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3 FATORES DETERMINANTES PARA O SUCESSO DA MEDIAÇÃO

Judith Fretter destacou 8 como principais características da atuação da ONU como


mediadora aptas a influenciar positivamente a obtenção de resultado bem-sucedido
através da mediação (acordo + cumprimento): (i) natureza da relação prévia entre as
partes; (ii) natureza das questões em conflito; (iii) legitimidade do mediador; (iv) status
do mediador; (v) intensidade do conflito (fatalidades); ((vi) ambiente da mediação
(hostilidade); vii) momento da mediação (duração do conflito); e (viii) relações prévias
entre o mediador e as partes.
Laurie Nathan focou nos agentes em conflito, partindo de uma análise em relação às
guerras civis no continente africado durante a década de 1990, chegando em há 7
princípios estratégicos de mediação que definem seu sucesso, a saber: (i) : (i) os
mediadores devem ser imparciais; (ii) as partes devem concordar com a mediação e
com o mediador nomeado; (iii) o conflito não pode ser resolvido fácil e rapidamente;
(iv) o acordo final precisa ser legitimado pelas partes; (v) os mediadores devem ser
flexíveis; (vi) os mediadores não devem aplicar medidas punitivas; e (vii) a mediação é
uma atividade especializada.
Por sua vez, ao contrário das duas autores mencionadas, Bercovitch recusa analisar os
fatores contextuais para o sucesso da mediação com base em tantos segmentos
distintos, optando por chegar a um número conciso de influências, aplicáveis a todos
os casos; São elas: (i) a natureza da disputa; (ii) a natureza das partes em conflito; e (iii)
a natureza do mediador.
Com base nas distintas visões desses autores a proposta do trabalho foi encontrar elos
de compatibilidade entre tantos fatores contextuais distintos, que pudessem auxiliar a
compor uma imagem coesa sobre os fatores de eficácia aplicadas à mediação, em 5
vetores principais.
3.1. NATUREZA DA RELAÇÃO ENTRE AS PARTES
A existência de um histórico de amizade ou cooperação entre as partes pode ser visto
como um incentivo para a busca de meios pacíficos para a solução de suas
discordâncias. Bercovitch aduz que em um conflito sem relacionamento anterior entre
as partes, especialmente se as tensões são altas, a probabilidade é que as perdas
humanas e financeiras continuaram crescendo, até que as partes reconheçam inexistir
possibilidade de sucesso senão por meio da mediação.
Por outro lado, caso as partes em conflito compartilhem de uma história de
cooperação ou amizade, a tendência é que tal fato facilite a mediação e a obtenção de
resultados positivos, uma vez que as chances de um maior engajamento e esforço para
resolver a questão aumentam.
Para James Wall e Ann Lynn, entretanto, a relação de proximidade precisaria ser
melhor definida, sendo que somente se estivermos falando de adesão a um mesmo
regime internacional é que podemos dizer que essa relação pode ser útil à resolução
pacífica do conflito.
Segundo Jacob Bercovitch e Su-Mi Lee, nos casos em que não há correspondência
entre as partes quanto ao regime internacional do qual pertencem, estratégias
diretivas passam a ser claramente mais eficientes do que as demais estratégias não-
diretivas. Isso ocorre, pois, em não havendo relação prévia entre as partes, a tendência
é que ambas se encontrem reticentes a ouvir as alegações e sugestões encaminhadas
pela contraparte, o que, por sua vez, propicia a criação de ambiente instável e repleto
de impasses e estagnações nas negociações entre ambas.
3.2. NATUREZA DO CONFLITO ENTRE AS PARTES
Conflitos com objeto de disputa tangível exigem menor grau de intervenção por parte
dos mediadores, uma vez que correspondem a questões relacionadas a unidade de
medidas, limites fronteiriços em que haja dúvidas quanto à extensão métrica das faixas
limítrofes, pelo que o suplemento de informações pelo mediador pode muito bem se
mostrar suficiente.
Já quando se trata de objetos de disputa intangíveis, como por exemplo, a
reivindicação de parcela do território pertencente a outro Estado ou crises
humanitárias decorrentes de conflitos armados, as dificuldades na resolução do
conflito advêm da falta de concordância das partes com a própria natureza do conflito,
pelo que se exigirá maior participação do mediador.
Autores como Jacob Bercovitch e Marieke Bleiboer sugerem que a mediação tende a
ser menos efetiva em conflitos de alta intensidade, outros autores como Oran R. Young
argumentam que quanto maior a intensidade do conflito, maior a probabilidade da
mediação resultar em uma solução bem-sucedida.
Em relação à duração e amadurecimento do conflito, há que mencionar a chamada
“Teoria do Amadurecimento do Conflito” – alternativa à visão tradicional de que a
chave para a resolução exitosa de um litígio está no conteúdo da solução proposta.
Segundo essa teoria, o êxito da resolução do conflito depende, dentre outros fatores,
da análise e identificação do “por que” e “quando” as partes de um conflito se tornam
