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PRIMEIRA PARTE DO TG: Dinâmicas do Ensino de História através do ensino sobre a

Revolta da Chibata.

Autor (acadêmico)
Prof. Orientador
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Curso (TURMA) – Estágio
dd/mm/aa

1 INTRODUÇÃO:

No Brasil, as discussões acerca do currículo se tornaram mais


frequentes já no final de 1980, desde então também vem ganhando força a
busca por novas alternativas didáticas aos tradicionais modelos de ensino.
A história como disciplina não fica imune às constantes mudanças que
ocorrem de uma geração para outra, por mais que determinemos que o
currículo seja uma seleção de conhecimentos e práticas que devem servir de
base concreta para o ensino, sua exposição a novas dinâmicas e
reinterpretação em diferentes contextos históricos evidencia a sua necessária
plasticidade, podemos citar elementos que exigem a atualização e novos
formatos de ensino que são exigidos aos educadores como: o surgimento de
novas tecnologias, novos modelos de sala de aula - virtual, presencial, híbrida
a interdisciplinaridade e o estímulo ao desejo de aprender são constantes
preocupações que tornam mais evidente a necessidade dessas abordagens e
dinâmicas no processo de ensino-aprendizagem.
Enfatizamos a importância, que além da compreensão do que é
determinado como currículo, sejam favorecidos os debates e a identificação
de bases reais para haver uma melhor consenso entre a escola e a instituição
formadora destes profissionais. Mais do que estabelecer "o que" será
abordado no currículo, torna-se cada vez mais indispensável a preocupação
com o desenvolvimento profissional do professor de história e a busca pela
melhora das ações pedagógicas na sociedade atual.

“É fundamental que, para além da história que se constrói, discute e


ensinana academia, há a história que se direciona ao ensino escolar
básico. Para que se ensine a história nestes níveis de ensino (infantil,
fundamental, médio), faz-se necessário que esse conhecimento acadêmico
passe por uma transposição didática para se transformas em saber
escolar.”
(ABUD, 2005; POLIDORO; STIGAR, 2010).

Para aprimorar e demonstrar essas estratégias de ensino o seguinte artigo


buscou através do Tema “A Revolta da Chibata, e dentro do Objeto do
Conhecimento e habilidades que a BNCC propõe, utilizar algumas dinâmicas de
ensino que tem como objetivo demonstrar e elucidar uma forma de promover a
compreensão histórica, a consciência social e a reflexão crítica sobre questões
relacionadas à escravidão, à justiça social e à luta pelos direitos humanos.

2. O ENSINO DE HISTÓRIA NO BRASIL

De acordo com Paulo Freire, um dos mais influentes educadores do Brasil e


do mundo, “a educação é um processo político e libertador”, e o ensino de história
desempenha um papel central nesse processo.”
A história necessita que a escola, que desempenha o papel de instituição
formadora de cidadãos e profissionais, precisa identificar e promover o encontro
entre os saberes escolares e não escolares, o acesso ao espólio cultural da
humanidade o que é considerado direito do discente, e possibilitar esse acesso é
função da escola, além disso promover práticas e dinâmicas diversificadas para o
processo de ensino-aprendizagem, através dessas ações contribuiremos para uma
educação emancipatória, como ressalta Vera Maria Candau:

“A educação na América Latina tem de se enfrentar no próximo milênio, que já


está em processo, com questões radicais: construir e/ou promover ecossistemas
educativos diversifi cados, multiplicar os seus locus e reinventar a escola. Somente
assim poderá dar resposta aos desafi os do continente: assumindo uma confi
guração plural, reconhecendo o conhecimento e as práticas educativas produzidas
e acumuladas no continente, fazendo da escola um espaço de cruzamento de
saberes e linguagens, de educação intercultural e construção de uma nova
cidadania. Uma proposta educativa ampla e consciente, capaz de contribuir para
encontrar respostas aos desafi os que todo o continente está chamado a enfrentar
para construir sociedades onde a justiça, a solidariedade e a felicidade sejam
direitos de todos. Sem horizonte utópico é impossível educar.” (CANDAU, 2000,
pp. 15-16).

