferentes contextos, a função das
mulheres na sociedade paraense. Nesse contexto, investiga a representação da mulher os
contos nortistas, na intenção de perceber como eram descritas por seus autores.

Algumas questões femininas

Refletir sobre o comportamento feminino em um determinado tempo histórico requer


um estudo atencioso para compreender a diversidade contextual, pois em cada período há
complexidades e perspectivas diferentes envolvidas. Esse trabalho é apenas um compêndio,
pois o profundo requer mais tempo, estudos e coletas. No final do século XIX e início dos XX
tais complexidades foram intensas no Brasil, pois junto com a virada do século vieram
também os anseios com o novo regime, o Republicano.
Diante das iminentes mudanças sociais proposta ao país, o projeto da emancipação
feminina era um dos discursos de persuasão para aderirem ao movimento republicano. Mas,
saliento que o objetivo desse trabalho é expor uma síntese das questões femininas no período
em estudo. Observar, de modo geral, como as mulheres do final do período imperial e início
do republicano se moviam e/ou eram guiadas na sociedade, o que estava posto como regra
para elas no país, mais especificamente no Pará, nessa transição de regimes políticos?
Embora seja necessário um estudo longo para obter essas respostas, vale a pena
abordar, mesmo que resumidamente, aspectos do padrão feminino nesse recorte temporal.
O trabalho do historiador José Maia Bezerra Neto (2021) 1 colabora para essa análise
inicial, pois ele destaca um grupo de mulheres do final do século XIX que eram orientadas a
partir da educação católica. Nesse sentido, traz uma compreensão das “representações sobre a
educação feminina durante a implementação do Asylo de Santo Antônio, que faziam parte das
práticas sociais de controle do comportamento das mulheres por parte do clero católico
conservador e romanizado”(2021, p.116). Esse era um contexto de ensino às meninas
desvalidas e a juventude privilegiada da sociedade paraense. 2 Era uma educação que agradava
à muitas famílias, pois seus ensinos “forjavam muito mais que uma série de regras

1
Bezerra Neto compilou cinco trabalhos no livro “Estado, Igreja e Instrução Pública” que investigam a educação
no século XIX. Tais trabalhos destacam em grande medida a educação feminina nesse período.
2
comportamentais. Dom Macedo Costa (fundador do Asylo) definia uma determinada
representação da identidade feminina, através da sujeição das mulheres à família, à instituição
eclesiástica e à figura masculina”(2021, p.117).
O autor expõe ainda um documento publicado por Dom Macedo Costa, no ano de
1875, em que “ditava as regras básicas de comportamento das mulheres cristãs”, entre os
dozes mandamentos estavam estes: “ser muito modesta em todas as suas ações, ser grave e ser
sempre decente nas falas e maneiras, detestar dissipações e profanos divertimentos, evitar
conversações indiscretas com pessoas do sexo diferente”. Esses são apenas quatro dos doze
mandamentos para as moças. Para as esposas havia treze regras, entre eles: “amar o marido,
respeitá-lo como chefe, obedecer-lhe com a afetuosa prontidão, servi-lo com desvelo, calar,
quando o vir irritado, tolerar com paciência seus defeitos”(2021, p.117). Esses são alguns
ideais femininos estabelecidas pelo líder católico às mulheres de sua comunidade.
Além dessa, havia outras instituições, em Belém, que funcionavam para educar
meninas desvalidas e órfãs. Como o Colégio do Amparo/Instituto Gentil Bittencourt, que
nesse processo da transição dos regimes políticos experimentou mudanças que interferiram
diretamente na formação dessas meninas. Essa é uma história que pode ser analisada em
diversos outros trabalhos.3
Vale ressaltar que essas orientações de conduta para as mulheres não era algo
exclusivo do setor eclesiástico, ela ocorria em outros meios intelectuais também. Michelle
Perrot descreve esse momento como “O século XIX levou a divisão das tarefas e a segregação
sexual nos espaços ao seu ponto mais alto. Seu racionalismo procurou definir estritamente o
lugar de cada um. Lugar das mulheres: a Maternidade e a Casa cercam-na por inteiro” (2017,
p.171).
Nessa perspectiva, no mês de novembro de 1886 o jornal “A República” trouxe uma
coluna como título “A NOSSA INSTRUÇÃO” e o assinante desse artigo discorreu entre
outros assuntos sobre a emancipação da mulher. Essa publicação foi lançada dois anos antes
da Proclamação da República no Brasil, percebe-se que era uma campanha de convencimento
de que o regime republicano traria melhorias para a nação por meio da educação, pois há em
seu texto muitas críticas à educação que era oferecida no final do Império.4
É interessante perceber, que embora nesse período as mulheres não tivessem uma
participação política, o artigo do jornal usava o discurso da emancipação feminina para

