Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
da Pedagogia
A Educação no Período Republicano:
Uma Visão Laicizada
Sumário
A Educação no Período Republicano: Uma Visão Laicizada
Para Início de Conversa... ................................................................................ 3
Objetivos .......................................................................................................... 3
Desenvolvimento do material
Patricia Wanzeller 1. A Polêmica do Ensino Religioso .............................................................. 4
2. A Escola Nova .................................................................................................. 11
Referências ......................................................................................................... 18
1ª Edição
Copyright © 2021, Afya.
Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida,
transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico,
mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia
autorização, por escrito, da Afya.
Para Início de Conversa... Objetivos
Neste capítulo, faremos um grande apanhado histórico sobre o ▪ Reconhecer as transformações da educação brasileira no período
processo político do Segundo Reinado e suas implicações na educação republicano.
brasileira. Veremos que, apesar de termos um governante com perfil ▪ Analisar a influência da Escola Nova no pensamento pedagógico
intelectualizado, não foram muitos os avanços no sistema educacional. A brasileiro.
República traria consigo um novo sistema político e a Escola Nova, mas
poucas mudanças efetivas.
Ideias de “civilização” e “progresso”, veiculadas a partir dos referenciais Na Educação, entretanto, o novo regime político, a República, irá iniciar
europeus, tentaram distanciar o Brasil do “atraso colonial”, em todos os um debate que se perpetua até os nossos dias: a presença do ensino
O processo de laicização do ensino tem início já no Período Regencial, Regência Trina Provisória (abril a julho de 1831): formada por Francisco
com a abertura das escolas para meninas, e se concretiza com o de Lima e Silva, Nicolau Pereira de Campos Vergueiro e José Joaquim
advento republicano, quando o processo de secularização ocorrido nas Carneiro de Campos. Entre as medidas promovidas estavam:
sociedades ocidentais atinge o Brasil, e a religião torna-se uma esfera
▪ restituição dos ministros demitidos por D. Pedro I;
distinta da vida social, ou seja, a organização do tempo, costumes, regras
▪ construção de assembleia para a criação das Leis Regenciais;
e valores passaram a ser independentes da religião.
▪ anistia aos presos políticos;
Recordemos o contexto já abordado sobre o Primeiro Reinado entre a ▪ tentativa de barrar as agitações.
Independência (1822) e o retorno de D. Pedro I a Portugal (abril de 1831).
No Brasil, o rei, que abdicou em meio ao desgaste político, deixava seu Regência Trina Permanente (1831 a 1834): formada por Francisco
filho Dom Pedro II como príncipe sucessor do trono. Aos cinco anos de Lima e Silva, João Bráulio Muniz e José da Costa Carvalho. O governo
idade, Dom Pedro II teve seus poderes transferidos para um governo foi marcado pela tentativa de conter os movimentos populares. Sendo
regencial, que duraria até o alcance de sua maioridade. assim, o padre Antônio Feijó foi instituído como ministro da Justiça e
criou a Guarda Nacional. Na tentativa de conter os ânimos, foi criado,
O Período Regencial é como ficou conhecido o decênio de 1831 a
ainda, o Ato Adicional de 1834. Entre as medidas do ato estavam:
1840, compreendido entre a abdicação de D. Pedro I e a “Declaração da
Regência Una do Padre Feijó (1835 a 1837): Feijó foi eleito por 1/3 dos
votos e era apoiado pelos liberais. Durante esse período, eclodiram os
maiores movimentos separatistas do Brasil, entre eles a Revolta dos
Cabanos e a Balaiada, que acarretaram o enfraquecimento político de
Feijó. Em 1836, após uma grande divergência política entre os liberais e
conservadores, o regente dissolveu a Câmara dos Deputados e renunciou
ao cargo, em 1837.
por Carlos Leôncio de Carvalho foram acatadas, com destaque para o Art. § 3º Aos meninos pobres, cujos pais, tutores ou protetores justificarem impossibilidade
de prepará-los para irem à escola, será fornecido vestuário decente e simples, livros
2, que afirma que, até se mostrarem habilitados em todas as disciplinas
e mais objetos indispensáveis ao estudo. (BRASIL, 1879)
que constituíam o programa das escolas primárias de 1° grau, eram
obrigados a frequentá-las, no município da corte, os indivíduos de um e O documento forneceria as bases para a última reforma da educação
outro sexo, de 7 a 14 anos de idade. Estabelecia, ainda: no período imperial – reforma do ensino primário – e várias instituições
Esta obrigação não compreende os que seus pais, tutores ou protetores provarem
complementares da instrução pública – parecer e projeto da Comissão
que recebem a instrução conveniente em escolas particulares ou em suas próprias de Instrução Pública, composta pelos deputados Ruy Barbosa, Thomaz
casas, e os que residirem a distância maior, da escola pública ou subsidiada mais do Bonfim Espinola e Ulysses Machado Pereira Vianna; relator, Ruy
próxima, de um e meio quilômetro para os meninos, e de um quilômetro para as Barbosa (1883).
meninas.