Para os documentos norteadores do currículo do ensino de História, encontramos na


BNCC (Base Nacional Comum Curricular),
Ao estudar o passado do Brasil, os alunos têm a oportunidade de
compreender as raízes das desigualdades sociais, das injustiças e dos desafios
enfrentados pela sociedade. Isso não apenas amplia seu conhecimento, mas
também os capacita a se tornarem cidadãos críticos e engajados.
Portanto, o ensino de história no Brasil não é apenas uma transmissão de
informações sobre eventos passados, mas uma prática educacional que contribui
para a formação de cidadãos críticos, conscientes de seu papel na sociedade e
capazes de compreender o presente à luz do passado. Essa fundamentação teórica
ressalta a importância do ensino de história como uma ferramenta essencial na
educação brasileira e na construção de uma sociedade mais justa e democrática.

3. A REVOLTA DA CHIBATA

A Primeira República é um período histórico cheio de contradições. Apesar do


novo regime republicano, muitas características do tempo do Império podiam ser
observadas nas instituições, na economia e, até mesmo, na sociedade do País.
“Ademais, embora tenham ocorrido nesse período muitas
transformações de cunho urbanístico e chegado novos aparatos
tecnológicos às grandes cidades, em especial à capital Rio de
Janeiro, que via suas feições serem rapidamente modificadas —, tais
inovações estavam reservadas às elites e aos seus locais de
moradia. A população pobre continuava tão pobre, ou até mais,
quanto era na época em que D. Pedro II governava o País.”
(FERREIRA, 2010).

Em 1910, a República já tinha 21 anos, mas mesmo assim os problemas


sociais pareciam cada vez mais graves e insolúveis. Naquele ano, a cidade do Rio
de Janeiro, com mais de 800 mil habitantes, manteve-se como a maior cidade do
Brasil e o centro cultural, econômico e social do país, atraindo assim um número
cada vez maior de pessoas de outras partes do Brasil em busca de trabalho,
independentemente daqueles provenientes de imigrantes de muitos países.

Segundo Ferreira, 2010, “como se pode imaginar, uma cidade que já possuía
uma enorme população de miseráveis ganhava diariamente novos problemas, o que
resultava em maior desigualdade e instabilidade.” (FERREIRA, 2010).
“Como a população miserável não parava de crescer, graves problemas de
higiene e de habitação causavam preocupação. Porém, a mentalidade da maior parte
dos governantes da época era a de resolver essa situação a partir da repressão, fato
que aumentava a insatisfação entre as camadas populares. Era um período violento,
que pode ser sintetizado na frase que o último presidente da Primeira República,
Washington Luís, gostava de dizer: “Questão social é questão de polícia” (BARISON,
2013).”

Sendo assim, surgiram nesse contexto diversos movimentos populares


urbanos contestando a ordem vigente e as suas práticas violentas. A
insatisfação, contudo, não se restringia à população civil, tendo em vista que
nas Forças.
“O governo de Hermes da Fonseca Armadas a disciplina era brutal.
A qualquer sinal mínimo de insubordinação, eram aplicados castigos
corporais extremamente duros, como, por exemplo, as chibatadas. Essa
forma de castigo e a sua contestação seria o epicentro do evento que a
historiografia denomina “Revolta da Chibata”, ocorrido em 1910, já no
governo de Hermes da Fonseca, que tinha sido empossado havia apenas
duas semanas.” (FERREIRA, 2010).

A Revolta da Chibata ocorreu entre os dias 22 e 27 de novembro de 1910,


tendo como atores oficiais de baixa patente da Marinha do Brasil. Cansados de
sofrer com os frequentes castigos físicos, rebelaram-se, sob o comando do
marinheiro João Cândido Felisberto (1880–1969), a quem os jornais logo apelidaram
“Almirante Negro”.
A maior parte do contingente da Marinha era formada por homens negros,
recrutados à revelia pela polícia. Embora a escravatura tenha sido abolida há mais
de duas décadas, ela e o racismo continuaram a ser parte integrante dessa
sociedade, mesmo que aparecesse sob outras formas.