3
SOUSA, Celita Mª Paes de. Traços de compaixão na história do Pará: instituições para meninos e meninas
desvalidas no século XIX até o início do século XX. Tese de doutorado (Educação: currículo). São Paulo, PUC,
2010.
4
A República, 10/11/1886, pág. 2
convencer seus leitores da supremacia republicana. O autor do texto, Jeferson, exalta a mulher
como “um desses raros assuntos inesgotáveis e que oferecerá constantemente, como tem
oferecido até hoje, em todos os tempos e países os mais variados temas”. Em seguida
justifica que ela era uma “Irmã e companheira do homem, ela o tem seguido de perto em
todas as suas evoluções progressistas”, entretanto ele não deixou de citar sobre a inferioridade
da mulher em relação ao homem.5
Nesse contexto, o historiador William Gaia Farias destaca que a imprensa foi
fundamental para os republicanos do Pará, pois eles a utilizavam para a divulgação do regime
e crítica a Monarquia. O autor ressalta ainda que “Como principal veículo de comunicação, o
jornal era lugar privilegiado de manifestações dos letrados. Os periódicos eram importante
veículos de propaganda dos ideais republicanos através de uma leitura mais acessível a
imensa maioria da sociedade” (2016, p.60).
Outro meio usado para propagar a mentalidade republicana foi a escola, Felipe
Tavares Moraes ressalta que “a educação feminina era considerada uma necessidade para
colocar em xeque a condição da mulher como tutelada do homem”(2011,p.78).
Havia um interesse em deixar a mulher no mesmo nível de intelectualidade do homem.
Tais constatações podem ser comprovadas através do livro de Hygino Amanajás doze anos
depois, em 1898, da publicação do jornal. A obra dele era uma espécie de cartilha que foi
distribuída nas escolas de Ensino primário no Estado do Pará com o título “Noções de
Educação Cívica” e entre as orientações que há na obra, ela ensinava as meninas estudantes
do primário sobre os
DEVERES DA MULHER PARA COM A PATRIA
Também a mulher, apesar de não ser chamada ao exercício dos direitos
políticos, tem deveres sacratíssimo para com sua pátria. [...] Também no
magistério, em que é sem dúvida superior ao homem, quando se trata de
ensinar crianças, tem ela enseja, ou antes tem obrigação imperiosa de
cumprir esse dever, que ainda mais a engrandece [...] Como mãe de família,
como mestra ou educadora, a mulher tem campo vasto para exercitar seus
deveres de patriota. É por isso que ela também precisa conhecer bem seus
deveres para cumpri-los e ensiná-los. (AMANAJÁS, 1898, p. 110 -111)

Infere-se até aqui que homens determinavam o padrão para mulheres no final do
século XIX e no início do XX. Os padrões femininos hegemônicos eram estabelecidos em
grande medida por homens em diferentes setores de poder e autoridade na sociedade. Esse
aspecto é facilmente notado na igreja, na política e nos lares. Padres, jornalistas, professores,

5
A República, 10/11/1886, pág. 2
maridos e outros intelectuais determinavam como as mulheres deveriam se organizar naquele
contexto.

