Você está na página 1de 4

DITADURA CIVIL-MILITAR: AS CONSEQUÊNCIA DESTE PERÍODO NA

EDUCAÇÃO ATUAL
ANNA LÊCY ALMEIDA RODRIGUES
MAILTON VIEIRA DE ASSIS

INTRODUÇÃO:
O período da ditadura no Brasil, iniciou-se em 1 de abril de 1964. Onde civis e militares,
articulados com o poder econômico internacional, organizaram um golpe para tirar o presidente
eleito João Goulart do poder e assim iniciar um período que duraria 25 anos. Durante a ditadura
militar, milhares de pessoas foram privadas de direitos, presas, perseguidas, torturadas e no
cenário da educação não se tinha uma visão mais democrática. O governo regente da
época preocupava-se apenas com a industrialização crescente e como consequência o foco na
educação se deu para o ensino tecnicista onde formavam-se pessoas capazes apenas de executar
tarefas e não pensar sobre elas. Semelhantemente ao período mencionado nota-se que
atualmente ainda há resquícios dessa educação técnica no que se refere ao posicionamento e
comportamento político da população como um todo pois de acordo com Candeu e Vermeersch
(2016, p. 35) ”Os alunos de ontem se tornaram trabalhadores hoje, que não querem falar sobre
política, que apenas vivem fazendo aquilo que lhes é atribuído como ferramenta necessária para
um bom funcionamento do mecanismo global”.
DESENVOLVIMENTO:
Durante essa época houveram muitas mudanças na educação nacional. Durante o
mandato de Castello Branco ocorreu uma reunião do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais
(Ipes), onde foi decidido os rumos que a educação no país iria tomar. A meta do governo era a
elaboração de um plano de Educação com a escola primária voltada para uma atividade prática
e o 2º grau com um ensino técnico que preparasse o estudante para o mercado de trabalho.
Também foram assinados acordos entre os governos brasileiro e americano nos quais previam
a vinda de técnicos para treinar professores. A educação de adultos foi realizada por meio do
Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral), nele, a leitura passou a ser tratada como uma
habilidade que servia de instrumento sem uma contextualização, os alunos aprendiam palavras
atreladas ás imagens, realizavam a divisão silábica e, por último, trabalhavam com frases e
textos. Também eram estudadas operações matemáticas e hábitos para a melhoria da qualidade
de vida. De acordo com Aranha (1996, P 67), em 1970, 33% das pessoas com mais de 15 anos
eram analfabetas e, dois anos depois, a taxa caiu para 28,51%. Entretanto, a autora ressalta que
por causa do método usado muitos alunos mal conseguiam escrever o próprio nome. Como
consequência desse método de educação, ainda é possível enxergar resquícios dessa forma de
educar, visto como algo enraizado na cultura educacional brasileira pois hodiernamente ainda é
notório a presença da forma de pensamento da época onde professores eram tratados como
máquinas de apenas reproduzir conhecimento, não estimulando o pensamento crítico dos
alunos, a atuação como um ser político, logo, seu dever como cidadão. Portanto, ainda é
perceptível a presença do modelo de educação tecnicista da ditadura no qual se fundamenta em:
professor ensina e os alunos aprendem para ingressar no mercado de trabalho, ganhar dinheiro,
e enfim consumir. O ensino como instrumento de fazer política e gerar conhecimento não é
priorizado, pois a padronização do ensino ainda permanece, porém sem o autoritarismo da
época, exibindo um cenário de acomodação da sociedade “Não haveria oprimidos se não
houvesse uma relação de violência que os conformam como violentados, numa situação
objetiva de opressão. ” (FREIRE, 1970, p.45).
Vale ressaltar ainda, que o ensino universitário passava por um momento crítico pois a
oferta de vagas nas universidades não era compatível com a quantidade de alunos, o que gerou
revolta e influenciada pelas reivindicações francesas aconteceu a chamada crise dos excedentes,
e as organizações representativas do movimento estudantil, como a UNE, foram colocadas
como ilegais por combaterem a ditadura militar. Logo depois, no governo de Costa e Silva o
decreto de n°477 decretou infração à quem organizasse qualquer ato de manifestação contra o
governo, desta forma muitos professores e alunos acabaram presos e torturados por não
concordarem com o governo. Essa repressão criava pessoas sem ação, pois até mesmo no
ambiente familiar havia o temor de se opor e questionar o sistema que era implantado. Logo é
notório que essas mudanças ocasionadas no período da Ditadura resultaram na perda da
capacidade dos professores em influir nos rumos da educação atual, impedindo o pensamento
intelectual dos alunos, a capacidade de se politizar, de exercer uma autonomia e saber o seu
lugar na sociedade.
CONCLUSÃO:
Portanto, embora os governos ditatoriais tenham trazido mudanças para o sistema
educacional brasileiro como a implantação do vestibular classificatório nas universidades, a
organização do ensino em 1º e 2º graus em vez de primário, ginásio e colegial, a obrigatoriedade
escolar ampliada até os 14 anos de idade e a extinção do exame de admissão necessário para
entrar no ginásio, é perceptível que atualmente, a população mesmo sem viver uma ditadura
imposta, vive os resquícios de uma ditadura neoliberal, já que os pensamentos sociais ainda
permanecem os mesmos, porém com uma realidade social e econômica diferente.
Sendo assim, vale ressaltar que de acordo com Candeu e Vermeersch (2016, p. 35-36)
a estrutura pode soar como uma falsa liberdade, escravizando o indivíduo cada vez mais
atrelado a esse sistema, que muitas vezes o próprio desconhece, impossibilitando assim
qualquer mudança, que necessariamente teria que partir dele, assim como de todo.
Por conseguinte, seria necessário mudar a forma de pensamento dos docentes e alunos,
de forma que fosse incentivado o diálogo, e que este levasse à pensamentos democráticos
onde cada um exercesse seu papel em uma sociedade democrática.
REFERÊNCIAS
CANDEU, Gabriela Naiara de S.; VERMEERSCH, Paula Ferreira. A DITADURA MILITAR E SUAS
CONSEQUÊNCIAS NA CONSCIÊNCIA DA EDUCAÇÃO COMO POLÍTICA. Colloquium
Humanarum, [S.L.], v. 13, n. , p. 33-37, 15 dez. 2016. Associação Prudentina de Educação e Cultura
(APEC). http://dx.doi.org/10.5747/ch.2016.v13.nesp.000808
FERREIRA, Anna Rachel. Ditadura militar: aulas para o trabalho: história da educação no
brasil. Nova Escola, São Paulo, v. 267, p. 01-05, 01 nov. 2013. Mensal. Disponível em:
https://novaescola.org.br/conteudo/3431/ditadura-militar-aulas-para-o-trabalho. Acesso em: 28
jun. 2022.
ANDES (org.). ANDES-SINDICATO NACIONAL DOS DOCENTES DAS
INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR: ditadura empresarial-militar teve grande
impacto na educação brasileira. Ditadura empresarial-militar teve grande impacto na educação
brasileira. 2019. Disponível em: https://www.andes.org.br/conteudos/noticia/ditadura-
empresarial-militar-teve-grande-impacto-na-educacao-brasileira1. Acesso em: 28 jun. 2022.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 2.ed. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1975. DUARTE,
Alessandra. Repressão da ditadura militar também invadiu as salas de aula: perseguição a
professores inclui escutas em escola, demissões e censuras a docentes. Disponível em: Acesso
em: 28 jun. 2022

Você também pode gostar