ANANIAS, Mauricéia. BARROS de Pombo Aaronovich Surya. Escolarização na
província da Parahyba do Norte: a organização da instrução pública primária (1840- 1860) Rev. bras. hist. Educ. Maringá-PR, v. 15, n. 1 (37), p. 83-108, jan./abr. 2015
Esse texto mostra um senário educacional Parahybano no século XIX de
início da formação de pensar de construir a maquinária escolar na Parahyba. O texto aborda como, e quais foram os principais debates com relação a história da educação escolar institucional Parahybano. As autoras escolheram como corte temporal a escolarização na província da Parahyba do Norte pública primária, o interesse delas é na formação de professoras(es) e de alunas(os) e os conhecimentos básicos da instrução, isso é aprender a ler, escrever e contar. Elas falam também de como se começou a debater essa formação no início do século XIX na Parahyba. O objetivo do texto é que as autoras vão considerar a atuação do governo provincial diante da instrução pública da Parahyba, este é um objetivo que situa o texto. Elas trabalham com um autor específico que tem a visão conceitual do que é lei por exemplo, esse autor tem uma visão metodológica do texto que é o Edward Palmer Thompson, ele foi um importante historiador britânico que na década de 60 apoiava muito o marxismo. A metodologia do texto é que as autoras não enxergam as leis como algo que sempre existiu e que o tempo todo vem acima da sociedade, elas enxergam as leis no diálogo com as práticas sociais e elas sendo construídas por esses diálogos. As autoras trabalham com as legislações na percepção do Thompson porque elas existem escritas e elas tentam regrar um olhar dos poderes públicos. No texto as justificativas e as brechas que o poder público encontrou para que se elaborasse o regulamento de 1849, as autoras citam alguns exemplos como achar que as famílias e professores não se adequavam a civilização imperial e por isso era preciso regrar o cotidiano das escolas públicas paraibanas. Na introdução do texto as autoras já partem de uma problemática historiográfica, que é muito comum ainda para as pesquisas sobre história da educação no império tradicionalmente as pesquisas antes da década de 90 diziam que o império não teve preocupação com a questão educacional no Brasil, isso é um discurso que muitas vezes naturalizamos até hoje achando que só na república é que foi montada uma maquinária escolar muito próxima da que a gente compreende na atualidade, e isso não é bem assim. Na introdução as autoras explicam o porquê do corte temporal escolhido, Elas escolheram esse intervalo temporal como demonstrativo de intensos debates acerca da importância da instrução, manifestados algumas vezes na elaboração da legislação e também nas falas dos envolvidos com o processo de organização desse ramo da vida na província e apresentados a partir da documentação analisada. As autoras mostram que as novas pesquisas desde a década de 90 referente a história da educação têm falado que o império brasileiro foi um ponto de partida muito importante para entendermos a escola atual, para entendermos a maquinaria escolar contemporânea, esse discurso de que no império não houve preocupação com a educação veio da república foi um discurso construído na década de 20. As autoras dizem que as pesquisas desde a década de 80, 90 tem mostrado que o processo de escolarização no império do Brasil serviu de inspiração para as legislações que vinheram na república, serviu para os discursos sobre a educação que vinheram na república, então isso é enxergar que a história é um processo muitas vezes lento, muitas vezes rápido, e não como uma quebra. As autoras focam em uma lei específica, o regulamento de 20 de janeiro de 1849 após o ato adicional. Regulamentos são tipos de documentos que trazem detalhadamente como o poder público pensava, a premiação dos alunos, os castigos, o método de ensino aplicado, os horários das aulas, as matérias que eram lecionadas, então regulamento é um tipo de documentação detalhada desse cotidiano escolar, e as autoras analisam esse regulamento. As autoras dividiram o texto em três tópicos, no primeiro tópico elas vão abordar Nação, Estado nacional e a Parahyba do Norte, no segundo tópico vão tratar A atuação do governo provincial na constituição da instrução pública, e por último o tópico os regulamentos da instrução provincial. No primeiro tópico Nação, Estado nacional e a Parahyba do Norte, nesse tópico as autoras falam sobre a relação entre o debate sobre a nação brasileira, a formação do Estado nacional independente brasileiro, com uma historiografia Paraibana e nacional, aborda esse debate ligado a educação. Na primeira parte elas vão debater que dentro do império do Brasil havia um debate na qual já discutimos, isso é, o que era ser brasileiro, quais eram a formas educacionais e o que era um Brasil