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EDUCAÇÃO
Kate Rigo
Escola e ensino
durante o
regime militar
no Brasil
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
Do dia 1 de abril de 1964 a 15 de março de 1985, o Brasil viveu um período conhecido
como ditadura ou regime militar, em que diferentes militares se sucederam no
governo. O marco inicial desse regime foi o chamado golpe de 1964, em que militares
em Juiz de Fora se rebelaram contra o governo e tiveram o apoio de parlamentares,
que ratificaram a destituição do então presidente João Goulart. Instaurou-se, a
partir disso, uma época de tensões, marcadas por autoritarismo, censura, per-
seguição política e, consequentemente, falta de democracia. As consequências
desse regime foram diversas e profundas, atingindo as mais diversas áreas da
vida dos cidadãos brasileiros.
Neste capítulo, portanto, você vai conhecer o período histórico em que o Brasil
estava inserido e o que levou um governo civil a se tornar um governo militar
por 21 anos, tendo como foco de análise a sua influência no desenvolvimento
da educação brasileira no âmbito do ensino básico e superior. Além disso, vai
ver as linhas pedagógicas que vigoraram nessa época e sua implementação por
uma necessidade laboral e de desenvolvimento da indústria brasileira. Por fim,
vai conferir informações sobre os reflexos desse período do regime militar no
sistema de ensino brasileiro que tiveram início no fim da década de 1960 e se
perpetuam até os dias atuais.
■■ reestruturação administrativa;
■■ planejamento;
■■ treinamento;
■■ controle do conteúdo (publicações e distribuição do material
didático).
O primeiro problema relacionado à lei foi a forma como foi escrita e ar-
ticulada, apenas por um grupo, sem o debate dos demais envolvidos nesse
quesito (reitores e coordenadores dos núcleos de graduação), uma ação que
evidencia a falta de diálogo entre o governo e a sociedade civil e a ausência
de um plano que contemplasse o olhar técnico dos envolvidos diretamente
na educação nacional. A rapidez do seu avanço sem qualquer participação
popular gerou grande desconforto, já que as medidas dificultariam ainda
mais o acesso ao ensino superior, conforme observa Ghiraldelli Júnior (2003).
O vestibular unificado e classificatório, até hoje utilizado como uma das
maneiras de ingressar no ensino universitário, aparentemente resolvia o
problema de excedentes — candidatos aprovados por alcançarem a nota
mínima, mas que não conseguiam vaga. Na verdade, esse método simples-
mente retirou qualquer direito à vaga conquistada de quem não se adaptou
ao ensino de reprodução e memorização do conteúdo. Outro problema foi a
departamentalização com intuito burocratizante: a ideia estratégica de reunir
pesquisadores da mesma área gerou a criação de um departamento — uma
estrutura burocrática — dentro da faculdade — outra estrutura burocrática.
Assim, sucessivamente: os cursos foram subdivididos em disciplinas e também
em créditos, o que tornou o curso fragmentado e submetia os estudantes
a seguir horários disciplinares que não permitiam tempo livre nem outras
atividades acadêmicas. Esse modelo ainda é vigente em grande parte das
instituições de ensino superior, fazendo com que o tempo de formatura se
estenda, principalmente, quando o estudante concilia a vida profissional
com a acadêmica.
O regime militar, além disso, também alavancou diversas mudanças no
ensino superior: professores e pesquisadores experientes foram aposenta-
dos e não houve contratação de novos docentes; reitores foram demitidos
e, em seu lugar, foram nomeados interventores da ditadura; e a autonomia
administrativa e financeira foi restringida. Além disso, o controle policial se
estendeu aos currículos e aos programas das disciplinas, conforme salienta
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