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DESCRIÇÃO

Este tema é um convite para voltarmos um pouco no tempo, ao final do


Império e início da República, para entendermos como os desafios para
instrução da sociedade brasileira começaram a ser resolvidos quando a
Educação passou a ser entendida como um importante instrumento de
superação do atraso econômico, político e social do Brasil.

PROPÓSITO

As diversas conjunturas históricas – 1889 até 1960 – influenciaram de


:
modo decisivo as diversas reformas educacionais que foram
implementadas. Ao final, será mais fácil entender os avanços e retrocessos
em relação à Educação e sua influência hoje em dia.

OBJETIVOS

MÓDULO 1

Identificar os fatos referentes à Educação que fizeram parte da transição do


Brasil Império para o Brasil República

MÓDULO 2

Relacionar a influência do Positivismo na sociedade brasileira e


consequentemente na Educação

MÓDULO 3

Analisar as várias reformas educacionais ocorridas no período do Brasil


:
República até a década de 1960

MÓDULO 1

! Identificar os fatos referentes à Educação que fizeram parte da


transição do Brasil Império para o Brasil República

I INTRODUÇÃO

No vídeo, Rodrigo Rainha faz uma breve retrospectiva dos fatos que
levaram à criação da República.
:
Vídeo com libras.
:
Somos tão acostumados com a ideia da Educação como um valor universal
que parece estranho imaginar um tempo em que crianças, jovens e adultos
não tinham o direito à Educação.

I PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA
! RIO DE JANEIRO (1889)

Imagem: Benedito Calixto/Wikimedia Commons/Domínio público.


:
" "Proclamação da República", 1893, óleo sobre tela de Benedito Calixto
(1853-1927). Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo.

A República no Brasil foi proclamada no dia 15 de novembro de 1889,


instaurando a forma republicana presidencialista de governo e inaugurando
uma época com desafios de diferentes ordens. Contra a monarquia, forças
muito diversas se uniram, mas seus interesses não eram semelhantes.

FORÇAS QUE SE UNIRAM:

Os militares não queriam uma mudança tão efetiva em nossas


estruturas, porém o Exército não mais aceitava o peso dado à
Marinha e sua imagem de herói.

A Religião estava em quadro de perigosa contestação, e


movimentos como o de Conselheiro ou de Padre Cícero no
Nordeste eram vistos com muito receio.

As fronteiras da região Sul do Brasil com o Uruguai e a


Argentina precisavam ser controladas de perto, porque muitos
habitantes do local eram imigrantes e não tinham o sentimento
nacional.

São Paulo desejava um país governado para o estado, que era


o motor do Brasil, ícone máximo do que vinha dando certo,
enquanto aristocracias tradicionais, como a nordestina, exigiam
reparação pelas perdas geradas pela Coroa, e seus “coronéis”
:
reivindicando poderes locais.

Foto: Augusto Malta/©Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro

CONTEXTO SOCIAL

A população marginalizada, acumulada em grandes capitais como Rio de


Janeiro e Salvador, morava em Cabeças de Porco, e, sem instrução,
organizava levantes contra os governos municipais que pregavam uma
higienização das cidades. Ou seja, era o início de um novo regime político
marcado por antigas questões brasileiras

Diante do caos da criação da República, alguns fatores foram eleitos


como primordiais para transformar o Brasil, e um dos principais era a
Educação.
:
Não houve um compromisso de transformação dos problemas sociais
brasileiros através da Educação. Mas, a ideia de modernização da
sociedade – que era o objetivo – passava obrigatoriamente pela criação
de um projeto de Educação que atendesse ao principal anseio do país:
capacitar trabalhadores urbanos para que eles cumprissem seus papeis
em sociedade. Este é o ideal positivista e sua movimentação em favor da
Educação.

I PRIMEIRAS DÉCADAS APÓS A


PROCLAMAÇÃO
! CENTROS URBANOS DO BRASIL (1900-1920)
As décadas seguintes à Proclamação da República foram marcadas pelo
desenvolvimento da indústria:
:
Segundo Helena Bomeny:

#
O BRASIL DO INÍCIO DA REPÚBLICA ERA
UM PAÍS EMINENTEMENTE RURAL (60%
DA POPULAÇÃO), RECÉM-SAÍDO DE UM
LONGO PERÍODO DE ESCRAVIDÃO (MAIS
:
DE TRÊS SÉCULOS ATÉ A ABOLIÇÃO DA
ESCRAVATURA EM 1888), COM TAXAS DE
ANALFABETISMO HOMOGÊNEAS, QUE
SUPERAVAM 80%, COM ÍNDICES MUITO
PRÓXIMOS DO NORTE AO SUL DO PAÍS,
EXCETUANDO-SE A CAPITAL FEDERAL,
ONDE A TAXA RONDAVA OS 45%.

(BOMENY, 1993)

CAPITAL FEDERAL

A capital era exceção porque era o espaço que concentrava os


funcionários públicos, em uma máquina gigantesca, e mesmo os
escravos locais conheciam rudimentos da leitura.
:
SAIBA MAIS

O lema da bandeira do Brasil é positivista. O novo regime exigia a criação


de um novo símbolo que representasse os ideais sob os quais estavam
assentados a República recém-proclamada. “Amor por princípio, a ordem
por base e o progresso por fim” – o famoso lema positivista foi impresso
na bandeira brasileira sob a inscrição Ordem e Progresso.

Era cada vez mais urgente pensar formas de preparar essa população de
imigrantes e recém-libertos para a nova realidade que surgia: um país que
se urbanizava cada vez mais rápido e cujos postos de trabalho não
encontravam mão de obra especializada. A instrução pública torna-se
uma peça importante do desenvolvimento do país.
:
Quem deveria comandar essa Educação, pensada tanto pelo Império,
como pela República, era o Estado. O governo garantiria o ordenamento
necessário, a criação de uma sequência lógica, que permitisse o contínuo
progresso do país.

O ideal do pensamento de Ordenar para atingir o Progresso foi marcante


na Capital Federal, bem como em novas capitais criadas pela República:
Belo Horizonte, retirando o peso da imperial Ouro Preto, e Aracaju, saindo
da tradicional São Cristóvão, foram planejadas seguindo os novos modelos
de cidade e receberam grandes educandários públicos, com estruturas
modernas.

O povo precisava ser instruído a ser brasileiro, levado a perceber seu papel
social e como poderia atuar para a melhora do grande projeto nacional.

SAIBA MAIS

No Rio de Janeiro, tentando apagar o passado Imperial, o tradicional


colégio Pedro II perdeu seu nome, recuperado depois por iniciativa dos
:
alunos. Escolas Profissionalizantes (Liceus de Ofício) se multiplicaram em
todo país, assim como foi ampliado o número de Escolas Normais, para
permitir a formação de professoras primárias.

I INICIATIVAS EDUCACIONAIS
A maior parte da população era autodidata por necessidade ou
simplesmente não tinha educação formal. Classes médias de
profissionais liberais, filhos de funcionários públicos, ou filhos da elite
financeira ocupavam os bancos formais de Educação e, entre eles, existiam
posições diferentes.

Mas a pressão pelo avanço que seria proporcionado pela modernização


cresceu e as iniciativas pela Educação acompanharam.

Repare, então, nas iniciativas:

1850
1854
1882
1891
1900

1850

A partir desse ano, ainda no Império, ocorreu a uniformização do ensino em


:
todo o país. Essa ação reformadora atingiu as Faculdades de Medicina e os
cursos jurídicos que passaram a se denominar Faculdades de Direito.

O Regulamento de Instrução Primária e Secundária do Município da Corte,


entre outras importantes providências, criou a Inspetoria Geral da Instrução
Primária e Secundária do Município da Corte, órgão ligado ao Ministério do
Império e destinado a fiscalizar e orientar o ensino público e particular dos
níveis primário e médio, estruturando em dois níveis (o elementar e o
superior) a Instrução Primária gratuita.

1854

A administração geral do ensino primário e secundário na Corte passou a


ser regida por um Inspetor Geral, com a colaboração do Conselho Diretor,
composto de sete membros e de Delegados de Distrito.

