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Resenha

Bacharel e Licenciado em Filosofia (1971), Mestre em Filosofia da Educação (1978) e Doutor em


Educação (1985) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Livre Docência em
História da Educação (2001) e Professor Titular (2006) na Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP), onde atuou como docente de 1981 a 2012. Aposentado e Professor Colaborador da
UNICAMP 2013-2016. Pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisa História, Sociedade e
Educação no Brasil - HISTEDBR e membro do Conselho Editorial da Revista HISTEDBR on-line.
Foi Diretor Associado e Diretor da Faculdade de Educação da UNICAMP no período de 1988 a
1996. Atua em História da Educação, História das Instituições Escolares e Política Educacional. É
docente e Coordenador do Curso de Mestrado em Educação e Editor Chefe da Revista Argumentos
Pró-Educação na Universidade do Vale do Sapucaí - UNIVÁS, em Pouso Alegre(MG), desde
agosto de 2014. (Texto informado pelo autor)
(http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4787881A8)

O livro “Desafios à democratização da educação no Brasil contemporâneo” 1ª edição eletrônica,


organizado por José Luis Sanfelice e Sônia Aparecida Siqueli, publicado pela editora Navegando,
no ano de 2016 na cidade de Uberlândia/ Minas Gerais.
Sua estrutura é dividida em quatro partes referentes as mesas redondas do 1° congresso de educação
do Vale do Sapucaí-CEVS que aconteceu no mês de setembro de 2016.
Avaliaremos os seguintes textos da obra: parte I “Da educação à qualidade da educação”,
especificamente sobre o capítulo I “Da democratização à qualidade da educação brasileira: processo
histórico e algumas questões atuais” dos autores Luciana Cristina Salvatti Coutinho e José Luís
Sanfelice, E o capítulo V “A conjuntura educacional atual: para onde caminha a educação” pelo
autor José Luís Sanfelice da parte II “Formação docente e diversidade no contexto escolar”.
A obra tem por bases autores fundamentados em teses marxianas (a teoria das classes e lutas de
classes), destacando Paulo Freire como um dos educadores que atuou nas frentes do movimentos de
educação popular. Traçando uma linha histórica sobre a formação do ser humano e seus processos
de ensino, destaca a importância de se conhecer tais processos para se construir uma análise mais
profunda sobre a democratização deste ensino, particularmente no Brasil.
No entanto, é necessário, como defende Leontiev (2004), fundamentando–se
nas teses de Marx, considerar esse processo de formação humana nas
condições objetivas da sociedade em que se insere e não abstratamente,
como se todos tivessem as mesmas condições de trabalho e de vida. É
imperativo, portanto, partir das condições concretas em que vivem os
sujeitos reais. (p. 23)
Segundo Stromquist (2004) “… embora a educação promova a mobilidade social, ela tende, também
a reproduzir a distribuição social de classes, em qualquer dada sociedade.”. Compreende que as
desigualdades são resultados do sistema capitalista que originou uma sociedade divida em classe: os
que trabalham e os que se apropriam do trabalho alheio, partindo do pressuposto que a vivência por
estas pessoas são diferentes e possui diferentes instrumentos culturais, a educação seria o reflexo
desta sociedade.
O texto aborda também os porcentuais de analfabetos e a participação do Estado em 1930,
demonstrou que a educação possuía caráter elitista, crescia os movimentos populares educacionais
que tinham como princípio a autonomia do indivíduo e desenvolver o senso crítico da sua realidade
no Brasil:
Nesse contexto inicia–se um movimento de educação popular em que vários
projetos são levados acabo, tais como: Movimento de Cultura Popular
(MCP), De Pé no Chão também se Aprende a Ler, Movimento de Educação
de Base (MEB), Centro Popular de Cultura (UNE), destacando–se, entre os
educadores que atuam nessa frente, Paulo Freire. (p. 25)