independente de Portugal. As autoras para analisar esse debate utilizam a Schueler e Gondra para poder entender como que estava a realidade Paraíba na educação após a independência, elas começam a mostrar as ligações políticas, como era o ideal da educação que os paraibanos defendiam, elas contextualizam, elas fazem um cenário político nacional e provincial da educação. Nesse contexto, a construção do Estado nacional e da nação no Brasil após a independência política de Portugal em 1822 não foi imediata. Foi necessário um amplo processo em diferentes níveis, como político, econômico e cultural, para garantir a soberania e a unidade territorial. A criação do Brasil foi uma experiência singular e única, com manobras precisas para organizar e disciplinar a sociedade brasileira. Nesse processo, a atuação dos presidentes da província e da Assembleia Legislativa desempenhou um papel importante na estratégia de direção e controle da administração e da política imperial. A instrução pública essencial também ganhou destaque, sendo considerada para elevar o Império à condição de Estado moderno e civilizado. Esse período após a independência foi marcado por desassossego e revolta social, expondo as disputas entre diferentes grupos e projetos para uma jovem nação. Na Paraíba, a historiografia analisa a província a partir de três elementos basilares: os movimentos liberais, a construção da ordem e a crise agrária. A construção da ordem foi uma das principais estratégias da política imperial na tentativa de construir a Nação. Os movimentos sociais e a visão de que eles poderiam comprometer a unidade nacional levaram à repressão desses movimentos. A estrutura política da época pode ser explicada pela nacionalização do poder por meio da atuação das elites agrárias, que buscavam ocupar e ampliar a máquina político-administrativa na província. A Presidência da Província, o Conselho Provincial, o aparato judiciário e foram implantados para implantar o poder político policial na província. Além disso, novas vilas e cidades foram criadas para aumentar a presença do poder público. Como estratégia para a construção da ordem, os discursos dos presidentes da província enfatizavam a importância da ordem, do desenvolvimento e da civilidade da população paraibana. A instrução pública era defendida como indispensável para alcançar a moralidade dos cidadãos e projetar um futuro de paz e ordem. Nesse contexto, a legislação desempenhava um papel fundamental na construção da ordem, sendo utilizada como mecanismo para consolidar o ideário desejado. As reformas constitucionais, mesmo em uma sociedade escravocrata e latifundiária, representavam uma consolidação desse ideário. A instrução pública primária foi apresentada como um elemento de garantia da ordem e da formação de um povo civilizado. No segundo tópico sobre a atuação do governo provincial na constituição da instrução pública, o governo provincial desempenhou um papel fundamental na constituição da instrução pública durante o período analisado. Através dos discursos dos presidentes da província e da documentação produzida, pode-se perceber a intensa atividade do governo nesse campo. Diversas leis foram criadas para estabelecer, modificar, fechar e reabrir escolas, determinar a organização e inspeção das aulas, definir as matérias e os métodos de ensino, implementar o ensino misto, regular a caixa escolar, os materiais didáticos, os recursos financeiros necessários e o tipo de aluno desejado. Em alguns períodos, a frequência de escravos nas escolas foi proibida, e o ensino feminino teve seu início. A carreira docente também foi objeto de regulamentação por parte do governo provincial. Foram estabelecidas normas para a conduta moral dos professores, aposentadorias, licenças, processos, salários, suspensão, demissão e remoção, realização de concursos e exames, bem como os requisitos de habilitação para admissão dos professores. Os horários e divisões das aulas em relação à localização e idade dos alunos também foram regulamentados. A Assembleia Legislativa Provincial desempenhou um papel importante na promoção da legislação local relacionada à instrução pública. Essas ações eram consideradas parte dos esforços das elites para a construção da nacionalidade brasileira, acreditando que a base legal seria a fundadora da escola moderna e do desenvolvimento almejado. Em determinado momento, foi projetada a criação da Diretoria da Instrução Pública e a fiscalização realizada pelos comissários como garantia de controle sobre as escolas e os professores. Os ideais de progresso e civilização foram invocados para convencer a população a enviar seus filhos à escola, especialmente aqueles considerados rústicos e ignorantes. A falta de apreço à instrução, de acordo com os legisladores, justificava a defesa do ensino obrigatório. Embora essa obrigatoriedade