O ensino particular só poderia ser exercido com prévia autorização do


Inspetor Geral e com relatórios trimestrais dos estabelecimentos aos
respectivos delegados. Os diretores e professores dos estabelecimentos
particulares ficariam igualmente obrigados a habilitar-se perante a
Inspetoria da Instrução Pública, mediante a apresentação de provas de
capacidade profissional e de moralidade.

A partir do regulamento de 1854 chamado de Regulamento da Instrução


Primária e Secundária no Município da Corte (lei 1331A, de 17 de fevereiro
de 1854), o ensino primário tornou-se obrigatório. É importante ressaltar
que esse regulamento não incluía a população escrava no seu projeto de
instrução pública. Ou seja, a ideia era escolarizar a população livre.
:
1882

Rui Barbosa apresentou dois pareceres ao Parlamento: um sobre a reforma


do ensino secundário e superior e outro sobre o ensino primário. Assim, a
escola popular foi elevada à condição de redentora da nação implantando o
ensino primário obrigatório, dos sete aos quatorze anos, gratuito e laico.

Rui Barbosa atuou para que fosse substituída a escola de primeiras letras
pela Escola Primária moderna, e um ensino enciclopédico que visasse o
progresso do Brasil era um dos componentes. Além disso, a Escola
Primária passou a ter oito anos de duração e dividida em três graus: o
elementar e o médio, cada um com dois anos, e o superior com quatro. A
jornada da escola foi fixada em seis horas, sendo 4h30 para atividades de
classe, se aí fossem incluídos os exercícios ginásticos.

EXERCÍCIOS GINÁSTICOS

Com o Decreto nº 7.247 de 19 de abril de 1879, Carlos Leôncio de


Carvalho reforma o ensino primário e secundário do município da
corte e o superior em todo o império. Houve a implantação do método
intuitivo, conhecido também como lições de coisas, pelo qual o ensino
deveria ir do particular para o geral, do conhecido para o
desconhecido, do concreto para o abstrato. O princípio da educação
integral através da educação física, intelectual e moral que deveria
seguir as leis da natureza e a ciência seria o melhor meio para a
disciplina intelectual e moral.
:
1891

A Constituição de 1891 determinava a descentralização do ensino, cabendo


à União legislar sobre o ensino superior na Capital Federal, delegando aos
estados a responsabilidade de organizar todo o seu sistema escolar.

1900

Na primeira década do século XX, o mundo avançava para uma crise e


países que até então eram exclusivamente agrários passaram por
movimentos de substituição de importações. Foram inauguradas fábricas
de tecido, fábricas de transformação e as cidades cresceram. São Paulo,
Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Belém e Manaus
passaram a ser atrativos de pessoas, com o consequente crescimento de
seus problemas urbanos. O maior deles para essa elite era a qualidade da
mão de obra. Portanto, era urgente educar o Brasil.
:
SAIBA MAIS

Veríssimo (1985, p. 15) apontou o tamanho do desafio da novíssima


República:

“E tanto mais é de crer este resultado, não só desejável como, a bem da


unidade moral da Pátria, indispensável, quando a reforma do Sr. Benjamin
Constant criou no Pedagogium um órgão que devia ser o fator consciente
dessa obra de unificação moral”.

PEDAGOGIUM

O Pedagogium foi um museu pedagógico fundado em 1890, que se


localizava na cidade do Rio de Janeiro, no então Distrito Federal, no
Brasil. Em 1897 foi transformado num centro de cultura superior e, em
1906, recebeu o primeiro laboratório de psicologia experimental do
país. A instituição foi extinta em 1919.

I CONTEÚDOS PREVISTOS
Seguindo sobre a questão da moral:

Foi organizada em duas categorias: de 1º grau, para crianças de 7 a 13


anos e de 2º grau para os de 13 a 15 anos. Para ingressar nas escolas
:
primárias de 2º grau, o aluno deveria apresentar o certificado de estudos do
grau precedente.

O ensino no primeiro grau compreendia:

Leitura e escrita, ensino prático da língua portuguesa

autor/shutterstock

Contar e calcular: aritmética prática até regra de três


:
autor/shutterstock

Sistema métrico procedido do estudo da geometria prática

autor/shutterstock

Elemento de geografia e história, especialmente do Brasil


:
Lições de coisas e noções concretas de ciências físicas e história natural

autor/shutterstock

Instrução moral e cívica


:
autor/shutterstock

Desenho

autor/shutterstock

Elementos de música
:
Ginástica e exercícios militares

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Trabalhos manuais para os meninos e trabalho de agulha para as meninas


:
autor/shutterstock

Noções práticas de agronomia

Dentre todas as disciplinas estudadas, a Instrução Moral e Cívica teve


objetivos específicos na formação do alunado, conforme anunciava o
parágrafo único do Regulamento da Instrução Primária e Secundária do
Distrito Federal, “a instrucção moral e cívica não terá curso distincto, mas
ocupará constantemente e no mais alto gráo a atenção dos professores”
(DECRETO Nº 981, 1890, p. 3476).

Com isso, a Escola Primária do 1º grau foi dividida em três cursos:

Elementar, para os alunos de 7 a 9 anos;

Médio, para os de 9 a 11;

Superior, para os de 11 a 13 anos de idade.

Em cada curso, as matérias eram gradualmente estudadas, tendo o método


intuitivo para todos eles. Vejamos a seguir como Moral e Cívica era
:
abordada em cada curso:

CURSO ELEMENTAR
A disciplina Instrução Moral e Cívica trabalhava com “narrativa de
anecdotas, fabulas, contos e provérbios que contenham tendência moral”, e
tinha por objetivo “fazer sentir constantemente aos alumnos, por
experiência directa, a grandeza das leis moraes [sic]”. (DECRETO 981,
1890, p. 3500).

Na classe 2ª, ainda no curso elementar, a disciplina seguia o seu curso de


modo mais expressivo, buscando em sala de aula trabalhar com
“conversações e leituras moraes. Exemplificação comparativa da
generosidade e do egoísmo, da economia e da avareza, da actividade e da
preguiça, da moderação e da ira, do amor e do ódio, da benevolência e da
inveja, da sinceridade e da hypocrisia, dos prazeres e das dores (physicas
e moraes), dos bens e males (falsos e verdadeiros) [sic]” (DECRETO 981,
1890, p. 3502).

CURSO MÉDIO
Na classe 1ª, havia a sequência lógica no conteúdo da disciplina Instrução
Moral e Cívica para alunos um pouco mais velhos do que no curso anterior,
com outras temáticas relacionadas, conforme mostrava o Decreto:
“Instrucção Moral e Cívica – Conversação e leituras moraes. Exercícios
tendentes a por em acção na própria classe: 1º pela observação individual
dos caracteres; 2º, pela aplicação inteligente da disciplina escolar como
meio educativo; 3º, pelo incessante appello para o sentimento e para o
juízo do proprio alumno; 4º, pelo desvanecimento dos preconceitos e das
superstições grosseiras; 5º, pelo ensinamento tirano dos factos observados
pelo próprio alumno; 6º, pelas sãs emoções Moraes [sic]” (DECRETO 981,
1890, p. 3504). Na classe 2ª, existia a continuação do programa da classe
anterior. A disciplina Instrução Moral e Cívica estava presente em todos os
:
cursos da escola de 1º grau, mas não fazia parte da de 2º grau.

CURSO SUPERIOR
O superior também foi dividido em duas classes. Na classe 1ª objetivou-se
trabalhar os “Deveres do homem para consigo mesmo. Hygiene physica e
moral [sic]” (DECRETO 981, 1890, p. 3507). Na classe 2ª, a disciplina
seguiu dando continuação da classe anterior.

Observação: nas demais escolas, a Primária do 2º grau e na Escola


Normal a disciplina Instrução Moral e Cívica não era trabalhada em sala de
aula.

VOCÊ REPAROU QUE ATÉ A


LINGUAGEM NOS DECRETOS É
DIFERENTE? COMO AS PALAVRAS
ERAM ESCRITAS?

Isso nos ajuda a entender um pouco mais sobre a mudança de paradigma,


em que a Educação passou a ser vista, pensada, organizada, e a fazer
parte de um projeto nacional de Brasil.

