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SOLUÇÃO DE CONFLITOS E

TRABALHOS COM GRUPOS

Profa. MSc. Susana Dos Reis Machado Pretto


META DE COMPREENSÃO:

• Caracterizar o conflito e suas possibilidades.

• Identificar os processos construtivos e destrutivos no âmbito das Teorias


dos Conflitos.
Conflitos e disputas
CONFLITO DISPUTA

desentendimento – expressão pretensão rejeitada integral


ou manifestação de um estado ou parcialmente => lide =>
de incompatibilidade direitos e recursos => juízo

“Um conflito se mostra necessário para a articulação de uma demanda.


Um conflito, todavia, pode existir sem que uma demanda seja proposta.
Assim, apesar de uma disputa não poder existir sem um conflito, um
conflito pode existir sem uma disputa”
YARN, Douglas.
Conflitos e disputas
• O conflito pode ser visto, de forma ampla, como uma crise na interação
humana.
• A palavra conflito expressa a crise vivenciada em sentido amplo, enquanto
disputa remete a uma unidade controvertida.
• Exemplo: casal recém-separado pode estar em crise (vivenciando um
contexto amplo de conflitos), mas enfrentar, em certo momento, uma
disputa, pontual e específica, quanto ao tempo de convivência com os
filhos.
Tipos de Conflitos
• Morton Deustsch identifica pelos menos seis tipos de conflitos:
• 1. o conflito verídico, que existe objetivamente e é acuradamente percebido;
• 2. o conflito contingente, que depende de circunstâncias prontamente rearranjáveis (mas
esse fato não é reconhecido pelas partes);
• 3. o conflito deslocado, em que as pessoas discutem sobre a coisa errada;
• 4. o conflito mal atribuído, que se dá entre pessoas erradas e sobre questões equivocadas;
• 5. o conflito latente, que deveria estar ocorrendo, mas não está (daí a importância da
conscientização);
• 6. o conflito falso: não há base para a ocorrência do impasse, que decorre de má percepção
ou má compreensão.
Causas do conflito
• Tem-se como uma razão determinante para a verificação de conflitos é a intolerância (falta de
respeito pelas diferenças). Todas as pessoas são diferentes entre si, já que são constituídas por
peculiares fatores, diversos elementos e variados contextos. Não há duas pessoas idênticas, cada
ser humano é único. Quando há visões muito discrepantes entre pessoas próximas, o conflito vai se
instalar se houver desrespeito à diversidade de percepções.
• Os conflitos decorrem da falta de respeito quanto a diferentes:
• a) valores (distintas visões sobre certo/errado, variados estilos de vida, religiões e cultura);
b) estruturas (desigualdade na distribuição de recursos, de poder e/ou de autoridade);
c) definições de papéis, tempo, dinheiro e relações (comunicação falha, emoções fortes,
comportamento, percepções, falta de confiança);
d) níveis de informações (falta, erro, interpretação, métodos de avaliação, interesses).
Fatores para a instalação de conflitos
• 1. As características das partes em conflito (que envolvem valores,
motivações, objetivos, recursos intelectuais, sociais, físicos e crenças);
2. Os relacionamentos prévios dos envolvidos;
3. A natureza da questão que dá origem ao conflito (pautada por
elementos como importância emocional e periodicidade);
4. O ambiente social em que o conflito ocorre;
5. A presença de expectadores interessados no conflito;
6. As estratégias e táticas empregadas pelas partes;
7. As consequências do conflito para cada participante e outras partes
interessadas.
Fatores para a instalação de conflitos
• Muitos aspectos podem originar e incrementar
conflitos; destaca-se, ainda, a limitação de
recursos, a ocorrência de mudanças, a
resistência a aceitar posições alheias, a
existência de interesses contrapostos e a
insatisfação pessoal.
• Exemplo: dois amigos ostentam visões opostas
sobre um assunto polêmico. Havendo
desrespeito, ataques pessoais e intolerância
quanto à concepção da outra pessoa, a chance
de que o conflito se verifique será considerável.
Espirais de conflito