não tenha sido efetivada na época, o debate sobre o assunto revela o papel das elites governamentais na valorização do ensino para a população, especialmente para os considerados mais pobres e negligentes em relação à instrução. O discurso predominante era o de que havia falta de professores preparados para lecionar, sendo frequentemente mencionada a necessidade de controle sobre sua atuação. A legislação e os relatórios dos presidentes refletiram essa visão, retratando os professores como poucos e despreparados para a nobre missão de educar a juventude. Em suma, a atuação do governo provincial na constituição da instrução pública envolveu a elaboração e promulgação de leis e regulamentos, além do controle e organização das escolas e dos professores. O objetivo era garantir a educação necessária para a população, superando o atraso e contribuindo para a construção da ordem e da nacionalidade. No terceiro e último tópico, que fala sobre os regulamentos da instrução provincial, as autoras vão abordar os regulamentos que foram estabelecidos com o objetivo de organizar a instrução pública e garantir sua uniformidade. O primeiro regulamento, datado de 17 de janeiro de 1849, criou o cargo de diretor geral da instrução pública, que seria nomeado pelo presidente da província. O diretor geral tinha a responsabilidade de inspecionar os estabelecimentos de instrução e as aulas públicas provinciais, bem como os professores providos pelo governo ou particulares. Além disso, o diretor era encarregado de regular o ensino público nacional, designar as matérias e o método a serem seguidos, promover a composição de compêndios, distribuir as aulas e organizar regulamentos escolares. Além do diretor geral, cada município contava com comissários da instrução pública, nomeados pelo diretor geral com a aprovação do presidente da província. Esses comissários tinham a função de fiscalizar as escolas e os professores em suas localidades. Esses comissários eram nomeados pelo diretor geral, com aprovação do presidente da província, e eram responsáveis por fiscalizar as escolas e relatar informações sobre a instrução, além de monitorar a conduta dos professores. O segundo regulamento, de 20 de janeiro de 1849, introduziu diretrizes mais detalhadas. Ele enfatizava a importância de garantir um espaço adequado para as escolas, distinto das residências dos professores. Ao longo da década de 1850, não foram encontrados regulamentos específicos para a instrução pública, mas houve discussões sobre a necessidade de reformas e de um controle mais efetivo sobre os professores. A ênfase passou a ser dada à qualificação dos professores, à seleção de materiais didáticos adequados e à organização do ensino escolar. Além disso, estabelecia regras para a disposição do mobiliário na sala de aula, incluindo a presença de uma imagem de Cristo e o retrato do imperador. O método de ensino utilizado era predominantemente o simultâneo, embora alguns relatos sugiram que na prática era empregado um método misto. Esses regulamentos refletiam a tentativa do governo provincial de assumir a regulação e fiscalização das escolas primárias, seguindo as diretrizes estabelecidas pelo Ato Adicional de 1834. Eles visavam racionalizar e modernizar a instrução pública, garantindo um ensino de qualidade e o controle sobre os professores e o ambiente escolar.
Considerações
O texto Escolarização na província da Parahyba do Norte: a organização da
instrução pública primária (1840-1860) destaca que a legislação analisada e os discursos presentes nos documentos investigados contribuíram para o estabelecimento da instrução pública primária na província. O governo provincial demonstrou preocupação com a disseminação da escola, levando em consideração as famílias dos alunos e os professores como alvos da ação reguladora e civilizadora. Essas conclusões apontam para a importância atribuída à educação primária nesse contexto histórico específico. O governo provincial desempenhou um papel fundamental na criação e organização das aulas de primeiras letras, buscando estabelecer um sistema de instrução pública que visava não apenas a transmissão de conhecimentos, mas também a promoção da civilização e do progresso da sociedade. Esse texto foi muito importante para a minha formação pois a análise dessas fontes históricas e os argumentos apresentados no artigo podem fornecer insights sobre a organização da instrução pública primária na província da Parahyba do Norte durante o período de 1840 a 1860. Isso vai enriquecer a minha compreensão sobre a história da educação e o papel do governo provincial na promoção da escolarização nessa região específica do Brasil no século XIX.
Aberturas para a história da educação: do debate teórico-metodológico no campo da história ao debate sobre a construção do sistema nacional de educação no Brasil