RECOMENDAÇÃO

E agora é com você: que tal fazer um parecer sobre a transformação da


Educação na formação da República?
Essas anotações serão importantes para que perceba seu
:
desenvolvimento.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

1. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE CORRESPONDE AO


QUE DEFENDIA RUI BARBOSA NOS ANOS FINAIS DO
IMPÉRIO:

A) Ensino religioso.

B) Ensino primário facultativo.

C) Criação da Lei Orgânica do Ensino Superior e Fundamental.

D) Ensino primário obrigatório, gratuito e laico.

2. AO FINAL DA MONARQUIA E INÍCIO DA REPÚBLICA, EM


UM CONTEXTO DE INTENSA EFERVESCÊNCIA SOCIAL, A
EDUCAÇÃO JÁ VINHA SENDO PENSADA COMO UM
IMPORTANTE INSTRUMENTO DE DESENVOLVIMENTO.
UMA DAS PREOCUPAÇÕES CENTRAIS ERA GARANTIR A
FORMAÇÃO DE:

A) Um conjunto de Universidades brasileiras que nos marcasse como


nação evoluída.

B) Uma estrutura que mantivesse viva a tradições religiosas da Educação,


contra a influência das tradições europeias.
:
C) Um conjunto legislativo que transformava a Educação em um plano
nacional.

D) Um modelo de Educação Moral e Cívica pautado na formação do sujeito


como objeto da Educação.

GABARITO

1. Assinale a alternativa que corresponde ao que defendia Rui Barbosa


nos anos finais do Império:

A alternativa "D " está correta.

Rui Barbosa, ao propor a reforma do ensino secundário e primário,


acreditava que algumas mudanças estruturais na sociedade aconteceriam
pela Educação. Desse modo, o progresso seria alcançado por meio do
conhecimento. Ou seja, ele defendia uma Educação que fosse obrigatória,
gratuita e laica.

2. Ao final da Monarquia e início da República, em um contexto de


intensa efervescência social, a Educação já vinha sendo pensada
como um importante instrumento de desenvolvimento. Uma das
preocupações centrais era garantir a formação de:

A alternativa "C " está correta.

A influência da corrente positivista e o crescimento da industrialização


transformava a Educação em um aspecto de evolução das nações e, por
isso, a construção de um modelo que nos levasse ao progresso passou a
ser defendida.
:
MÓDULO 2

! Relacionar a influência do Positivismo na sociedade brasileira e


consequentemente na Educação

I INTRODUÇÃO

Já falamos sobre o positivismo como principal referência para a criação de


um objetivo para a reforma educacional na então República. Mas como
essa relação aconteceu? Rodrigo Rainha explica.
:
Vídeo com libras.
:
I CONCEITO DE POSITIVISMO
:
Foto: Hulton Archive/Getty Images

O positivismo foi uma corrente filosófica que surgiu na França no século


XIX. Augusto Comte (1798-1857) é considerado o Pai da Sociologia por
ter usado pela primeira vez o conceito de Sociologia em seu Curso de
Filosofia Positiva. Elaborou de maneira muito organizada suas ideias,
fundamentando sua teoria nos modelos das ciências naturais, tendo como
principal objetivo encontrar as leis universais dos fenômenos sociais. Ele
intitulou sua reflexão acerca da sociedade como uma Física Social.

Em função da crise que vivia a França de sua época, Comte queria


encontrar soluções para resolvê-la, pois eram nítidos o atraso e o
impedimento do progresso por causa do caos estabelecido. Foi nesse
contexto de crises e instabilidades que ele buscou responder aos
problemas sociais com sua teoria positivista.

De acordo com Gomide (1999), o positivismo apresenta algumas premissas


fundamentais:

Toda proposição científica deve ser empiricamente significante e toda


premissa universal deve ter origem indutiva.

A teoria tem origem em proposições certíssimas obtidas mediante


indução.

As leis científicas não fornecem os porquês dos fenômenos. O


empirismo, a observação e a objetividade são características
fundamentais do pensamento positivista.
:
SAIBA MAIS

Clique aqui e veja um exemplo.

EXEMPLO

Imagine que você é uma pequena peça dentro de um relógio. Existem


peças grandes e importantes, como os ponteiros, mas todas estão no
mesmo relógio. Como esse relógio funcionaria bem?

Com cada peça fazendo perfeitamente seu trabalho; assim, você fará
o processo contínuo, dia após dia, de marcar a hora com precisão.
Agora, imagine que uma peça, por menor que seja, não funcione
bem: ela impactará outra peça e depois outra, sucessivamente.

O relógio pode quebrar, entrar em colapso, pois pouco a pouco todas


:
as peças terão deixado de fazer seu papel. Para que o relógio
funcione direito, o que todas devem fazer? Cada peça deve exercer
seu papel.

Mas se você é um parafuso pequeno e resolver ser um ponteiro, vai


funcionar? Para o positivismo, isso atrapalharia duas vezes, uma por
não fazer o seu papel e outra por impedir quem deve ser o ponteiro.

A sociedade busca esse positivismo, esse equilíbrio de perfeição. Mas


o relógio, com muitas peças, precisa de um trabalho efetivo, um
esforço para que todos façam tudo bem. Os ponteiros – os
intelectuais – defendem que os menos favorecidos sejam capacitados
para atender e cumprir plenamente o seu papel.

Compreendia-se que o positivismo era o canal para a reforma intelectual


do Homem. Para que essa reorganização acontecesse, as ideias
positivistas estavam assentadas na noção de que somente pela ordem e
pelo progresso seria possível alcançar uma sociedade estruturada, que
pudesse ecoar e aperfeiçoar todas as estruturas permanentes: religião,
família, propriedade, linguagem, acordo entre poder espiritual e
temporal etc.

Foto: Isogood_patrick / Shutterstock.com


:
I CAMINHOS PARA O PROGRESSO
SOCIAL

Augusto Comte apostava no conhecimento científico como o único saber


verdadeiro. Na concepção dele, o positivismo seria a possibilidade de
pensar os problemas sociais pelos critérios e parâmetros das ciências
naturais.

Dessa forma, seria plenamente possível organizar a sociedade nas suas


variadas dimensões, pois o positivismo respondia às questões sociais com
um caráter de exatidão, oposto à visão de mundo da Teologia e da
Metafísica. Por isso, a importância da Física Social, que explica os fatos
pela lógica do conhecimento único e verdadeiro que vem da experiência,
não do idealismo.

Para Comte, não se tratava de negar o estado Teológico e o Metafísico.

Ambos eram importantes e necessários, mas deveriam ser utilizados nas


interpretações dos fatos com os quais tinham ligação direta; por exemplo, a
relação do homem com a transcendência e com o universo cultural. O
positivismo no Brasil constituiu a base de nosso modelo pedagógico
nacional. Seu grau de utilitarismo e pragmatismo, sua presença em jornais,
nos meios de comunicação, como o rádio, transformaram a percepção de
Educação no Brasil.
:
Foto: Shutterstock.com

I POSITIVISMO NO BRASIL
Precisamos voltar no tempo para que seja compreensível. O Brasil da
transição, que abordamos no primeiro módulo, tinha o positivismo como um
modelo ideal. Nossas principais linhas reformistas republicanas
pensavam na criação de um modelo de educação que permitisse o
desenvolvimento nacional. O que passamos a perceber ao longo das
décadas seguintes foi a implementação desse modelo.

Agora que você já está mais familiarizado com as ideias positivistas, vamos
entender um pouco sobre sua recepção no contexto brasileiro.

O positivismo floresceu no Brasil de modo muito acentuado durante a


transição do fim do Império e o começo da República. Em um contexto
marcado por muitas mudanças políticas e sociais, os republicanos
assumiram o positivismo como o ideal para a República que nascia.
Segundo essa lógica, tornava-se cada vez mais urgente modernizar o
Brasil e acelerar o progresso. Em 1891, foi promulgada a primeira
Constituição da República, inspirada na Carta Constitucional dos Estados
Unidos e sob forte inspiração positivista.
:
O divulgador do positivismo no Brasil foi o militar e político brasileiro,
Benjamin Constant (1836-1891). Ele criou, junto com outros adeptos, em
1876, a Fundação da Sociedade Positivista do Brasil. Um deles foi Teixeira
Mendes (1855-1927), que era o presidente da Associação Positivista
chamada Apostolado Positivista do Brasil. Por que Apostolado? Porque o
positivismo ganhou o status de uma “nova religião” e tinha seguidores.