A Literatura como porta de análise

Vamos para outra perspectiva de análise. Para diversificar e fortalecer os argumentos


de que havia um padrão social estabelecida para as mulheres, a literatura será o documento. O
objetivo é propor análises a partir de literaturas regionais, perceber por meio destes textos
literários, escritos apenas por autores homens, como eles reverberavam a mulher do seu
tempo. A partir deles refletir sobre as personagens femininas nas obras escritas no final do
Império e do início da República. Observar quais mudanças significativas ocorreram no
cotidiano feminino e quais grupos de mulheres experimentaram essas mudanças.
Nesse sentido, para validar a literatura com fonte histórica, Borges esclarece que
É importante destacar a literatura como testemunho ou documento histórico,
no sentido de valorizar a riqueza do texto ficcional como fonte que, de forma
indireta, fala do mundo, através de uma linguagem metafórica e alegórica. O
conteúdo narrativo do texto literário, por conseguinte, é expressão de formas
de pensar e agir, dotado de credibilidade e significância. (2010, p.46)

Sandra Jatahy Pesavento destaca ainda, que a Literatura se torna uma fonte muito
especial para o trabalho do historiador quando ele usa esse documento para resgatar a
“sensibilidades de uma época, os valores, razões e sentimentos que moviam as sociabilidades
e davam o clima de um momento dado no passado, ou em ver como os homens representavam
a si próprios e ao mundo” (2003, p.39).
Nesse viés, será realizada a análise dos contos de Marque de Carvalho, selecionados
dos livros Contos do Norte e Contos do Pará e ainda dois contos de José Veríssimo de sua
obra Cenas da vida Amazônica. Os contos escolhidos têm o objetivo de destacar as
personagens femininas e observar a partir dos seus autores como eles as identificavam e se
havia um padrão no contexto em que elas estavam inseridas. Os textos literários são
intencionais no sentido de observar como seus autores nortistas representavam as mulheres de
seus textos
Roger Chartier assegura que
Por um lado, o que a escrita literária capta é a poderosa energia das
linguagens, ritos e práticas do mundo social. São múltiplas as formas de
negociação que permitem tal captação estética do mundo social: a
apropriação de linguagens, o uso metafórico ou material no caso do teatro de
objetos cotidianos, a simulação de cerimônias e discursos públicos. Por outro
lado, a energia transferida na obra literária (...) retorna ao mundo social por
meio de apropriações por parte de seus leitores e espectadores. (Tradução
livre) (CHARTIER, 2007, p.1-2)

Diante dessas proposições, como as questões femininas eram descritas na literatura da


época? Como os autores dos contos – paraenses, nortistas ou amazônicos – representavam o
padrão feminino em seus textos?

Contos Amazônicos

Os contos amazônicos são permeados de personagens com histórias dramáticas. Suas


personagens femininas são, em grande medida, destinadas a um final trágico... Dada a
influência do estilo da época, muitos dramas são justificados literariamente. Nesse período
“vivia-se o auge dos modelos darwinistas raciais. Raça era entendida, então, como um
conceito ontológico que dividia a humanidade a partir de categorias rígidas como
superioridade e inferioridade” (SCHWARCZ, 2022, p. 298). Por isso alguns personagens são
bem óbvios, isto é, no sentido do que culturalmente já estarem padronizados.
Os contos selecionados de Marques de Carvalho são: da obra Contos do Norte (1907):
A neta da cabocla de Ourém e Um conto como tantos; e do livro Contos Paraenses (1889), A
lição de Paleografo e Ao soprar a vela. De José Veríssimo são dois da obra Cenas da vida
Amazônica (1886): O crime do tapuio e Indo para a Seringa.
Síntese das obras e de suas personagens.