• progressiva escalada
• ação e reação
• nova questão ou ponto de disputa
• causas originárias progressivamente tornam‑se secundária
• vítima e ofensor ou autor do fato
• Ex: conflitos de trânsito
Processos co nstrutiv os e destrutivos

• “em função dos defeitos procedimentais, resulta muitas vezes lento e


custoso, fazendo com que as partes quando possível, o abandonem”. ZAMORRA Y
CASTILLO.Processo, autocomposição e autodefensa. Cidade do México: Ed. Universidad Autónoma Nacional de México, 1991.p. 238.

• processo judicial => fenômeno jurídico => interesses juridicamente


tutelados => exclui aspectos do conflito.

• classificação de processos de resolução de disputas: construtivos ou


destrutivos.
Processos construtivos
• processos construtivos, segundo Deutsch, seriam aqueles em razão dos quais
as partes concluiriam a relação processual com um fortalecimento da relação
social preexistente à disputa.
• Caracterizam‑se:
• i) pela capacidade de estimular as partes a desenvolverem soluções criativas
que permitam a compatibilização dos interesses aparentemente contrapostos;
• ii) pela capacidade das partes ou do condutor do processo (e.g. magistrado ou
mediador) motivarem todos os envolvidos para que prospectivamente
resolvam as questões sem atribuição de culpa;
Processos construtivos
• iii) pelo desenvolvimento de condições que permitam a reformulação
das questões diante de eventuais impasses;
• iv) pela disposição das partes ou do condutor do processo a abordar, além
das questões juridicamente tuteladas, todas e quaisquer questões que
estejam influenciando a relação (social) das partes. As partes
concluem tal relação processual com fortalecimento da relação social
preexistente à disputa e, em regra, robustecimento do conhecimento
mútuo e empatia.
Processos destrutivos
• processo destrutivo => enfraquecimento ou rompimento da relação social preexistente à
disputa em razão da forma pela qual esta é conduzida.
• há a tendência do conflito se expandir ou tornar‑se mais acentuado no desenvolvimento da
relação processual.
• como resultado, tal conflito frequentemente torna‑se “independente de suas causas iniciais”,
assumindo feições competitivas nas quais cada parte busca “vencer” a disputa e decorre da
percepção, muitas vezes errônea, de que os interesses das partes não podem coexistir.
• as partes quando em processos destrutivos de resolução de disputas concluem tal relação
processual com esmaecimento da relação social preexistente à disputa e acentuação da
animosidade decorrente da ineficiente forma de endereçar o conflito.
• DEUTSCH, Morton. The Resolution of Conflict: Constructive and Destructive Processes. New Haven: Yale University Press, 1973. Traduzidos na obra AZEVEDO, André Gomma de (Org.). Estudos em arbitragem, mediação e

negociação. Brasília: Ed. Grupos de Pesquisa, 2004. v. 3 .


Necessidade de novos modelos
• Retornando ao conceito de Zamora Y Castillo, o processo judicial rende com
frequência menos do que poderia. Assim, porque se direciona, sob seu escopo
social, à pacificação, fazendo uso na maioria das vezes de mecanismos
destrutivos de resolução de disputas, denominados por ele como “defeitos
procedimentais”.
• Há necessidade de novos modelos que permitam que as partes possam, por
intermédio de um procedimento participativo, resolver suas disputas
construtivamente ao fortalecer relações sociais, identificar interesses subjacentes
ao conflito, promover relacionamentos cooperativos, explorar estratégias que
venham a prevenir ou resolver futuras controvérsias, e educar as partes para
uma melhor compreensão recíproca.
CONSIDERAÇÕES SOBRE O
CONFLITO
• A discussão acerca da introdução de mecanismos que permitam que os
processos de resolução de disputas tornem ‑se progressivamente construtivos
necessariamente deve ultrapassar a simplificada e equivocada conclusão de
que, abstratamente, um processo de resolução de disputas é melhor do que
outro.
• Devem ser desconsideradas também soluções generalistas como se a
mediação ou a conciliação fossem panaceias para um sistema em crise. Dos
resultados obtidos no Brasil, não há como impor um único procedimento
autocompositivo em todo território nacional ante relevantes diferenças nas
realidades fáticas (fattispecie) em razão das quais foram elaboradas.
CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONFLITO

