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DO COLÉGIO DO AMPARO AO INSTITUTO GENTIL BITTENCOURT: educação

feminina na transição da Monarquia à República (Belém, 1879-1910)


Elbia Cunha de Souza1
Após a queda da monarquia brasileira as primeiras décadas da República foram
marcados por muitas mudanças e isso ocorreu não apenas no regime político, mas em diversos
setores da sociedade brasileira. No Pará, as ações para diferenciar e afastar quaisquer
resquícios do antigo regime, foram realizadas por meio distintos. Moura e Farias (2009)
ressaltam que “a imprensa paraense assume o papel de espaço de luta política, destacando-se
como o principal meio de comunicação, ou seja, veículo de divulgação de ideias e propaganda
partidária, além da manifestação de intelectuais” (2009, p. 108). A imprensa foi um dos meios
mais eficazes para alcançar a população na intenção de legitimar os ideais republicanos. No
campo educacional a Amazônia experimentou investimentos na construção de escolas e nas
reformulações dos currículos, pois havia a forte intensão em mudar o sistema educacional da
época. Nesse contexto educacional, tais transmutações foram evidentes em diversos setores de
ensino, como no Colégio Nossa Senhora do Amparo, em que a educação feminina
experimentou modificações significativas. O primeiro Diretor Geral da Instrução Pública da
República paraense, José Veríssimo, fez duras críticas ao colégio em seu Relatório com a
seguinte declaração “Realmente o Collegio do Amparo asyla – e ainda mal – mais de duzentas
órfãs desvalidas, não as instrue, nem sobretudo as educa. Não seria exagerado dizer que em
rigor limita-se a hospedal-as”2. A troca do nome da instituição ocorreu no dia “ 1 de
fevereiro de 1897, o dr. José Paes de Carvalho decretou mudança da denominação – Collegio
de Nossa Senhora do Amparo – para a de – Instituto Gentil Bittencourt” 3. Inaugurou-se um
novo tempo para a educação feminina na capital paraense, junto com a alteração do nome
vieram as das estruturas físicas e educacionais. Para organizar e aprofundar esse estudo, o
trabalho está dividido em três capítulos: No primeiro a perspectiva é fazer um panorama da
mulher paraense na cena da transição do Império à República, em grande medida, analisar as
mulheres que estavam na escola, investigar qual currículo era empregado, a influência e os
métodos que eram repassados no dia a dia nas salas de aulas e o que estava estabelecido com
regra de condutas na vida social delas. A proposta para o segundo capítulo é fazer a análise a
partir das literaturas, na intenção de observar como, sutilmente, as ideologias políticas de
dominação e os padrões femininos estavam implícitas e explícitas no meio social. Perceber
nos discursos dos intelectuais homens como descreviam a mulher do seu tempo, utilizar a
literatura como documento de análise do ideal feminino na sociedade no período da transição
da Monarquia à República. Em seguida, o terceiro capítulo irá explanar como a emancipação
feminina republicana estava posta para os diferentes grupos de mulheres. Investigar, por
intermédio das documentações, as demandas legais para a instituição em estudo, sobretudo
como esse anseio republicano se aplicava legalmente às meninas órfãs e desvalidas do
Instituto Gentil Bittencourt.

1
Graduada em História (UFPA). Mestranda em História Social da Amazônia pelo Programa de Pós-Graduação
em História (PPHIST) da Universidade Federal do Pará.
2
A Instrução Pública no Estado do Pará. Relatório apresentado ao Exc.º Sr. Dr. Justo Leite Chermont
Governador do Estado pelo Dr. José Veríssimo – Diretor Geral.p.168.1890
3
VIANNA, Arthur. O Instituto Gentil Bittencourt: Esboço Histórico. Belém: Typografia do Instituto Lauro
Sodré, p.53.1906.

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