AUTOR CONTO PERSONAGENS ENREDO/RESUMO


FEMININAS
Marques de A neta da Jovem cabocla – Cabocla tapuia – Paquinha, porque
Carvalho Cabocla de Paquinha tinha um apimentado saracoteios nas
1907 Ourém Avó tapuia danças.
Se apaixonou pelo escrivão e foi
embora para Belém, depois apanhou
dele e o largou. Se apaixonou de novo
e foi abandonada por seu amante Júlio.
Marques de O banho da Jovem tapuia – Saiote curto, camisinha branca, de
Carvalho Tapuia Hortência renda com decote.
1907 Nudez – seios virginais -
Marques de A lição do Escrava Josepha e Dor profunda de Josepha, porque seu
Carvalho paleografo mãe de Isaura- senhor, o Comendador vai levar sua
1889 filha mulatinha filha para Paris, ele prometeu trazer a
menina instruída, educada, elegante e
feliz – “uma verdadeira senhora”. A
escrava se conforma, pois seria “tolice
de Josepha não reconhecer os
benefícios que queriam fazer-lhe a
filha”. Três anos depois a mãe recebe
uma carta de sua filha, alguém lê a
carta, mas depois a escrava mãe
começa a aprender a ler no paleografo.
Marques de Ao soprar a Cândida – casada Esposa apaixonada pelo marido,
Carvalho vela e burguezinha esposo querido, idolatrado amigo. Ela
1889 tem ternura dulcíssima. Rir com o
marido nas horas de alegria. “Candinha
contribuía, segundo seu poder, para
torna-lhe suave e alegra a vida” Ele era
tão lindo, tão bom, tão amado.
José O crime do Benedita – 7 anos Pais pobres e caboclos de Trombetas.
Veríssimo tapuio Bertrana – mais Seus pais deram-na a seu padrinho. E
1899 de 40 anos, muito ele a deu de presente a sua sogra.
branca “Triste existência”. Pancadas, soluços,
xingamentos. Foi devolvida aos pais
pelo tapuio José Tapuio
Bertrana – Nunca se casara. Foi
sempre feia e implicante. “Estava em
toda sua plenitude de fealdade”
José Indo para a Três mulheres – a Mãe – quarenta anos, tapuia, gorda
Veríssimo Seringa mãe e duas filhas Duas moças de 14 e 15 anos – meigas
1899 e ingênuas no início do esboceto.
Mãe- magra, pálida,
Filha 1- violência sexual, filho, infeliz
Filha 2 – violência sexual, prostituição
Dor, miséria, desonra