“Algumas delas eram justamente o alistamento compulsório de negros e o


tratamento desumano pelo qual passavam durante o serviço na Marinha.
Eles eram proibidos de se casar e, a qualquer falta cometida, eram
submetidos a um mínimo de 25 chibatadas pelos oficiais superiores. A
punição havia sido extinta com a Proclamação da República, mas retomada
logo em seguida, como meio de manter os marujos negros sob controle em
uma sociedade que se via como branca.” (CHEUICHE, 2010).
Alguns direitos humanos básicos eram restritos e os castigos físicos aos marinheiros
insubordinados ou indisciplinados eram previstos em lei.
Como explicita Thiago,

“Alguns direitos fundamentais da pessoa humana, como se casar e


votar, eram restringidos à marujada. Marinheiros e cabos eram
proibidos de contrair matrimônio e cumprir as funções eleitorais. Além
disto, castigos físicos aos marinheiros insubordinados ou
indisciplinados eram considerados legítimos perante a lei.” Thiago
Rodrigo da Silva

A marinha utilizava navio à vela. Os navios eram potentes e de qualidade, as técnicas navais
eram aperfeiçoadas para a vida a bordo, mas o que não se modificava era o modo de vida dos
marinheiros.

“A Marinha Imperial utilizava muitos navios propelidos à


vela. Em 1904 foram adquiridos os encouraçados São Paulo
e Minas Gerais, da Inglaterra. Os navios possuíam
armadura de aço e grande poder de fogo, com canhões
potentes. A técnica naval teve de ser aprimorada para a vida
a bordo. Todavia, se os conhecimentos técnicos dos
marinheiros melhoraram, as condições de vida no interior
das embarcações não se alteraram. Os castigos físicos
continuavam a ser utilizados como meio de punição”.
(NASCIMENTO, 2008).

A revolta foi desencadeada por castigos corporais excessivos, a tripulação assumiu

o comando do navio. Os oficiais foram mortos ou jogados no mar. João Candido, um

dos principais líderes do levante, enviou uma carta ao presidente recém-eleito,

Hermes da Fonseca. No manifesto, os marinheiros destacavam que, se as

chibatadas não fossem revogadas e as reivindicações não fossem aceitas, os

canhões atirariam contra a cidade do Rio de Janeiro ou qualquer outro navio da

Marinha que não fizesse parte da revolta. O presidente aceitou as exigências e

ameaças dos marinheiros em princípio.


A rebelião durou quatro dias e terminou em 26 de novembro de 1910, com uma

declaração do governo aceitando as condições oferecidas pelos marinheiros e

prometendo-lhes anistia. No entanto, a posição do governo foi diferente e muitos dos

envolvidos foram detidos e levados para a Ilha Cobra, onde foram torturados e

encarcerados. Outros marinheiros foram punidos e deportados para o Acre, onde

começaram a construir ferrovias ou a trabalhar nos seringais. Os marinheiros

envolvidos, como João Cândido e Adalberto Ribas, sofreram retaliações vitalícias da

Marinha. A tortura através das chibatas só teve fim quando uma missão norte-

americana foi contratada e com ela foram abordadas práticas de educação física e

logo s Marinha do Brasil abandona os castigos físicos.

“A tortura, através das chibatadas, continuou na Marinha


após a Revolta da Chibata ter sido sufocada. Somente a partir
dos anos 1920, com a contratação de uma missão naval norte-
americana, que instituiu práticas de educação física, a
Marinha do Brasil, paulatinamente, abandona os castigos
físicos.”

REFERÊNCIAS

CANDAU, Vera Maria (Org.). Reinventar a escola. Petrópolis: Vozes, 2000. ______.
Sociedade, educação e cultura(s): questões e propostas. Petrópolis: Vozes, 2002.

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Editora Paz e Terra. Rio de
Janeiro, 1986.

NASCIMENTO, Álvaro Pereira do. Cidadania, cor e disciplina na revolta dos marinheiros
de 1910. Rio de Janeiro: Mauad/FAPERJ, 2008.

POLIDORO, L. de Fátima; STIGAR, R. A Transposição Didática: a passagem do


saber científico para o saber escolar. Ciberteologia: Revista de Teologia e
Cultura, [s. l.], 2009.
SILVA, Thiago Rodrigo da. História do Brasil republicano / Thiago Rodrigo da
Silva. Indaial: UNIASSELVI, 2015. Pág. 45

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