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A primeira República brasileira, iniciou-se em 1889 com apoio do movimento militar

e de empreendedores da economia cafeeira, que estes estavam descontentes com os


barões do café, que faziam o intermédio entre os latifundiários e os exportadores. O Império
não sobreviveu num lugar com grande expansividade de lavoura cafeeira, e sem regime
escravocrata, e totalmente dependente do trabalho assalariado. O Brasil estava em
desenvolvimento urbano com portos, ferrovias, rede telegráfica, e a população com ideais
democráticos.
Com o desaparecimento do Poder Moderador do Imperador, teve o fim do voto
censitário, os títulos de nobreza terminaram e houve certa descentralização de poder. Os
grupos que estiveram junto com os militares na idealização e construção do novo regime
vieram de setores sociais que privilegiavam as carreiras de trabalho não braçal, nos quais
esses profissionais precisavam de certa escolarização, o que foi um início para abrir
discussões sobre abertura e aperfeiçoamento das escolas.
Foram iniciados os primeiros movimentos a favor de uma melhor acessibilidade à
qualidade da educação escolar, com o entusiasmo pela educação que solicitava abertura
de escolas e o otimismo pedagógico se preocupava com os métodos e conteúdos do
ensino. Mas no início da República, teve uma prioridade pelo entusiasmo da educação,
que estava associado então ao trabalho das Ligas Nacionalistas, com influência de
entidades patrióticas da Primeira Guerra, e com a noção da crescente industrialização no
país, o Brasil sente a necessidade de se igualar aos países mais “desenvolvidos”, causando
uma pressão na melhoria de sua escolarização.
Em 1920 surge um grupo de intelectuais com a ideia de republicanização da
República, os governantes prometiam tornar o Brasil um país diferente, com 75% da
educação analfabeta, o governo precisava tornar o ensino público como prioridade. Após o
final da Primeira Guerra Mundial, tendo a Inglaterra e os Estados Unidos ficado em estado
de emergência, e sendo o Brasil credor da Inglaterra, passando agora a ser credor dos
Estados Unidos, através da imprensa, cinema, literatura, relações comerciais, etc. Esta
literatura estadunidense foi, em parte, o conteúdo do movimento do otimismo pedagógico,
vários acharam que, se tínhamos de começar, que já se começasse pelo que era o mais
moderno.
A pedagogia formalizada pelo alemão Johann Friedrich Herbart (1776-1841) com a
pedagogia que vigorou no passado com a Companhia de Jesus, e que se mantinha forte até
então. Junto com o que passamos a ler sobre a literatura norte-americana e europeia em
geral, ligados ao movimento da educação nova, os livros de John Dewey (1859-1952), no
qual possuía uma forte influência por Hegel, foram uns dos mais lidos no Brasil.
Progredimos rápido nesse campo e em meados dos anos vinte já tínhamos autores
brasileiros não só capazes de escrever sobre o escolanovismo como historiá-lo. Foi o que
fez Lourenço Filho em seu livro Introdução ao Estudo da Escola Nova, publicado pela
primeira vez em 1929 e que, depois, se tornou um clássico da literatura pedagógica
brasileira, até hoje um dos livros mais informativos sobre a Escola Nova.
Também cabe citar o espanhol, Francisco Ferrer y Guardia (1859-1904), que
motivou vários professores de tendências anarquistas e socialistas, ligados ou não às
movimentações sociais operárias dos anos dez e vinte. Tais professores estiveram à frente
das chamadas “escolas modernas”, escolas que existiram em várias capitais do país, em
um trabalho às vezes associado a centros de cultura libertários de imigrantes italianos,
franceses e mesmo de brasileiros que haviam aderido ao anarquismo ou formas deste.
Toda essa literatura agora no campo do movimento do otimismo pedagógico, menos
a ligada ao passado clerical, ou tradicionalista na linha de Herbart, em certa medida. E o
fruto do otimismo pedagógico foi o ciclo de reformas estaduais da educação. Os jovens
intelectuais daquela época foram para várias capitais do país e procuraram dar
consistência à educação estadual, guiando minimamente as condições escolares (os
principais intelectuais foram…ler o slide).
Apesar de todos os debates a respeito da educação nos anos 20, a única reforma
que atingiu o ensino primário foi a realizada por Benjamin Constant, através do Decreto n.º
981 de 8 de novembro de 1890. A escola primária ficou dividida em duas categorias: 1º grau
(7 a 13 anos) e 2º grau (13 a 15 anos). Nessa reforma ele também criou o Ministério da
Instrução (Educação), Correios e Telégrafos (mas este Ministério durou apenas até 1892) e
tentou a substituição do currículo acadêmico de cunho humanístico por um currículo de
caráter enciclopédico, com disciplinas científicas, ao sabor do positivismo endossado por
vários republicanos.
Benjamin dividiu as escolas primárias em dois graus, o primeiro para crianças de 7
a 13 anos e o segundo para as de 13 a 15; exigiu diplomas da Escola Normal para o ser
exercido o magistério em escolas públicas. Também criou o Pedagogium, um centro de
aperfeiçoamento do magistério. Já o ensino religioso sofreu seu primeiro golpe, ao ser
substituído pela instrução moral e cívica, com o objetivo da educação moral, e a elevação
do caráter, mas numa lógica de conformar o povo frente a ordem social burguesa, e a