Foto: Autor Desconhecido/Wikimedia Commons/Domínio Público.


:
SAIBA MAIS

Além de Benjamin Constant e Teixeira Mendes, também foram


responsáveis pela idealização da Bandeira Nacional dois catedráticos:
Miguel de Lemos (filósofo) e Manuel Pereira Reis (astrônomo).

I A INFLUÊNCIA DO POSITIVISMO
NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

Vimos como o positivismo esteve no horizonte dos republicanos na


promulgação da nova Constituição e na criação de uma nova bandeira para
o Brasil. As ideias positivistas precisavam estruturar a sociedade brasileira
em todos os seus aspectos: culturais, sociais, econômicos e políticos.
Multiplicaram-se pelo país as escolas privadas elementares e profissionais,
a maior parte de ensino secundário. Também surgiram muitas instituições
:
beneficentes oferecendo ensino primário e secundário.

Nos anos iniciais da Primeira República, tivemos a ocorrência de uma série


de reformas de clara inspiração positivista.

REFORMA BENJAMIN CONSTANT (1890)


Adotou uma série de reformas junto ao Ministério dos Negócios da
Instrução Pública, Correios e Telégrafos.

Exemplos:

Defesa do ensino laico e gratuidade na escola primária;

Inclusão de disciplinas científicas nos currículos escolares;

Reorganização da Biblioteca Nacional;

Escola secundária com duração de sete anos.

Segundo Cartolano (1994), Benjamin Constant acreditava que só pela


educação um povo poderia construir sua cidadania.

CÓDIGO EPITÁCIO PESSOA (1901)


Ministro do Interior no governo Campos Sales, Epitácio Pessoa reduziu
para seis anos o curso secundário, ao contrário da Reforma Benjamin
Constant. Além disso, permitiu o acesso feminino aos cursos secundários e
superiores.

REFORMA RIVADÁVIA (1911)


De forte orientação positivista, o Marechal Hermes da Fonseca promulgou
o Decreto 8.659, chamado de Lei Orgânica do Ensino Superior e
Fundamental, elaborado por Rivadávia da Cunha Corrêa. O ensino passava
:
a ter frequência não obrigatória, os diplomas foram abolidos e foram
criados exames de admissões nas faculdades.

I MUDANÇA NOS DEBATES


$ 1920-1930

Foto: Shutterstock.com

Chegaram ao Brasil novas ideias pedagógicas e se formou um novo


corpo de sujeitos: especialistas em Educação, que passaram a questionar
os modelos que estavam sendo estabelecidos, escolas que eles chamavam
de tradicionais, centradas na atuação do professor e na repetição. Os
especialistas tinham a ideia de que o Brasil, uma vez mais, estava atrasado
e essa crítica não ficava só no campo da Educação. O novo movimento foi
chamado Pedagogia Liberal.

PEDAGOGIA LIBERAL
:
Nesse modelo, o papel da Educação é preparar o sujeito, dar-lhe
condições para que possa valer-se de sua condição como sujeito e,
dessa forma, fazer escolhas que permitam o avanço social. Esse
modelo é notório em sociedades industriais em que novas aptidões e
sentidos passam a ser percebidos para a formação do sujeito.

O ideal liberal econômico apontava também para outros segmentos.

Façamos uma breve viagem para acompanharmos essas mudanças:

Foto: © General Motors / licença (CC BY-NC 3.0).

01

Washington Luiz brigava para que o Brasil ampliasse suas estradas e


transformasse o carro em um meio mais presente em nossas cidades e,
principalmente, para que o Brasil pudesse ser produtor desses novos bens
que representavam o futuro e as novas dinâmicas sociais.
:
WASHINGTON LUIZ

Washington Luís Pereira de Sousa GCC foi advogado, historiador e


político brasileiro, décimo primeiro presidente do estado de São
Paulo, décimo terceiro presidente do Brasil e último presidente efetivo
da República Velha.

Foto: Autor Desconhecido/Wikimedia Commons/Domínio Público.

02

O ícone máximo dessa noção de progresso econômico é o


desenvolvimento dos aviões. Grupos de aeronautas iniciavam formas de
:
integrar o Brasil, inclusive com a criação de um correio aéreo.

Foto: Luiz Thomas Reis/Acervo Museu do Índio

03

Novas fronteiras sociais e educacionais foram abertas a partir dos esforços


liderados pelo marechal Cândido Rondon e o Brasil se redescobriu como
espaço e país.

CÂNDIDO RONDON

O marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, conhecido como


Marechal Rondon, foi um engenheiro militar e sertanista brasileiro.
:
Foto: Arquivo / Agência O Globo

04

Roquette-Pinto transmitia sons vindo da Amazônia e as informações


chegavam em todas as casas pelas ondas do rádio.

ROQUETTE-PINTO

Edgard Roquette-Pinto foi um médico legista, professor, escritor,


antropólogo, etnólogo e ensaísta brasileiro. Membro da Academia
Brasileira de Letras, é considerado o pai da radiodifusão no Brasil.
:
Foto: Arquivo / Acervo O Globo

05

O exercício físico passou a ser exaltado como uma forma de saúde e


educação.
:
Foto: Theodor Preising / Divulgação.

06

O ritmo do Brasil mudava e as cidades viviam um novo momento.


:
Foto: Arquivo MIS/São Paulo.

07

Um dos ícones de crítica ao Brasil tradicional foi a Semana de Arte


Moderna (1922), em São Paulo. Na coleção de poemas Pauliceia
Desvairada, Mário de Andrade cobrava o redescobrimento do Brasil. A
Educação estava a reboque dessa crítica, afinal, estudava-se latim, cultura
europeia, mas o Brasil não conhecia o Brasil. Nossa poesia tinha linhas
parnasianas, mas não tinha nossas curvas de entendimento social.

SEMANA DE ARTE MODERNA


(1922)

A Semana de Arte Moderna, também chamada de Semana de 22,


ocorreu em São Paulo, entre os dias 11 e 18 de fevereiro de 1922, no
Teatro Municipal da cidade. Foi um movimento que promoveu o
encontro de artistas diversos.

Em um país com novas exigências, os momentos de mudança são


marcantes.

Um novo golpe terminou com a Primeira República: na tentativa de


Washington Luiz em eleger o também paulista Júlio Prestes, as
potências Minas, Rio Grande do Sul e Paraíba se uniram para tentar vencê-
:
lo. Foram derrotados, mas o assassinato de João Pessoa, presidente da
Paraíba, ainda que por motivos familiares, foi o argumento para a
articulação que terminou com a impressionante imagem de Getúlio Vargas
chegando com sua tropa de cavalos e apeando no obelisco da avenida Rio
Branco, no centro da capital brasileira. Esse momento foi chamado (por
uma historiografia pró-Vargas) como Revolução. E, dessa forma, o governo
de Vargas foi iniciado.

Foto: CPDOC/CDA Oswaldo Aranha.


:
Foto: Claro Jansson/Wikimedia Commons/Domínio Público.

SAIBA MAIS
:
As mudanças vividas impactaram o Brasil e o documento educacional mais
famoso dessa época é um manifesto de educadores brasileiros defendendo
uma intensa reforma de nossa educação. Ficou conhecido como Manifesto
dos Pioneiros. Já leu? Falaremos mais dele no próximo módulo.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

1. OS REPUBLICANOS ASSUMIRAM ESSA CORRENTE


COMO O IDEAL PARA A REPÚBLICA QUE NASCIA E
JURARAM QUE O BEM COMUM SERIA O SEU
FUNDAMENTO. ERA PRECISO ACELERAR O PROGRESSO
QUE FORA ATRASADO PELO IMPÉRIO. A ESCOLHA
DESSA CORRENTE INFLUENCIOU TODA A VIDA SOCIAL E
CONSEQUENTEMENTE A EDUCAÇÃO, INCLUSIVE O LEMA
DA BANDEIRA NACIONAL. DE QUAL CORRENTE SE
TRATA?

A) Positivista.

B) Progressista.

C) Liberal.

D) Monarquista.