• Tendo por base o conceito de Morton Deutsch sobre processos construtivos de


resolução de disputas, verifica-se que ocorreu alguma recontextualização a
respeito do conceito de conflito ao considerar ser este um elemento da vida que
permeia todas as relações humanas e contém potencial de contribuir positivamente
nessas relações.
• Se conduzido construtivamente, o conflito pode proporcionar crescimento
pessoal, profissional e organizacional. A abordagem do conflito – no sentido de
que este pode, se conduzido com técnica adequada, ser um importante meio de
conhecimento, amadurecimento e aproximação de seres humanos – impulsiona
também relevantes alterações quanto à responsabilidade e à ética profissional.
RESOLUÇÃO DE CONFLITOS
• As partes, quando buscam auxílio do
Estado para solução de seus conflitos,
frequentemente têm o conflito acentuado
ante procedimentos que abstratamente se
apresentam como brilhantes modelos de
lógica jurídica‑processual – contudo, no
cotidiano, acabam por muitas vezes se
mostrar ineficientes na medida em que
enfraquecem os relacionamentos sociais
preexistentes entre as partes em conflito.
• Cf. COSTA, Alexandre A. Cartografia dos métodos de composição de conflitos. In: AZEVEDO, André
Gomma de. Estudos em arbitragem, mediação e negociação. Brasília: Ed. Grupos de Pesquisa, 2004. v.
3.
• Exemplificando, quando um juiz de direito sentencia determinando com quem ficará a
guarda de um filho ou os valores a serem pagos a título de alimentos, põe fim, para fins
do direito positivado, a um determinado litígio; todavia, além de não resolver a relação
conflituosa, muitas vezes acirra o próprio conflito, criando novas dificuldades para os
pais e para os filhos.
• Torna‑se claro que o conflito, em muitos casos, não pode ser resolvido por abstrata
aplicação da técnica de subsunção. Ao examinar quais fatos encontram ‑se presentes para
em seguida indicar o direito aplicável à espécie (subsunção) o operador do direito não
pode mais deixar de fora o componente fundamental ao conflito e sua resolução: o ser
humano.
MÉTODOS DE SOLUÇÃO DE
CONFLITOS
ARBITRAGEM: As partes escolhem um particular (árbitro) para resolver a lide entre eles, abrindo mão
do Estado-Juiz.
AUTOTUTELA: Histórico uso da violência e da ameaça como meio de resolução de conflitos.
AUTOCOMPOSIÇÃO: As partes resolvem amigavelmente seus litígios, sem participação de terceiros.
Transação, renúncia, negociação etc.
MEDIAÇÃO: Um terceiro, neutro e passivo, auxilia a busca da solução encontrada pelos próprios
interessados.
CONCILIAÇÃO: Terceira pessoa participa ativamente na busca da solução amigável entre os
interessados.
JURISDIÇÃO: Atuação do Judiciário via processo na resolução de lides e pretensões.
Quadro 1 – Composição dos conflitos
Fonte: TARTUCE, 2015, p. 73.
Perguntas de fixação:

• 1. O que são processos construtivos?


• 2. Enumere três características de processos construtivos.
• 3. O que são espirais de conflito?
• 4. Quais os métodos de solução de conflitos?
ATIVIDADE EM GRUPO

• 1. Identificar um conflito a partir de uma situação social,


contextualizar, informando as causas e efeitos, bem como
apontando a possível solução.
• 2. Apresentar o conflito ao grande grupo.

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