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EDUCAÇÃO
Introdução
Neste capítulo, você vai estudar as características da educação brasileira
no período imperial, ao relacionar a tendência elitista às reformas do
português Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal.
Você poderá examinar quais foram os desdobramentos desse modelo de
educação para a organização da cultura, do poder político e da sociedade
no Brasil. Ainda, será capaz de compreender uma sociedade marcada,
historicamente, pela desigualdade social, pelo trabalho escravo e pelo
dualismo educacional, em que poucos estudam os saberes científicos e
outros apenas o necessário para o trabalho.
É esta contradição entre ter que qualificar um pouco mais e ao mesmo tempo
manter o controle ideológico da escola, diferenciando desempenhos, mas
garantindo acesso ao conhecimento básico para a formação do trabalhador
hoje esperado na porta das empresas, que move os reformadores a disputarem
a agenda da educação, responsabilizando a escola pela falta de equidade no
acesso ao conhecimento básico, ou seja, responsabilizando a escola por não
garantir o domínio de uma base nacional e comum a todos.
Nota-se que existia uma preocupação com a formação dos meninos jovens,
o que denuncia os interesses de uma educação voltada para o trabalho em uma
sociedade patriarcal e patrimonialista. Saviani (2006, p. 5377) aponta como
primeira medida na educação imperial a criação das escolas de primeiras
letras, inspiradas no chamado método Lancaster ou método de ensino mútuo:
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[...] o método de ensino mútuo, que já vinha sendo divulgado no Brasil desde
1808, se tornou oficial em 1827 com a aprovação da lei das escolas de primeiras
letras, ensaiando-se a sua generalização para todo o país. Proposto e difundido
pelos ingleses Andrew Bell, pastor da Igreja Anglicana, e Joseph Lancaster,
da seita dos Quakers, o método mútuo, também chamado de monitorial ou
lancasteriano, se baseava no aproveitamento dos alunos mais adiantados como
auxiliares do professor no ensino de classes numerosas.
A educação que antes era vista como um dever do súdito passou a ser conside-
rada um direito do cidadão; mas quem era considerado cidadão nesse período
no Brasil? Os negros eram escravos, as mulheres não possuíam direito de voto,
os assalariados e os soldados não podiam votar. Só votavam homens com mais
de 25 anos com renda fixa anual e pensando aqui somente na dimensão dos
direitos políticos, uma vez que o país vivia em regime monárquico. O que se
pensa é que a educação estava sendo requisitada como direito para os filhos
homens dos brancos pertencentes à elite agrária do Brasil.
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Sob o ponto de vista da organização dos estudos, previa-se: a) uma escola pri-
mária dividida em duas classes: a primeira compreenderia escolas de instrução
elementar, denominadas escolas de primeiro grau; a segunda corresponderia
à instrução primária superior, ministrada nas escolas de segundo grau; b)
uma instrução secundária ministrada no Colégio Pedro II, com a duração de
7 anos, e nas aulas públicas avulsas, consagrando, portanto, a coexistência
dos dois modelos então em vigor; c) os alunos seriam agrupados em turmas
adotando-se, portanto, a seriação e o ensino simultâneo.
Para ele [Couto Ferraz], as Escolas Normais eram muito onerosas, ineficien-
tes quanto à qualidade da formação que ministravam e insignificantes em
relação ao número de alunos que nelas se formavam. Por isso, já antecipara
na Província do Rio de Janeiro a solução adotada no Regulamento de 1854: a
substituição das escolas normais pelos professores adjuntos. Daí um inteiro
capítulo, o de número II, do Título II, dedicado aos professores adjuntos.
Para Saviani (2006), houve uma ruptura com a reforma anterior, ainda que
esta regulamente o funcionamento das escolas normais ao fixar seu currículo, a
nomeação dos docentes, o órgão dirigente e a remuneração dos funcionários (artigo
9º). A criação de Jardins de Infância para as crianças de 3 a 7 anos foi grande
inovação em relação à Reforma Couto Ferraz, prevista no artigo 5°. Ainda, Saviani
(2006) destaca que foi na Reforma Leôncio de Carvalho que, pela primeira vez na
legislação brasileira, aparecem as palavras pedagogia e pedagógico. Rompe-se,
assim, o caráter meramente legal na alusão a uma ação pedagógica.
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SOUZA, J. A ralé brasileira: quem é e como vive. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2009.
VAINFAS, R. (Org.). Dicionário do Brasil Imperial (1822-1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2008.
ZICHIA, A. C. O direito à educação no Período Imperial: um estudo de suas origens
no Brasil. 128 p. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.
Leituras recomendadas
BRITO, K. R. S. A história da educação brasileira no Império (1822-1889): um estudo
reflexivo. Littera Docente & Discente em Revista, v. 2, n. 3, 2013. Disponível em: <http://
www.litteraemrevista.org/ojs/index.php/Littera/article/view/95/95>. Acesso em:
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FAORO, R. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. São Paulo:
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FURTADO, C. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Nacional, 2001.
HOLANDA, S. B. (Org.). O Brasil monárquico: do império à república. São Paulo: Difel, 1976.
NASCIMENTO, M. I . M. O império e as primeiras tentativas de organização da educação
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periodo_imperial_intro.html>. Acesso em: 23 abr. 2018.