As personagens mulheres, sobre os olhares de autores masculinos nos contos


paraenses de alguma forma, refletem o que estava socialmente estabelecido no Norte do
Brasil.
As personagens dos contos de Marques tinham destino certo dependendo de sua
origem, por exemplo, as tapuias e caboclas tinham características sensuais e destino ruim,
eram abandonadas depois vários relacionamentos, raras exceções como no Banho da Tapuia,
na qual a personagem tem autonomia para escolher seu pretendente. O conto “Ao soprar a
vela” descreve exatamente o retrato da mulher ideal, a boa esposa, dedicada e exemplar.
Foi uma grata surpresa nos textos de Marques com a personagem Escrava Josepha, ter
uma narrativa em que a mulher negra é a heroína, era uma raridade para esse período. Porém,
de o autor deixa claro que para se tornar uma “verdadeira senhora” a filha da escrava precisa
sair do ambiente de escravidão e ir para Paris receber a instrução e educação. Esse conto
merece uma análise mais articulada por ter protagonistas negras.
Já nos dois contos de Veríssimo, ele destaca a pobreza, a tristeza, o sofrimento, o
destino triste das tapuias. Embora suas narrativas descrevam as belezas naturais da Amazônia,
suas personagens na grande maioria estão envolvidas em tramas bem dramáticas.
Nos contos são perceptíveis as questões sociais do ideal feminino, que são voltados
para a educação que transforma, a esposa exemplar que colabora com o marido. Evidencia-se
que a mulher que não é casada é triste. Esses são alguns apontamentos que podem ser
articulados com o que já foi discorrido no início desse trabalho.
Para complementar essa abordagem, em 1911 no Rio de Janeiro, Coelho Neto
publicou o livro “Alma: Educação feminina”, ele ressalta que sua obra é um conjunto de
pequenas narrativas para ajudar na leitura e dicção, mas serve também como conselhos
“Moraes e cívicos” para suas filhas. A partir de alguns textos observa-se que os conselhos dos
homens permanecem quase os mesmos do final do regime monárquico. Por exemplo, nesse
livro são vários textos pequenos em que o pai esclarece que “A professora fará a aluna apurar
das narrativas a suma da moralidade...”. Nesse sentido, as pequenas narrativas aconselham
sobre: a valorização do tempo, conselhos que salvam, a união da família, amizade verdadeira,
sobre vestimentas, entre outras.
Mas vale ressaltar alguns trechos da obra de Coelho Neto confirmam a função da
mulher na sociedade do início do século XX ao escrever que “Faça cada qual o que lhe
compete e cumprirá a sua missão na terra. A mulher cabe o governo da casa e nele está
compreendido o preparo da futura geração” (1911, p. 91). E ainda reforça que
E á mulher, minha filha, o ser fraco, cabe a responsabilidade maior nesse
trabalho, porque, como o Senhor, no dizer dos livros, criou a alma do
Homem infundindo-lhe no corpo o seu halito divino, a mulher mãi deve
inspirar ao coração do filho o bom exemplo, que é o germen da perfeição.
Por isto convem que a educação da mulher seja guiada com todo escrupulo,
porque o seu destino na terra é continuar a vida, perpetuando o amor.
(COELHO NETO, 1911, p. 140)

As protagonistas sobre o olhar dos autores masculinos ditando o que era ideal, gera
sentimentos diversos. Mas a resistência a todo esse conjunto de regras oportuniza um bom
trabalho, que pode ser realizado em outro momento.

Mulher negra quase invisível


Após essa breve exposição das questões femininas, de como as mulheres eram
idealizadas por homens em diferentes setores do poder e como a sociedade de forma geral
estava organizada no final dos oitocentos e início dos novecentos, destaca-se a invisibilidade
da mulher negra. Pode-se dizer que isso ocorre devido ao período em estudo em que era
recente a abolição dos escravizados. Nesse contexto, a representatividade da mulher negra
ainda esteja muito ligada a sua condição do trabalho escravo.
No discurso republicano da emancipação feminina a ser conquistada pela educação era
acessível às mulheres pretas libertas? O padrão eclesiástico para as mulheres cristãs estendia-
se as negras? Quanto tempo levou para que as mulheres negras fossem as heroínas dos textos
literários? Quanto tempo esperaram para serem incluídas?
Borges garante que “Os silêncios ou as revelações nos textos literários são fontes de
extrema relevância para se compreender os mecanismos de perpetuação ou transformação das
representações de uma dada sociedade. Esses discursos orientam o olhar e a percepção sobre a
realidade (2010, p 47). Nessa perspectiva, é necessário desnaturalizar o invisível, o
silenciamento com mais estudos e pesquisas. Problematizar o comum.
Essa hegemonia feminina elitista em que prioritariamente a mulher branca era a
protagonista, só começou ser quebrada quase na segunda metade do século XX. O período da
transição Império/República revela que há uma invisibilidade gigantesca do protagonismo
negro e que precisa ser quebrada. E ainda hoje é um desafio evidenciar a cultura negra.
Na virada do século XIX ao XX as questões femininas negra estavam voltadas para a
busca do próprio conhecimento social. Foi um tempo de encontrar sua identidade após a
abolição.
Mas atualmente esse protagonismo pode ser tomado com maior convicção e liberdade.
Para colaborar com a exposição da identidade afro-brasileira é necessário avançar, investir,
pesquisar, divulgar. Assim como
A Academia do Peixe Frito, pouco a pouco, transformou-se em um grupo
que possibilitou a democratização de oportunidades para os que habitavam
nos arrabaldes de nossa cidade, fugindo da “geografia de oportunidades” de
uma elite social, econômica e política, seringalistas e/ou comerciantes, elite
privilegiada (por vezes branca ou embranquecida) da Belle Époque. Assim,
diferentemente à tendência do silêncio reinante, é necessário que
reconheçamos estudiosos que chegaram até nós e nos antecederam –
pesquisando temáticas, geralmente ligadas às inovações estéticas e da
Negritude (NUNES, 2018, p.10)
Tudo que possibilita uma virada hegemônica a favor da negritude precisa ser
realizado, precisa ser encarado. Essas mudanças vêm da indignação com o que está
normalizado.
A literatura negra ainda precisa avançar e ser naturalizada no Brasil. Porém,
parafraseando SCHWARCZ, “A negritude toma força quando a população negra adquire
consciência e retoma sua identidade, recupera sua herança histórica, cultural e social” (2022,
p. 300). É necessário se enxergar protagonista de sua própria história e nação.
FONTES:
Jornal
A República: Órgão do Club Republicano (PA) – 1886 a 1900
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=704440&Pesq=Emancipa
%c3%a7%c3%a3o&pagfis=47