No capitulo V, o autor aborda o golpe civil-militar, como uma estratégia da classe elitista em
se manterem com os privilégios o qual detinham, pois se sentiram ameaçados pelas reformas de base
proposta pelo governo de Goulart, e passaram a fazer forte oposição. Um importante marco que
trouxe muitas influências ao processo de ensino, ele defende a ideia de golpe fazendo uma critíca a
contemporaneidade sobre movimentos que defendem o período como “revolução”. Possuí uma
linguagem com um tom até agressivo, demonstrando seu total repúdio a estes movimentos.
Com este golpe em 1964, é um processo onde a educação seguiu rumo ao projeto que surgirá
em 1990 citado no capitulo 1 desta obra, uma educação calcada nas regras de mercado, conceito de
qualidade restrito e operativo, ligada a meritocracia e parceria com o privado. Podemos dizer que
neste período a educação foi um dos pilares dos militares, como afirma Patrícia Sposito Mechi, no
relatório da comissão da verdade de são paulo:
A educação foi uma das grandes preocupações dos grupos que atuaram no
âmbito do Estado após 1964, pois o regime necessitava, tanto de técnicos
altamente qualificados quanto de mão-de-obra desqualificada. Mão-de-obra
desqualificada e “dócil”. A rede física foi expandida, um maior número de
pessoas pôde freqüentar a escola e nela aprendiam que o Brasil era um país
democrático, católico e alinhado ao mundo Ocidental. O investimento em
educação, porém, não permitia que se absorvesse toda a demanda escolar.
Os recursos para a educação foram minguando ao longo do período
ditatorial, pois a prioridade do regime era o desenvolvimento acelerado. [...]
a desigualdade social não diminuiu, ao contrário, aprofundou-se. O setor
educacional foi alvo constante dos ataques do governo. Qualquer forma de
discordância era logo taxada de “subversiva” ou “comunista”, e seu autor
era banido dos meios acadêmicos. O movimento estudantil sofreu muitas
baixas, até que perdeu sua força, mantendo-se quase inerte nos anos mais
truculentos da ditadura. Essa foi a outra forma de educar encontrada pelo
regime: disseminando o terror, para desencorajar atitudes de apoio ao
“subversivos” ou “comunistas”. A educação funcionou durante a ditadura
militar como uma estratégia de hegemonia. O regime procurou difundir seus
ideais através da escola, buscando o apoio de setores da sociedade para seu
projeto de desenvolvimento, simultaneamente ao alargamento controlado
das possibilidades de acesso ao ensino pelas camadas mais pobres. (p. 2 e 3)
Tais ações são abordados com clareza na construção do texto onde o autor afirma que o Brasil
possui em sua história muitas dificuldades para que se estabeleça uma educação democrática,
universal e de qualidade, cabe aos defensores da educação a pesquisa e lutar por politicas que
garantam uma efetiva educação democrática.
a) nunca houve na história do Brasil a construção de uma sociedade política
que perseguisse firmemente e de maneira contínua a construção de uma
democracia burguesa. Não foi assim na colonização, não foi assim no
Império e não foi assim na República. Então, mesmo essa democracia
limitada, porque burguesa, não é o forte da prática da vida social brasileira.
Prevalece a vigência de uma sociedade conservadora e reacionária
estruturalmente. Não é nem mesmo a questão de uma legislação
democrática, pois embora ela possa existir, a sociedade não a executa. b) as
desigualdades sociais, raciais e de gênero são impeditivas para a construção
democrática. c) os antagonismos que afloraram na luta de classes foram
sempre resolvidos por golpes políticos, ditaduras e repressão. Assim, o
retorno a essas práticas que se tornaram “triviais” não deve nos pegar de
surpresa, embora houvesse esperanças de que elas não mais aconteceriam.
(p. 124 e 125).
referências:
Comissão da verdade. Disponível em:
<https://www.pucsp.br/comissaodaverdade/dowloads/movimento-estundantil/documentos/
I_Tomo_Parte_1_O-legado-da-ditadura-para-a-educaçao-brasileira.pdf>. Acesso em: 01/12/2018

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