2. AS IDEIAS POSITIVISTAS TIVERAM GRANDE


INFLUÊNCIA NÃO APENAS NA PROCLAMAÇÃO DA
:
REPÚBLICA E NA IDEALIZAÇÃO DE UMA NOVA BANDEIRA
PARA O BRASIL, MAS TAMBÉM ENTRE AQUELES QUE
PENSAVAM A EDUCAÇÃO NAQUELE MOMENTO.
ASSINALE QUAL REFORMA NÃO SOFREU INSPIRAÇÃO
POSITIVISTA.

A) Reforma Epitácio Pessoa.

B) Reforma Rivadávia Correia.

C) Reforma Anísio Teixeira.

D) Reforma Benjamin Constant.

GABARITO

1. Os Republicanos assumiram essa corrente como o ideal para a


República que nascia e juraram que o bem comum seria o seu
fundamento. Era preciso acelerar o progresso que fora atrasado pelo
Império. A escolha dessa corrente influenciou toda a vida social e
consequentemente a Educação, inclusive o lema da Bandeira
Nacional. De qual corrente se trata?

A alternativa "A " está correta.

Positivismo é uma corrente de pensamento filosófico, sociológico e político


que surgiu em meados do século XIX na França. A principal ideia do
positivismo, fundamentado nas ciências naturais, era a de que o
conhecimento científico devia ser reconhecido como o único conhecimento
verdadeiro. Auguste Comte foi o criador e em sua frase original, dizia:
“amor como princípio, ordem como base, progresso como objetivo”.
:
2. As ideias positivistas tiveram grande influência não apenas na
proclamação da República e na idealização de uma nova bandeira
para o Brasil, mas também entre aqueles que pensavam a Educação
naquele momento. Assinale qual reforma não sofreu inspiração
positivista.

A alternativa "C " está correta.

O Brasil tem uma série de políticos e educadores que propuseram reformas


fundamentais. Epitácio Pessoa e Rivadávia Correia foram positivistas
tardios, mas que mantiveram a fundamentação estrutural do movimento em
nossa educação durante todo período da Primeira República. Benjamin
Constant é um dos mais famosos positivistas e organizadores da
fundamentação de uma educação positivista. Anísio Teixeira é
contemporâneo deles, no entanto, era um crítico influenciado por teóricos
de outra linha, que defendiam um rompimento com o ordenamento
positivista e a transformação da escola em um espaço de construção. No
entanto, ele foi importante na educação pós 1930, quando participou do
movimento dos pioneiros e do governo de São Paulo.

MÓDULO 3

! Analisar as várias reformas educacionais ocorridas no período do


Brasil República até a década de 1960
:
I INTRODUÇÃO

Você sabia que o período conhecido como Brasil República é


consideravelmente extenso? Assista ao vídeo e conheça os detalhes.
:
Vídeo com libras.

I SÉCULO DA PEDAGOGIA

O século XIX ficou conhecido como o Século da Pedagogia. Naquele


:
momento, buscava-se cada vez mais um modelo educacional que
respondesse de forma crítica às demandas da luta de classes, burguesia
versus proletariado, que envolveu a sociedade desse tempo. Houve uma
radicalização das ideias pedagógicas, colocando-as como centro do
processo de controle social.

De acordo com Cambi (1999):

#
(...) BASTANTE RICO EM MODELOS
FORMATIVOS, EM TEORIZAÇÕES
PEDAGÓGICAS, EM COMPROMISSO
EDUCATIVO E REFORMISMO ESCOLAR,
EM VISTA JUSTAMENTE DE UM
CRESCIMENTO SOCIAL A REALIZAR-SE
DA MANEIRA MENOS CONFLITUOSA
POSSÍVEL E DA FORMA MAIS GERAL.

(CAMBI, 1999)

Após a intensa transição entre os séculos XIX e XX, com a necessidade de


uma Educação técnico-fabril por um lado e a Educação do cidadão
:
iluminista por outro, sob uma economia com fundamentos cada vez mais
liberais, surgiu o teor do novo processo educacional. De modo que, já no
século XX, a didática, até então considerada tradicional, passou a se
preocupar com o método mais adequado para a aprendizagem de um
conteúdo específico ou de determinada habilidade.

I IDEIAS QUE VIAJAM


A RENOVAÇÃO DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
Você pode estar se perguntando de onde vieram e quais foram as pessoas
que difundiram essas ideias no Brasil. Veja, a seguir, as teorias de cada um
desses pensadores que contribuíram de alguma forma para essa
renovação das práticas pedagógicas.

Imagem: Autor Desconhecido/Wikimedia Commons/Domínio Público.


:
HEINRICH PESTALOZZI (1746-1827)

Pioneiro da reforma educacional influenciado por Rousseau, após ler


a obra “Emílio”, também se baseou no movimento naturalista.

Ele foi um dos pioneiros da Pedagogia moderna, influenciando


profundamente todas as correntes educacionais. Fundou escolas e
cativava a todos para a causa de uma Educação capaz de atingir o
povo, em um tempo em que o ensino era privilégio exclusivo de
algumas classes sociais.

Imagem: Popular Graphic Arts/Wikimedia Commons/Domínio Público.

FRIEDRICH FRÖEBEL (1782-1852)


:
Pedagogo alemão fundamentado nas teorias de Pestalozzi, foi o
fundador do primeiro jardim de infância. A expressão Jardim da
Infância teve origem em seu pensamento de que as crianças são
como plantas de um jardim em que o professor é o jardineiro.

Para Fröebel, a criança se expressa através das atividades de


percepção sensorial, da linguagem e das brincadeiras. A linguagem
oral se associaria à natureza e à vida. Para ele, o desenvolvimento
ocorre segundo as seguintes etapas: infância, meninice, puberdade,
mocidade e maturidade.

Foto: Engeell/Wikimedia Commons/Licença(CC BY-SA 4.0).

CÉLESTIN FREINET (1896-1966)


:
Pedagogista francês, grande referência da área, deixou como
herança propostas que continuam a ter ressonância na Educação dos
dias atuais. Com um tipógrafo, imprimiu textos livres e jornais da
classe para seus alunos. As próprias crianças compunham seus
trabalhos, discutiam e os editavam em pequenos grupos, antes de
apresentar o resultado à classe. Os jornais eram trocados com os de
outras escolas e os textos substituíram os livros didáticos
convencionais.

Sua metodologia criava desconforto e desconfiança por não estar de


acordo com a política oficial de Educação francesa, o que causou sua
exoneração em 1935. A partir daí, fundou com a esposa sua própria
escola pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial.

Na década de 1930, a escola de Freinet foi oficialmente aberta, e,


com Romain Rolland, lançou o projeto Frente da Infância. No final da
década de 1940, Freinet criou a Cooperativa do Ensino Leigo (ICEM),
em Vence, que reunia mais de vinte mil pessoas.

Em 1956, lançou uma campanha nacional para quantificar os alunos


nas salas de aula. Sua meta era de vinte e cinco alunos em cada
classe no máximo. Em 1957, a Federação Internacional dos
Movimentos da Escola Moderna (FIMEM) foi fundada pelos seus
seguidores, que reúne educadores de todo o mundo.
:
Imagem: Emilio J. Rodríguez Posada/Wikimedia Commons/Domínio
Público.

ANTONIO GRAMSCI (1891-1937)

Filósofo, jornalista, crítico literário e político italiano. Membro-fundador


e secretário-geral do Partido Comunista da Itália, Gramsci é
reconhecido pela teoria da necessidade de educar os trabalhadores e
de formar intelectuais provenientes da classe trabalhadora, que ele
denomina intelectuais orgânicos.

De acordo com Gramsci, todo homem é um intelectual, pois todos


nascem com faculdades intelectuais e racionais, mas nem todos têm
a função social de intelectuais. Os conceitos relacionados à
Pedagogia crítica e à instrução popular foram utilizados mais tarde
por Paulo Freire no Brasil.
:
Gramsci acreditava que a tomada do poder seria precedida por uma
mudança de mentalidade. Os principais agentes das mudanças, de
acordo com Gramsci eram os intelectuais e o principal modo de
conquista da cidadania seria a escola.

Imagem: Goetheanum, archívum/Wikimedia Commons/Domínio


Público.