Contos
http://obrasraras.fcp.pa.gov.br/
Marques de Carvalho, Contos Paraenses, Tip. de Pinto Barbosa, Belém, 1889
Marques de Carvalho, Contos do Norte, tip. da Papelaria Silva, Belém, 1907
José Veríssimo, Cenas da vida Amazônica, 1899
Alma: Educação feminina, Rio de Janeiro, Coelho Neto– 1911
Noções de Educação Cívica, Hygino Amanajás, Pará - 1898

REFERÊNCIAS BIBLIGRÁFICAS

BEZERRA NETO, José Maia. AS LUZES DA CIVILIZAÇÃO: instrução pública e


reformismo civilizador (Pará - século XIX). In: Estado, Igreja e Instrução Pública: práticas de
reformas civilizadoras no Brasil escravista (Grão-Pará: séc. XIX). Curitiba: CRV, 2021.

BORGES, Valdeci Rezende. História e Literatura: algumas considerações. Revista de Teoria


da História. Ano 1, Número 3, junho/2010. Universidade Federal de Goiás.
CHARTIER, Roger El pasado en el presente. Literatura, memoria e historia. Co-herencia, vol.
4, núm. 7, julio-diciembre, 2007, pp. 1-23 Universidad EAFIT Medellín, Colombia.
FARIAS, William Gaia. A construção da República no Pará. Belém: Açaí, 2016.
MORAES, Felipe Tavares de. A educação no Primeiro Governo de Lauro Sodré (1886-1897):
os sentidos de uma concepção político-educacional republicana. Dissertação (Mestrado
Acadêmico em Educação) – Instituto de Ciências da Educação, Universidade Federal do Pará,
2011.
NUNES, Paulo; COSTA, Vânia. Negritude e Protagonismo: um Peixefritano modo de ser e
estar no olho do furacão da Província. Asas da Palavra. Vol. 15, n. 1, pp. 8-15, julho 2018.

PERROT, Michelle. Os excluídos das histórias: operários, mulheres e prisioneiros. Tradução


de Denise Bottman. Rio de Janeiro, Paz e Terra. 1988.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. O Mundo Como Texto: leituras da História e da Literatura.
História da Educação, Pelotas, p. 31 - 45, 01 set. 2003
SCHWARCZ, Lilia Moritz. “O negrismo e as vanguardas nos modernismos brasileiros:
presença e ausência” In: ANDRADE, Gênese. Modernismos, 1922-2022. São Paulo:
Companhia das Letras, 2022, p. 296-322.

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