suscetíveis, por esforços próprios ou terceiros, a buscar a negociação como solução
para o conflito.
Frank Edmead considera ser a mediação mais eficaz se iniciada nos momentos iniciais
do conflito, antes dos Estados em conflito ultrapassarem marcos de violência e
comecem a sofrer perdas consideráveis com a disputa. Já Daniel Frei entende que a
mediação é mais provável de se mostrar bem-sucedida em estágios emergenciais da
disputa, pois seria o momento em que ambas as Partes reconhecem não existir outra
saída se quiserem reduzir suas perdas.
A pressão pública mostra relevante especialmente para as políticas conduzidas ao
longo de anos, quando comparadas àquelas conduzidas em intervalos de tempo
menor. Além disso, a força da opinião pública mostra-se mais relevante em países cuja
participação popular na tomada de decisões políticas é maior, tal como em países
democráticos, se comparado com países autoritários ou ditatoriais.
3.3. COMPLEXIDADE DO PAPEL DO MEDIADOR
Muito se discute sobre a imparcialidade do mediador como característica fundamental
para o sucesso da mediação, visto ser fator crucial para garantia de confiança e
engajamento dos estados em conflito (Laurie Nathan).
Outra parcela da doutrina especializada acredita que o mediador não precisa ser
imparcial para ser aceito pelas partes, muito menos ser eficaz no desempenho de seu
papel como condutor das partes a uma solução pacífica. Pelo contrário, o mediador
precisa ser visto principalmente como alguém interessado em alcançar um resultado
comum e adequado para ambas as partes, ainda que para isso não possa demonstrar
sua parcialidade de maneira escancarada.
A própria Laurie Nathan reconhece não ser a imparcialidade do mediador algo
alcançável, especialmente em se tratando de mediações internacionais, posto que
sempre carrega consigo valores pessoais, culturais e profissionais.
Às vezes, a reputação do mediador, o histórico, o conhecimento especializado e a
influência econômica ou social podem determinar o nível de poder do mediador.
Ainda que não seja consenso doutrinário, mostra-se inegável a possibilidade de
resultados positivos a partir de uma posição parcial adotada pelo mediador. Todos os
mediadores estão sujeitos ao contexto cultural, sócio-econômico, político e social em
que nasceram, encontram-se inseridos, ou desenvolveram sua expertise.
Mediadores que compartilham valores religiosos, ideológicos ou econômicos têm
maior chance de sucesso do que outros mediadores, uma vez que a sua formação pode
ser indispensável para superar as lacunas de comunicação intercultural.
3.4. O CONFLITO COMO ALGO INTRINSICAMENTE DESAFIADOR
A própria natureza da mediação como método alternativo de resolução de conflitos dá
a entender que o conflito posto não é algo a ser resolvido fácil e rapidamente.
E isso pode ser analisado sob o ponto de vista de que a mediação não acaba com a
assinatura do acordo de paz entre dos estados. Em realidade, estudos apontam que
mais de um terço dos conflitos internos se repetem dentro de um período de dois
anos.
A assinatura de um acordo de paz não pode ser vista como um fator isolado ou
realizada meramente para apaziguar a opinião pública internacional, pois, após a
retirada dos mediadores, as partes encontram-se novamente “sozinhas”.
Até por isso, os autores sugerem que os mediadores devem manter envolvimento no
conflito, ainda que parcialmente, para fins de oferecer assistência e esclarecimentos
aos Estados, mas também garantir sua presença no processo de assimilação do acordo
nas estruturas internas burocráticas e sociais dos países, visto ser a mediação um
processo também voltado à proteção direta de minorias e grupos marginalizados das
sociedades de lado a lado.
3.5. RELAÇÕES PRÉVIAS ENTRE AS PARTES E O MEDIADOR
Os dados analisados por Bercovitch e Su-Mi Lee distinguem relacionamentos anteriores
entre mediadores e disputantes em 5 dimensões, a saber: (i) nenhum relacionamento
anterior, (ii) bloco diferente, (iii) mesmo bloco de uma das partes, (iv) mesmo bloco de
ambas as partes e (v) relacionamento misto.
Considerando as 3 primeiras e a última dimensão como indicativas de baixo nível de
confiança dos disputantes – e o quarto nível como de alta confiança – conclui-se que os
mediadores que pertencem à mesma organização ou aliança tendem a ter interesses
mútuos ou princípios comuns e um certo grau de confiança um no outro.
Portanto, se os mediadores pertencerem à mesma organização ou aliança, o grau de
confiança um no outro será mais alto, obviamente.
À medida que as relações anteriores do mediador com as partes aumentam, é mais
provável que o mediador use uma estratégia ativa. Da mesma forma, à medida que o
foco da tarefa do mediador aumenta, é mais provável que o mediador use uma
estratégia ativa. Essas duas variáveis estão na direção esperada, o que sugere que as
expectativas devem ser consideradas como hipóteses para pesquisas futuras.

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