§ 1º Todos aqueles que, tendo em sua companhia meninos ou meninas nas
Acabou resultando na abertura da Primeira Escola Noturna Feminina de
condições acima mencionadas, deixarem de matriculá-los nas escolas públicas, Instrução Primária, por iniciativa particular do Vice-Reitor do Externato
ou de proporcionar-lhes em estabelecimentos particulares ou em suas casas a do Colégio D. Pedro II (1884), da Escola Normal da Corte (1888) e das
instrução primária do 1º grão, sejam pais, mais, tutores ou protetores, ficam sujeitos “escolas anexas”, como os Jardins de Infância criados juntos às Escolas
a uma multa de 20 a 100$000. Normais, seguindo os modelos alemães.
Na mesma pena incorrerão os que, sendo advertidos da pouca frequência dos alunos
à escola ou regularidade do ensino administrado particularmente, à vista dos mapas No final do Segundo Reinado, muitas outras reformas foram intentadas,
organizados nas escolas públicas ou dos atestados que no segundo caso deverão mas acabaram revogadas antes mesmo de serem colocadas em
apresentar de três em três meses, não provarem no trimestre seguinte que houve execução. Apesar de propostas interessantes, não havia surgido nada de
a devida regularidade no mesmo ensino ou frequência, salvo caso de moléstia ou concreto na educação brasileira, fazendo com que as ações educacionais
outro justo impedimento. se mantivessem escassas e divididas sem a ocorrência de um sistema de
§ 2º Os meninos que atingirem a idade de 14 anos, antes de haver concluído o estudo educação efetivo e com qualidade.
das disciplinas mencionadas no princípio deste artigo, são obrigados a continuá-
1
das ideias escolanovistas no país. Tinha como objetivo o ensino leigo e livre em todos
os graus.
Nas três primeiras, o foco estava na associação entre educação e
trabalho, que se apresentou com uma dupla face: a necessidade de
educar o indivíduo para uma sociedade livre, não escravista, e de alterar
2
Instituída pelo Decreto nº 981, de 8 de novembro de 1890, teve como
a feição negativa de que se revestia a atividade laboral. particularidade a montagem de uma diretriz educacional que
abrangia todos os níveis de ensino.
a. Reforma Benjamim Constant (1890): militar e político, foi professor
de matemática e o primeiro-ministro da Guerra da República. Ao ser
criada a Secretaria de Estado dos Negócios da Instrução Pública, O Ginásio Nacional foi estabelecido como modelo e padrão do ensino
3
secundário a ser ministrado em todo o país (em substituição ao Colégio
Correios de Telégrafos, em 19 de abril de 1890, coube a ele chefiá-la, Pedro II) e instituiu a obrigatoriedade dos exames de madureza, que
ofereceriam aos alunos o certificado de conclusão do ensino secundário,
tendo as seguintes bases: permitindo-lhes candidatar-se ao ensino superior.
4
A reforma é lembrada também por ter estabelecido o processo
educativo sob o modelo seriado e por ter ampliado o currículo
das escolas brasileiras, incentivando o enciclopedismo.
5
Inspirado pelo positivismo de Augusto Comte, Benjamin Constant
defendeu a substituição do ensino acadêmico por um conjunto
mais amplo de ensinamentos, com a inclusão de disciplinas
científicas, rompendo drasticamente com a tradição do currículo
clássico jesuítico.
Figura 6: As bases da Secretaria de Estado dos Negócios da Instrução Pública. Fonte: Elaborada
pela autora.
▪ foram restaurados os certificados de conclusão do curso secundário ▪ Tinha como objetivo a dualidade do sistema educacional – uma escola
expedidos pelo Colégio Pedro II do Rio de Janeiro, reconhecidos pelo básica fraca, destinada às classes populares e sob a responsabilidade
governo federal; dos municípios e dos estados, e um ensino secundário e superior
▪ foi instituída a possível equiparação de outros estabelecimentos destinado às elites, patrocinado pelo governo federal.
de ensino ao Colégio Pedro II, desde que fossem estabelecimentos ▪ Existia a orientação literária e teórica do ensino: educação moral
públicos estaduais; e cívica, educação profissionalizante e orientação sob critérios
▪ foram instituídos os exames preparatórios parcelados, pelos quais científicos formavam o tripé sobre o qual a educação deveria ser
os estudantes não matriculados em escolas oficiais poderiam obter conduzida para o trabalho em suas distintas dimensões – agrícola,
certificados de estudos secundários reconhecidos pela União; comercial e industrial.
▪ foi mantida da reforma anterior apenas a eliminação dos privilégios f. Reforma Rocha Vaz (1925): professor da Faculdade de Medicina do
escolares. Além de possuir um certificado de conclusão reconhecido Rio de Janeiro, deu nome a uma reforma educacional que foi levada a
pela União ou um certificado de aprovação nos exames preparatórios, efeito na gestão de João Luís Alves no Ministério da Justiça e Negócios
para entrar no curso superior, o aluno teria que prestar um Interiores, no governo Artur Bernardes. Foi a última reforma a afetar o
exame vestibular. ensino secundário na Primeira República. Instituiu:
A Reforma Carlos Maximiliano, portanto, oficializou o ensino, ▪ a criação da disciplina de educação moral e cívica;
restabelecendo a interferência do Estado, a qual havia sido eliminada ▪ a continuidade do Colégio Pedro II e sua equiparação apenas aos
pela reforma anterior. estabelecimentos de ensino secundário estaduais;