construção do Estado Nacional.
Mas a proposta de Benjamin Constant não encontrou objetividades para se
concretizar, sendo criticada até mesmo pelos positivistas, pois o modelo pedagógico de
Comte não existe a introdução de estudos científicos nesse nível de ensino, para Comte o
ensino para menores de 14 deveria ser baseado no caráter estético, na poesia, na música,
no desenho e no estudo de línguas. E nessa nova Reforma, as escolas de 1º grau na já era
ensinado ciências físicas e naturais e na de 2º grau a aritmética, álgebra, geometria,
trigonometria e ciências físicas e naturais.
Já em 1911, o governo federal lança a Lei Rivadávia Correia, que desoficializava os
ensinos, os tornando facultativos, não havendo fiscalização nas escolas; nem exames oficiais,
sem ter uma forma de profissionalizar corretamente os alunos. Mas com a Reforma de Carlos
Maximiliano em 1915, é reoficializado o ensino, e regulamentado o acesso às escolas
superiores. E quase no final da primeira república, acontece a Reforma Rocha Vaz em
1925, que tentando estabelecer um acordo entre o que se fazia nos Estados e na União,
acabou que nas escolas primárias ocorreu a eliminação dos exames preparatórios e
parcelados. (Ler Slide)
Frente a todos os entraves de caráter político e pedagógico, praticamente nada se
cumpriu do plano de estudos previsto. Para as elites, as idéias do reformador era uma
ameaça à formação da juventude e aos padrões da sociedade aristocrática rural. Na prática,
o ensino primário continuou restrito ao ensino da escrita, leitura e cálculo. Nas demais
reformas que se seguiram durante a Primeira República, este nível de ensino não é
contemplado. A tradição do ensino elitista do Império, em que a preocupação era com o
ensino secundário e superior, permaneceu.
Para termos uma ideia da época, podemos citar a situação da estrutura do ensino no
Estado de São Paulo. O ensino primário oficial no Estado de São Paulo se organizou em
dois cursos: o complementar, para adolescentes acima de 15 anos, e o preliminar, para
crianças do gênero masculino e feminino entre 7 e 15 anos, com salas compostas de 40
alunos, as disciplinas ensinadas eram Leitura, Escrita e Caligrafia, Moral Prática, Educação
Física, Geografia Geral, Cosmografia, Geografia do Brasil, Noções de Física, Química e
História Natural (Higiene), História do Brasil e Leitura Sobre a Vida dos Grandes Homens,
Leitura de Música e Canto, Exercícios Ginásticos e Militares e Trabalhos Manuais.
O curso preliminar possuía seis modalidades de escolas: as preliminares, as
intermédias, os grupos escolares, as provisórias, as noturnas e as ambulantes, o ensino era
laico e gratuito e os municípios que se encarregavam de construir os colégios, que por falta
de verba, foram criados primeiro colégios para elite e posteriormente para os mais pobres.
E o governo do Estado pagava o salário dos funcionários e professores que deveriam ser
formados pela Escola Formal da Capital ou normalistas, o governo também fornecia
livros oficiais para o ensino, e esses eram os únicos que poderiam ser lecionados. As aulas
começavam às 9hs e terminavam às 14hs, o tempo do ensino preliminar era de 4 anos.
Os exames eram rigorosos, sempre em dupla forma, oral e escrito. Os alunos que
recebiam aulas em suas próprias casas, com professores particulares, poderiam participar
dos exames. A reunião de quatro a dez escolas preliminares (escola ou classe) formava um
grupo escolar. Exigia-se então, neste caso, um diretor, que deveria ser um professor
normalista nomeado pelo governo. Em que lhe cabia administrar e zelar o prédio, a
biblioteca, a assiduidade dos professores, a representação da escola na comunidade e,
principalmente, a direção pedagógica do colégio, com a preocupação de que os
professores pudessem seguir os modelos da cidade de São Paulo, escolas montadas pela
Escola Normal da Capital.
As escolas intermédias eram mais desvalorizadas em termos de funcionalidade e
ensino. Seus professores estavam dispensados da posse da habilitação dada pela Escola
Normal, embora os professores tivessem de prestar exame no Palácio do Governo, ou de
prestar concurso, havia menos disciplinas nas escolas intermédias do que nas preliminares,
além de que os professores não eram obrigados a lecionar disciplinas que não constaram
em seus exames. Sendo assim seu currículo básico: Leitura, Escrita, Princípios de Cálculo,
Geografia do Brasil e Princípios Básicos das Constituições do Brasil e do Estado.
Já em 1897 o número de escolas preliminares em todo o Estado de São Paulo era
de 1.200. E as intermédias e provisórias eram de 956. Além disso existiam as escolas
ambulantes, que na verdade, eram professores ambulantes que, davam aulas solidárias
por várias cidades. As escolas noturnas eram para a alfabetização e profissionalização,
para pessoas maiores de 16 anos. Esse era o quadro da educação básica pública paulista,
no que se refere à estrutura e funcionamento do ensino. Em 1920, o Estado mais rico da
população não atingia mais que 28% da população em idade escolar; para cada quatro
crianças em idade escolar uma era analfabeta (cf. Ghiraldelli Jr., 1990, pp. 26-30). Esse
quadro não se alterou substancialmente até os anos quarenta.

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