RUDOLF STEINER (1861-1925)

Filósofo, educador, artista e esoterista. Fundador da antroposofia, da


agricultura biodinâmica e da medicina antroposófica. Também se
tornou profundo conhecedor da obra de Goethe, escrevendo muitas
obras sobre ele e dedicando-se à explicação de seu pensamento.
:
Imagem: Dmitry Makeev/Wikimedia Commons/Domínio Público.

ANTON MAKARENKO (1888-1939)

Pedagogista ucraniano que se especializou no trabalho com menores


abandonados, especialmente os que viviam nas ruas e estavam
associados ao crime. Demonstrou grande habilidade junto às
questões educacionais, colocou em prática uma maneira
revolucionária e eficaz de educar.

De acordo com sua Pedagogia, o jovem deveria ser educado em uma


escola baseada na vida em grupo, no autocontrole, no trabalho, e na
disciplina. Concebeu um modelo de escola baseado na vida em
grupo, na autogestão, no trabalho e na disciplina que contribuiu para
a recuperação de jovens infratores.
:
Foto: Autor Desconhecido/Wikimedia Commons/Domínio Público.

MARIA MONTESSORI (1870-1952)

Educadora, médica e pedagoga italiana. Seu trabalho destaca a


importância da liberdade, da atividade e do estímulo para o
desenvolvimento físico e mental das crianças. Para ela, liberdade e
disciplina se equilibravam, não sendo possível conquistar uma sem a
outra. Adaptou o princípio da autoeducação, que consiste na
interferência mínima dos professores, já que a aprendizagem tem
como base o espaço escolar e o material didático.

Seu método é caracterizado pela ênfase na autonomia, liberdade com


limites e respeito pelo desenvolvimento natural das habilidades
físicas, sociais e psicológicas da criança. A criança é o centro do
método montessoriano e o professor tem o papel de acompanhador
:
do processo de aprendizado. Ele guia, aconselha, mas não dita, nem
impõe o que vai ser aprendido pela criança.

O material criado por Montessori tem papel preponderante no seu


trabalho educativo, partindo do concreto (o material didático) para o
pensamento abstrato.

Foto: Autor Desconhecido/Wikimedia Commons/Domínio Público.

LEV VYGOTSKY (1896-1934)

Psicólogo, Vygotsky foi pioneiro no conceito de que o


desenvolvimento intelectual das crianças ocorre em função das
interações sociais e condições de vida. Um de seus conceitos mais
:
importantes é o da Zona de Desenvolvimento Proximal, que
corresponde à diferença entre o que a criança consegue realizar
sozinha (Zona de Desenvolvimento Real) e aquilo que é capaz de
aprender e fazer com a ajuda de uma pessoa mais experiente (Zona
de Desenvolvimento Potencial), como um adulto, uma criança mais
velha ou com maior facilidade de aprendizado. Em outras palavras, a
Zona de Desenvolvimento Proximal é tudo o que a criança pode
adquirir em termos intelectuais quando lhe é dado o suporte
educacional devido.

Foto: Didius/Wikimedia Commons/Licença(CC BY 2.5).

CARL ROGERS (1902-1987)

Psicólogo americano, que desenvolveu a abordagem centrada na


:
pessoa. A proposta defendida pela Psicologia Humanista de Rogers
não considera o ensino um processo de transmissão de conteúdos
prontos, nem mesmo um processo de direção da aprendizagem. Essa
teoria compreende o ensino como facilitação da aprendizagem,
cabendo ao professor a função de estimular o aprendizado.

Foto: Silly rabbit/Wikimedia Commons/Licença(CC BY 3.0).

SKINNER (1904-1990)

Psicólogo norte-americano que conduziu trabalhos pioneiros em


Psicologia experimental e foi o propositor do behaviorismo radical.
Skinner é a expressão mais célebre do behaviorismo, corrente que
dominou o pensamento e a prática da psicologia, em escolas e
consultórios, até os anos 1950.
:
Skinner adotava práticas experimentais derivadas da Física e de
outras ciências. Outros importantes estudos do autor referem-se ao
comportamento verbal humano e à aprendizagem. Nenhum pensador
ou cientista do século XX levou tão longe a crença na possibilidade de
controlar e moldar o comportamento humano como Skinner.

I DESENVOLVIMENTO

Você percebeu que até aqui, nós já elencamos uma série de propostas e
novas ideias pedagógicas que tiveram influência no modo como a
Educação passou a ser estruturada no século XX. O exercício daqui por
diante é conhecer as reformas, decretos e leis que tivemos durante o
período republicano e pensar como que essas novas práticas pedagógicas
influenciaram a Educação brasileira.

$  A DÉCADA DAS REFORMAS


EDUCACIONAIS (1920)

A década de 1920 ficou conhecida, no campo educacional, como a década


das reformas educacionais. Naquele momento, ocorreram intensos debates
envolvendo diferentes propostas para pensar a Educação e a organização
do sistema escolar. Uma dessas propostas trazia consigo os ideais da
chamada Escola Nova.

Em uma conjuntura marcada por importantes transformações econômicas,


:
políticas e sociais, os defensores do escolanovismo defendiam a
urgência na renovação das práticas de ensino. Para eles, a Educação
tradicional não estimulava os alunos a pensarem por conta própria.

No decorrer dos anos 1920, alguns estados brasileiros realizaram algumas


reformas educacionais do ensino primário, através dos seguintes
pressupostos:

ESCOLANOVISTAS

Os escolanovistas enxergavam os alunos como sujeitos ativos no


processo de aprendizagem. Ao professor, cabia valorizar esses
sujeitos em todas suas potencialidades, despertando curiosidade e
interesses.

Outra bandeira muito importante levantada pelos defensores da


Escola Nova era a defesa de uma escola pública, laica, universal e
gratuita. Acreditava-se que apenas dessa forma seria possível viver
em uma sociedade mais justa e igualitária: Educação para todos e
não apenas para a elite.

Extensão do ensino

Articulação entre os diferentes níveis da escolarização

Adaptação ao meio social

Adaptação às ideias modernas de Educação


:
SAIBA MAIS

Nesse período, muitos intelectuais tentaram colocar em prática os ideais


escolanovistas, por meio de uma série de reformas do ensino primário que
foram feitas no âmbito estadual. Em um intervalo de oito anos (1920 –
1928), destacaram-se alguns educadores em vários estados da federação:
clicando aqui.

1920: Sampaio Dória, diretor-geral da Instrução Pública de São


Paulo, realiza a primeira reforma educacional no Estado de São
Paulo;

1923: Lourenço Filho, no Ceará;

1925: Anísio Teixeira, na Bahia;

1927: Francisco Campos e Mário Casassanta, em Minas Gerais;


:
1928: Fernando Azevedo, no então Distrito Federal;

1929: Carneiro Leão, em Pernambuco;

1930: Lourenço Filho, em São Paulo.

$  ERA VARGAS (1930-1945)

Imagem: Shutterstock.com

O ano de 1930 é considerado o marco final da República Velha e o início da


chamada Era Vargas.

Alguns fatores ocasionaram o colapso da Primeira República como a


insatisfação de muitos setores sociais que contestavam cada vez mais o
:
Estado oligárquico, além da crise da economia cafeeira com o fim dos
investimentos estrangeiros. A crise dos anos vinte conduziu o país à
denominada Revolução de 1930 e levou Getúlio Vargas ao comando da
nação.

Em termos educacionais, apesar das tentativas de reforma nos anos 1920,


ao final da Primeira República pouca coisa havia realmente mudado. Nosso
país continuava sem um sistema de ensino coerente e eficiente. Além
disso, o analfabetismo entre jovens e adultos, um problema de âmbito
nacional, não foi resolvido com as reformas. As camadas mais pobres da
população permaneciam fora das salas de aula e apartadas do acesso ao
conhecimento.

Mesmo com um cenário político conturbado, alguns nomes de projeção na


Educação (desde os anos 1920) ocuparam posições de destaque no
campo educacional. Vários reformadores dessa década foram convidados
a ocupar cargos de relevância no interior do novo governo. Assim, pela
primeira vez em nossa história da Educação, teve início um movimento em
direção à criação de um sistema organizado de ensino.

ANALFABETISMO ENTRE JOVENS


E ADULTOS ESCOLANOVISTAS

O Brasil hoje, com todos os esforços decorrentes, ainda tem números


alarmantes de analfabetos, cerca de 10 milhões, além de números
incertos de analfabetos funcionais.
:
Foto: Autor Desconhecido/Wikimedia Commons/Licença(CC BY-SA 4.0).

De modo geral, a Revolução de 1930 no campo educacional foi


produtiva: ainda naquele ano, foi criado o Ministério da Educação e Saúde
Pública, coordenado por Francisco Campos.

A atuação de Francisco Campos se deu no sentido de estabelecer um


sistema nacional de Educação. O novo ministro visava estruturar o ensino
secundário e o ensino superior. Esses decretos ficaram conhecidos como
Reforma Francisco Campos.

ESSES DECRETOS

Decreto no 19.850, de 11 de abril de 1931: criação do Conselho


:
Nacional de Educação;

Decreto no 19.851, de 11 de abril de 1931: implementação do


Estatuto das Universidades Brasileiras;

Nem todas essas reformas educacionais foram plenamente aceitas por


todos os setores da sociedade. A situação política conturbada e a noção de
que o governo não estava totalmente comprometido com a renovação do
sistema educacional pressionava os defensores da Pedagogia da Escola
Nova.

Em 1932, um grupo de 26 educadores apresentou ao governo um


documento que ficou conhecido posteriormente como o Manifesto dos
Pioneiros da Educação Nova, escrito por Fernando de Azevedo. O
documento apresentava várias propostas e defendia algumas posições
que, a partir de então, foram colocadas em prática ou foram combatidas por
grupos que não aceitavam as mudanças advindas pela Educação.

Foto: Arquivo Lourenço Filho CPDOC/FGV.


:
MANIFESTO DOS PIONEIROS DA
EDUCAÇÃO NOVA

Compreendida como canal da democracia;

Um instrumento de integração social;

Pública, obrigatória e laica;

Um vínculo de comunicação com as comunidades onde está


inserida;

Articular os vários graus do desenvolvimento humano;

Funcional e ativa.

ENSINO SECUNDÁRIO:

Decretos no 19.890, de 18 de abril de 1931 e no 21.241, de 4 de abril


de 1932: discorrem sobre a organização do ensino secundário. Esses
decretos determinavam, entre outras, coisas o estabelecimento do
currículo seriado e frequência obrigatória.

Enquanto os defensores do escolanovismo acreditavam que a Educação


funcionava como um instrumento de emancipação dos indivíduos, a arena
:
pública via crescer com força e intensidade a defesa do ensino religioso,
sob forte influência da ideologia católica.

Foto: Shutterstock.com

NESSE CONFLITO DE IDEIAS, CADA GRUPO APRESENTAVA


CONCEITOS E PROPOSTAS PARA A EDUCAÇÃO BRASILEIRA.

Nesse contexto de disputa de narrativas e projetos distintos, foi promulgada


uma nova Constituição para o país: a Constituição de 1934.

QUAL O PAPEL DA CONSTITUIÇÃO DE


1934 NESSE CONTEXTO DE
DISCUSSÃO E ESTABELECIMENTO
DE DIRETRIZES E PROPOSTAS PARA
A EDUCAÇÃO?

A Constituição de 1934 foi a primeira Carta Magna brasileira a incluir em


seu texto um capítulo inteiro sobre a Educação. Pela primeira vez, foram
apontadas questões importantes em relação ao ensino no Brasil, como o
acesso ao ensino primário. Clique aqui e leia os artigos 148 e 149.
:
Como é possível perceber, os anseios dos pioneiros foram atendidos, ainda
que não em sua totalidade. Mesmo assim, a nova Carta Constitucional
trouxe muitos avanços na Educação brasileira.

Art. 148: Cabe à União, aos Estados e aos Municípios favorecer e


animar o desenvolvimento das ciências, das artes, das letras e da
cultura em geral, proteger os objetos de interesse histórico e o
patrimônio artístico do País, bem como prestar assistência ao
trabalhador intelectual.

Art. 149: A educação é direito de todos e deve ser ministrada, pela


família e pelos Poderes Públicos, cumprindo a estes proporcioná-la a
brasileiros e a estrangeiros domiciliados no País, de modo que
possibilite eficientes fatores da vida moral e econômica da Nação, e
desenvolva num espírito brasileiro a consciência da solidariedade
humana.

$  ESTADO NOVO (1937-1945)


:
Imagem: Autor Desconhecido/Wikimedia Commons/Domínio Público.

Apenas quatro anos depois da Constituição de 1934, instaurou-se o


período que ficou conhecido como Estado Novo. Com a promulgação de
uma nova Constituição de caráter claramente autoritário, em 1937,
Getúlio iniciava a fase ditatorial da Era Vargas. Os oito anos que duraram o
Estado Novo foram de intensa repressão política a todos aqueles que
faziam oposição ao governo.

No campo educacional, permaneceram intactos a gratuidade e


obrigatoriedade do ensino primário. Por outro lado, tornou obrigatória a
disciplina Educação Moral e Cívica nas escolas.

Acompanhando as mudanças na sociedade e o aprofundamento do


processo de industrialização, ficava cada vez mais evidente a carência de
mão de obra profissional. Assim, outra mudança trazida na Constituição de
1937 foi a introdução do ensino profissionalizante.

Nos primeiros anos do Estado Novo, em um contexto de ascensão de


:
forças conservadoras, os ideais dos intelectuais da Escola Nova caíram em
certo descrédito. A instituição do ensino profissional, voltado sobretudo para
as classes menos favorecidas, marcou claramente essa mentalidade.

Extinção da Justiça Eleitoral e dos partidos políticos;

Instituição da censura aos meios de comunicação;

Fim do direito de greve;

Fim do poder legislativo.

No começo da década de 1940, ocorreram algumas iniciativas de reforma


da Educação, mais voltadas para o ensino primário e secundário, mas
ainda articuladas ao projeto político autoritário de Vargas.

No ano de 1942, Gustavo Capanema, Ministro da Saúde e Educação,


empreendeu algumas mudanças sob o nome de Leis Orgânicas do
Ensino. Popularmente conhecidas como Reforma Capanema, essas
reformas tinham um viés claramente nacionalista e moralizante.
:
Foto: Autor Desconhecido/Wikimedia Commons/Domínio Público.

REFORMA CAPANEMA

A Reforma Capanema trouxe consigo a instauração de alguns


decretos-leis, como: Decreto-lei no 4.048, de 22 de janeiro, criou do
Serviço Nacional de Aprendizagem - SENAI;

Decreto-lei no 4.073, de 30 de janeiro de 1942: organizou o


ensino industrial;

Decreto-lei no 4.244, de 9 de abril de 1942: divisão do ensino


secundário em dois ciclos: ginásio (4 anos) e colegial (3 anos);
:
Decreto-lei no 6.141, de 28 de dezembro de 1943: reformulação
do ensino comercial.

$  NOVA REPÚBLICA (1946-1963)

Com o final do Estado Novo, mais uma vez tivemos a promulgação de uma
nova Constituição, dessa vez com um viés liberal e democrática.

Observe o fato de que em 12 anos (1934-1946), o Brasil teve três


constituições diferentes (a de 1934, a de 1937 e a de 1946). Em 1945,
quando Getúlio Vargas foi derrubado do poder, o Brasil voltou, finalmente, a
respirar ares democráticos. Por isso, a expressão Nova República.

Diante de tanta informação e tantas reformas diferentes, você pode estar se


perguntando sobre o que acontece agora. Avanços ou retrocessos?

Felizmente, o período conhecido como Nova República ficou conhecido por


importantes transformações no âmbito educacional. Não é possível
esquecer que o rápido crescimento demográfico e o acelerado processo de
industrialização impulsionaram as demandas por Educação. Na
Constituição de 1946, a Educação aparece novamente como “ um direito
de todos”, inspirada nos princípios defendidos pelos escolanovistas.

CONSTITUIÇÃO DE 1946

A Constituição de 1946 estabeleceu que:


:
Anualmente, a União deveria aplicar nunca menos de dez por
cento, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, nunca
menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos, na
manutenção e desenvolvimento do ensino;

Fixação da necessidade de elaboração de novas leis e diretrizes


para o ensino.

SAIBA MAIS

Ainda em 1946, o ensino primário passou por uma reestruturação através


da chamada Lei Orgânica do Ensino Primário, instituída a partir
desses decretos-leis.
:
LEI ORGÂNICA DO ENSINO
PRIMÁRIO

Decreto-lei no 8.529, de 2 de janeiro de 1946: organização do


ensino primário nacionalmente;

Decreto-lei no 8.530, de 2 de janeiro de 1946: organização do


ensino normal;

Decreto-lei no 8.621 e 8.622, de 10 de janeiro de 1946: criação


do SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio.

Naquele contexto, tivemos ainda outro debate muito importante envolvendo


o setor educacional: o Ministro da Educação, Clemente Mariani, criou uma
comissão de educadores com o objetivo de pensar uma reforma geral para
a Educação. Assim, em 1948, a primeira Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional começou a ser discutida e pensada.

#
DURANTE 13 ANOS, TRAVOU-SE INTENSO
:
DEBATE, NO ÂMBITO DO ESTADO E DA
SOCIEDADE CIVIL, ENTRE OS QUE
DEFENDIAM A PRIORIDADE DA ESCOLA
PÚBLICA E OS PARTIDÁRIOS DA
LIBERDADE DE ENSINO. PARA OS
PRIMEIROS, OS RECURSOS DO ESTADO
DEVERIAM SER EMPREGADOS NA
MANUTENÇÃO E NA EXPANSÃO DAS
ESCOLAS OFICIAIS, QUE DEVERIAM
MINISTRAR UM ENSINO OBRIGATÓRIO,
GRATUITO E LAICO. PARA OS OUTROS,
ESSES RECURSOS DEVERIAM SER
TRANSFERIDOS ÀS INSTITUIÇÕES
PARTICULARES, QUE MINISTRARIAM O
ENSINO CONFORME AS ORIENTAÇÕES
IDEOLÓGICAS DAS FAMÍLIAS, CABENDO
AO ESTADO APENAS OCUPAR O ESPAÇO
NÃO PREENCHIDO PELA INICIATIVA
PRIVADA.

(LEI Nº 4.024, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1961)


:
Imagem: Shutterstock.com

Após intensos debates envolvendo entidades estudantis, sindicatos e


organizações religiosas, o projeto da LDB finalmente virou a Lei no 4.024,
no ano de 1961, já no governo de João Goulart. A seguir alguns pontos
contemplados na LDB:

Obrigatoriedade de matrícula nos quatros anos do ensino primário.

Ensino religioso facultativo.

3
:
Ano letivo de 180 dias.

Concede mais autonomia aos órgãos estaduais, através da diminuição da


centralização do poder no MEC.

Formação do professor para o ensino médio nos cursos de nível superior.

$  A EDUCAÇÃO COMO PRÁTICA


LIBERTADORA (1960)

No início da década de 1960, não foram apenas os debates envolvendo o


Projeto de Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional que
marcaram o cenário brasileiro.

O professor Paulo Freire (foto) passou a ser conhecido por ter conseguido
alfabetizar, na cidade de Angicos, no Rio Grande do Norte, 300 cortadores
de cana em apenas 45 dias.
:
Foto: Slobodan Dimitrov/Wikimedia Commons/Licença(CC BY-SA 3.0).

O chamado método Paulo Freire ficou conhecido porque rejeitava as


formas tradicionais de alfabetização que usavam cartilha. Para Freire,
essas cartilhas levavam o aluno a aprender pelo método da repetição. Ao
contrário disso, Freire acreditava que o aprendizado deveria vir como parte
integrante da realidade e experiência das pessoas.
:
No vídeo, Rodrigo Rainha contextualiza os acontecimentos que levaram o
país do momento de criação da Lei de Diretrizes e Bases, em 1961, ao
Golpe Civil-militar, em 1964.
:
Vídeo com libras.

Ou seja, ele partia do universo familiar dos indivíduos para formar palavras
e articular sílabas.

VERIFICANDO O APRENDIZADO
:
1. NA DÉCADA DE 1920, UM MOVIMENTO CONHECIDO
COMO ESCOLA NOVA EXERCEU GRANDE INFLUÊNCIA
ENTRE UMA PARCELA DE INTELECTUAIS NO BRASIL.
IDENTIFIQUE NAS ALTERNATIVAS ABAIXO, AQUELA QUE
NÃO CORRESPONDE AOS IDEAIS DEFENDIDOS PELOS
ESCOLANOVISTAS:

A) Renovação do ensino com uma Educação baseada no estímulo do


desenvolvimento das potencialidades dos alunos.

B) Defesa de uma Educação pública, laica e gratuita.

C) A Educação era entendida como um direito reservado a apenas uma


pequena parcela da elite.

D) A escola era entendida como um espaço onde os sujeitos poderiam se


expressar.

2. COM A PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA, O BRASIL


ADOTOU O FEDERALISMO, E O PODER, ATÉ ENTÃO
CENTRALIZADO NO IMPERADOR, FOI DIVIDIDO ENTRE O
PRESIDENTE E OS GOVERNOS ESTADUAIS. ESSAS
TRANSFORMAÇÕES TIVERAM ECOS NA EDUCAÇÃO. A
IDEIA DO ENSINO COMO DIREITO PÚBLICO SE
FORTALECEU E SURGIRAM MODELOS QUE SE
PERPETUARAM. QUAL DAS REALIZAÇÕES NÃO
CORRESPONDE A UM FATO DO PERÍODO REPUBLICANO?

A) Promulgação da Constituição de 1891 que determinou a


:
descentralização do ensino.

B) Criação da Associação Brasileira de Educação (ABE).

C) Promulgação da Primeira LDB em 1961.

D) Criação da Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro em 1810.

GABARITO

1. Na década de 1920, um movimento conhecido como Escola Nova


exerceu grande influência entre uma parcela de intelectuais no Brasil.
Identifique nas alternativas abaixo, aquela que não corresponde aos
ideais defendidos pelos escolanovistas:

A alternativa "C " está correta.

Os defensores da Escola Nova, nos anos 1920 e 1930, em um contexto de


publicação do Manifesto dos Pioneiros sempre defenderam uma Educação
que alcançasse todas as classes sociais. Eles acreditavam que a Educação
funcionaria como um importante instrumento de emancipação dos
indivíduos, portanto, ela teria que ser para todos.

2. Com a Proclamação da República, o Brasil adotou o Federalismo, e


o poder, até então centralizado no imperador, foi dividido entre o
presidente e os governos estaduais. Essas transformações tiveram
ecos na Educação. A ideia do ensino como direito público se
fortaleceu e surgiram modelos que se perpetuaram. Qual das
realizações não corresponde a um fato do período republicano?

A alternativa "D " está correta.


:
A Biblioteca Nacional foi fundada no período Imperial com um acervo de 60
mil livros doados por Dom Pedro II. É considerada, pela UNESCO, uma das
dez maiores bibliotecas nacionais do mundo. Também a maior biblioteca da
América Latina.

CONCLUSÃO

I CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este tema fez um passeio sobre as principais linhas educacionais que


formaram o Brasil entre o fim do Império até as vésperas do Golpe Civil-
militar de 1964. Podemos perceber que este período é marcado por duas
grandes tendências pedagógicas: as linhas oriundas do positivismo e as
caraterísticas marcantes do tecnicismo. Enquanto até 1930 (período
denominado República Velha) a tradição positivista ajudou a organizar as
bases da educação brasileira, a partir da chamada Era Vargas (1930-1945)
e até 1964, temos a consolidação de um sistema educacional organizado
através de Manifestos, Leis e, inclusive, a LDB (Diretrizes de Base da
Educação, de 1961) que marcaram profundamente a tradição escolar
brasileira e que, de algum modo, permanecem ainda hoje em nosso ideário
educacional.
:
AVALIAÇÃO DO TEMA:

REFERÊNCIAS
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UNESP. Caderno de formação: Formação de Professores Educação,


Cultura e Desenvolvimento. Volume 1. São Paulo: UNESP, 2010

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Quer ver um pouco mais, leia agora a visão de Rui Barbosa


http://www.serie-estudos.ucdb.br/index.php/serie-estudos/article/view/97.

CONTEUDISTA

Pâmela de Almeida Resende

% CURRÍCULO LATTES
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